Onze - Madison.
Uma semana se passou, estranhamente calma.
A convivência na casa se tornou algo rotineiro mais rápido do que imaginei. As vezes, Kille cozinhava. As vezes, quem fazia alguma coisa era eu. No resto do tempo, ela desaparecia dentro do próprio quarto ou talvez na biblioteca e não havia nem sinal de suas luzes pela casa. Passou a ser engraçado ouvir Helena cantar enquanto passava pano nos móveis todos os dias pela manhã, ou ouvir os xingamentos de Rosh quando derrubava seus fones ao perder no jogo online. Jesse e Lucas mal paravam em casa e a cada dia tinham a pele mais bronzeada, sempre voltando com cheiro de sal e areia. Genezis não falava muita coisa e andava por ai com manchas de tinta, o que a tornava responsável pela lavagem das roupas. Mas também gerou uma briga explosiva, depois que Rosh reclamou da falta de camisetas para usar. Lembro de como o azul dos olhos dela poderia eletrocuta-lo, quando gritou que se ele deixasse as roupas dentro do cesto, elas seriam lavadas. Os dois se desentenderam três vezes nessa única semana, o que na minha concepção, era com frequência.
Mesmo com uma rotina estabilizada, todo esse tempo estivemos apreensivos. A falta de uma direção em meio a tempestade, não é algo agradável para ninguém.
Mas o que realmente não foi agradável, aconteceu no último dia da semana, durante um almoço até aquele momento calmo. Não fazia ideia do pandemônio que todas as Marcas começarem a brilhar de maneira cegante, ao mesmo tempo, poderia causar, até que os gritos preencheram a sala de jantar e todos esquecemos que sentíamos qualquer fome.
— O que isso significa? — Kille se levantou de supetão, as mãos segurando o pulso com força e soltou um gritinho esganiçado. A Marca brilhava amarelada intensamente.
— Mantenha a calma Kille, não deve ser nada demais... — Tentei acalma-la, mas Kille rebateu antes que eu pudesse falar algo produtivo. Talvez, o tom de voz desesperado e a Marca brilhando em vermelho tenha dificultado também.
— Mas também pode ser algo terrível, como um alarme para perigo de morte! — Disse, gesticulando.
— O que vamos fazer? Será que está tentando mostrar alguma coisa? — Lucas se perguntou, soltando o ar profundamente.
De uma vez, todos nós nos encolhemos, o corpo se retesando. Um zumbido estridente e agoniante, como um assovio do vento milhões de vezes mais alto, chamou nossa atenção para a faixa de praia nos fundos. Areia se espalhou até a cozinha e ouvi Helena xingar, resmungando que limpara as bancadas.
Corremos para ver a confusão e a cada passo, o brilho que as Marcas emitiam aumentava — se é que isso era possível —, como se dissesse que estávamos perto. Nos reunimos a volta da varanda, sobre a cerca de madeira, cobrindo os olhos para os proteger da nuvem de areia. Rodopiava e parecia se estender por toda a praia, onde um redemoinho se formava. Mas não na água, não no mar ou perto da baía. Era um redemoinho em terra firme que tornava aquela nuvem cegante, empoeirava nossas roupas... De dentro, pequenos raios de luz surgiam de tempos em tempos, arroxeados, brilhando como se pudessem escapar.
Então, uma por uma, pessoas foram cuspidas do redemoinho, se espatifando no chão da praia. Conforme se levantavam, espanando as roupas, percebi que conhecia aqueles rostos... Me lembrava dos deuses, mesmo os que não tinham dito uma palavra no templo de Ametista.
— Detesto portais de areia... — Um deles resmungou, se levantando e arrumando o paletó.
— Repetiu essa informação, precisamente, oito vezes durante a viagem Alister... — A voz de Ametista surgiu em meio à nuvem de areia, que se dissipava devagar, conforme os feixes de luz se tornavam menos frequentes.
— Por quê tinha que ter tanto estardalhaço, vocês nos trouxeram para cá sem nem ao menos soltar uma faísca! — Helena gritou e por um momento pensei que voaria no pescoço de algum deles. — Tem noção do tamanho dessa casa, de como é difícil deixar ela limpa?
