Capítulo Vinte e Seis: Segredos Confiados.
Alasca andou ao lado de Apolo em silêncio por pouco mais que cinco minutos, até o loiro parar, fazendo com que a bruxa parasse também.
--- Talvez você devesse me explicar o que aconteceu. --- Ele cruzou os braços.
--- Achei que tivesse visto com seus próprios olhos.
--- Certas coisas não são visíveis aos olhos. --- Apolo rebateu --- O quê está escondendo? Por acaso você e sua irmã são espiãs?
--- O quê está insinuando? De onde tirou isso?! --- Alasca franziu as sobrancelhas, furiosa.
A bruxa estava indignada por ele desconfiar de sua lealdade. Apolo, por outro lado, tinha a mais pura convicção de que ela escondia algo.
O bosque estava silencioso, o luar prateado iluminando a trilha estreita e os arbustos. Apolo descruzou os braços, apenas para pôr as mãos nos bolsos.
--- Kalias não parecia prestes a te machucar, e não tente me convencer de que esqueceu da adaga, não o acertou... --- Os olhos azuis se estreitaram --- Porque não quis fazê-lo, Alasca.
--- Eu...eu não... --- A bruxa gaguejou.
--- Você já o conhecia? --- O loiro estava sério --- Parecia bastante familiarizada com os olhos dele, e com o resto.
--- Não ouse me desrespeitar! --- Alasca disparou --- Ice e eu não demos motivos para desconfiarem de nós! E eu não estava familiarizada com porcaria nenhuma.
--- Já o conhecia? --- Apolo insistiu, com um tom de voz que fez a bruxa tremer.
Alasca hesitou, cruzando os braços e expressando no olhar o quanto estava irritada. Por fim, ela respondeu:
--- Sim. Nos esbarramos em Lauver e... só depois que Octávia o descreveu é que percebi que ele era Kalias.
--- E não pensou em nos contar? --- O tom dele estava mais ameno.
--- Não sabia se devia, mas...ele sabe que sou a princesa de Gless, e deve saber de Ice também, nosso pai pode estar nos procurando... --- A bruxa apertou os lábios --- Talvez sejamos pegas assim que estivermos em Temeron!
--- Ainda não temos certeza disso. Kalias parece ter as melhores fontes, ele sempre sabe o que quer saber. Está um passo a frente. --- O loiro refletiu --- Seu pai as procuraria?
Silêncio foi a reposta de Alasca, pois ela não conseguiu pensar em outra. Seu a pai iria se importar com o desaparecimento dela e de Ice? As procuraria para, então queima-las numa pira?
--- Eu não sei... --- Confessou --- Talvez ainda nos queira queimar. --- Ela engoliu em seco.
Apolo a observou em determinado silêncio, então virou-lhe as costas e começou a andar outra vez.
--- Tenho contatos em Gless. --- O loiro começou --- Posso descobrir se estão procurando vocês...se quiser, é claro.
Alasca correu para acompanhá-lo.
--- Faria isso? --- Perguntou, anciosa.
Apolo a olhou de canto. Era só uma criança, uma menina que passou a vida inteira atrás dos muros de um castelo congelado. Assim como Ice.
--- Faria. --- Ele estranhou as palavras em sua boca antes de falar --- Vou escrever para eles, e não partiremos para Temeron enquanto não tiver uma resposta.
--- Eu...obrigada, Apolo, de verdade... --- Alasca agradeceu.
--- Não me agradeça ainda. --- Ele a cortou, seco --- Tenho que falar com os outros sobre o que aconteceu.
A bruxa avistou a claridade da fogueira no acampamento.
--- Acha que Kalias ainda esta por aqui? --- Questionou, se aproximando um pouco mais do loiro.
--- Talvez, mas eu acertei aquela flecha, se tiver sido nele, então estará ferido e incapaz de atacar, caso tenha sido no cavalo, ele certamente vai cuidar do animal, para poder usá-lo depois.
--- E se ele não estivesse sozinho?
--- Seus comparsas teriam me matado, ou já estariam aqui. --- Ele a olhou de canto, descendo uma pequena colina e chegando ao acampamento --- De todo modo, por hoje não o veremos mais.
--- Que ótimo, imagino. --- Murmurou a bruxa.
Apolo apagou a fogueira, que já morria lentamente, então sentou-se no chão, apoiando as costas num tronco da árvore caído.
Alasca olhou para o céu. Para a lua prateada que tentava fugir das nuvens insistentes. Então ela se lembrou do motivo que a fizera sair do acampamento.
--- Você disse que escreveria aos seus contatos... --- Ela começou, sentando no tronco ao lado da cabeça do loiro --- Eu gostaria de escrever ao meu irmão.
--- Para quê? --- Foi a pergunta limitada dele.
--- Quando estávamos em Lauver, quando Ice e eu fizemos aquela emboscada para Octávia...
--- Quer dizer quando vocês me enfeitiçaram e sequestraram? --- Apolo virou a cabeça para olha-la.
--- Bem, sim... --- Alasca retomou a voz firme --- Naquele dia, Octávia contou quem era o verdadeiro culpado pela morte de minha mãe...
--- O chanceler, certo? --- O loiro voltou a encarar o bosque.
--- Certo. E ele ainda está Gless, convenceu nosso pai a nos executar, e suspeito que ele possa estar armando um golpe, e...resumidamente, minha família está em perigo.
