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Dois - Lucas.

    Levei um susto tão imenso, quando aquele quarto estranhamente limpo e quase branco pipocou nos meus olhos. Acordei com um salto, a dor vindo como louca nas minhas costas quando o fiz, e um arquejo saiu da minha garganta. Junto com ele, veio as lembranças.

     O som do raio caindo perto de nós com um estrondo, aquela onda de energia que pareceu penetrar até os ossos, Madison sendo atirada precipício abaixo, os sons e a gritaria que vieram depois, como conseguimos escapar descendo pelas trepadeiras em volta da torre do castelo, até a rainha nos encontrar e sua magia queimar nossa pele, até precisarmos pular para dentro do rio e finalmente fugir... O impacto da água contra meus músculos, tão forte que fez a minha consciência ir embora, o jeito que parecia ter um rio borbulhando nos meus ouvidos, um rio de luz branca e límpida.

     E agora, aquele quarto tão estranho, aquelas mulheres com quatro braços e pele colorida mais estranhas ainda, e como eu estava quase surdo com o gorgolejar que ecoava na minha mente.

     Com o olhar vidrado no chão, sem nem ao menos ver o que estava na minha frente, eu tentava calar meus ouvidos, aquele som que me enlouquecia, suando igual um condenado a cada tentativa fracassada.

      Estava confuso ainda quando os dois deuses nos olharam, fazendo perguntas idiotas, quando Madi foi a única sóbria o suficiente pra responder, e quando Helena a encarou, espantada quando ouviu que não era a única com aquele som irritante e aquela sensação ensandecedora nas veias. E continuava confuso quando uma das moças de pele colorida pareceu indignada com nossa surpresa, e anunciou a todos que o que estava prestes a me enlouquecer, era pura e simplesmente magia.

     Silêncio foi tudo o que conseguimos expressar, tanto os deuses quanto nós. O barulho no fundo da minha mente parecia ter diminuído, assim que entendi o que ele era, e consegui reunir sanidade mental o suficiente pra dizer:

     _ Magia?_ Quebrei o silêncio, e todos os olhares se viraram pra mim, o que, preciso dizer foi meio intimidador. Mordi o lábio, passando a mão no cabelo antes de continuar._ Mas nunca senti isso, como podemos, do nada, começar a ter magia?

    _ Não foi do nada._ A mulher de pele vermelha, Felin, voltou a falar._ A rainha que enfrentaram tem sangue de bruxa nas veias, e ela é capaz de invocar um raio de Energia Cósmica. Quando o raio explodiu perto de vocês, a onda de energia que sentiram não passa de magia pura. Vocês sentiram aquela energia penetrando em seus ossos, nos músculos e nas veias. Aquilo é magia, em sua forma mais pura. Agora, essa magia corre em vocês, e é por isso que a sentem, que ela pulsa em seus ouvidos!_ Arqueei as sobrancelhas, olhando para ela, um pouco sem acreditar. Na verdade, uma mulher de pele vermelha como fogo, quatro braços, e olhos completamente negros, te dizer que um raio explodiu magia do seu lado e por isso você sente ela nas suas veias, era uma coisa que ninguém acreditaria se eu contasse._ Agora, precisamos saber como essa magia vai se manifestar em cada um de vocês, e se não se manifestar, podemos molda-la para que possam usar...

     _ Eu uso magia desde que me conheço, jamais senti essa pulsação que eles dizem sentir._ Ametista interrompeu Felin, a voz agressiva, um pouco preocupada.

     _ Vocês são deuses! Sua simples existência faz com que saibam como usar magia!_ Ela riu, como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do universo._ Mas eles..._ Virou a cabeça, encarando cada um de nós antes de continuar._ Eles nunca sentiram isso, não sabem controlar, não fazem a mínima ideia de como trazer a magia a tona. Exatamente como minha raça. Quando nossas crianças começam a ter essa pulsação, sentir o rio de energia correndo nas veias... É aí que a vida realmente começa para nós. E é quando realmente vai começar para vocês.

     _ Magia..._ Madi murmurou, mais para si mesma do que para qualquer pessoa._ Magia!_ Voltou a dizer, agora em alto e bom som.

     _ Eles precisarão receber treinamento quando a magia despertar._ Felin disse, olhando diretamente para Hugo e Ametista.

     _ Claro, receberão treinamento o mais rápido possível!_ Hugo disse, sorrindo e passando as mãos levemente na barba por fazer.

    _ Não agora._ A outra moça, de pele azul, se manifestou pela primeira vez desde que me lembro.

     _ Claro, não agora, eles vão precisar de pelo menos uma semana para recuperação total, e depois disso, não sabemos quanto tempo vai levar para a magia se manifestar em cada um deles... E pode ser de maneiras estranhas..._ Felin soltou um risinho irônico, como se imaginasse a cena._ Se não derem sinal dessa magia, precisaremos molda-la para conseguirem usar._ Novamente a moça nos olhou, um sorriso enorme no rosto._ Mas pela quantidade que tem correndo nas veias, isso é pouco provável.

     _ Agora chega..._ A moça de pele azul voltou a falar, não emitindo mais que duas palavras por frase.

