Capítulo X
1869 palavras
• New York, departamento de homicídios de Manhattan, 15 de abril de 2000
-18:00pm
Divagou durante todo o caminho de volta a delegacia.
Hora ou outra sua mente a levava por um caminho que tentava evitar o máximo possível. Não deveria se precipitar e chegar a uma conclusão errônea.
Pensaria em todos os prós e contras para bater o martelo e concluir suas suspeitas.
Ao adentrar na delegacia, sabia que faltava pouco para o término do expediente, mas ainda tinha coisas a fazer.
Seu estômago reclamava já que ainda não comera nada, apenas aquele café de mais cedo. Tinha que encontrar alguma coisa para comer, nem que fosse alguma besteira, ou acabaria passando mal.
Mas, primeiro precisava passar na sala de John para saber se tinha novidades.
Felizmente, nem se quer precisou ir tão longe para encontrá-lo, já que o mesmo estava na entrada, parecendo a esperar.
-Pensei que não voltaria aqui hoje -disparou a olhando com atenção.
-Você sabe que isso não seria verdade - retrucou.
-É, eu sei - devolveu, abrindo passagem para que entrasse na delegacia.
-Então, como foi? - a acompanhava rumo a sua sala, parecendo ansioso pela resposta.
-O mesmo de sempre - disparou desanimada.
-Entendo. Bem... Você já pensou....
-É, já pensei. Mas, prefiro pensar em possibilidades mais óbvias primeiro.
-Porquê? Porque tanta relutância em admitir que um...
-Olha John, não estou tendo nenhuma relutância em admitir nada. Só quero ter certeza que não estou me precipitando. Apenas isso.
-Tem certeza?
-Absoluta. Agora, me diga, descobriu algo a mais? - ficou o olhando por alguns segundos, logo suspirando em derrota ao notar sua expressão em negativa.
-A vítima se chamava Nayeli Adahy, sendo mais conhecida pelos amigos como Matoaka. Tinha dezoito anos e estava cursando história na Universidade de New York. Ela morava em uma reserva indígena. Descobrimos que ela é descendente de uma tribo denominada montauks e parecia ter muito orgulho de suas origens.
-Mais alguma coisa?
-Nada. Conversaram com a amiga e colega de quarto na universidade. Aparentemente, Nayeli era uma jovem alegre, cheia de amizades e muito inteligente. Ia à festas, gostava de beber. Curtia a vida como qualquer jovem. Ela não era muito de relacionamentos duradouros, preferia se aventurar.
-Certo. E o cabelo que encontrou?
-Ainda estou o analisando.
-Ok. Me dê a resposta quando o resultado sair - concluiu abrindo a porta de sua sala.
Parou no mesmo lugar, surpresa com o enorme buque de rosas-vermelhas em cima da mesa.
- Não sabia que tinha admiradores - John comentou ao ver o ornamento.
-Nem eu sabia - Disparou, se aproximando receosa, tendo a certeza de que se tratava de um engano.
-São apenas flores, não bombas - o rapaz brincou ao notar sua desconfiança, adentrando no recinto.
-Nunca se sabe -murmurou ainda desconfiada.
-Tem um cartão. Porque não dá uma olhada? - comentou dando de ombros, acenando com a cabeça para um pequeno papel dobrado, depositado entre alguns botões.
Apesar de desconfiada a curiosidade falou mais alto, se rendendo a saber do que se tratava. Assim, colocou a bolsa sobre a cadeira, logo pegando o cartão, o abrindo.
A letra era caprichada, parecendo de alguém que trabalhava com a escrita.
Sem pestanejar começou a ler para acabar logo com toda aquela tensão.
-Querida Eliza White... - começou a narrar em voz alta, já que sabia que o outro também iria querer saber seu conteúdo. - Querida... - resmungou, não gostando do tratamento, mas logo voltando a narrar. - Espero que goste de rosas-vermelhas, elas são as minhas preferidas, pois seu perfume e beleza é algo que chama a atenção a distância. Assim como você - parou nesse instante, revirando os olhos, pronta para parar de ler aquela baboseira. Tinha coisas mais importantes a fazer do que perder seu tempo com aquilo.
