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7

― Você não contou o que aconteceu. ― Disse William abrindo a porta de sua cabine com um rompante. ― No orfanato.

Helena acordou no susto e o encarou. O rapaz estava de braços cruzados ao redor do peito largo, com cabelos escuros despenteados e havia sangue em sua camisa, que fez com que Helena risse.

A garota havia sido deixada sozinha depois do café. Ivan tinha alguns assuntos para resolver com Madureira, o condutor, e Charlotte o seguiu de maneira irritantemente prestativa. Ainda estavam sobrevoando o mar e o rimbombar do expresso-voador fez Helena cochilar por um momento.

― Só vou responder na presença do meu advogado. ― Helena soo sarcástica.

Will sentou-se na poltrona acolchoada em frente a Helena de um jeito preguiçoso.

― O que? Você acha que eu fiz aquilo? ― Helena sorriu.

― Porque você fugiu? ― Will insistiu.

Helena bufou.

― Eu estava chateada anteontem. Madalena era... abusiva. Obrigava as garotas a arrumarem dinheiro para ela e quem não arrumava ela simplesmente colocava na rua. Mas o que você sabe sobre isso? ― Helena o encarou. ― Você fede a riqueza. Aposto que tem uma mansão te esperando nesse lugar que tanto falam.

― Você está enganada. ― Will respondeu. ― É um palacete e só visito no verão.

Helena revirou os olhos. Não suportava os riquinhos que se achavam donos do mundo.

― Anteontem nós discutimos e eu fui embora, simplesmente não aguentava mais. No meio do caminho eu me arrependi e quando eu voltei o sobrado já estava em chamas. ― Helena desviou os olhos para janela. ― Madalena... ela não quis que eu a salvasse e morreu.

Will concordou em silêncio e Helena voltou a encará-lo. Convenceu-se de que aquilo não era uma mentira, afinal Madalena realmente havia se negado em receber ajudar. Mas não precisava contar que ela fizera isso por medo. Medo de Helena.

― E foi aí que você fugiu de novo?

― Mas esqueci minha mochila. ― Helena concordou. ― As garotas, estão bem? ― Helena se sentiu mal por ter pensado tão pouco nelas desde então.

― Vão ficar. Estão com Maggie Dove, a irmã de Madalena. ― Will se aproximou. ― Você sabia que Maggie Dove tem olhos-mágicos?

― Olhos-Mágicos?

― Quem não tem magia, mas é capaz de vê-la.

Helena recebeu a informação com um baque. A submissa e bondosa Maggie Dove também via o que ela via e havia ficado quieta todo esse tempo.

Por anos Helena teve de se convencer de que não era louca toda vez que algo de extraordinário acontecia ao seu redor e Maggie sabia de tudo e mesmo assim deixou que ela enfrentasse aquilo tudo sozinha.

― Porque ela não me contou? ― Helena perguntou para si mesma.

― Alguns tem medo de não serem aceitos em nosso mundo e nem no mundo dos naturais por completo. ― Will explicou. Não era a primeira pessoa que fingia ser um natural quando não era por completo.

Helena assentiu e encarou a janela. Todas as verdades que conhecia estavam desmoronando feito um frágil castelo de areia e ela não podia deixar de se perguntar o que mais de oculto havia ao seu redor.

Naquele instante as nuvens se afastaram e os raios de sol iluminaram uma vultosa ilha. O país insular de Brascard era a metade do Japão e possuía formato de meia-lua. Uma cordilheira repleta de neve se destacava, assim como uma extensa praia do extremo oposto.

O expresso-voador começou a mergulhar no ar e Helena se apertou ao cinto de segurança. À medida que se aproximavam da capital, Helena viu duas enormes esculturas em cada lado de um portão. Dois guerreiros empunhando um escudo e uma espada.

― Bem-vinda ao lar. ― Disse William. 

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