Um - Madison.
Acabar o ensino secundarista, ou E.S, como a gente costumava chamar, foi o maior alivio da minha vida. Conseguir passar na Avaliação de Conclusão de Aprendizado e Projeto de Vida—A.C.A.P.V—, a prova mais importante para que somos preparados desde os dez anos e a ideia de "Nossa, vou finalmente poder entrar em uma faculdade!", parecia extremamente assustador...
Meu nome é Madison. Madison Haybran Roberts. E meu aniversario de 18 anos é amanhã.
Se existia algo, pelo menos para mim, que parecia mais assustador do que completar o ciclo de pressão e perguntas que foi o E.S, ou entrar na faculdade, era fazer 18 anos. Parecia estranho na verdade, pensar em entrar nos Anos de P.P.V, o temível Planejamento de Propósito de Vida e poder fazer coisas que antes eram apenas sonhos. Foram longos 18 anos, vendo todos os dias meus projetos escritos ou apenas imaginados, passando varias vezes pelos olhos de íris castanho bem escuro e segundo minha mãe, brilhantes como duas estrelas...
— Madison, desce logo! Só porque você está de férias e já acabou o E.S, não quer dizer que possa dormir até tarde! Já são onze horas da manhã e nem café você tomou!— Meu irmão mais novo e consideravelmente chato, Wesley, gritou, escancarando a porta do meu quarto com um chute muito bem dado. Quase levantei para começar uma discussão com ele, por quase ter arrancado minha porta das dobradiças, mas lembrei de como as cobertas estavam quentes e deliciosas, acabando por me contentar em dar uma almofadada certeira no rosto de Wesley, com o travesseiro pesado, vendo ele pular para trás com um susto. Gargalhei feito louca até que não tivesse mais voz para rir, rolando e enfiando o rosto no travesseiro. Ele me observou fazer aquilo, com uma expressão indignada no rosto.— Sai já daí Madison!
Wesley rebateu tentando ser autoritário, mas falhou miseravelmente, pois sua voz estava esganiçada de tão fina e aquilo me fez rir ainda mais.
— Me diz Wesley, desde quando você manda em mim, pivete?— Me virei e observei a expressão dele sair de indignada, para completamente enraivecida.
— Não me obrigue a ir aí e te fazer sair na marra!
— Duvido...— Desafiei, me arrependendo amargamente logo em seguida.
Wesley agarrou meu pé com força e puxou, me arrastando para fora da cama. Tentei desesperadamente agarrar a madeira da cabeceira, conseguindo, um segundo antes dele acabar largando apenas metade do meu corpo no carpete do quarto, onde dei uma leve tremida sem a quentura e conforto do edredom. Eu tinha me esquecido de como ele podia ser forte...
Me levantei devagar, com a expressão de fúria que sempre fazia quando Wesley me irritava. A raiva aumentou ao ver o sorriso satisfeito e sarcástico no rosto infantil dele. Cacei o chinelo que usei na noite anterior, encontrando-o encostado na base da minha cama. Virei rapidamente com um só golpe, atirando o calçado com toda a força que tinha na direção de Wesley. E por maldade do universo, ele desviou e saiu correndo escada abaixo.
— Volte aqui desgraça!— Corri atrás dele, quase caindo da escada ao tropeçar em um sapato jogado no corredor.— Quem você pensa que é para me dizer o quanto eu posso dormir!?
Eu já estava planejando o que faria quando finalmente alcançasse Wesley, perto dos últimos degraus da escada, até que ouvimos a voz firme mas doce de mamãe, vinda da cozinha junto ao cheiro de coisa frita.
— Madison, Wesley, parem vocês dois!! Parece que não conseguem conviver sem brigas um só dia!— Ela disse, olhando firmemente para nós dois, as duas mãos na cintura.— Wesley, controle sua raiva e deixe os pés longe das portas dessa casa. Não quero ter que pagar dobradiças novas pra ninguém, faça-me o favor! É capaz de destruir essa casa sozinho...— Wesley olhou para o chão, concordando com a cabeça e minha mãe revirou os olhos.— Agora, os dois venham comer, que o café já está na mesa a muito tempo, deve estar até frio a essa altura!
Mamãe se virou para pegar a carne de Kilno que fritava em tiras na panela antiaderente e Wesley deu um passo em direção a ela, recebendo um rápido pescotapa de mim, sem nem ver o que o atingiu. Ele me olhou irritado, mas não disse nada e se sentou.
A nossa cozinha era pequena e conectada à sala, separada apenas por uma meia parede de tijolos azuis claro, que servia como bancada as vezes. Ela era rodeada por um L de bancadas, fogão, pia e geladeira e bem no meio, estava uma mesinha circular com quatro cadeiras, onde fazíamos as refeições.
