33
Não sou eu quem a quer. Aquela frase foi repetida diversas vezes. Primeiro para Will, depois para Twyla e Ivan, em seguida para Althariel, depois Charlotte.
A rotina na Academia mudou por completo. Aonde quer que Helena fosse era acompanhada por Charlotte ou Vince. Naquela manhã Thomas correu ao seu encalço.
― Até você?
― Eu sinto muito. ― E sentia mesmo pela expressão culpada.
― Eu quem deveria dizer isso. ― Ela observou Susan do outro lado do pátio explicando algo pela milésima vez aos novos aprendizes. ― Espero que ela não fique chateada.
― Ela vai dar conta.
Wesley e Jim viam na direção oposta, mas mudaram de direção bruscamente quando a viram. Helena riu. Ninguém queria estar perto quando o assassino voltasse para pegá-la.
― Idiotas! Você quer que eu dê uma ocorrência a eles por isso?
― Já é uma ocorrência eles viverem consigo mesmo.
― Está entregue, senhorita. ― Ele fez uma reverência. ― Ah, Helena.
― Oi?
― Não é nada. Só não dê atenção aos boatos.
Helena assentiu e entrou na estufa. Ah, lá estavam eles. Os murmúrios quando ela ocupou a último lugar vago na bancada vazia. O professor que fazia as infusões de folhas não era Godofredo, ele a fitou com interesse e deu um sorriso amarelo.
― O professor caiu nos vasos de Mortiças na estufa de casa. ― Iadala sussurrou ao sentar do seu lado. ― O professor Phineas foi contratado para substitui-lo.
― Oh, o professor, ele...?
― Oh, não, não. Mas precisará ficar no Sirium por alguns meses. O veneno da planta-mortiça não é letal para quem tem contato direto com ele, mas transmite-se por vias aéreas e pode ser fatal. ― Ela explicou.
A poção mudou de cor de verde-musgo para um amarelo mostarda e os alunos deram uma salva de palmas.
― Aprender a arte de fazer antídotos a partir de plantas é uma arte capaz de salvar vidas, senhores. ― O professor Phineas um homem magro de cabelos claros penteados para trás e olhos cinzas feito gelo. As mangas da sua camisa branca estavam dobradas e ao lado de sua maleta de couro, estava dependurada uma bengala de ouro.
Helena se concentrou na explicação, mesmo com os murmúrios insuportáveis, que pioraram a medida que a aula avançava.
Thomas acompanhou Helena até o pátio, mas uma Susan descabelada e muito vermelha veio ao encontro deles.
― É uma emergência, Thomas. ― Ela arfou. Ela trazia consigo um jovem aprendiz de aparência esverdeada.
— Desculpa Helena, mais tarde nos falamos. ― Thomas correu com o garoto que parecia mais verde que Vilna.
― Balas de gosma, mas ele é alérgico. ― Susan explicou rapidamente. ― Nos vemos no almoço, ou no jantar, vai saber.
Helena sorriu e olhou o pátio vazio. Estava sozinha, finalmente. Mas não por muito tempo. Brandon e seu séquito vinha ao seu encontro no corredor.
― Ora, vejam se não é a garota morta. ― Ele tripudiou.
Os seus amigos riram feito hienas.
― Eu e meus amigos fizemos uma aposta. ― Ele continuou. ― Como será que Helena Crawley vai morrer, quer participar?
Ele estendeu o pergaminho em sua direção. Cordelia e Olivia estavam participando. Não a surpreendia. Mas até Jacob, Wesley e Jim também o faziam. Aquilo a magoou.
― Todos concordam que esquartejada está ganhando. Afinal, foi assim que ele fez com os seus pais, não?
― Cortados em pedacinhos. ― Hans completou.
Helena o empurrou e tentou sair, mas todos a rodeavam e riam.
― Já eu acho mais interessante o que vai acontecer com ela antes de morrer. ― Ele tocou num dos cachos de seu cabelo.
― Cala a boca, Brandon. ― Ela tornou a empurrar.
Brandon a agarrou pelos cotovelos e se aproximou de um jeito grosseiro. O hálito frio no seu ouvido.
― Ou o que? Vai me matar? Você já fez isso antes.
A magia de Helena irrompeu. Ela não soube o que tinha feito até que viu o pescoço vermelho e queimado depois do tapa que lhe dera. Bolhas de sangue se formaram e a carne fedia a coisa queimada.
― Você vai ver só uma coisa, sua vaca. ― Ele gritou.
Os seus amigos seguraram os seus braços. Ela tentou esquentar o corpo para afastá-los, mas não conseguiu. Obrigada magia por desaparecer quando mais se precisa, ela pensou.
Um soco. Apenas um soco no rosto e ela viu estrelas. Brandon parecia uma besta com sangue escorrendo pelo pescoço e os olhos em fúria.
― Eu vou continuar até você gritar. ― Ela não gritou por puro orgulho.
O fogo tornou a crescer dentro dela e ela ouviu Hans e os outros reclamarem para Brandon terminar logo com aquilo. A magia iria irromper e ela iria mata-los. Por um momento, não se importou nem um pouco.
― Uma protetora como você é uma vergonha para nós. ― Ele esquentou as mãos, pronto para o próximo soco.
Helena fechou os olhos, mas a dor não veio. Um protetor de cabelos escuros se movimentou tão rápido e atingiu Brandon no rosto. Will o segurou pelo pescoço e Brandon gritou. Anjo de gelo.
