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As provas semestrais tomavam a atenção de todos. Helena e o restante dos leoninos se reuniam na sala privada da sua ala durante à véspera para revisar as matérias. Susan e Thomas eram a estrelas da noite.

― Aonde está meu lápis? ― Helena revirou os papeis em cima da sua mesa. ― Se eu perder esse pensamento eu vou reprovar! ― Exclamou.

Cordélia e Olivia trocaram olhares significativos.

― Serve esse? ― Will tirou o lápis do seu emaranhado cabelo cacheado.

― Obrigada, Will. ― Helena sorriu. ― Não vai revisar nada?

Will deu de ombros e se sentou ao seu lado no sofá, verificando as suas anotações desconexas e rabiscos.

― A sua letra é horrível. ― Criticou.

― O que importa é que eu entendo!

― Você já conseguiu fazer o seu broto crescer? ― Will perguntou.

― Ainda não. ― Helena encolheu. ― Se eu reprovar botânica é capaz do Godofredo ter um infarto no hospital.

Thomas gargalhou.

― Anime-se Helena. Talvez você só esteja muito tensa. ― Thomas a tranquilizou. ― Você precisa de um dia de folga.

Will lançou um olhar diferente para Helena.

― Eu faria isso se a Cru-Ella não tivesse pedido um resumo de um livro de mil páginas. ― Helena afundou na poltrona e continuou com o trabalho. ― Já fez o seu?

― Já terminei todos os meus trabalhos. ― Will disse de forma desinteressada.

Todos os alunos atarefados o olharam com um misto de admiração e inveja. O tipo de olhar que só Will podia atrair.

― Sabe, não vale usar o lápis-que-tem-todas-as-respostas. ― Helena avisou. ― Cru-Ella consegue identificar quando alguém cola nos trabalhos.

― Eu não uso nada disso. ― Will franziu a testa. ― E não vejo porque você vai me dar sermão.

― O que!? ― Helena exclamou.

― Eu vi o livro que você escondeu no Clube dos Perdidos. ― Ele sussurrou. ― Helena Crawley mantendo um Oráculo.

Helena deixou cair o lápis e o encarou. Se Wil soubesse onde havia encontrado tal livro.... Ela o ignorou e voltou ao trabalho, que se seguiu noite a dentro.


A prova de cultura natural foi a mais fácil e ela passou com louvor. Christina lhe fez uma excelente recomendação e elogiou bastante a sua explicação sobre o folclore brasileiro.

― É o mínimo que se espera de uma natural. ― Brandon tripudiou depois que Helena saiu da sala. A ferida ao redor do seu pescoço já havia cicatrizado, mas deixara uma marca horrível, que ele escondia usando uma blusa de gola alta.

― Você acha que me ofende? Eu tenho muito orgulho de ter sido criada como uma natural. Pelo menos não sou uma vergonha de protetor como você é.

― Deveria ter ficado naquela merda de lugar de onde você saiu. ― Disse.

― Quer ganhar outra cicatriz? ― Helena o desafiou. ― O bando não está aqui para te proteger dessa vez, Brandon.
 
― Uma outra hora. ― Ele partiu, pisando duro.

Helena recebeu uma nota passável de Ella Hopkins sobre o resumo do livro, apesar de ter criticado e corrigido cada frase que ela havia utilizado. A avaliação de Diplomacia e Ética do professor Stefan Strike foi uma situação de conflito em grupo, por sorte, ela improvisou, mas os colegas entenderam a deixa e ela conseguir uma boa nota.

Helena segurava o seu broto ainda não nascido na saída da estufa. Phineas chamava um por um e ela era a última. Ela queria ser tão boa quanto Tereza em Botânica. Mas talvez fosse o dom destinado para que a sua irmã não nascida herdasse e não ela. Uma lágrima escorreu sob o seu rosto e caiu sob o vaso.

― Esplêndido! ― Phineas falou quando abriu a porta da estufa. ― A flor da Lagrima D’agua, não vejo uma tem muito tempo. São espécies que demoram a desabrochar, mas tem poderes curativos muito fortes.

A avaliação de Ygrife, irmã-gêmea de Ignácio, compreendia identificar e montar objetos mágicos. Helena conseguiu identificar todos os objetos, o que garantiu metade da nota e montou com facilidade um trinóculo e um giroscópio.




O gongo soou e Thomas e Brandon se posicionaram. O professor Ignácio preparou um verdadeiro ringue de luta em sua avalição e todos os alunos foram convidados para assistir, o que deixou Helena ainda mais nervosa.

― Quer apostar? ― Sugeriu. ― Talvez assim você consiga um trocado para sua família.

Thomas bufou e atacou. Era o que Brandon queria. Brandon o imobilizou e Ignácio começou a contar. Thomas se desvencilhou e os dois começaram a rodear o ringue.

― Você tem certeza que não quer apostar? Talvez vocês consigam até comprar uma peça de carne.

