Capítulo XIX
1660palavras
●New York, Lexington Ave 4th Floor, 05 de junho de 2000
-14:00p.m
Já estavam ali há uma hora e não tinham conseguido nada.
A garotinha se recusava a falar qualquer coisa que lhe era perguntado, se limitando a brinca em um canto do chão com uma boneca.
Sua paciência já tinha se esgotado e sabia que a sessão de terapia seria encerrada a qualquer instante, sem que conseguirem uma única palavra da menina.
Aquilo a frustrou, a deixando possessa. Sabia que a criança não tinha culpa, mas já estava no seu limite e ávida por respostas concretas.
Já teria desistido há muito tempo dessa empreitada se seu instinto não estivesse lhe falando que aquela menina tinha respostas para algumas de suas inúmeras dúvidas. E era por esse motivo que se sentia revoltada, desesperada para conseguir mais do que aquilo.
- Não vamos conseguir nada assim - resmungou andando de um lado para o outro da sala.
- Sabíamos que não seria fácil. Amanhã teremos uma nova oportunidade - a colega falou se virando para pegar o blazer, dando o dia como encerrado.
Não queria esperar até o próximo dia, queria as respostas naquele momento, e se fosse preciso intervir, ela o faria.
Decidida a não desistir, rumou para a porta, saindo do local escutou atrás de si Stela a questionando sobre aonde ia.
Sem a dar ouvidos, rumou até a porta lateral, entrando no cômodo chamou a atenção dos dois adultos no recinto.
- A senhora não deveria estar aqui.
Escutou a assistente social reclamar, mas nem ao menos lhe deu ouvidos, indo até à menina se sentou a sua frente.
Ela nem se quer a olhou, absorta em seu próprio mundo.
- Oi Emma, eu me chamo Eliza. Como você está? - perguntou docilmente.
- Você não deveria estar aqui. Senhor Levy, faça alguma coisa! - a mulher ralhou parando ao seu lado.
Nem se quer lhe deu atenção, concentrada apenas na garota.
- Percebi que gosta muito dessa boneca.
- Saia dai agora. Você não tem permissão para falar com ela.
Cansada das reclamações da mulher, a olhou com raiva, falando:
- Se quiser que eu saia daqui, terá que me tirar a força. Agora, se não for fazer nada, por favor, me deixe em paz para que eu possa falar com ela.
E sem lhe dar mais chances de réplica, voltou sua atenção para a menina.
- Ela é sua? - questionou com um sorriso afável.
Emma apenas fez um leve sinal de concordância, sem nem olhá-la.
Aquilo já era um começo. Pelo menos significava que ela estava a escutando.
- Vou chamar o segurança - a outra falou no qual apenas deu de ombros.
- Posso brincar com você? - perguntou esperançosa.
Ela nada disse, a deixando frustrada. Teria que encontrar outra forma de aproximação. Mas não sabia o que falar.
- Você não pode brincar - para sua surpresa a ouviu falar pela primeira vez naquele dia.
Ficou entusiasmada, olhando para o psicólogo ao seu lado que também demonstrou ânimo.
- Porque não? - questionou fingindo desentendimento.
- Porque você não tem uma boneca - disse o óbvio.
- Pensei que você poderia me emprestar a sua.
- Não posso.
- Porque não?
- Porque foi a minha irmã que me deu essa boneca.
Seu coração palpitou com o comentário. Ela tinha se referindo a irmã. Isso a instigou a continuar.
- Entendi. Mas tenho certeza que ela não se importaria se me emprestasse por alguns minutos. Você não acha?
Ela deu de ombros, pensativa.
- É..., mas eu gosto dela.
- Eu sei que gosta. Foi um presente da sua irmã. Ela te faz lembrar dela?
Prendeu a respiração, atenta a qualquer sinal, e logo após longos segundos, a replicou.
- Hunhun - foi um murmúrio simples, mas que significava uma grande vitória.
- Você sente falta dela? - sabia que entrava em um campo muito delicado e que podia despertar diversas reações negativas. Estava pisando em cascas de ovos.
Ela anuiu em concordância sem nada falar, apenas a rodopiar a boneca em suas mãos.
- Entendo. É normal sentirmos falta de quem amamos. Sabia que eu tenho uma irmãzinha mais nova? Olhar para você é como vê-la, vocês são muito parecidas.
Tudo o que disse era verdade, era estranho, mas se sentia muito conectada àquela criança. Era como se desejasse a envolver em seus braços e nunca mais soltar.
Ela a olhou pensativa, muito mais atenta em suas palavras.
- Você está linda neste vestido. Parece uma princesa - comentou a verdade.
- Minha irmã sempre me disse que eu era uma princesa.
- Ela só dizia a verdade.
Acariciou levemente sua bochecha rosada se sentido conectada a ela como uma ímã.
- Queria ver ela, nas não posso pôr que o homem mal tirou ela de mim.
Disse chateada, olhando para o chão.
Se surpreendeu com a fala inesperada. A última coisa que esperava era que ela tocasse em tal assunto.
- Sabe... - ponderou sobre o que falar, medido cada palavra. - Eu estou tentando encontrar esse homem mal, para poder castigá-lo pelo o que fez a sua irmã, mas não estou conseguindo encontrá-lo. E, é por esse motivo que estou aqui, Emma, para que possa me ajudar a encontrá-lo.