— Perdão se acabamos por dificultar a vida de vocês. Viemos de muito longe e o portal um tanto espalhafatoso é uma medida preventiva para o cansaço, o dia será longo... — Phoenix sorriu de canto. — Estivemos no Palácio dos Quatro Pilares e nos mandaram para cá com urgência. Anne, feche esse portal de uma vez antes que ela acabe por assassinar um de nós!
— Um momento Ônix... — Ametista amarrou os cabelos no topo da cabeça e fez um sinal com as mãos, como se retirasse uma chave da fechadura. As faíscas de luz desapareceram e a poeira se assentou, deixando uma camada fina pelo chão.
— Por que estão aqui? — Perguntei, cruzando os braços. Pares e mais pares de olhos se fixaram em mim e os deuses se adiantaram para entrar em casa.
Casa... A primeira vez que pensei na mansão à beira bar como uma casa, foi no segundo dia, com o violão na mão e as cordas soltando um zunido quando me sentei no sofá. Parecia familiar, normal. Como se fizesse aquilo todos os dias. Estava em casa e durante o resto da semana, me arrepiava todas as vezes que o pensamento voltava.
— Fizemos uma visita a Destino. Está na hora de começar. — Phoenix respondeu e por um momento encontrou o olhar com o meu. Ele tinha as íris amarelas e brilhantes como ouro.
— Foi um pouco às pressas, mas consegui contactar um tutor. Um amigo, de longa data, que nos ajudará a treina-los de maneira adequada. Ele é experiente e poderá estar com vocês quando não pudermos. — Ametista passou a frente do grupo de deuses, o queixo erguido. — Desçam primeiro, odiaria abusar da boa vontade desse elevador.
Assim que finalmente me sentei, descansando o corpo em uma das carteiras da sala de aula, parecia que o peso do mundo se alojara nas minhas costas, como uma grande sombra. O que poderia ser pior? Esperar até o fim das nossas vidas por uma direção, ou sentir que um passo em falso derrubaria a tonelada que eu carregava?
— Antes de começarmos, alguma pergunta? — Ametista perguntou, sentando-se na mesa do professor com as pernas cruzadas.
O silêncio deixou um zumbido incômodo no ar. Busquei os outros rostos, sentados ao meu lado, tentando encontrar algum conforto para a sensação de estômago pesado. Era melhor ter a impressão de que não era a única desmoronando, mesmo que talvez fosse. Suspirei, acalmando o coração.
— Os humanos deste planeta não tem noção de como a Realidade funciona... Precisarão de um pouco de conhecimento prévio, para entender com o que estão lidando. — Concordamos com a cabeça e a deusa continuou. — Existem sete dimensões no cosmos, ao todo. Em cada uma delas, está um universo como o nosso, se expandindo infinitamente para todos os lados. As sete dimensões estão distribuídas de forma oval, como um disco e são separadas pelo Véu, que não impede a expansão, mas torna o salto entre elas algo possível apenas pela dobra da magia. Ela dá aos controladores de magia, a única escapada. No centro do cosmos, está o limite da Realidade, o palácio dos Quatro Pilares. Os Pilares gerenciam vários aspectos do cosmos, cuidam do bem estar ético das dimensões e no inicio de tudo, sabiam de cada acontecimento. Funcionou bem nos primeiros bilhões de anos.
Nós sete nos entreolhamos ao ouvir o tom de voz de Ametista. Era uma comunicação silenciosa, própria. A deusa suspirou e por um momento passou os olhos pelos deuses, amontoados à nossa volta. Buscava tanta força neles quanto eu buscava nos outros Escolhidos.
— Atualmente, três das sete dimensões tem planetas controlados pelos Bárbaros. No inicio, eles eram apenas um grupo de rebeldes, ovelhas desgarradas e irritadas com como as coisas funcionam, mas... A magia não é justa com ninguém e os Bárbaros exigem que os pilares façam algo quanto a isso. Mas eles não podem fazer, são regidos por magia tanto quanto eu ou vocês, talvez mais. Com certeza seguem mais regras... — A deusa revirou os olhos e espremeu os lábios até se tornarem uma linha fina. — São controlados por um deus, o chamam de General Sombra. O nome é um pouco cômico, mas ele... Ele é a ameaça real. Os Bárbaros são responsáveis pela Primeira Guerra Cósmica, pelo assassinato de Amor, tomaram o controle das dimensões que ela regia... A convicção de que podem dobrar a magia aos seus pés os carrega à outros planetas, à poder e força, para adentrar como na primeira vez no Palácio e terminar o que começaram.
Ametista se levantou com cuidado e deu um passo em direção à lousa digital, encostando a ponta dos dedos. A imagem se tornou a representação de uma cidade, separada por setores e alas enumeradas, construções estranhamente dispostas e uma espécie de porto.
— Essa é a planta de uma base Bárbara, a quase um milhão de anos atrás. A única vez que conseguímos mapear uma por completo. Temos certeza que ela se modificou e desde esse dia não conseguimos comunicação com nosso informante. — Ametista olhou para baixo, onde um lampejo de tristeza passou pelos seus olhos, suspirando alto. — De qualquer forma, era apenas uma base de médio escalão... O Império Bárbaro continua se expandindo. A cada dia a quantidade de povos que recebem proteção no Palácio dos Quatro Pilares, com planetas invadidos e familiares escravizados aumenta. Deles, vieram as cenas de guerra e dor que mostramos à vocês... É um pedacinho ínfimo do que aquelas pessoas passaram.
O silêncio ficou mais denso e pesado, quando Ametista deixou sua voz morrer. Esperou que todos absorvêssemos a informação e só então voltou a falar.
— Mesmo sendo um grupo grande e poderoso, os Bárbaros jamais teriam poder para derrubar todos os Quatro Pilares, sem uma arma catastrófica. Essa arma existe, para nossa desgraça ou nossa salvação. A história é longa, mas o resumo é relativamente simples e parece um conto infantil. — A deusa gesticulou, como se estivesse desapontada com algo e voltou a se sentar na mesa. Aprumei as costas ao entender que aquilo levaria tempo, de uma maneira ou de outra. — Antes de ser definido o que é ou não real, existia a Luz e a Escuridão e o Bem e o Mal. São entidades irmãs e hoje os chamamos de Irreais. Bem e Mal viviam em uma batalha eterna em meio ao caos, sem um campo de batalha real. Então construíram a realidade, apenas para destruírem um ao outro. Dos dois se originaram Universo e Amor, os primeiros e deles, Destino e Paz. Os Quatro Pilares do Firmamento Cósmico são a representação da Realidade, cada um a mantém de pé em um aspecto diferente, uma linha tênue e que os envolve, completando um a função do outro. — Enquanto pronunciava as últimas palavras, a deusa diminuiu o tom e seus olhos violeta se perderam nos nossos rostos, arqueando as sobrancelhas. — Bem e Mal continuavam a guerrear, por milhões de anos a fio... Até que Bem decidiu terminar aquela batalha de uma vez por todas. Ele pediu a Destino que criasse uma arma poderosa o suficiente para dar um fim àquela guerra. E ela o fez, por quê é a única que teria a possibilidade. Criou uma arma tão poderosa quanto Luz e Escuridão, que se molda ao seu usuário, às suas necessidades e aos seus desejos. Com ela, Bem encarcerou Mal. Mas em compensação, causou uma catástrofe de proporções cósmicas no tecido da Realidade. Na verdade, a rompeu.
— Destino nos mostrou a cena uma vez. — Phoenix interferiu com a voz baixa, o que não foi um empecilho em meio ao silêncio. — A palavra mais próxima é caos. Mas o sentimento é de completo desespero...