Thomas atacou novamente e Brandon deu um contragolpe violento, que fez com que Thomas caísse no chão do ringue.

― Concentre-se Thomas. ― Helena gritou.

Thomas a viu e Helena juntou as mãos numa prece silenciosa. Thomas sorriu e assentiu. Enquanto Brandon tripudiava, Thomas o atacou de maneira precisa com um chute no ar. Brandon desmaiou e Thomas sagrou-se vencedor, apesar de Ignácio chamar a sua atenção porque ele caiu na provocação do oponente.

― William Cardragon e Vincent Lancaster. ― Ignácio chamou.

O coração de Helena se apertou. Estava mais ansiosa para aquela luta do que para a sua que seria a próxima. Como Will e Vince eram alunos avançados, Ignácio deu à ambos um bastão de madeira.

― Nada de magia, cataclistas. ― Ele repetiu a regra. 

O gongo soou e os dois se encaram. O anjo de gelo e o menino feito de fogo. Todos os aprendizes ficaram em silêncio como se sentissem no ar o clima de tensão que se formava.

Vince fez o primeiro movimento, deixando o bastão à centímetros do rosto de Will, que não se moveu. Will atacou Vince violentamente, que bloqueou. O único som que ouviam era do choque entre os bastões e as respirações ofegantes. Helena torcia para que nenhum dos dois se machucassem. O gongo do fim do primeiro round soou, mas nenhum dos dois parou de tentar atacar um ao outro.

Vince era tão rápido quanto Will e parecia mais focado.  A luta fluía de forma violenta e a nota boa na avaliação era o que menos importava. Os dois atacaram ao mesmo tempo e o bastão de madeira de ambos, quebrou-se, fazendo com que farpas de madeiras voassem pela sala.

Will jogou o pedaço quebrado no chão e atacou Vince em cheio com um soco. Vince se recuperou com os lábios sangrando e o atingiu no estomago. Os dois se atracaram pelo chão e já não havia mais técnica de luta. Ignácio sinalizou para que Thomas e Jacob interferissem e com muito esforço os dois conseguiram afastar Will de Vince.

Will sorria de um jeito perturbador e Vince destilava raiva. Os dois estavam suados, despenteados e sangrando. Vince fez uma esfera de fogo e Will projetou um arpão de gelo.

― Já chega. ― Gritou Ignácio.

Helena se aproximou o ringue e por um momento os olhos escuros e os verdes pararam de se encarar e a olharam. Ignácio semicerrou os olhos, mas não disse nada.

― Apesar de vocês se provocarem, perderem o foco e agirem feito dois brutamontes, vou dar nota máxima aos dois. ― Disse. ― Pobre do inimigo de vocês. Ah, foi um empate!

― Você está bem? ― Helena perguntou para Vince, quando Jacob o retirou do ringue.

― Vou ficar. ― Ele disse.

Will vinha logo atrás e lançou um olhar frio na direção de Helena. Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, Ignácio chamou Katrina para o centro do ringue.

Katrina prendeu os cabelos cacheados num coque e sorriu para Helena de um jeito desafiador. Helena olhou insegura para Thomas e Will, que tinha um saco de gelo no olho.

O gongo soou e Katrina atacou Helena em cheio com um soco. Helena cambaleou e devolveu o golpe, mas Katrina se esquivou e a atacou novamente. Dessa vez Helena caiu e a sua visão ficou turva.

― Você é fraca. ― Katrina riu.

Helena encarou Katrina. Ela, Brandon e seus amigos maldosos eram a perfeita representação das pessoas que a julgavam por ter vivido como uma natural. Julgavam tudo o que desviava ao menos um pouco do padrão que eles consideravam normal. 

A raiva cresceu dentro de Helena e por mais que ela se esforçasse em reprimir o seu poder, a sua magia irrompeu. Ela mal reconheceu o grito de raiva que ecoou pelos seus lábios e se lançou contra Katrina com punhos de fogo.

Atingiu a sua oponente com um soco potente no peito. Katrina cambaleou e Helena continuou atingindo o seu corpo mesmo Katrina implorando para que parasse. Mesmo com todos gritando para que parasse.

O som perturbador das suas costelas quebrando sob os seus socos a despertou de seu estupor. Ela recobrou a consciência e se afastou horrorizada. Todos eles, até mesmo Ignácio, olhavam-na surpresos e horrorizados.

Ela era o monstro que os jornais pintavam. O demônio que Madalena chamava há anos. Ela era descontrolada e letal. Will foi o único que teve coragem o bastante de se aproximar de Helena. A sua magia se abrandou e ela se sentiu esgotada, tão cansada...

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Um novo capítulo para comemorar as 5 mil leituras, muito obrigada pessoal por me acompanhar até aqui e por não ter desistido da história depois de tanto tempo sem postar. Sou muito grata a vocês, beijos!

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