É o teu dia, Jane
25 anos depois...
— Não é altura para hesitações, Jane. As aulas começam amanhã e não há ninguém melhor que tu para os receber.
De cabelos grisalhos e cuidadosamente penteados para a esquerda, Richard tentava convencer a filha a ficar mais um ano no Magistério Alma. Contudo, Jane tinha outras preocupações...
— A maioria dos caloiros já tem o seu dom, enquanto eu permaneço por definir. Tenho o dobro da idade deles, pai. Não acha estranho?
Richard sabia a resposta que a filha lhe pedia, mas não podia partilhá-la. Jane correria perigo se alguém descobrisse o seu segredo.
— De forma alguma! À medida que o nosso sangue se dilui na sociedade, é normal que vá perdendo qualidades. Só no magistrado há uma data de casos. Repara na Sra. Callaway, uma Alma respeitável e não tem qualquer aptidão. — Vendo a filha a revirar os olhos, acrescentou — Fica apenas este semestre, para acolheres os pequenos. Sabes como eles começam desnorteados e como tu adoras ajudá-los a encontrarem o seu rumo. Vá, Jane, vais ver que...
— Pai, pare de usar o seu dom! — exclamou, Jane, frustrada por Richard se estar a aproveitar da sua aptidão para lhe tentar dar a volta. Embora não fosse considerada uma grande capacidade, Richard conseguia animar qualquer pessoa nas imediações. Não o usava regularmente em ninguém, e muito menos em Jane, que podia ganhar-lhe imunidade ou, pior, dependência. — Ficarei o primeiro trimestre, pelas crianças, desde que o pai me prometa que não tentará reter-me novamente.
— Tens a minha palavra — assegurou ele, apaziguado por a ter convencido a ficar mais uma temporada.
Pouco depois de Jane nascer, Richard consultara a melhor vidente Oblivium, que lhe devia um grande favor. Esta profetizara a sua morte assim que Jane se aventurasse fora do Magistério Alma. Ainda que amasse profundamente a filha e sentisse o seu sufoco de nunca ter ido além do Magistério, não podia permitir que ela viajasse sozinha com o seu segredo exposto e sem estar devidamente preparada. Nos próximos três meses, teria de instruir a filha o melhor que conseguisse, ou de arranjar um motivo ulterior que a convencesse a ficar mais tempo. De qualquer forma, Richard havia de agir depressa. Mal Jane começasse a jornada que tinha pela frente, estaria sozinha.
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