Capítulo Vinte e Três: A Magia de Uma Bruxa.
--- Respire fundo, Octávia.
--- Estou respirando, não vê? --- A loira abriu os olhos verdes --- Estou respirando assim a meia hora.
--- E vai respirar mais meia hora, se continuar a fazer errado. --- Ice rebateu, cruzando os braços e levantando as sobrancelhas.
Alasca havia saído para ajudar Levi e Apolo a desmontar o acampamento, ainda procuravam um bom lugar para ficarem, um que fosse perto do canal estreito que cortava o bosque.
--- Se não se esforçar, sua magia não será útil quando invadirmos o castelo, e acabaremos mortos por isso! --- Ice se moveu na pedra redonda onde estivera sentada --- Darot pode ter defesas contra magia, mas se estivermos fortes o suficiente, ultrapassar essas defesas pode ser uma opção viável.
--- Teremos que passar pelas forças e pelos cavaleiros fanáticos de dois reinos, e nós somos cinco, ou seis, se Trovão usar sua raiva acumulada para derrubar os portões do castelo. --- A loira sorriu.
--- Ele bem que poderia. --- Ice riu de leve --- Mas não vamos contar muito com a boa vontade de Trovão. Agora, tente a respiração outra vez.
--- Vou acabar morta por respirar demais.
--- Vai morrer se respirar de menos.
A assassina voltou ao exercício de respiração, a contra gosto. Respirando e respirando fundo, e devagar e soltando... soltando e puxando...
--- Tente criar chamas nas palmas das mãos. --- Ice instruiu.
Octávia se concentrou na magia que sentia pulsando através das veias, como algo vivo e quente, como fogo. Selvagem.
Ice sentiu o cheiro de fumaça, madeira queimada, e um leve toque floral se misturando as pequenas chamas verdes que despontaram dos dedos longos da assassina.
Era o cheiro de magia, da magia de Octávia. O cheiro da magia mudava de um para o outro, nenhum era igual, embora fosse a mesma essência mágica correndo pelas veias.
--- Mantenha a concentração e abra os olhos. --- A bruxa de olhos brancos mandou, atenta as chamas da outra.
Octávia prendeu a respiração e soltou enquanto abria os olhos, vendo as chamas iguais as que fizera na floresta diante de Merlin, e as tantas que, por acidente, chamuscaram os cabelos e roupas de Apolo, e os dela.
--- Todas as bruxas podem fazer esse tipo de fogo? --- Ela perguntou, focada em fazer as chamas ficarem acesas.
--- Sim, algumas dominam melhor o fogo, mas todas somos capazes de dominar ele e qualquer outro elemento da natureza.
Ice fez um floreio de mãos, e Octávia sentiu o cheiro fresco de gelo, como se brisas suaves de inverno a tivessem atingido, e então, o caule de uma flor brotou da terra, desabrochando numa bela margarida.
--- Sou melhor com água, consigo congelar e descongelar uma grande quantidade quando quero. --- Ela encarou os olhos verdes de Octávia --- Alasca é melhor com a terra, ela conseguiria transformar um deserto num campo de flores, se assim quisesse.
--- E quanto ao vento? Ao ar? --- As chamas se apagaram e Octávia revirou os olhos --- Como vocês lidam com ele?
--- Nossas tentativas que domina-lo foram um completo fracasso. --- Ice deu de ombros --- Mas, enfim, sua concentração não é boa o suficiente. Você não se distrai assim quando tem que atirar uma flecha, certo?
--- Treino com arco há muito tempo, e essa é a primeira vez que tento controlar minha magia, então aponte menos o que eu faria em outras situações, Ice, e me diga o que fazer nessa! --- Octávia cruzou os braços.
--- Respire.
Ice ficou de pé diante o olhar irritado da loira, então respirou fundo e moveu os braços, numa dança sutil, guiada pelo vento.
--- A magia de uma bruxa deve fluir em você, use sua respiração como um ritmo que ela tem que seguir. --- Instruiu, movendo as pernas para longe da pedra --- Foi assim que aprendi, dançando.
--- O mago que lhe ensinou era um lunático. --- Foi a resposta de Octávia.
Mas a loira ficou sem argumentos quando chamas de um branco prateado inromperam dos braços de Ice, e se transformaram num círculo ao redor da bruxa.
--- Sua magia é bem mais que um ataque, é uma defesa também. --- Ice bateu com o pé no chão, e as chamas sumiram --- Agora faça o que acabei de lhe mostrar.
Octávia dançou pelo bosque durante vários minutos, a magia pulsante de suas veias às vezes atingia uma árvore, ou pedra, até mesmo Ice escapara por pouco das chamas da loira, que após muitas tentativas fracassadas, conseguiu manter um círculo de fogo e o desfazer sozinha.
--- Achei que não conseguiria nunca. --- Ice bateu as mãos pelo vestido, se levantando de uma pedra e se aproximando de Octávia --- Pela tarde vamos refazer isso, e amanhã Alasca vai lhe ensinar magia de cura.
--- Vocês duas devem ser as bruxas mais bem estudadas de Jeter. --- Octávia saltou para fora das marcas de queimado no chão --- Magia de cura parece algo avançado e complicado.