— A Realidade se implodiu quase por inteiro e se expandiu de novo. Tudo o que existia era jovem e os povos pouco desenvolvidos. É mórbido dizer que não perdemos muita coisa, mas em termos práticos, não perdemos. — Ouvi o som baixo de ar sendo inspirado para rebater, mas se perdeu antes que algo pudesse ser realmente dito. — Agora, havia uma fenda entre a Realidade e o que há além dela, outro Véu, que separava algo bem maior do que apenas as dimensões. Bem e Mal e Luz e Escuridão foram enviados para o outro lado. Os quatro foram de bom grado, sabiam que se continuassem desse lado do Véu, essa nova Realidade se despedaçaria. Assim que se foram, Destino tomou a decisão de fragmentar o poder daquela arma, dividindo-a em sete joias e as espalhou pelas dimensões. Se forem reunidas novamente, essas joias se tornam a oitava cor luz, a arma mais poderosa já criada e podem destruir o que seu, ou seus portadores desejarem com um só pensamento. Mas mesmo fragmentado, o poder dessa arma é cataclísmico e se caíssem em mãos erradas, fosse recuperado por pessoas perseverantes e cruéis demais, tudo estaria perdido. Então Destino as citou em uma profecia, assim como citou sete jovens que seriam capazes de manipular os poderes que foram fragmentados nessas joias. A profecia diz que apenas a pele dos jovens poderia tocar-las e só assim seu poder seria ativado. Entre muitas habilidades, se possuírem uma das joias, ela os levará à próxima e a seguinte, pois seu poder é o mesmo, chama um ao outro como um imã. Qualquer uma delas funcionará como uma bussola. Cita-los em uma profecia é uma tacada de mestre, as leis da magia tornam qualquer profecia impossível de quebrar e deve ser seguida à risca. Nenhum outro ser em toda a Realidade é capaz de manipular as joias sem que tenha efeitos colaterais imediatos, além de vocês. Esse é o principal motivo pelo qual sete adolescentes receberam essa missão. Nós mesmos tentamos nos candidatar, mas não podemos. Jamais fomos adolescentes, nenhum deus teria essa possibilidade. — Ametista passou o olhar entre os irmãos, que concordaram pesarosamente. — E também é a principal vantagem de vocês... Antes que perguntem, não fazemos ideia de como ela funciona para seu portador e Bem não está exatamente disponível para que perguntemos. — A deusa novamente cortou um de nós, ao ver a mão de Rosh se erguer no ar. Parecia impaciente. — Encontrar a oitava cor luz, destruir os Quatro Pilares do Firmamento Cósmico e enfim dominar todas as dimensões, implantando novas leis para a magia... É o objetivo dos Bárbaros. E o de vocês é para-los. Reunir as sete jóias e usa-las para derrubar General Sombra. Ele é a mente por trás de tudo aquilo e por mais que se rodeie de seres espertos, poderosos, nenhum chegaria aos seus pés... Nem mesmo seu círculo pessoal é capaz de tantas maquinações como Sombra fez por bilhões de anos. Sem ele... Os Bárbaros vão ruir, pedra por pedra. — Por fim, Ametista tomou ar e nos permitiu fazer o mesmo. Agora, mais do que nunca, minhas costas estavam tensas, pesadas e o estômago parecia dar nó em si mesmo. Aquela sensação era terrível, deixava minhas mãos trêmulas.
— Como faremos isso, exatamente? — Perguntei, minha voz saindo rouca, falha.
— Como será o golpe final, a arma que usarão, estará a critério de vocês. — A deusa murmurou, entendendo o teor da pergunta. — O objetivo por enquanto é encontrar as pedras, reuni-las e continuar respirando. Não vamos manda-los para a batalha sem experiência e é exatamente por isso que Hugo está aqui. — Ametista demonstrou com um sinal simples, o homem ao seu lado. Ele tinha o olhar antigo e o rosto jovem, apesar dos óculos de armação fina pousados no nariz. Seus cabelos eram castanhos e a pele tinha um tom de cobre brilhante. — Temos um estilo de batalha demasiadamente destrutivo, para que ensinemos à humanos tão jovens e com tão pouca bagagem. Seria difícil que absorvessem alguma coisa além de hematomas. Ele nos ajudará a treina-los e passar por esse empecilho. — Hugo deu um passo a frente, prostrando-se ao lado de Ametista. Seu olhar era duro e questionador, mas faiscava de orgulho. — Começamos agora. Tentem colocar a cabeça em ordem e tomem um pouco d'água. Nos encontramos em quinze minutos.
Foram exatamente quinze minutos, sem tirar nem por um segundo.