Mamãe colocou a carne de Kilno em um prato na minha frente, junto com uma fatia de pão e me entregou a jarra da cafeteira, dando outra fatia de pão e o pote de geleia de Terberry para Wesley. Ela colocou suco na mesa, se sentando logo depois com um baque surdo. Nós comemos calmamente por alguns minutos, em um silencio confortável, porém, havia uma tensão estranha e quase palpável no ar. Isso acontecia normalmente, quando mamãe queria dizer alguma coisa, mas estava esperando o momento certo... A grande questão era, o que? Então, interrompendo meus pensamentos, minha mãe disse com a voz um tanto tremula:
— Bom filha... Seu aniversario é amanhã, então, eu estava aqui me perguntando se iria querer sair com seus amigos sabe, a Eve e o Ray? Faz tempo que você não sai de casa...— Minha mãe parecia extremamente nervosa e apreensiva, mordendo a pele que escapava do lábio inferior.
— Eu nunca fui de voltar tarde mãe, nem de te dar trabalho, você sabe disso. Mas se quer que eu saia porquê é meu aniversário, eu saio, ok.— Respondi calmamente, entre um garfada de carne de Kilno e outra.— Mas porquê isso agora?
— Não tem bem um motivo... É só que você vai fazer dezoito anos... É normal para pessoas da sua idade sair e se divertir com o amigos... Além do mais, faz tempo que eu não vejo a Evelyn e o Ray aqui em casa e aposto que você também não.— Ela continuou, com a voz ainda mais estranha, mas persuasiva.— Não é Wesley?
Senti a perna de mamãe se mover por baixo da mesa e atingir a de Wesley, que parou no meio de uma garfada e olhou para mim, falando rapidamente.
— Concordo, é verdade...
Arqueei as sobrancelhas. Wesley sempre foi do contra, nunca aceitou bem o que mamãe dizia e queria que suas opiniões fossem as certas o tempo todo. E o tempo todo, suas opiniões eram contrarias as nossas. Vê-lo concordar com qualquer coisa que mamãe dizia...
— Vocês estão estranhos.— Eu os olhei, cruzando os braços. Vi Wesley e Mamãe se entreolharem, preocupados e escondendo um sorrisinho.— Mas tudo bem, estou mais preocupada com essa carne de Kilno no momento, não da para pensar em muita coisa quando você cozinha!— Abri um sorriso para minha mãe, que retribuiu balançando de leve a cabeça.
Acabamos de comer um pouco depois, a tensão no ar um pouco menor e voltei a subir para o meu quarto rapidamente, pensando em como sondar Wesley para que ele me dissesse o que estava acontecendo. Enquanto pensava, sentei em frente ao meu notebook, abrindo o chat em que via Ray e Eve logados.
Chat on.
Ray bay entrou na sala.
Eve's Barterdon entrou na sala.
Madi H. Roberts. entrou na sala.
Ray Bay: Hey Madi!!! Finalmente acordou garota!
Madi H. Roberts: Na verdade, eu acordei obrigada pelo Wesley... Então, vamos sair hoje?
Eve's Barterdon: Nossa, que milagre, Madi nos chamando pra sair...
Madi H. Roberts: Minha mãe meio que me obrigou, pode parar de ficar eriçada...
Eve's Barterdon: Tá explicado. Mas para onde? Ray, para de visualizar e não responder homem!
Ray bay: Desculpe, estava pesquisando baladinhas para hoje. Tem uma no centro que vai estar lotada. Vamos?
Eve's Bartendon: Eu aprovo.
Madi H. Roberts: Fazer o que... Vamos sim.
Ray Bay: Ok. Madi, chego aí as duas horas, esteja pronta.
Madi H. Roberts: Por que tão cedo?
Ray bay: Porque a gente ainda vai passar em um lugar, que eu preciso muito te mostrar.
Madi H. Roberts: Ok. Beijo povo.
Eve's Barterdon: Beijo.
Madi. H Roberts saiu
Chat Off
Fechei o notebook, abrindo a porta do quarto o mais silenciosamente que conseguia e olhando o corredor. A porta do quarto de Wesley estava entreaberta, de onde saia um som alto e estridente, o tipo de musica que meu irmão ouvia. Perfeito para executar meu plano.
Atravessei o corredor, entrando no quarto de Wesley. O comodo estava tão bagunçado que eu não sabia se estava pisando em camisetas sujas, ou em um morador de rua, que juro morar no armário dele. A musica vinha do computador do meu irmão, que diferente do meu notebook, era fixo na parede. Ele estava jogado na cama, virado para a parede e antes que sequer conseguisse me ver, desliguei a musica e pressionei o peito do meu irmão contra a cama.
— O que é isso Madison!— Ele protestou, tentando se desvencilhar de mim.
— Nada demais. Só quero saber o que você e mamãe estão tramando, para ficarem tão estranhos durante o café da manhã.— Soltei, logo de primeira.— Ou pensa que eu não vi?
— Se veio aqui só para isso perdeu a viagem, eu não vou dizer nada!— Ele respondeu, ríspido.
— Bom, parece que não perdi a viagem, você já admitiu que tem algo acontecendo...— Sorri, vendo seu desespero de ter feito o que não devia. Wesley fechou os olhos, apertando os lábios em sinal que não falaria mais nada.
Soltei meu irmão com um sorriso, sem mais paciência para insistir em uma resposta concreta. Atravessei os montes de lixo de novo, sentindo o olhar de Wesley nas minhas costas e passei para o corredor, fechando a porta atrás de mim.
Algumas horas se passaram, enquanto eu me arrumava para sair com Ray. Ele era meu melhor amigo desde que entrei no E.S e mesmo sendo um ano mais velho que eu, sempre estivemos na mesma sala, já que ao invés de entrar com dez anos no sistema de ensino, como a maior parte da população do meu país, entrou com onze.
Ouvi a buzina do carro de Ray e desci, limpando um fio de cabelo da blusa regata branca e tropeçando nas botas de cano baixo, correndo escada abaixo, pegando minha bolsa e as chaves no aparador ao lado da porta. Gritei um "tchau mãe" para o nada, e sai sem esperar a resposta.
Ray estava encostado em seu velho carro, um Jason Markes vintage que tinha custado a alma dele e um pouquinho da minha e da Eve, esperando que eu saísse. Ele vestia uma blusa branca, jeans escuros desbotados e um tênis branco sujo, roupas que eu tinha me acostumado a ver Ray usar praticamente todos os dias.
— Madi! Finalmente!— Ele sorriu largamente, enquanto me cumprimentava com um beijo na bochecha.— Vamos, o lugar que quero te mostrar fecha as quatro da tarde hoje e quero que você veja tudo!
Entramos no carro e Ray ligou o motor, roncando pelo envenenamento enquanto ele dava partida. Então, com um breve solavanco muito conhecido e depois de Ray quase subir na calçada, começamos a andar.
Depois de quase meia hora de prédios e casas enormes, com jardins floridos e verdes ainda maiores do que as casas, Ray parou em frente a um grande campus, que reconheci de cara, o coração subitamente batendo forte.
— Por que estamos em frente ao campus da Luminion Core?— Perguntei, olhando para Ray, um tanto confusa. Mas sabia, bem lá no fundo, qual era a resposta.
— Porque eu sou o mais novo aluno desse lugar.
Eu o olhei e demorei um momento para entender aquela frase, piscando. Então, dei um sorriso de orelha a orelha e uma gargalhada alta bem no meio da rua, saltando para abraçar Ray e quase o enforcando no processo.
— RAYNALD FOSTER BAY PASSOU NA FACULDADE!!!!— Gritei, entre risadas.
— Pelo amor de tudo o que está vivo, não me chame pelo nome inteiro Madison!— Ele disse, bravo, com o rosto desfigurado por uma careta de desgosto.
— Desculpa.— Eu o soltei, sorrindo mais do que alguma vez achei que seria capaz.
— Vamos entrando, quero te mostrar o campus, que com toda a certeza, vai ser sua faculdade também.— Ele pegou meu braço, me puxando para dentro.
Realmente, o campus da Luminion Core é maravilhoso, imenso e estupidamente bem equipado. Haviam tantas salas, tantas pessoas caminhando, tanto verde nos pátios daquele lugar... Ray me mostrou quais seriam suas aulas e as salas onde estudaria, além da biblioteca, lanchonete e as áreas administrativas. E a cada passo que eu dava, tinha mais certeza de que escolhi a faculdade certa para os meus Anos de P.P.V.
Ray e eu fizemos a prova do P.P.V no mesmo dia, esperando que isso nos desse sorte. Ele para publicidade visual e eu para designe geral. Nós dois saímos tão apreensivos que, se eu não estivesse com ele do lado, com certeza teria desmaiado na calçada. Aquilo sempre foi uma das maiores pressões do E.S, os Anos de P.P.V. Desde que entramos nesses últimos anos no sistema de ensino, todo professor nos lembrava das provas que nos permitiriam um bom futuro. Era só o que martelavam na nossa mente, só o que nos levaria para o próximo ciclo das nossas vidas. A A.C.A.P.V, é uma prova única no ano e sem ela, ninguém consegue a conclusão do E.S, muito menos tem a possibilidade de entrar em qualquer faculdade que se inscreveu. Não passando na A.C.A.P.V, não temos permissão para nos inscrever na avaliação da P.P.V. Basicamente, a faculdade e os anos que nos levariam às carreiras que escolhemos se tornam passado. É preciso perder um ano inteiro para refazer a prova e acesso a outras. É a maior pressão na vida de alguém, pelo menos até o fim da faculdade. Naquela uma hora que ficamos no campus, meu coração ficava mais apertado de medo de não ter passado...
Eu me lembro de muito pouco do que aconteceu depois que saímos do campus da Luminion Core, acho que talvez por parte da noite ter sido horrível e minha mente ter escolhido apagar. Talvez, só talvez eu tenha bebido um pouco do copo de Ray. Mas apenas isso. As bebidas que serviam na balada que Ray escolheu eram extremamente fracas... Assim como eu para o álcool...
O que me lembro são fragmentos de memórias, dos momentos aparentemente mais importantes da noite. Como quando Ray passou na casa de Eve para busca-la e ficamos meia hora tomando um café com a avó dela, porquê Evelyn não conseguia decidir se ia com o vestido azul justo, ou o rosa rodado.
Me lembro também quando chegamos na balada, a musica estourando nos meus ouvidos e um cara começou a conversar comigo. Ele estava completamente bêbado, o nariz vermelho e a fala arrastada. Normalmente, aquele simples fato seria suficiente para que fosse uma possibilidade descartada, mas meu juízo não estava perfeito. Quando aquele cara deu varias investidas e eu neguei todas, ele começou a ficar agressivo. Isso já passava da metade da noite.
O resultado foi uma briga entre o cara bêbado, Ray, Eve e eu, que fez nós três sermos expulsos do lugar, junto com o bêbado, que eu nem lembro se me disse seu nome. A ocasião serviu para reafirmar minha repulsa por pessoas bêbadas, além de ter sido minha primeira experiencia verídica com álcool, sem contar goles aleatórios no copo dos pais.
Voltamos para a minha casa, com Ray sendo a única pessoa realmente lucida entre nós três e os barulhos de notificações constantes de algum celular. Eu ainda estava muito atordoada no banco de trás, deitada no colo de Evelyn e tentando fazer minha cabeça parar de girar. Os dois realmente tinham bem mais tolerância para álcool do que eu jamais teria.
Ray parou a duas quadras da minha casa, no único lugar que achamos, pois aparentemente estava acontecendo uma festa na minha rua. Ele só me deixou sair do carro, quando acabei com a segunda garrafa d'água que Ray encontrou no carro, com um pacote de bolacha e não estava mais tão tonta.
— O-obrigada Ray...— Eu disse,entre um soluço e outro, dando um sorrisinho tímido para ele.
— Não é nada. Vamos, precisamos chegar na sua casa ainda, lembra?— Ele sorriu, passando seu braço por dentro do meu para me manter firme, Eve o imitou e acabamos por começar a caminhar como três crianças, de braços dados e pés no mesmo ritmo.
— Ray, eu estou bêbada, não esquecida.
— E nervosa também, está até dando patada, olha...— Eve brincou, dando uma risada fraca.
— Ninguém mandou roubar minha bebida e ficar tomando, se você não aguenta nem um licor de Terberry. Eu sou o adulto responsável aqui, ok?— Ray parou na porta da minha casa, pegando minha chave para abrir.
— Eu aguento tomar licor de Terberry e de Opar também, mesmo se for dos amargos!— Resmunguei baixinho, fazendo uma careta.— E você ainda não é adulto...
Ele conduziu eu e Eve para dentro, fechando a porta atrás de si com um enorme sorriso no rosto, que se refletia no de Eve. Quando eu finalmente percebi o que estava acontecendo, já era tarde demais e a unica coisa que consegui fazer foi sorrir de orelha a orelha.
— SURPRESA!!!— Gritaram minha mãe, Wesley, Ray e Eve.— FELIZ ANIVERSARIO MADI!!!!
Oiee milhos pra pipoca!! Segundo capítulo da nova As Sete Pedras!!! Espero que tenham gostado! Se virem algum erro ortográfico e de gramatica, podem me dizer, ficarei agradecida, mesmo com muitas revisões e pentes finos, sempre pode ter passado alguma coisa! Suas teorias foram confirmadas nessa festa pra Madi, KKKKKK? O que acharam de conhecer mais esse planeta incrível que é Amethystus e sobre o sistema de ensino deles, que vamos combinar é beeeeem mais pesado do que o nosso! Mesmo assim, coloquem nos comentários se vocês viveriam a vida da Madi kakkakak Não se esqueçam da estrelinha linda que me ajuda demais!!!
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