39
Helena acordou e reconheceu o teto de ornamentado da enfermaria. A sensação era de que um trator passou por cima do seu corpo. O lábio machucado ardia e sentiu o gosto de sangue na boca. Se ela estava assim, não queria imaginar o estado de Katrina.
O som de vozes no corredor despertou a sua atenção e Helena tratou de fingir que estava dormindo.
― Senhor Cardragon, pensei ter sido categórico da última vez. ― Ela Althariel.
― Mas o senhor sempre diz para perseguimos os nossos desejos.
― Isso é bem verdade, mas não quando se trata de uma tradição milenar. Deixe a sua amiga descansar e volte a visita-la mais tarde. Helena precisará de todos os amigos que puder.
Will se afastou, pisando duro e Althariel entrou na enfermaria de maneira cautelosa.
― Como ela está? ― Twyla vinha logo atrás.
― Duas costelas quebras e com hematomas terríveis. ― Nona deu o diagnóstico.
― Os seus pais virão busca-la para que se trate no Sirium. ― Althariel avisou.
― Isso é uma bobagem! Não há necessidade alguma de transferência. A viagem à Brascard pode ser prejudicial a sua recuperação. ― Nona argumentou.
― Não há nada que eu possa fazer quanto a isso, Nona.
― É uma pena o que tenha acontecido. ― Disse Twyla. Helena podia imaginar as suas feições de pena características. ― E quanto à Helena?
― Logo ela estará recuperada. ― Nona assegurou. ― O desmaio foi provocado pelo estado de choque do fizera. Logo estará acordada e bem.
― Mordhor fez uma recomendação à Chanceler pela expulsão de Helena. ― Ivan contou.
― Mordhor não tem jurisdição aqui, não aceitarei as suas intromissões, enquanto eu for o diretor da Academia.
― Helena enfrentará ainda mais resistência agora. ― Ivan apontou.
― Pobre Helena. Deixemos que descanse. ― Twyla disse em tom gentil. ― Ela terá muito com o que lidar quando acordar.
― Por ora, que Helena encontre a paz em seus sonhos. ― Althariel concordou. ― Não concorda, William?
Outros passos ecoaram pela enfermaria.
― Eu sinto muito. Não era a minha intenção espionar. ― Will se desculpou. ― Mas eu realmente preciso saber como ela está.
― Isso não cabe a mim, o que acha Nona?
― Tudo bem o menino ficar, já o espantou tanto que estou farta.
Helena imaginou Will sorrindo de maneira presunçosa.
― Não se esqueça do que há hoje à noite. ― Ivan avisou num tom preocupado.
Will não respondeu e os trio saiu, conversando em voz baixa. Passados alguns segundos, Will disse com um sorriso:
― Eles já foram. Como você está se sentindo?
― A pior pessoa do mundo. ― Admitiu.
― Eu nunca vi ninguém atacar daquele jeito. Ignácio lhe deu nota máxima.
― Mas eu fui desclassificada. Usei magia na luta.
Will franziu a testa.
― Ele não viu você usando o seu poder.
― Não? Mas eu achei que os meus punhos estavam queimando.
― Eu senti um tipo diferente de energia, mas não vi a chama. Ninguém viu. Katrina não se queimou pelo menos.
Helena pensou naquilo por um momento. O que sentiu durante aquela luta fora diferente das outras vezes em que usava o seu dom. Will, mesmo não vendo, também havia reparado e estava pensativo.
― Aonde vai essa noite?
― Lugar nenhum. ― Ele desconversou. ― Você deveria descansar. Grande dia amanhã.
― O que tem amanhã?
― O Baile Invernal. ― Ele sorriu.
Ah. Não era como se fosse bem-vinda em eventos sociais depois do que fizera e ninguém havia a convidado. Até agora.... Ela corou e Will deixou a enfermaria com um sorriso presunçoso.
***
― Katrina é uma idiota. Ela bem que mereceu. ― Charlotte comeu um dos bolinhos que a Sra. Ryan mandou ao seu quarto.
― Você não deveria falar assim da sua colega.
― Quando eu fiz o meu teste e fui selecionada como uma serpente curiosa eu era uma pessoa totalmente diferente de quem eu sou hoje. Bom, você estava certa quando me conheceu. Eu vim de uma família rica e elitista. Mas eu mudei.
― Eu também não sou a mesma pessoa. ― Helena admitiu. ― Engraçado como podemos mudar em poucos meses, não?
Charlotte riu.