― Não ouse encostar nela. ― Vociferou.
Will o jogou para trás e Brandon bateu a cabeça na parede oposta do pátio. Ele tornou a olhar para Hans e os outros que ainda seguravam Helena.
― Solte-a. ― Ele ordenou. Aquela voz bestial e cheia de raiva fez os pelos do corpo de Helena se arrepiarem.
Eles obedeceram, acuados.
― Vou fazer questão que você e essa cadelinha sejam expulsos por isso. ― Ameaçou Brandon do outro lado.
― Você pode tentar. ― Will sorriu diabolicamente.
Ele segurou Helena antes que ela caísse. Os socos no treinamento eram brincadeira de criança comparado com aquilo. A sua visão ficou turva e ela ouviu Will chamando o seu nome ao longe até que sucumbiu.
Acordou com o pano frio sendo pressionado sob o seu rosto. Ardia. Os olhos dela focaram em Will. Não era um pano afinal, mas seu poder beijando o seu rosto.
― Oi, bela adormecida. ― Ele provocou.
― Aonde estamos? ― Ela tentou se levantar, mas gemeu de dor.
― Meu lugar seguro. ― Ele disse. ― Agora é seu também. Você precisa mais do que eu.
― Eu o feri. Brandon, eu o queimei.
― Ouvi dizer que vai ficar com uma cicatriz horrível. ― Will sorriu. ― Espero que ele sempre se lembre a não provocar uma destemida.
― Eles estão apostando. ― Ela murmurou. ― Como eu vou morrer.
― Eu ouvi dizer, mas não se preocupe, se depender de mim não vai acontecer. ― Ele parou de emanar o seu poder e a encarou.
Maldição. Ele era irresistível olhando-a daquela forma. A magia de Helena despontou. Fogo e gelo. Will sorriu. Ele sentia também. A magia dos dois brincavam e provocavam uma a outra.
― Porque me trouxe aqui? ― Ela desviou a sua atenção.
― Não surte, mas eu menti quando visitamos os seus avós. Eu sabia que nossos pais se conheciam. ― Ele fez silêncio e esperou a explosão de Helena, que não veio, então, continuou: ― Chama-se Clube dos Perdidos. Encontrei no primeiro ano, enquanto tentava fugir de uma detenção. ― Will sentou-se despojado em uma das poltronas.
A sala era pintada com tinta preta e não havia janelas, apesar de ser fresca. No teto havia um velho lustre e o chão era revestido por um piso branco. Haviam sofás e poltrona de couro, que ficavam de frentes para uma lareira empoeirada.
Uma das paredes era coberta por prateleiras de livros empoeirados e numa parte da sala, próximo a uma parede espelhada, havia um boneco de luta, algumas armas e um tatame. Um armário antigo de mogno decorado com arabescos de madeira era a única peça que destoava do lugar.
― Ninguém mais consegue entrar a não ser você e eu. ― Will explicou.
― Nem mesmo Thomas?
Will tornou a negar com a cabeça.
― Porque?
― Eu tenho uma teoria. Olha isso.
Ele apontou para um quadro em cima da lareira. Um pedaço de pergaminho antigo estava pregado. Helena se levantou e o leu:
― Eu juro em lugar escondido ser para sempre um dos perdidos. Farrear como um duende e lutar como troll. Estar sempre contente e viver sempre prol. Em prol de que?
― Da incansável e implacável, porém breve, vivacidade. ― Will leu a última frase.
No final do documento haviam algumas assinaturas e Helena ficou embasbacada com os nomes que lia.
Beatrice Lancaster
Francis Crawley
Tereza Dunne
Amélia Bourbon
Rickard Cardragon
O penúltimo nome possuía uma caligrafia tão ruim que Helena não conseguiu identificar, enquanto o ultimo estava riscado de maneira brusca. Mas Helena só prestou a atenção no nome de seus pais.
― Meus pais estiveram aqui?
Will fez que sim com a cabeça.
― Os seus também.
Ela tirou a foto do bolso e a observou mais uma vez. Will estava atrás dela e fazia o mesmo.
― Nós recebemos esse lugar em legado pelos nossos pais. ― Will explicou. ― Somos os herdeiros do Clube dos Perdidos.
― O que exatamente eles faziam aqui? ― Helena olhou ao redor. ― Matavam aula e ficavam farreando?
Helena não estava desapontada com os seus pais porque eles não eram alunos exemplares e fugiam das aulas, mas porque eles tiveram uma vida na Academia e a privaram de ter uma.
― É mais do que isso. ― Will garantiu e foi até uma das paredes e parou de frente para um armário velho.
― Meu pai com certeza deveria adorar esse armário velho. ― Helena desdenhou. Francis adorava quinquilharias pelo o que ela conseguia lembrar.
― Isso é a minha porta de saída. ― Will explicou. ― Nossa porta de saída.
Helena colocou a mão na testa de Will, que se encolheu com o toque.
― Só queria ver se você estava com febre.
Ele segurou a sua mão e brincou com os seus dedos. O seu toque era como uma corrente elétrica que passava do seu corpo e alimentava o dela.
― Não faça isso. ― Ele implorou.
― Isso o que?
Ele puxou os seus lábios com um gesto delicado. Ela não sabia que o estava mordendo até então.
― Isso. ― Ele sorriu, então largou a mão dela e despenteou os próprios cabelos. Tão Will.
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