Seis - Madison.
Eu paralisei por um segundo, morta de medo ao ver aquela coisa vir até mim, urrando. Assim que percebi que ainda estava parada no mesmo lugar, apenas encarando a criatura, minha segunda reação foi correr. Correr o mais rápido que conseguisse.
Corri em direção ao outro lado da arena, batendo forte o tênis no piso de areia, não conseguindo controlar bem meus passos com a ansiedade, e quase caindo varias vezes. Por quê estava tão desordenada? Por quê estava com tanto medo? Tanta insegurança? Ametista mesmo disse, que eu não era essa pessoa... E eu sabia, que nunca fui. Mas então... O que estava acontecendo hoje?
Apesar de ser uma monstruosidade grande, e aparentemente tão desordenada quanto eu naquela situação, a criatura era rápida o suficiente para me alcançar— o que não deveria ser difícil —, e forte o suficiente para tremer o chão com cada passo, me fazendo cair e tropeçar várias vezes. Bati com a cabeça com força na areia, largando a espada por conta da pancada.
A criatura pegou meu braço violentamente, me erguendo no chão como se eu fosse um saco de areia, e erguendo uma de suas clavas para mim. Desesperada, dei um soco no maxilar da criatura, o mais forte que consegui, sentindo sua pele viscosa, mas ainda de aparência fantasmagórica. Ele deu um passo para trás, tonto, me largando no chão e levando a mão até o maxilar. O passo fez o chão tremer mais uma vez.
Largada no chão, quase tive a cabeça cortada por um penduricalho em forma de machadinha, mas rolei para o lado a tempo, pingando suor no chão e recuperando minha espada. Fiquei de costas, em posição de corrida, e faltou apenas um milésimo de segundo para que voltasse ao plano anterior... Mas se apenas corresse daquela monstruosidade, sabia que jamais ganharia a luta. Então, antes que pudesse reagir, levei um soco daquelas mãos enormes pelas costas. Doeu tanto, que senti meu corpo desligar por um momento, como se minha coluna tivesse sido partida ao meio.
Mas foi aí, que senti meu sangue ferver como nunca havia sentido. Meu corpo ficou tão quente quanto o próprio fogo, como nunca aconteceu, e meu controle sobre a minha própria mente oscilou. Raiva subiu aos meus olhos, e eu só conseguia ver tudo a volta sobre um filtro vermelho, quando fui atingida por uma coisa que deveria ser o cabo de um machado, cambaleando para trás.
A guarda cravejada de rubis da espada fervia nas minhas mãos, quando dei um salto em direção a criatura, virando a espada em seu rosto deformado. Senti o sangue escuro e quente, translucido como a criatura, esguichar no meu rosto. Ela não havia desaparecido como Ametista havia dito, o golpe não havia sido o suficiente.
Com uma força que eu não sabia que tinha, pulei para o abdome do meu oponente, segurando sua cabeça e usando o impulso para montar em suas costas. A criatura se assustou com a virada na luta repentina, o que fez com que ficasse ainda mais fácil derruba-la. Antes que ele caísse no chão, me esmagando, finquei a espada em sua cabeça, fazendo-o desaparecer em uma onda de luz branca, e eu por fim cai de costas no chão de areia.
Me levantei rapidamente, me recompondo e olhando para Ametista. Todo aquele medo inicial havia voltado, e agora se agravava por conta da dor que eu sentia na coluna e na cabeça. Meu sangue havia resfriado e a raiva passado. Eu conseguia ver tudo claramente de novo.
— Concentre-se Madison! Você pode fazer melhor do que isso!— Ametista fez o mesmo sinal com o braço de antes, girando a chave invisível no ar. E novamente o chão da arena tremeu quando o segundo portão gradeado se abriu.
De dentro do segundo portão, surgiu um outro humanoide, dessa vez com um corpo feminino, vestida com roupas pretas e um pano escuro que cobria seu rosto e sua cabeça inteira, deixando a mostra apenas seus olhos vermelhos. Ela puxou uma capa por cima da calça e da blusa preta que usava, correndo quase como um raio para a parede oposta a que estava. Virei meu rosto tentando encontra-la, porém parecia que a humanoide havia se misturado às sombras que agora se estendiam na parede da arena. Tudo o que consegui ver foram seus olhos.
A humanoide corria de parede em parede, sombra em sombra, enquanto eu girava com a espada em punho, tentando não perde-la de vista. O horário que eu deveria estar ali não era o ideal para ela. Meia-luz e sombras, parecia um pouco difícil de se conseguir. Mas mesmo assim, a humanoide desaparecia a cada área minimamente mais escura que encontrasse.
A humanoide correu novamente, mas dessa vez não foi para a próxima sombra, e sim, na minha direção. Foi tão rápida, que não vi quando rasgou a manga da minha camisa, levando boa parte da pele por baixo. O cintilar das garras passaram pelos meus olhos por um instante, e gritei de dor, vendo meu próprio sangue minar da pele. O terror me inundou por um momento.
Novamente, meu sangue ferveu e a raiva subiu a minha cabeça e aos meus olhos. O suor que empapava minhas roupas aumentou consideravelmente, mas eu já não me importava com ele. Queria apenas uma coisa. Destruir aquela humanoide.
Comecei a jogar o jogo dela, jogar a batalha de esconde-esconde-e-ataca. A humanoide corria para as sombras, e eu a seguia, tão rápida como nunca fui. Meus passos ecoavam no chão, e com o silencio da arena, pareciam um trovão ribombando. Todas as vezes que eu chegava perto da humanoide, ela corria para a próxima sombra, porém, não sem antes me atacar com suas garras. Mas agora, ela não conseguia encostar muito bem em mim.
Estava começando a ficar sem paciência, e meus ataques ficavam cada vez mais incisivos. Acho que ela também não estava muito feliz com isso, pois me atacou fortemente quando correu para outra sombra, quase arrancando um naco de pele meu. A dor irradiou por todo o meu braço, e o sangue que subia aos meus olhos parecia fazer o mundo ficar cada vez mais vermelho, me impedindo de ver direito.
Depois daquele ataque, meu corpo estagnou de dor. Ela irradiava e pulsava no meu braço, fazendo com que a dor fosse levada até o lado do meu corpo, as costelas pedindo socorro. Aquilo fez com que algo fosse engatilhado dentro de mim, tanto que até pude sentir um clique me deixando alerta. A espada era fogo nas minhas mãos, e a fúria me inundou, me fazendo esquecer que sentia dor. Corri tão rápido para a humanoide oculta abaixo de sua capa, que ela mesma teve pouco tempo para correr. Minha espada foi empunhada com um orgulho que eu não sabia possuir, e apenas senti quando ela atravessou o corpo do holograma, bem no local onde deveria se localizar o umbigo.
Não sei se foi por estar rápida demais por causa da raiva, se foi pelo mundo parecer em câmera lenta a minha volta, ou ainda porque o golpe não seria o suficiente para matar alguém, mas a humanoide não desapareceu no momento exato em que cravei a espada em sua barriga. Nem quando subi a espada até sua cabeça, cortando-a ao meio. Ela desapareceu apenas quando o vermelho dos meus olhos e a fúria começaram a se dissipar, me dando oportunidade de ver seu corpo holográfico começar a tremeluzir em suas cores reais, e então, desaparecer em um raio de luz branca.
Eu estava mais ofegante agora. Minha visão voltara ao normal, e as cores voltaram a ficar reais, e não avermelhadas como estavam anteriormente. Virei meu rosto para Ametista, que sorria sarcasticamente pra mim, parecendo finalmente satisfeita com meu desempenho.
— Isso foi bom Madi, bom mesmo. Mas pode ser melhor. Esse aqui é o ultimo, prometo lhe pagar um café se se esforçar para sair sem ferimentos e rápido dessa luta.— Ela disse calmamente. Fiz que sim com a cabeça, segurando mais forte minha espada. Ametista fez a arena tremer novamente, me dando a sensação de que cairia, minhas pernas bambeando.
O portão gradeado se abriu e eu olhei, tensionada, esperando que saísse logo o próximo oponente. Por um momento, fiquei parada e nada aconteceu. Até que. vindo do lado de dentro, um raio, literalmente, um raio, explodiu perto de mim, quase me atingindo. Então, uma criaturinha de menos de 30 centímetros de altura, saiu de dentro do portão, correndo como louca, subindo pelas paredes que ladeavam a arena. Ela carregava uma mini aljava de flechas e um arco nas costas, e se parecia muito com um gnomo, de pele esverdeada e orelhinhas pontudas. Mesmo parecendo fofinho, ele tinha a face de um pequeno demônio, e parecia determinado a me assassinar.
A criaturinha parou no meio da parede, armou o arco com uma flecha, e surpreendentemente, uma onda de eletricidade preencheu a ponta de prata da flecha, fazendo-a piscar com pequenos raios de luz. Ele mirou e atirou a flecha, que passou zunindo ao lado da minha orelha esquerda, me dando uma pequena carga elétrica no lado do corpo. Isso acabou por me acordar, me fazendo perceber que estava parada, apenas olhando a criatura trepada na parede.