― Eu não imaginei que poderíamos ser amigas, mas quando você socou Will na cara, logo chamou a minha atenção.
― Você nunca me disse porque não gosta dele. ― Helena reparou. ― Não precisa mentir, se não quiser contar tudo bem. ― Ela se antecipou.
― Entenda como um aviso ― Ela suspirou. ― Will é assim com todas, Helena. Ele se aproxima, é gentil e misterioso e desaparece do nada. Num minuto você é a mais adorada e depois ele simplesmente te despreza.
O coração de Helena se apertou em seu peito e ela não soube como agir.
― Vocês dois já...
― Não! Pelo amor do Elo não. Mas já fomos próximos, no quarto ano. Então, ele sumiu. Só não se chateie quando acontecer isso com você.
Helena ficou em silêncio. Will havia sumido e não tinha a convidado para o baile. Ninguém tivera coragem o bastante.
― Sabe de uma coisa? Deveríamos ir nesse baile.
― Você provavelmente é a garota mais aterrorizante da Academia e eu, bom, não é como se tivesse muitos fãs. ― Charlotte gargalhou.
― E quem se importa? Pode ser divertido e vai ter muita comida. Soube que Althariel até contratou uma banda. Vamos!
***
As mesas do salão de banquetes foram afastadas para dar espaço a uma pista de dança e um palco improvisado. Flocos de neve brilhantes caiam do teto e o lustre pomposo era feito de gelo. O chão fora revestido com uma camada que lembrava uma pista de gelo. Todas as mesas foram forradas com toalhas azuis e prata e fogos-fátuos iluminavam como castiçais ambulantes.
Helena entrou no salão de braço dado com Charlotte e todos os olhares se estenderam para as duas. A banda formada por duendes e elfos com instrumentos que Helena nunca tinha visto tocava uma música animada e dançante.
Helena girou ao redor de si mesma e o seu vestido longo vermelho lembrava as chamas crepitantes do fogo. A adaga estava presa na coxa e propositalmente amostra pela fenda do vestido, enquanto o laço ao redor do pulsou até os ombros lembrava um bracelete.
― Eu não sabia que podia vim ser par. ― Helena ouviu Cordélia dizer. A loira estava de braço dado com Jacob.
Helena quis rir, mas continuou dançando. Ela viu Vince do outro lado do salão elegante em um terno preto e lustroso, conversando com uma garota que ela não conhecia. Ele não a viu, mas ela também não quis interromper.
Um rapaz de dreads desconfortável em sua roupa amarrotada entrou na pista de dança sem par.
― Ei, Thomas! ― Helena gritou quando o viu.
― Garotas. ― Ele cumprimentou. ― Vocês estão lindas.
Helena segurou o riso pela forma embasbacada que ele olhava para Charlotte. A ruiva estava deslumbrante no seu vestido verde-folha que ia até os joelhos.
― Vou pegar uma bebida para gente. ― Ela disse.
― Não, deixa eu faço isso. ― Ele foi cortês.
Helena deu de ombros e continuou a dançar com Charlotte. A música se transformou numa batida lenta, então as duas sentaram numa das mesas redondas.
― Nossa, eu tô morrendo de fome. ― Helena começou a comer os docinhos e pãezinhos que eram servidos.
― Quando você não está com fome?
Helena jogou um pãozinho na sua direção e riu.
― Thomas está demorando um século com as bebidas. ― Charlotte reparou. ― Para onde você tá olhando? Will não vem.
Helena voltou a atenção para Charlotte e deu de ombros. Mora com um semblante sério e compenetrado se aproximou da mesa das duas com uma bandeja de prata vazia.
― Senhorita Helena, digo, Helena, um bilhete do Senhor Cardagron.
Charlotte quase engasgou com o pão de mel e Helena limpou os dedos para abrir o bilhete.
― Obrigada Mora. ― Ela disse.
Mora se afastou e deu uma última olhadela no salão para se certificar de que Helena estava lendo o bilhete. Ela partiu quando viu o semblante da menina se iluminar.
― Will, que se encontrar comigo. ― Ela se levantou.
Charlotte segurou o seu pulso.
― Você não vai me deixar sozinha, vai?
― Vai ser rápido, prometo. Além do mais Thomas também está sozinho e aposto que ele ia adorar te fazer companhia.
― Você acha? ― Charlotte se distraiu por um momento.
Helena riu e se afastou da pista de dança. Correu com o vestido esvoaçante feito chamas de fogo e os cabelos cacheados ao redor da cintura feito cascatas revoltas em direção às portas da Academia
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