Era muito para absorver, em um tempo curto demais. Então, o silêncio foi um grande companheiro para nós sete, quando nos sentamos em roda na sala circular, encarando uns aos outros. Assimilando tudo, entendendo o que foi dito e a verdadeira história. Era fantasioso, mas a realidade. Aproveitei os momentos que restavam para me acalmar e relaxar os músculos.
— Isso é tão... Confuso! — Genezis disse, encarando o teto.
A voz dela estava embargada, desesperada. Kille segurou suas mãos.
— Acho que se você chorar eu não vou conseguir me segurar. — Helena encostou a cabeça na parede, tão ou mais desesperada do que a loira.
— Você ainda está tentando... É uma vitória.
Voltamos o olhar para Jesse, todos com a mesma expressão de cansaço. Em seus olhos, se encontrava um mar de lágrimas, lutando contra uma tempestade perigosa de emoções, mas nenhuma gota havia escorrido ainda.
Nos aproximamos, cada um encontrando um canto escuro para se esconder em meio ao corpo do outro. Ouvi pessoas fungarem e tratei de me aconchegar mais, não tendo muita certeza em quem. Aquele calor era de todos, o conforto era de todos. Novamente, o silêncio foi nosso melhor amigo. Fechei os olhos e o aproveitei por um momento longo, pensando.
— E se a gente fizer uma promessa? — Perguntei, a voz alta o suficiente para que todos ouvissem, mesmo amontoados. Não obtive resposta, mas mesmo assim continuei. A imagem de uma equipe anterior na mesma situação, tendo as mesmas duvidas me assombrou por um momento. — Chorar, sempre que for demais para aguentar. Confiar uns nos outros sempre que precisarmos chorar. Tenho certeza que vai doer mais do que está doendo agora e eu não sei vocês... Mas eu não vou me manter de pé sozinha. A gente pode se manter de pé juntos.
— O copo transbordou depois da primeira semana... Eu também não vou conseguir sozinho. — Jesse murmurou.
— Vamos ter que ser alguma coisa maior do que um copo. — Rosh resmungou, tão baixinho que mesmo no silêncio foi difícil ouvir. A voz estava embargada e sem forças.
Lucas tossiu uma risada fraca, que se amontoou em uma nuvem quente na minha nuca, carregando sua voz.
— Talvez um oceano inteiro.
Concordamos silenciosamente. Estavam certos. Apenas um copo transbordava rápido demais, era pequeno demais para uma missão tão grande. Era pouco, tão pouco... Se existir um oceano do tamanho de uma estrela, de uma galáxia inteira talvez, precisaríamos disso. Precisaríamos ser o maior dos oceanos. Com cheiro de maresia, algas e animais por todos os lados, profundo e infinito. Quebrando pedras e as transformando em areia por bilhões de anos.
Se aquele era o nosso jeito de selar uma promessa, eu não tinha certeza. Não sabia se tínhamos um jeito único de fazer as coisas, ou se realmente éramos uma equipe. Isso, eu descobriria nas próximas semanas, nos próximos meses.
Mas aquele silêncio não era vazio. Não chegava nem perto.
A porta da Sala de Aço estava escancarada quando chegamos. Os seres imortais nos encaravam de uma maneira um tanto ameaçadora, como se estivessem com pressa, enfileirados com as costas eretas. A tensão havia diminuído entre nós, os músculos um pouco mais relaxados. Meus olhos estavam um tanto pesados, pegajosos por conta das lágrimas, mas as fungadas haviam parado. Agradecia a Universo por isso.
A sala, em seu estado original, era composta por um grande salão de aço brilhante e apenas por isso, no momento, sem nada a mais na paisagem. Nos enfileiramos de frente aos deuses, enquanto nos perseguiam com o olhar.
— Temos apenas um mês Escolhidos, não há tempo a perder. — Phoenix anunciou, passando o olhar em cada um de nós por um momento. Então, de rabo de olho encarou Hugo, fazendo um sinal sutil com a cabeça e lhe entregando a palavra.