Agarrei minha espada mais forte e com as duas mãos, correndo em direção a parede, engasgando com um grito na garganta e praticamente caindo no meio do caminho. Patético. Eu era patética naquilo. Tropecei e me vi de joelhos no chão, a espada subitamente parecendo pesada demais para segurar. Subi o olhar para Ametista, bufando, e ela me olhava fixamente, com seu rosto sério.
Fechei os dedos sobre a guarda da espada, fechando os olhos, e me entregando a luta. Ouvi a criaturinha armar seu arco com outra flecha, e energiza-lo. Me concentrei completamente em ouvi-lo, percebendo cada faísca que saia da ponta da flecha, enquanto a coisinha puxava a corda do arco ao extremo. Comecei a contar, agarrando mais forte minha espada, e sentindo os joelhos na areia fria. Cinco, quatro, três... O arco chegou ao fim, se esticando, enquanto os dedinhos do gnomo se preparavam para soltar a corda. Dois, um... Então ele soltou, e a flecha correu o ar, zunindo alto.
Mas eu estava preparada.
Peguei a espada rapidamente, colocando-a em frente ao meu rosto, onde a flecha estava mirada. A flecha bateu na minha espada, e voltou tão rápido quanto veio para a criaturinha trepada na parede, explodindo-a no ar. A coisinha foi dissipada em outra onda de luz branca, e eu finalmente pude me jogar na areia, cansada.
Enquanto eu descansava na areia fina, Ametista se levantou e caminhou calmamente até mim, descendo para a área de areia facilmente, como se aquilo fosse apenas um degrau. Ela veio até mim, me ajudando a levantar e me escorando nela. Todas as dores que eu já havia sentido alguma vez pareciam ter me acometido novamente. O sangue quente escorria pelo meu braço sem um naco de carne, ardendo na minha pele. Tudo doía, absolutamente tudo...
— Está tudo bem Madi, não se preocupe...— Ametista segurou meus braços, murmurando coisas que eu não conseguia entender. Uma luz magica e arroxeada nos envolveu, e em poucos segundos, meu corpo parecia completamente renovado. Até o cansaço que eu sentia diminuiu consideravelmente, me deixando apenas com um leve desconforto. Dei um passo para o lado, testando se minhas pernas, antes bambas, estavam firmes o suficiente.
— Como... Como você fez isso?— Perguntei, gaguejando um pouco, impressionada por estar subitamente tão bem.
— Magia de cura mestra. Um dia, talvez você possa aprender como usa-la, mas por enquanto, vai ser mais fácil se eu apenas cura-la.— Ametista pegou minha mão e saltou com um solavanco, nos levando para as arquibancadas da arena, e novamente dando um solavanco ao pousar.— Você foi bem para uma iniciante, mas ainda pode ser muito melhor. Não se preocupe com isso por enquanto. Vamos, prometi a você um café e vou cumprir.
Ametista fez eu caminhar até o ultimo degrau da arquibancada, e de lá de cima, consegui reparar em uma luz tênue que vinha da areia, e parei para olhar a luz, onde parecia se acumular uma fina camada de pó luminoso e branco. A deusa percebeu meu interesse e disse, calma como sempre, enquanto mexia os braços para executar mais um feitiço que nos tirasse da arena.
— É resíduo de holograma de massa. Para que você possa toca-los, não se pode ser feitos apenas de luz, precisam de pelo menos 0,1% de massa. E é essa massa que você vê no campo agora, a massa que você destruiu. Ela vai ser levada pelo vento em algumas horas, não se preocupe...
Fechei os punhos ao lado do corpo, por algum motivo torcendo para que ela não reparasse nesse movimento. Destruiu... A palavra usada era tão forte. Uma representação tão certa do que podemos fazer, do que eu era capaz... Mas ao mesmo tempo, tão... Errada. Eu estava confusa demais para processar qualquer coisa. De repente, aquele brilho pareceu mortal demais pra me deixar divagar sobre ele. Então, apenas suspirei e segui Ametista pela porta aberta no nada, de volta para o corredor do prédio.
PRIMEIRÍSSIMA BATALHA! Nossa Madison com toda a certeza tem algum talento para o que está fazendo, apesar de assim como eu, Ametista concordar que tem muito a aprender! Foi bem bom para que entendessem do que a nossa Força é capaz de fazer! Mas olha... Destruir, realmente é uma palavra bem forte não acham? Dona Madi tem certeza disso, e eu mesma me questiono muito! O que vocês acham? Votem, deixar sua estrelinha ajuda muito para nós escritores, e comentem o que acham, para me ajudar a sempre estar melhorando As Sete Pedras, ok ?! Beijinhos, milhos pra pipoca!
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