--- É mais fácil do que aparenta. --- Ice e a loira começaram o caminho de volta ao local onde haviam passado a noite --- Somos capazes de criar chamas e controlar a natureza, o que são meros ferimentos carnais?
--- Meros ferimentos carnais matam pessoas. --- Octávia rebateu, observado a trilha enquanto andavam.
--- Tens um bom ponto. Sabia que bruxas são mais resistentes que pessoas sem natureza mágica?
--- Desconfiei, sempre fui mais resistente a ferimentos, embora Apolo também seja casca grossa. Ele e eu tivemos o mesmo treinamento.
--- Vocês não são irmãos, são? --- Ice franziu as sobrancelhas claras, alguns fios do coque estavam soltos pelo rosto da bruxa.
--- Não de sangue, mas crescemos juntos, e ele me acompanhou quando resolvi deixar a vida de assassina de aluguel para trás, e quando entrei nela, também. --- A loira refletiu por um momento --- Ele sempre me acompanhou, na verdade.
Ice assentiu em silêncio, as duas desceram uma encosta florida, o frescor da chuva da noite anterior ainda presente no ar.
--- Disse cresceram juntos...seus pais adotaram ele? --- Perguntou a de cabelos platinados.
--- Não. --- Octávia balançou a cabeça --- O pai dele me achou numa floresta, depois do meu pai me abandonar lá. Ele era um feiticeiro.
Ice se surpreendeu. A loira encarou o céu, e só quando a outra começou a falar, que ela a encarou.
--- Isso explica você ser tão forte. --- A gêmea de olhos brancos assentiu para si mesma --- Me parece estranho que ele tenha abandonado você, ainda mais se soubesse das suas habilidades... --- Ela se calou, então pigarreou e continuou --- Bem, onde estão seus pais adotivos?
--- Diana, nossa mãe, morreu de febre, alguns anos atrás, e Anísio ainda está vivo, mas ele não mora mais nesse continente. --- Respondeu.
Ice assentiu. Elas continuaram um tempo em silêncio, ouvindo os sons do bosque.
--- Acha que ainda existem muitas bruxas em Jeter? --- Octávia questionou --- Conheço apenas você e Alasca, e também um feiticeiro.
--- Feiticeiros são raros. --- A bruxa comentou --- Acho que poucas ficaram aqui, depois das Caçadas do século passado a maioria fugiu para os outros continentes. Se espalharam.
--- A magia ergueu esse continente, e os descendentes dela estão por aí, com medo e sendo perseguidos, simplesmente por serem quem são. --- A loira franziu as sobrancelhas, irritada --- Pensar que todos podemos ser mortos se depender da rainha Yracedette!
--- Ela não vai conseguir, a magia resiste as tentativas falhas dos que não a possuem, de tentar expulsa-la daqueles que a têm. --- Ice citou, olhando de canto para a outra --- A magia nasceu aqui, se ela espalhou-se pelo mundo foi graças as Caçadas.
--- Me irrito só de pensar nelas. --- Octávia balançou a cabeça.
--- As Caçadas são um período sombrio em nossa história, não há de ser esquecida, mas pode ser superada. --- A gêmea de olhos brancos suspirou --- Talvez, se sairmos vivos, podemos trazer dignidade a esse continente.
Octávia riu, passando a mão sobre um arbusto florido.
--- Acha mesmo que bruxas e assassinos podem trazer dignidade a alguém? --- A loira levantou as sobrancelhas.
--- Não duvido que possam.
Houve uma troca de sorrisos, e então as duas encontraram Alasca e Levi a pegar os cavalos, as tendas já haviam sido desmontadas.
--- Apolo achou um lugar decente para ficarmos, então estamos indo até lá. --- A bruxa de olhos azuis informou, segurando o cavalo dela e o da irmã pelas rédias --- Já estou faminta!
--- Ah, somos duas. --- Octávia pegou as rédias de Líria das mãos de Levi --- Como vai o plano de invasão?
--- Apolo me atirou uma pedra quando perguntei. --- Levi respondeu, indignado --- Mas ele sabe que precisa de mim, sou o único que conhece Berg, e mesmo assim ele me atira pedras!
--- Já esteve no castelo? --- Octávia parou de andar --- Já viu o interior dele? Portas e janelas, disposição de guardas, e essas coisas?
Levi parou de andar, se esforçando para manter Trovão parado, enquanto Ice e Alasca seguiam pela trilha a frente.
--- Merlin e eu cuidamos da segurança do castelo por alguns meses, pouco antes de ele ser afastado. --- Os olhos castanhos brilharam --- Algumas alterações devem de ter sido feitas, mas conheço aquele castelo quase como a palma da minha mão!
--- Se conseguirmos montar um mapa, vamos saber o que fazer e por onde ir quando invadirmos... --- A loira refletiu, sorrindo --- Com uma planta dele nossa invasão ficaria bem mais fácil!
--- Se conseguirmos interceptar o cavaleiros e os guardas, nem precisaríamos lutar, isso se formos entrar no castelo sorrateiramente, e eles não nos verem. --- Levi considerou.
--- O problema vai ser sair. --- A bruxa disse, sombria.
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