-Continua - John a incentivou, no qual achou estranho, já que ele não era muito de se prender a coisas tão banais quanto flores e cartões.
Ficou o observando por alguns instantes na tentativa de descobrir algo, mas acabou por desistir, continuando.
Passou os olhos por cima de uma frase, sem interesse, pulando logo para o próximo parágrafo. Notando que se tratava de um recado exageradamente grande para o seu gosto.
Estava distraída, lendo sem vontade, mas aquela frase acabou por chamar a atenção.
Perdeu o ar, arregalando os olhos com o que lia. Engoliu em seco, não acreditando.
Sentiu um arrepio percorrer a espinha e um medo a apoderar de si.
-O que foi? - John inqueriu preocupado ao notar sua mudança drástica de humor.
Não respondeu, seguindo apressada para fora da sala.
-Kevin!? - chamou aos berros seu mais novo assistente.
Não demorou para um rapaz de vinte anos, alto e magro, de cabelos e olhos castanhos, com ósculos de grau, que estava estagiando na delegacia e cursava direito, surgisse a sua frente, assustado com seu berro.
-Sim, senhora? - se pronunciou perdido.
-Quem enviou isso? - questionou apontando para as flores.
-Eu não sei... - respondeu balbuciando, assustado.
-Quem trouxe isso? - perguntou novamente, mais alto, o assustando ainda mais.
-Foi um rapaz. Era um entregador - uma policial sentada em uma mesa mais ao canto, ao entender do que se tratava o assunto, comentou.
-O que foi, Liz? Aconteceu alguma coisa? - John visivelmente preocupado, questionou, tentando entender o que estava acontecendo.
-Quero que encontrem esse entregador, agora! - exclamou aos berros, assustando a todos a sua volta.
Sem mais paciência John tratou de tomar a carta de sua mão, começando a ler:
-Sei que ainda não nos conhecemos pessoalmente, mas, com toda a certeza já nos fomos apresentados. Estamos andando juntos há alguns dias, sempre nos mesmos lugares, apesar da diferença de horários. Confesso que me sinto um pouco solitário e triste ao pensar em tal fato. E hoje, pela manhã, quando a vi pela televisão, senti uma imensa vontade de lhe deixar um presente. Espero que tenha o encontrado e gostado da surpresa. Sei que a menina.... Espera, menina? - inqueriu perdido. - Que menina? - questionou a olhando.
-Continue lendo - insistiu ainda se sentindo agitada, muito nervosa, e principalmente aterrorizada. Uma palavra que nunca pensara atribuir a seu vocabulário.
-Ok - Tomou o ar, voltando a ler. - Sei que a menina foi a seu encontro. Um toque magistral, que infelizmente, não tem nada a ver comigo. O destino as vezes têm o seu toque especial. Fiz questão que este singelo presente fosse colocado em sua porta com zelo. Assim, somente eu sei como o encontrou..., mas o que é isso? -estava perturbado e Liz não se sentia diferente.
-Continua! - exclamou, não sabendo o que fazer além de andar de um lado para o outro, perdida, por enquanto que seus agentes corriam desesperados na tentativa de cumprir sua ordem.
-Sei que o encontrou. Então, gostou da minha mais nova obra de arte? Estou cada vez mais me aperfeiçoando, e, prometo que os próximos serão ainda mais excepcionais. Só lhe peço para que não pare, continue ao meu lado. Só você me inspira a continuar. Confesso que da primeira vez que te conheci, senti ciúmes. Não queria a tocando em minhas obras, as profanando a procura de respostas. Mas, logo me senti emocionado e depois, excitado. Você me traz emoção, minha pequena Eliza, e essa sensação é única e inebriante. Todas às vezes que trabalho, o faço pensando exclusivamente em você. Se sinta lisonjeada, pois sempre estou e sempre estarei a sua volta. Por isso, peço que não desista do seu trabalho, quero que tente me encontrar... saber que está atrás de mim só me dá mais anseio para continuar. Sei que ainda não me deu um nome, por isso nesta carta lhe dou uma sugestão. Me chame de "o artista da morte" e minhas vítimas são "as princesas da morte". Isabella, Suki e Nayeli foram as primeiras de várias outras obras. Espero imensamente que esteja lá para contemplá-las. Pois, sempre estarei para saber o que acha. Essa é somente a carta de um artista que deseja fazer sua notória e cativante espectadora uma de suas fãs. Lhe desejo sorte. E desejo, profundamente, que possamos nos encontrar pessoalmente em um futuro próximo. Assinado, aquele que sabe que sempre estará em seus pensamentos, e com toda a certeza, que a faz perder o sono.
O silêncio se instaurou. Ambos não sabiam o que fazer. John estava perplexo, e ela não se sentia tão diferente.
-Essa carta... - começou a falar, mas não encontrou palavras.
-Sim, é uma ameaça - ele disparou assustado.
-Não somente isso. É também um desafio. E o pior de tudo é que ele disse que terá mais. Ele vai fazer mais vítimas. Tenho que parar isso.
-E como pretende fazer?
-Eu não sei. Mas, primeiro vamos encontrar esse entregador, e depois disso continuamos.
-Ele te ameaçou e não pretende fazer nada contra isso? Não vai arrumar nenhum segurança?
-Isso não me preocupa. Sei me cuidar. E ele pretende fazer novas vítimas. Garotas de toda a cidade estão correndo perigo! Isso me deixa louca! Estamos lidando com a droga de um psicopata, um serial killer que não tem um perfil de vítima.
-Sim, mas o modus operandi é parecido. Suas vítimas não têm semelhanças entre si, mas a forma que ele age e realiza o ato é parecido. E também parece ter uma assinatura, ao obter pedaços de pele das vítimas.
-E o que isso me importa? Quando isso acontece, elas já estão mortas. Temos que dar um jeito de descobrir como ele escolhe suas vítimas e quais são suas motivações. Só assim conseguiremos evitar mais mortes! - estava desesperada e seu cérebro trabalhando a mil parar encontrar uma solução.
-Você sabe o que precisa ser feito. Tem que contatar o pessoal da federal.
-Eles só iriam atrapalhar.
-Você sabe que não. Precisa da ajuda deles.
-Tudo bem. Vou pedir para que entrem em contato com o FBI - concordou desanimada, mas sabia que aquele era o certo a se fazer.
-Preciso fazer algo a mais além isso.
-Sim, mas o que?
Não o respondeu de imediato, pensativa.
-Peça para chamarem os repórteres. Irei fazer um pronunciamento.
-O que você pretende com isso?
-Evitar mais mortes.
-Como?
-A população tem o direito de saber o que está acontecendo, para se protegerem de forma adequada.
-Isso vai causar uma histeria coletiva. Sabe disso. E as autoridades não vão gostar nada disso.
-Mas, as pessoas precisam saber, para que assim tomem cuidado e dificultem a vida desse desgraçado.
-Não discordo. Isso seria bem útil. Mas você sabe que deixaria a população em pânico. Acredito que deveria conversar com o promotor e o prefeito.
-E esperar o FBI chegar?
-Sim.
-Tem razão, tenho que conversar com eles. Mas, isso não quer dizer que não vou fazer nada até lá. Vou pedir uma reunião, para que eles saibam tudo o que está acontecendo. Mas preciso dar um comunicado avisando a população.
-Tenho certeza que isso pode ser feito sem causar um pânico geral.
-Certo. Vamos fazer isso.
-Também vou pedir alguns seguranças para você. E não adianta me olhar assim. Você foi ameaçada, precisa de suporte - completou ao ver seu olhar de reprovação.
Mesmo que a contragosto, acabou aceitando.
Quanto antes começasse a agir e desse o alerta, maiores seriam as chances de estragar os planos daquele lunático.
🔪🔪
Personagem
Kevin
Notas finais
Espero que tenham gostado!
Deixem seus comentários e até a próxima!
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