— Treinar vocês será um desafio. São crus, como barro molhado esperando para que alguém os molde. A predisposição de todos para a batalha precisa ser usada com cuidado, é necessário que seja contornada com técnica e isso é completamente individual de cada soldado. — Hugo disse, referindo mais aos deuses do que a nós. Ele abriu um sorriso pela primeira vez, sincero e se voltou para nós sete. — Por isso, nessa primeira fase de treinos, um destes deuses irá acompanha-los como tutores individuais, enquanto eu observarei todos em conjunto. Ensinar técnicas, posição para a batalha, entre outras coisas estará nas mãos deles, corrigir os erros também. Confiem no que lhes disserem, façam o que será recomendado. Esses deuses tem muito mais tempo em um campo de batalha do que suas vidas mortais os permitirão ter. — Hugo cruzou as mãos nas costas e ergueu o queixo, alto o suficiente para exalar imponência, mas não arrogância. — Por favor, juntem-se ao Escolhido pré-determinado. Ônix, se quiser, já pode se retirar, avise aos Pilares que começamos.
Com um aceno breve, Phoenix desapareceu em uma nuvem de fumaça alaranjada e fedorenta. Hugo esboçou um sorriso e os deuses se dispersaram, um deles caminhando em minha direção, as sobrancelhas franzidas. Meu treinador fez um sinal para que o acompanhasse, enquanto falava.
— Rubi, mas prefiro Castro, prazer. Anne contou que é uma boa lutadora, foi a Escolhida que fez o menor tempo no primeiro teste. — Concordei levemente, sorrindo para o deus. — Mas tem problemas com cegueira de batalha... Não é exatamente um bom começo, mas podemos trabalhar com isso, sente-se. — Obedeci e nós dois nos sentamos no chão de aço. Ruby fez um sinal com as mãos, rápido, contornando o ar com os dedos. Armas surgiram, enfileiradas pelo chão e o deus fez sinal para que pegasse uma delas. Busquei alguma espada, abrindo um sorriso ao encontrar a mesmíssima arma com guarda cravejada de rubis e lâmina de prata reta. Ainda tinha o mesmo peso e se encaixava completamente nas minhas mãos. — Estilo de luta corpo a corpo e incisivo. Não diria que estou surpreso, mas também prefiro espadas. A que escolheu é uma lâmina usada em um tipo de combate que chamo de "cavaleiro no corcel banco", não é do tipo que está na linha de frente, mas sim na legião que vem logo atrás em um ataque surpresa, destruindo linhas e mais linhas inimigas com poucos golpes.
— Okay... Se puder me mostrar como conseguiu ver tudo isso em apenas uma espada, eu agradeceria... — Resmunguei, encarando meu reflexo na prata perfeitamente polida.
— Não é algo que está escrito na espada Madison. Está escrito em campos de batalha e em técnicas desenvolvidas por milênios! — Ele bateu duas palmas e minhas roupas foram substituídas por um macacão cinza simples e botas com palmilha alta e acolchoada. O tecido era confortável e se ajustava ao meu corpo, mas a substituição me causou um espasmo de susto. — Essa será sua espada durante os treinos, estará guardada no armamento pessoal de vocês. Deverá cuidar dela, ensinarei como, não se preocupe. — O deus cruzou as pernas e suspirou profundamente. — A técnica inicial envolve paciência. Seu problema de cegueira de batalha será extremamente prejudicial, é necessário que esteja completamente ciente de todos os seus sentidos durante a batalha, ou deixará áreas expostas para um ataque fatal. Você saberia dizer qual dos seus sentidos é mais aguçado?
— Hm... — Busquei as palavras por um momento, a mente girando entre lembranças e mais lembranças para encontrar a resposta. Mas acabei levando tempo demais e Ruby esboçou um meio sorriso, tossindo a risada. Ele me encarou profundamente e disse:
— Então iremos descobrir.
Capítulo emocionante não concordam? Ufa, algum rumo a história está tomando, teremos momentos muito parecidos com o capítulo da Madi com a Ametista, onde muitos hologramas de massa serão usados e vamos ter muita pancadaria! Mas falta pouco, bem pouco para que a real missão comece kakakaka Coloquem suas opiniões e teorias nos comentários, ficarei feliz em saber! E não esqueçam da tão amada estrelinha, ela me ajuda demais mesmo! Vocês são incríveis, de vdd!
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