Ela nada disse ficando apenas a olhar fixamente para o chão.
- Queria saber se você pode me ajudar? Não precisa ser muita coisa, é só me falar o que se lembra daquela noite - tentou incentivá-la sorrindo de canto, pegou em sua pequena mão macia, a segurando entre os dedos. - Eu sei que é difícil, mas seria muito útil se conseguisse se lembrar de algo, por menor que seja.
Ela ficou em silêncio olhando ao nada por alguns minutos. A deixando desanimada, pois estava mais que claro que não diria nada. Tinha feito o possível, nas não podia seguir mais em frente e pressioná-la mais. Era muito arriscado.
- Está tudo bem - sussurrou amável, lhe acariciando, disposta a ir embora.
- Eu... - a pequena sussurrou chamando sua atenção.
- Sim? - questionou a incentivando a continuar.
- Eu estava com fome.
- Mesmo?
- Sim. Então Ella pediu pizza.
- Vocês iam comer pizza?
- Huhun. Ouvi quando ele chamou na porta e fui correndo porque queria comer. Estava animada. Mas eu vi minha irmã assustada, ele tava segurando algo na mão. Ela disse para não me aproximar e voltar para o quarto. Não entendi muito bem, mas voltei.
- Ele estava com algo na mão? Uma arma?
Ela anuiu em concordância.
- Você viu ele? Como ele parecia?
- Ele estava com o rosto coberto... mas..... ele era muito alto, magro, mas a voz dele era tranquila.
- Tranquila?
- Sim, não dava medo.
- Você ouviu ele falando?
- Sim, mas só quando ele foi pro meu quarto.
- Ele foi atrás de você?
- É. E falou que era para fazer o que ele mandava e que não ia me fazer nada.
- E o que ele pediu para fazer?
- Ele me levou ao banheiro e me amarrou na pia. Disse para eu ficar quieta ali, sem fazer barulho. Se eu desobedecendo, ele ia me punir. A mim e minha irmã. Depois disso ele me colocou uma venda e saiu.
- Não conseguiu ver mais nada do rosto dele?
- Não, ele estava coberto. Mas os olhos eram escuros.
- E por quanto tempo você ficou lá?
- Não sei. Foi muito tempo. Ouvi alguns barulhos no começo, mas depois de um tempo ficou tudo quieto. Eu estava com medo. Queria minha irmã. Mas como ela não aparecia, comecei a me debater e me soltei.
- Você conseguiu se soltar?
- Sim. Sai e fui ver minha irmã...
Seu coração se apertou naquele momento. Sabia muito bem a cena que estava naquele quarto. Mas nunca tinha imaginado que aquela garotinha tinha visto aquela cena de terror.
- Ela estava deitada. Chamei, mas ela não me respondia. Então lembrei que um dia ela tinha me dito que se algo ruim acontecesse eu deveria ligar para a ajuda. Sai correndo e peguei o telefone e liguei falando que um homem mal tinha entrado e que minha irmã não levantava. Não demorou muito e eles vieram. Depois disso não vi mais ela - sua tristeza era evidente.
Sentiu angústia e um ódio crescendo dentro de si. Não podia aceitar que aquela garotinha tivesse visto algo tão horrível. Isso só serviu para a deixar mais raivosa, e disposta a encontrar aquele desgraçado custe o que custar.
A abraçou, acariciando suas madeixas douradas com amor.
- Não se preocupe. Vai ficar tudo bem. Agora, tente se animar.
Ela concordou, pegando a boneca voltou a brincar presa em seu mundo.
Olhou a sua volta vendo todos a encarar de voltar com expressões assustadas.
- Eu já vou - disse beijando o topo da cabeça da pequena se levantou.
A conselheira já tinha voltado com dois seguranças e uma cara de poucos amigos.
- Não precisa disso, já estou de saída - disparou petulante.
- Você infringiu as regras - retrucou raivosa.
- Deixe disso Constance. Ela conseguiu o que nós não conseguimos- o psicólogo comentou vindo em seu socorro.
- Com métodos totalmente errados. Isso pode ter a traumatizado pelo resto da vida.
- Tenho certeza que o senhor Levy é um excelente psicólogo e vai a ajudar a superar seus traumas - comentou dando a entender estar de saída. - Ela está em boas mãos.
- Vou reportar essa atitude. Não pense que vou deixar por menos. Você deve pagar por seus atos.
- Faça o que bem entender. Só quero que cuidem bem dela. Algum dia desses volto para ver como ela está.
- Nunca permitirei isso - exclamou revoltada, a cabeça erguida de forma autoritária.
- É o que vamos ver - retrucou no mesmo nível autoritário.
Estranhamente tinha se conectado à Emma e sentia dentro de si que deveria vê-la novamente. Não para fazer perguntas sobre o ocorrido, mas apenas para passar um tempo. Sentia que isso podia ser algo bom para ambas.
Sem nada mais falar, deu as costas, saindo da sala. Stela a seguiu pelo corredor.
- O que pensa que estava fazendo? - a mulher questionou tentando alcançar.
- Resolvendo a questão.
- Tem ideia do problema que nos arrumou?
- Tenho certeza que isso pode ser resolvido. Agora tenho coisas mais importantes para fazer.
- Como o quê?
- Voltar à cena do crime.
Espero quem tenham gostado.
Até a próxima!
●Personagens:
※ Constance
※ Emma
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro