Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

O embarque fúnebre

   — Os clientes chegam amanhã à tarde e a tripulação de manhã. Consegue ter o barco pronto até a tripulação chegar ou quer que lhe arranje ajuda? — perguntou Chloé, a proprietária e comandante do navio Sol Poente.

— Não há problema, patroa. Está tudo sobre rodas — assegurou o Sr. Trulaw, sorrindo com os dentes cariados que lhe restavam.

Chloé tapou o nariz com o dedo indicador — o velho tresandava a cerveja. Já havia ponderado despedi-lo em diversas ocasiões, não só pelas queixas dos passageiros do seu fedor a álcool e modos provincianos, mas também porque ele não fazia grande coisa. A única função que o Sr. Trulaw efetivamente desempenhava no Sol Poente era a representação da geração do seu falecido avô, que Deus o tivesse na sua glória.

— De qualquer modo, contratei um par de mãos para o assistir. E não se esqueça que um barco não tem rodas, Sr. Trulaw.

O velho levantou a sobrancelha e questionou-se quem a patroa havia contratado para o ajudar.

Como se lhe lesse os pensamentos, Chloé acrescentou:

— Ofereci uns trocos ao miúdo que distribui os panfletos turísticos para ficar consigo até à chegada da tripulação. O nome dele é Raul ou algo do género...

— Ray?

— Isso.

— É bom rapaz. Já me ajudou umas quantas vezes..., mas não se preocupe, patroa! Não lhe deixei dívida alguma. Tenho-lhe pagado sempre com uma ou duas latas de cerveja.

— Já ouviu falar de exploração infantil, Sr. Trulaw?

— Ora essa, patroa! O rapaz tem feições de bebé, mas vai avançado na casa dos vinte. E eu dou-lhe das melhores cervejas...

Chloé revirou os olhos.

— Tenha um bom dia, Senhor Trulaw.

Sem mais demoras, Chloé virou costas ao velho e afastou-se do Sol Poente. A manhã ia avançada, e ela tinha de fazer alguns pagamentos antes de embarcar rumo a Jan Mayen.

O Sr. Trulaw riu-se e subiu para o navio. Era uma bela embarcação, embora precisasse de uma restauração, tal como o velho carecia de uma dentadura. Contudo, o Sr. Trulaw preferia gerir o dinheiro em cerveja, pão e carne seca. Quando a vida lhe reunia uns trocos ou recebia o bónus natalício, dava-se ao luxo de comprar uma botelha de hidromel.

— Veremos quem afunda primeiro, fiel companheiro, tu ou eu — divagou para o Sol Poente, antes de se sentar na sua cadeira de baloiço, tapar o rosto com o seu chapéu de chuva e iniciar uma sesta.


O velho só acordaria na madrugada seguinte, quando a tripulação começasse a chegar. Chloé ainda desconhecia que o trabalho do Sr. Trulaw ia muito além de beber cerveja, afastar os turistas e tratar da manutenção do Sol Poente. O velho tinha uma função insubstituível — era o último El-Kimikus da região.


----------


— Sr. Trulaw, a tripulação está prestes a entrar a bordo. Acorde!

Ray abanou o velhote três vezes até este piscar os olhos, estalar o maxilar e saltar do lugar onde repousava.

— Mau! Eles já estão aqui? — Ray acenou afirmativamente. — Bolas, rapaz! A patroa não vai gostar...

— Já tratei de tudo, Sr. Trulaw — interrompeu Ray, antes que o velho entrasse em curto-circuito.

— De... tudo? Hum! Verificaste os níveis de óleo? A água do tanque de expansão? E a temperatura?

— Isso e tudo o resto, Sr. Trulaw.

— Ena, rapaz! Só falta dizeres-me que também poliste o comando?

— Oh! Não... — admitiu, desiludido. Ray pensava conhecer todas as tarefas do velho.

— Então, não temos tempo a perder! — exclamou o velho, ouvindo as vozes da tripulação. — O chão do comando parece uma pocilga quando o esfrego com a tripulação a pisá-lo. A humidade liberta toda a porcaria agarrada às solas dos sapatos... vai recebê-los e diz-lhes para vestirem o uniforme — disse, agarrando a esfregona e o balde espalhados no convés. Antes de desaparecer para dentro do navio, acrescentou — Bravo, rapaz! O convés está um brinco! A patroa vai gostar.

Ouviam-se os passos da tripulação a subir a rampa de embarque. Ray virou-se e recebeu-os:

— Bom dia. Sou o Ray, o ajudante do Sr. Trulaw.