--- E você quer avisa-los. --- Apolo concluiu.
--- Eu preciso. --- A bruxa apertou os lábios --- Como poderia lutar por Jeter e deixar meu reino perecer? Não seria capaz.
--- Entendi. --- O loiro assentiu lentamente --- Quer que eu mande sua carta junto à minha, não quer?
--- Quero! Se for possível...
--- Tenha a carta pronta até o meio dia, então eu a mandarei.
Alasca sorriu agradecendo ao loiro, e então se pois de pé. A meia noite já devia estar perto e ela estava mesmo cansada pelo dia de treinos, precisava dormir.
--- Onde vai? --- Perguntou Apolo.
--- Eu vou dormir, oras. --- Ela o encarou de sobrancelhas franzidas --- Qual o problema?
--- Alguém precisa ficar de guarda comigo, e só vou acordar Levi para a ronda dele de madrugada. --- Respondeu, cruzando as pernas uma por cima da outra --- E seria uma ótima punição para você, pelo que fez e escondeu.
--- Está brincando, não? --- Alasca riu, mas o loiro continuou sério --- Não pode achar que vou deixar de dormir!
A bruxa olhou as tendas montadas num canto. Desejando estar dentro de uma delas, quentinha e adormecida.
--- Apolo... --- Implorou com os olhos azuis.
--- Melhor sentar outra vez. --- O loiro lhe lançou um sorriso felino, e a bruxa voltou ao tronco pisando duro --- Não se preocupe, o tempo passa mais rápido do que você imagina.
--- Suponho que sim. --- Foi o comentário frio, e irritado de Alasca.
O silêncio caiu sobre eles como um manto pesado.
Apolo não parecia incomodado, afiava as pontas das flechas, e murmurava alguma canção que a bruxa achou melhor não levar em consideração a letra.
--- Você e sua irmã são corajosas. --- Disse Apolo súbitamente --- Estou convencido de que não são espiãs.
--- Oh, juras? --- Ironizou a gêmea de olhos azuis, trançando os cabelos brancos outra vez.
--- Sei que duvidei de vocês, mas estou acostumado a isso. Você não viveu nas estradas, sendo perseguido por cavaleiros dia sim e dia também.
Havia um Q de brincadeira na voz dele, que fez a bruxa responder, com deboche:
--- Imagino o quanto seus dias fossem empolgantes. Ah, e por que você não tem uma alcunha como a Octávia? Assassina do Manto é um nome bastante conhecido, mas se referem a você como O Henson, e outras coisas mais...simplis.
--- Quando se é bom o suficiente, não precisa de um apelido para lhe definir.
--- Que bela desculpa, ninguém quis lhe apelidar, essa é a verdade. --- Alasca jogou a longa trança sobre o ombro --- Mas, sei que você é tão eficiente quanto Octávia, ela já disse isso.
--- Fico contente por ser reconhecido. --- O loiro pegou uma flecha, analisando a ponta de pedra.
--- Ela disse-me que você salvou a ela e a Levi, quando encontraram com... --- O rosto da bruxa esquentou ao pensar em Kalias --- Você sabe, pela primeira vez.
--- É verdade, e acabei com uma flecha de sangue atravessada na clavícula. Um dia bem lucrativo. --- Debochou, devolvendo a flecha para a aljava.
--- É nessa parte que você me agradeça. --- A bruxa ironizou, Apolo riu --- Ice e eu já estávamos andando haviam alguns dias, foi bom ver alguém que não tinha meu rosto colocado e esculpido no próprio.
--- Eu não gosto de ficar muito tempo sem ver outras pessoas. --- Revelou o loiro, buscando outra flecha --- Nossos fantasmas costumam vir quando estamos sozinhos.
Alasca preferiu não comentar por algum tempo, deixado-se atrair pela lua prateada que brilhava acima deles.
--- Precisa deixar que eles venham para enfrenta-los. --- A bruxa refletiu, cruzando os braços.
Apolo assentiu em silêncio. Havia fantasmas que ele não queria ver, ou superar.
Mas não assustaria a jovem bruxa com eles, então continuou a afiar flechas, forçando a mente a não lhe pregar uma peça e trazer a lembrança de uma certa jovem de olhos dourados, e cabelos castanhos, que tinha uma coroa a cabeça da última vez que a vira.
--- Amanhã vou deixar que comece contando o que aconteceu para os outros, na sua versão sobre os fatos, vou apenas complementar. --- O loiro pegou a última flecha.
--- Obrigada. --- Alasca bocejou, apertando o xale entorno dos ombros --- Estive com medo de você contar a eles, e duvidarem de mim. --- Bocejou outra vez.
--- Não vão duvidar. --- Ele pois a flecha na aljava --- Todos aqui confiamos uns nos outros, mas há segredos que não devem ser ditos em voz alta, então não diga qualquer coisa quando estiver se explicando.
Silêncio.
--- Alasca?
Apolo virou a cabeça a tempo de ver a bruxa escorregar pela parte detrás do tronco, e de lá para o chão. Estava dormindo!
Alasca ficou de pé num salto, tirando as folhas do vestido e do cabelo.
O olhar envergonhado dela encontrou os olhos azuis de Apolo, e então, os dois começaram a gargalhar.
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