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Capítulo Vinte e Dois: Algo Superior.

Octávia já havia perdido a conta de quantas taças de vinho tinha tomado, nenhum outro ocupante da mesa bebeu como a loira.

--- Vamos acabar mortos. --- Apolo constatou, suspirando.

--- Mortos e queimados. --- Levi acrescentou --- Ficaremos combinados de nos encontrar na estrada que leva a Temeron amanhã, depois do almoço. --- Disse para as gêmeas.

--- Justo no horário mais quente? Os cavalos se cansarão mais rápido. --- Ice considerou, recusando o segundo pedaço de torta que Alasca lhe oferecia.

--- É o horário mais seguro. --- Apolo rebateu, a outra levantou as sobrancelhas --- Não teremos como viajar pela amanhã, e se sairmos mais tarde teremos que viajar no escuro.

--- Bem, se esse é o caso, cuidaremos de tudo para viajar depois do almoço, são quarenta quilômetros daqui até a capital, certo? --- Alasca perguntou, devorando mais um pedaço da torta de carne.

--- Certo, pelas minhas contas chegaremos ao entardecer, tempo suficiente para arrumar um lugar no bosque para pernoitar antes que fique escuro. --- Apolo dobrou o mapa pequeno de Alter que estava sobre a mesa --- É isso, ficaremos no bosque planejando como entrar em Wells e acabar com o casamento.

--- E treinando nossas habilidades também. --- Alasca acrescentou com entusiasmo --- Se vamos invadir um castelo teremos de estar em nossa melhor forma!

--- Tem razão, mas seremos nós cinco contra uma frota de cavaleiros fanáticos por seus monarcas, então podemos ter um imprevisto ou dois. --- Apolo debochou.

--- Será se não deveríamos contar aos outros reinos sobre o que está acontecendo? --- Ice levantou as sobrancelhas --- Eles poderiam ajudar...

--- Me diga um reino de Jeter que acreditaria em nós. --- Octávia revirou os olhos, pesados e fora de foco --- Nenhum deles mandaria ajuda! --- Ela riu, bêbada.

--- Ao menos alguém deve de acreditar! --- A bruxa de olhos brancos insistiu.

--- Não, somos procuradas na maioria deles, e o resto não enfrentaria Wells e Darot confiando apenas nas palavras de assassinos e bruxas. --- Apolo balançou a cabeça, continuando num sussurro --- Somos os únicos que podem parar isso, e precisamos estar vivos para conseguir.

--- Diga-me algo de que não sei! --- Ice ficou de pé, alisando a saia do vestido e erguendo o queixo --- Vejo vocês amanhã, vamos Alasca.

O dia amanheceu ensolarado na manhã seguinte ao jantar dos cinco.

Um clima abafado, que premeditava chuva em breve, se instalou na pequena vila, nuvens pesadas e volumosas se espalhando pelo horizonte.

--- Teremos de comprar tendas, vai chover em breve. --- Octávia disse a Apolo, terminando de por numa bolsa seus pertences --- Não podemos ficar a mercê da chuva no bosque.

--- Vou mandar o Pedrinha comprar. --- Apolo deslizou para fora da cama, carregando consigo um par de botas e a aljava de Octávia --- Comprei mais algumas flechas, e calce logo essas botas antes que fique doente.

O loiro jogou às botas para os braços da bruxa, que estava descalça desde que acordara, e pois a aljava sobre a bolsa recém arrumada, saindo do quarto em seguida.

Encontrou Levi nos estábulos da hospedaria, alimentando Trovão e Líria com montes de feno.

--- Precisa comprar tendas, uma para cada, e vá depressa, Lord pedrada. --- Disse Apolo, acariciando a cabeça da Líria, a égua branca --- Vou celar os cavalos.

--- Estou surpreso que queira encarar Trovão. E pare de chamar assim. --- Levi franziu as sobrancelhas, puxando as mangas da blusa para os pulsos --- Três tendas, certo? Não demoro.

--- É bom mesmo, e se esse cavalo me morder, eu asso ele numa fogueira. --- Trovão relinchou --- Sim, é de você que estou falando. --- O loiro estreitou os olhos azuis.

--- Acho que toda essa pressão está lhe fazendo mal, Apolo, até com os animais você anda falando, que coisa. --- Levi se afastou rindo, mas não sem antes escutar o xingamentos de Apolo.