Ray estendeu a mão para cumprimentar os seus novos camaradas, mas não foi correspondido. Eles passavam pelo rapaz como se ele fosse uma peça do navio, enquanto conversavam entre si. Boquiaberto, Ray ia a recolher a mão...

— Prazer em conhecer-te, moço! Sou a Arabella e podes tratar-me por Ara — apresentou-se uma mulher corpulenta e morena, agarrando o pulso de Ray para um cumprimento. — Não te deixes rebaixar pela malta. Somos uma cambada de amargurados e temos sempre moços novos a transportar mercadoria. Até te verem mais vezes, não os esperes muitos muito calorosos. — Arabella olhou para os lados e perguntou — Sabes onde posso encontrar o Sr. Trulaw?

— Sim, senhora. Ele está no comando.

— Ihr! Esse velho não tem emenda. Só começa a dar à perna quando nos vê chegar. Mesmo assim, nunca zarpamos sem ele.

— Porquê?

Ray já se havia questionado como é que o velho mantinha o seu emprego — a patroa perdia as estribeiras sempre que lhe dava uma tarefa e ele não demonstrava grande dedicação por nada além de apanhar uma bela piela.

— Não penses que estou a fazer pouco de ti nem me tomes por doida, mas acredito que o velho nos dá sorte. Já trabalhei em várias embarcações e nunca vi uma com tanta ventura quanto o Sol Poente. Uma vez, decidimos partir sem ele e quase ficámos pelo caminho. — Ara olhou para o seu relógio de pulso e arregalou os olhos. — Tenho de me fazer à vida, moço. Foi baril conhecer-te e, para teu bem, não me voltes a tratar por senhora. O meu pai deu-me um nome, e eu gosto que usem as três primeiras letras dele...

— Ara — completou Ray.

— Isso mesmo, moço.


----------


Lena apressou-se a reunir todos os Alma no porto norueguês. A comandante do navio, Chloé, já a viera cumprimentar e dizer que o navio estava pronto para os receber. Lena retribuíra a cumprimento afável e pedira-lhe para aquecer o motor. Era impossível saber quando é que os Ilariht voltariam a atacar, pelo que se tinham de se fazer ao mar o quanto antes. Lena lembrava-se que havia uma razão por detrás dos ataques da Casa Ilariht, mas não se conseguia recordar de qual.

— Vamos lá, Almas! O oceano espera-nos e vocês vão adorar o navio. Agarrem os vossos pertences, despeçam-se das carrinhas e venham conhecer o Sol poente. Não há melhor cura do que o sossego e a compreensão do oceano.

Lena animava o ambiente, enquanto ponderava o que fazer com a sua refém Ilariht. Marisa havia recuperado a consciência e dos ferimentos do atropelamento desde que o sol surgira na linha do horizonte. De momento, estava trancada numa das carrinhas, confinada pelos Pulsares de vários Alma.

Para a comandante e tripulação do Sol Poente, os Alma pareciam um grupo de sem-abrigo. Para quem os visse do exterior, deprimidos, despenteados, corados e com roupas rasgadas, dentes por esfregar e remelas por limpar, talvez fossem uma equipa mal paga de marinheiros.

Chloé sorria para os seus queridos clientes, que percorriam o porto na sua direção. Ela encontrava-se à entrada do Sol Poente, acompanhada por dois marujos da tripulação e pelo Sr. Trulaw, que não perdeu a oportunidade de gracejar:

— Ah, patroa! Já viu como pareço um príncipe ao lado destes maltrapilhos?

— Cale-se, Sr. Trulaw, ou vai ser um príncipe para o fundo do mar — ameaçou ela, com um olhar severo.

Os novos clientes pareciam mendigos, mas pagavam em notas grossas, o suficiente para evitar perguntas da sua parte e os comentários dispensáveis do velho desvairado.

Chloé aproximou-se da rampa do barco e recebeu-os:

— Sejam bem-vindos ao Sol Poente! Chamo-me Chloé Strand e serei a vossa comandante durante os próximos dias, rumo a Jan Mayer. Não hesitem em falar com um dos membros da tripulação na eventualidade de precisarem de algo ou de se perderem. O Sol Poente não é enorme, mas é um labirinto de portas e corredores que pode parecer confuso no início. Embora não faça promessas, orgulho-me de nunca me ter atrasado num itinerário... — de repente, o Sr. Trulaw deu uma gargalhada altiva. Enervada, a patroa lançou-lhe um olhar abrasador, e ele retraiu-se. — Como eu estava a dizer, devemos chegar à ilha dentro de três dias. Façam o favor de subir a bordo e de se instalarem à vontade — prontificou, indicando com as mãos a rampa para o Sol Poente.

Enquanto os clientes subiam a bordo, Chloé foi ter com Lena para discutir suplementos não incluídos no pagamento inicial.