      _ Kortry tem razão, já chega de tanta movimentação nos leitos._ Felin correu para dispensar os dois deuses que olhavam pra nós no canto, os queixos caídos, mas tentando manter alguma compostura._ Eles precisam descansar, vão fazer qualquer das coisas que seres como vocês fazem, assumimos daqui.

     E sem mais nem menos, Felin expulsou os dois deuses, que sumiram tão rápido quanto apareceram assim que a mulher usou apenas um dos braços para bater a porta na cara deles.

     _ Agora, voltem a descansar, não quero nenhum de vocês tentando se levantar, ainda estão muito frágeis..._ Felin continuou tagarelando sobre nossa saúde, mas não me dei ao trabalho de continuar ouvindo, quando minha cabeça parecia que ia explodir a qualquer segundo.

     Massageei as têmporas com as pontas dos dedos, tentando inutilmente calar o rio nos ouvidos.

     _ Pode me trazer uma xícara bem grande de café?_ Madi virou para Kortry, que agora guardava um esfregão dentro da água mais suja que eu já vi alguém usar para limpar um chão. A moça concordou, a expressão séria e rapidamente saiu.

     _ Problemas pra se manter acordada?_ Lancei um sorriso brincalhão pra ela, que revirou os olhos escuros, fazendo uma careta pra mim.

       _ Mesmo nesse estado você consegue fazer piada?_ Ela abriu um sorriso luminoso de volta, cruzando os braços sobre o corpo enfaixado._ O café é pra enxaqueca, e não é pra mim.

      _ Não foi exatamente uma piada, e... Desde quando você tem amigos imaginários?_ Franzi as sobrancelhas pra ela, divertido. Adorava quando Madi sorria, fazia as bochechas ficarem maiores, e me dava vontade de apertar as duas como uma tia avó faria.

     _ Essa é a questão, eu não tenho. Mas tenho amigos reais, que parecem estar com uma enorme dor de cabeça._ Murmurou, olhando para as unhas. Era apenas impressão minha, ou Madi estava preocupada comigo?

      Soltei uma gargalhada baixa, apontando pra porta, e sentindo uma pontada de dor ecoar das minhas costas logo em seguida. Arquejei baixinho de dor, mas não tirei o sorriso do rosto.

     _ Alguém traga a Kortry de volta, e digam pra ela que não estou com dor de cabeça, mas com um rio nos ouvidos._ Madi arregalou de leve os olhos, não acreditando na minha palavra. Franziu as sobrancelhas, olhando pra porta. Queria ser uma mosquinha pra ver o que ela estava pensando._ Será que tem um bom remédio pra isso?

     _ Na verdade tem, mas não acho que esteja disposto a isso._ Felin se intrometeu, enquanto trocava os curativos do braço de Jesse, sentada na ponta do colchão. Nós cinco viramos os rostos pra ela, interessados.

     _ Eu estou disposto a coisas que você não imagina._ Rebati, rápido demais. Felin levantou algo que poderia ser uma sobrancelha, mas era como um risco mais escuro na pele acima dos olhos. A mulher de pele vermelha me olhou de cima a baixo;

     _ Isso soou extremamente obsceno garoto._ Ela abriu um meio sorriso no canto da boca, o gesto refletindo como estrelas nos olhos escuros. Ela puxou meu braço rapidamente, sem me dar chance de impedir. Olhou para o meu pulso, observando a Marca que estava tatuada ali. Incrível como aquilo não estava ali dois segundos antes, e voltou só pra infernizar a minha vida... Revirei os olhos, puxando o braço de volta com força._ Coragem é garoto..._ Ela estalou a língua tão vermelha quanto a pele._ Tem coragem de se jogar em uma banheira cheia de gelo, se isso fizer o som parar?

     Um silêncio entre os outros Escolhidos foi a resposta dela. Eles não estavam nem um pouco interessados na opção dada por Felin, mas eu... Sempre me interessava por um desafio.

     _ Eu tenho coragem de fazer qualquer coisa._ Sorri, jogando os cabelos para o lado com um movimento da cabeça, apoiando a mão no rosto._ Principalmente, se isso fizer o barulho parar.

     Felin deu um sorriso tão obsceno que estremeci na base. Aquelas mulheres... Tão diferentes uma da outra. Felin parecia tão faladeira, tão extrovertida, maliciosa, um poço de desafios e brincadeiras. Kortry... Até agora, não tinha ouvido mais de duas palavras saírem de sua boca, e nem muito tempo para olhar direito pra ela. Mas aquelas expressões tão incomuns, os quatro braços, os olhos completamente negros... Tão diferentes...

     _ Tenho a sensação que isso vai dar extremamente errado._ Madi balançou a cabeça, me repreendendo com o olhar. Girei meu olhar pra ela, fazendo uma careta ainda pior do que a dela, parando de reparar na aparência das mulheres.

     Kille soltou um risinho de sua cama, bagunçando os cabelos bem armados antes de dizer:

     _ Você ainda tem alguma duvida?

     Heyyy milhos pra pipoca!!! Tudo bem com vocês?!!!

     Já no primeiro capítulo do Lucas temos desafios! Vocês vão ver que nosso boy magia corajoso é desses que topa tudo! 

     Espero que gostem!!! Joana Thomaz.

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