--- Melhor não tentar nenhuma gracinha. --- O loiro alertou Trovão, ao se afastar para buscar os mantimentos e as bolsas de viagem --- Estou de olho em você, cavalo.

Trovão relinchou e bateu com a pata no chão, mas Apolo já estava longe, e quando voltou, junto com Octávia para melhor guardar as previsões, os cavalos estavam em perfeita ordem.

Octávia prendeu os cabelos e pois o manto azul sobre os ombros, uma túnica azul marinho por cima das calças de montaria, e botas de cano longo discretas.

Ela deixou a espada que ganhara de Merlin presa a cintura, e o arco com as flechas foram presos na cela de Líria.

--- Espero que cheguemos ao bosque antes da chuva. --- Ela comentou, prendendo cobertores a cela de Trovão --- Não seria bom pegarmos uma gripe, já pensou? Espirrar durante uma tentativa de assassinato, que vergonhoso seria!

--- Você não tem jeito! --- Apolo pois uma capa sobre os ombros --- Lembra-se de quando pegou um resfriado as vésperas do seu décimo terceiro aniversário?

--- Aquela vez em que eu passei meia hora espirrando sem parar? --- Octávia segurou o riso.

--- Essa mesmo, mamãe achou que ias morrer. --- Apolo concordou, sorrindo de leve --- Mas você ficou boa, e comemorou seu aniversário como se nunca tivesse visto doença!

--- Tenho uma saúde de ferro! --- A loira brincou.

Levi voltou aos estábulos com as tendas, e depois de pegar sua espada, o ex cavaleiro voltou e logo ele, Octávia e Apolo estavam a caminho da estrada para fora da vila.

Alasca havia descido até a feira as pressas, precisava comprar uma tenda para ela e a irmã o mais rápido possível, Ice havia seguido na frente, e ela esperava não demorar muito para achar uma boa tenda e num bom preço.

--- Escute, gentil senhora, eu realmente tenho pressa! --- A bruxa de olhos azuis apertou os lábios, inquieta.

--- Só um instante, meu bem, só um instante. --- A velhinha corcunda, junto com suas mãos travadas pelo tempo não conseguiam embrulhar a bendita renda no tempo que Alasca esperava --- Aqui, aqui, terminei.

--- Oh, graças aos céus! --- Alasca agarrou o embrulho e jogou o pagamento nas mãos enrugadas da senhora --- Obrigada, e até mais!

A bruxa se apressou em deixar a barraca, apertando o embrulho embaixo do braço, uma trança longa jogada sobre o ombro, uma túnica escura sobre as calças, e uma pressa sem igual.

Alasca virou em uma esquina e bateu de frente com alguém, embora ela tenha achado a princípio que fosse uma parede, o embrulho foi ao chão e por pouco ela mesma não ia.

A bruxa ofegou de surpresa, sentindo uma mão forte lhe segurar pelo braço.

--- Cuidado... --- Uma voz masculina, grave e suave como o vento sussurrou.

--- Desculpe... --- Alasca se afastou, mas perdeu o pouco fôlego que tinha.

Diante dela estava, o que a bruxa julgava ser, o homem mais bonito que já havia visto. Os olhos azuis que a encaravam eram os mais lindos e intensos que já havia visto, mais até que os de Apolo.

O cabelos negros e sedosos eram um pouco compridos, e os lábios estavam curvados num meio sorriso.

--- Aqui. --- Ele finalmente soltou o braço dela, para se curvar, pegar o embrulho e o estender para a bruxa, que não se mexeu --- Se não quiser, eu posso ficar com ele. --- Sorriu.

--- Eu...quero, claro que quero. --- Alasca segurou o embrulho, o estranho sorriu de canto, irônico --- O pacote, estou falando do pacote! --- Emendou.

--- E de que mais seria? --- O sorriso dele aumentou, a bruxa sentiu o rosto queimar, e apertou o embrulho contra o peito --- Bem, melhor eu ir antes que você se transforme num pimentão.

--- Quê? --- Alasca levantou as sobrancelhas, irritada, o estranho se afastou sorrindo --- Sorte a sua que estou atrasada, seu ousado!

--- Sorte a sua que eu tenho que ir. --- Se virou nos calcanhares --- Ou azar, talvez. --- Ele sorriu, piscando e voltando a descer a rua.

--- Ah se eu não estivesse atrasada ele ia ver só... --- Alasca recuperou o fôlego, vendo-o ir embora --- Eu estou atrasada!

A bruxa se pois a correr.

Por sorte alcançou a irmã e o o trio impaciente nos limites da vila, o tempo estava ainda mais fechado, e as nuvens pesadas decoravam o horizonte fielmente.

A chuva prometida os alcançou na entrada do bosque, onde as altas árvores e numerosos pinheiros permitiram que eles montassem as tendas e descarregassem os cavalos.

Acabaram por passar a noite toda dentro se suas tendas, com uma chuva mais fraca como compania. Apolo foi o primeiro a acordar na manhã seguinte, e tratou de acordar os outros.

--- Esse não é o melhor lugar para um acampamento, então vou procurar um mais adequado. --- O loiro avisou, durante o café da manhã.

--- Tem um canal em algum lugar, vi no mapa. --- Octávia avisou, colocado carne seca num pão --- Vamos precisar ficar perto de uma fonte de água.

--- Vou pôr as tendas para secar já que vamos sair daqui. --- Levi comentou.

--- E nós vamos explicar algumas coisinhas sobre magia a Octávia. --- Ice deixou o pão de lado --- Vai ter sua primeira aula hoje.

--- Que emocionante! --- A loira debochou.

O sol começava a despontar entre as poucas nuvens no céu quando Octávia, Ice e Alasca se afastaram do acampamento improvisado e se sentaram em pedras embaixo das árvores.

--- A magia de um mago, como o mestre que nos treinou, vem dos livros, dos estudos de muitos anos, onde ele aprende a usar e manipular a natureza mágica. --- Alasca começou.

Octávia se pois a prestar a máxima atenção que pode, ela não sabia muito sobre magia, quase nunca usava a sua, visto que confiava mais em seu arco.

--- A magia de um feiticeiro vem de dentro dele, ele nasce com aquilo, normalmente acontece quando um de seus pais usa magia. --- Ice continuou, gesticulando com as mãos --- Já a magia das bruxas, como nós três, vem de algo superior, somos escolhidas por alguma força, que nos da habilidades.

--- As vezes as bruxas nascem de famílias completamente normais, como Ice e eu, mas por outras, elas podem ser filhas de feiticeiros e magos. --- Alasca olhou para a copa das árvores, pensativa --- Essas bruxas costumam ser mais fortes que a maioria.

Octávia franziu as sobrancelhas levemente. Seu pai era um feiticeiro, essa era a única certeza sobre ele que ela tinha, então seus poderes poderiam ser mais fortes do que havia pensado.

--- Entendi. Acham que se treinarmos o suficiente, nossos poderes podem ajudar a parar o casamento? --- A loira questionou --- Wells não tem defesas contra magia.

--- Mas Darot tem. --- Ice ficou séria --- Yracedette não deixaria de levar toda segurança que poder com ela. Você está com Levi, e Kalias sabe que é uma bruxa, então ela também sabe.

--- Mas não sabe sobre vocês, não ainda ao menos. --- Octávia cruzou os braços --- Vocês duas são nossa carta na manga.

As gêmeas trocaram olhares.

--- Com toda modéstia que a situação permite, não somos do tipo que passam despercebidas, e nosso pai pode ter espalhado aos quatro ventos que fugimos. --- Ice considerou.

--- Acha que ele contaria aos seus rivais que suas filhas fugiram? --- A loira levantou as sobrancelhas --- Ele não poderia lidar com as especulações.

--- É uma hipótese. --- Alasca acrescentou.

--- Pensamos nisso mais tarde. --- Ice abanou a cabeça --- Agora preste atenção, a respiração é um dos fatores mais importantes para o uso da magia.

--- A respiração? Por que?

--- O ar que entra por nossos pulmões regula e controla a magia dentro de nossas veias, permite que a usemos sem nos ferir. --- Alasca explicou, então tomou fôlego --- Respire fundo e solte. Assim.

Octávia imitou a respiração da gêmea, e Ice fez o mesmo.

Então Alasca ergueu uma das mãos, e chamas azuladas dançaram por sua palma, sem queima-la, a bruxa apagou a chama, e então, sorrindo para Octávia, perguntou:

--- Pronta para começar seu treinamento de verdade?

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