Jane caminhava abraçada à mãe, que parecia vinte anos mais velha desde que enviuvara. Débora era uma pessoa tão animada quanto Richard e, enquanto ele alegrava os outros com o seu dom, Débora fazia-o naturalmente com a sua disposição amena. Tal refletia-se não só na estima dos seus amigos, como na sua aparência fresca e jovial. Contudo, o que descobrira e perdera hoje concedera-lhe em força as marcas da idade.

— Mãe, nós não temos de fazer esta viagem. Podemos ficar por aqui — propôs-lhe Jane.

— És uma querida, mas temos de fazer esta viagem. Era o que o teu pai queria e eu pressinto que iremos precisar de toda a ajuda possível para o que se avizinha — Débora desfez-se do abraço da filha e agarrou-se ao corrimão da rampa de embarque, começando a subi-la. — Faremos o funeral do teu pai amanhã. Hoje, preciso de descansar, nem imaginas o que Lena tinha a assombrar a sua cabeça.

— Mãe... — Jane tocou no ombro da mãe, e esta parou de subir a rampa do navio —, tu sabes que eu estou aqui para ti, certo?

— Tanto quanto eu estou para ti, filha — respondeu com o sorriso do costume, apesar de apenas transmitir melancolia.


----------


Depois de receber jocosamente alguns dos novos hóspedes do Sol Poente, o Sr. Trulaw encontrou Ray a contemplar o mar com as mãos cravadas na parede de segurança. Esta ficava-lhe pela coxa e delimitava o perímetro do navio, que zarparia a qualquer momento.

— Então, rapaz? Não é por cravares as unhas na parede que elas vão parar de crescer. Se tiveres sorte, ficas com elas sujas de tinta descamada. Hehe! — Vendo que Ray não se sentia confortável, o velho ficou sério. — É a primeira vez que te fazes ao mar?

Ray acenou que sim, mordendo o lábio e baixando o olhar, envergonhado:

—Lamento ter ocupado o seu tempo, Sr. Trulaw. Sei que é estúpido estar a aprender consigo se não tenho estofo para viver como um marinheiro.

— Deixa-te de tolices, rapaz! Ninguém nasce ensinado. Eu próprio precisei de anos para dominar a minha função — admitiu o velho, e Ray sorriu discretamente. De quanto tempo o velho teria precisado para dominar a arte de limpar o chão e aprender a fazer a manutenção do navio? Podia ser um trabalho manual, mas não era difícil de assimilar.

— Não sei, Sr. Trulaw. Depois do que ouvi das vossas viagens em alto mar...

— O que é que ouviste sobre as nossas viagens, rapaz? — indagou o velho, considerando que talvez o devesse ter alertado para não levar a sério a tripulação, pelo menos, até esta o aceitar.

Ray estremeceu e admitiu:

— É melhor sair daqui enquanto posso.

Balelas e mais balelas, rapaz! Se o que ouviste veio da tripulação, especialmente da boca do Lars, estás a sofrer em vão. Não acredites em tudo o que te dizem, e isto é válido em qualquer situação. Até te digo mais, rapaz: deves sentir-te orgulhoso. Há anos que eles não praxavam ninguém e temos tido uns quantos como tu, que já se sabia serem temporários.

— Quer dizer que eles gostaram de mim? — concluiu Rau, libertando uma das mãos da parede para coçar a cabeça.

— Nem mais, rapaz! É um teste à tua coragem.

— E eu passei?

— Ainda cá estás, rapaz, a enfrentar o medo do desconhecido. Na perspetiva deste velho, passaste com distinção! Cá entre nós, diz-me, foi o Lars, não foi? — o Sr. Trulaw murmurou a pergunta como se se tratasse de um segredo capital.

Ray anuiu e o velho golpeou o ar com o braço.

— Ahah! Eu sabia. — Ele baixou o braço e dirigiu-se novamente a Ray. — Agora que estás avisado, preciso de ajuda com os nossos hóspedes. O Sol Poente parece uma casa mortuária e em circunstância alguma podemos permitir o Sol Poente esmorecer. Um barco sem ânimo e um barco afundado

Ray desprendeu a outra mão da parede de segurança e seguiu o Sr. Trulaw. Não entendia a razão do velho estar tão interessado em estimular a boa disposição. O Sol Poente não passava de um barco e nenhum dos clientes parecia ter gorjetas nos bolsos.

O Sol Poente zarpou e as suas engrenagens fizeram um rugido que vibrou até a parede onde há momentos Ray estivera apoiado temendo histórias impossíveis e que o velho havia vivenciado na primeira pessoa.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro