Capítulo Um: O Andarilho da Estrada Norte.
Era uma vez...
Não! Definitivamente não. Que clichê meus queridos.
Contos de fadas não são o estilo que nossa história segue, estamos longe disso, obviamente, como uma boa história que data da era medieval teremos castelos de pedra, reis, rainhas, princesas e príncipes, porém, eles não são o foco principal disso aqui.
Se preparem para conhecer mercenários, assassinos e assassinas, magos, feiticeiros e bruxas que darão o que falar.
Ah, e não teremos um Felizes Para Sempre...
Com os fatos esclarecidos, para que não embarquem sem saber com o quê estão lidando, começaremos a história...
O sol quente do meio dia castigava o caminho pela Estrada Norte, um grande corredor de terra vermelha, agraciado com muitas ladeiras inclinadas, e uma vegetação rasteira e seca.
Era um verdadeiro inferno para aqueles viajantes corajosos que desejassem chegar a Tíbia, um lindo e quente reino cercado por grandiosas montanhas de calcário, mas, era o único caminho para isso.
Tíbia era um dos reinos mais belos de Jeter, as montanhas escavadas a centenas de anos pelos moradores da Cidade-Capital, traziam um charme a grandiosa cidade, imponentes como gigantes adormecidos de alguma lenda antiga, as montanhas eram os guardiões do reino.
O clima árido era típico naquela parte do continente, e sol sempre brilhava sobre as terras com todo o seu fervor, na imensidão de um céu azul com poucas nuvens, e a Estrada Norte podia ser um verdadeiro inferno em certas horas do dia, como naquele momento em que ele estava em seu auge de calor.
O alazão de pelo negro e brilhoso, seguia pela estrada cansado, talvez não tanto quanto seu dono, mas ainda sim, tinha mais chances de reclamar do que o outro.
O jovem, que suava por baixo da capa cinza puída, não via a hora de deixar a estrada infernal para trás e adentrar pelos portões da Cidade-Capital, e lá achar um lugar digno para se hospedar.
O cavalo relinchou alto, como se reclamasse, e era o que pretendia.
--- Trovão, por Deus! Já disse que estamos chegando.
O rapaz repreendeu o animal, que ameaçava parar de andar, e pretendia mostrar o quão cansado estava, e como era injusto que ele fizesse o caminho, como um burro de carga.
--- Você não é o único cansado aqui, sabia? Também tenho fome. Comeste minha última maçã. --- O rapaz apertou os lábios, descontente.
O cavalo parou definitivamente de andar e relinchou repetidas vezes, batendo com a pata no chão vermelho, e levantando uma cortina de poeira vermelha.
--- Certo, está certo! Você é a prioridade, já que está fazendo todo o caminho comigo nas costas. --- Ele alisou o pescoço do animal, uma tentativa de acalma-lo --- Mas isso não lhe dá o direito de reclamar e parar de andar... --- Sussurrou.
O cavalo se levantou nas patas traseiras e relinchou, indignado pelo tratamento que recebia, e por fim, quando o dono conseguiu acalmar os nervos sensíveis do animal, este voltou a fazer o caminho desagradável, sem reclamar dessa vez.
O alazão deixava um rastro de poeira vermelha de acordo andava, que subia como uma cortina atrás deles, a estrada de terra batida era um caminho nada gracioso, e foi ficando para trás mais lentamente do que esperavam.
Até que não poderam mais vê-la.
O andarilho chegou aos altos muros de pedra escura, uma verdadeira muralha, que cercavam Quirina, a Cidade-Capital do reino, sendo está cortada de uma ponta a outra por um rio cristalino e largo.
Ele então permitiu ao cavalo um descanso e desceu das costas do animal, visto que esse ameaçava lhe jogar ao chão se não o fizesse logo. E era mais que capaz de fazê-lo.
--- Agora não precisa mais reclamar... --- Sussurrou para o animal, seguindo pela rua principal.
A rua principal da cidade era repleta de comércios: feiras, tavernas, hospedarias e padarias...as casas dos nobres ficavam ao sul, perto do suntuoso palácio de pedras cinzas e torres altas, as casas dos moradores eram grandes, de teto alto e janelas coloridas.
O jovem andarilho guiou seu cavalo pelas barracas onde os feirantes ofereciam seus produtos aos gritos, ele andou despreocupadamente, a capa antiga escondendo parcialmente o rosto da multidão ocupada que perambulava de um lado a outro.
Uma espada comprida estava firmemente presa a cintura por um cinto, e o crucifixo pendurado no pescoço estava por dentro da túnica.
Os olhos de um castanho claro e intenso, o rosto bonito e jovial, marcado pelo sol, iluminando parcialmente pela luz ofuscante vinda do céu.
Era sempre verão em Quirina.
Sem que o jovem andarilho percebesse, três homens se levantaram na taverna pela qual ele acabara de passar, descendo a rua, e então os três brutamontes se puseram a segui-lo pela praça.
Reino Wells, Sul de Jeter...
--- Vossa Majestade...
A figura esguia de um idoso se ajoelhou diante do trono de mármore, um patamar acima dele, com uma bela vidraça colorida na parede logo atrás.
--- O crescente número de ex cavaleiros virando saqueadores, é preocupante... --- O senhor levantou o rosto enrugado e preocupado.
--- Isso não acontece apenas em Wells, certo, Chanceler?
Sentado no trono, no patamar acima de onde estava o idoso, com uma pomposa capa de seda vermelha nos ombros, e uma coroa de ouro nos cabelos negros e grisalhos, estava um homem de meia idade, cego de um olho, a pele escura como ébano e tão brilhante quanto.
--- Todos os reinos têm sofrido com isso. --- Ele levantou o queixo, indiferente, arrogante.
--- De certo que sim, Majestade... --- O senhor ajoelhado, o Chanceler, assentiu.
A sala do trono estava iluminada pela luz fraca do sol daquela bela manhã, que entrava suavemente pelas altas janelas de vidro, com as cortinas vermelhas recolhidas.
--- Mas, em nosso caso, o que aconteceu recentemente... --- O Chanceler escolheu as palavras --- Perder um cavaleiro como...
--- Não diga o nome dele! --- O soberano interrompeu, ficando de pé com rapidez --- Esse nome está proibido aqui. Que eu perca cem cavaleiros, mas que não o veja outra vez! --- Exclamou.
--- Ora, bem, Majestade, compreenda que... --- O velhinho de cabelos brancos se levantou, o rosto cheio de rugas --- Se um de nossos inimigos, recrutar...ele, teremos um grande problema. Ninguém ia querer um inimigo como ele. Isso é fato.
A preocupação refletiu nos olhos do soberano, um de um castanho vivo e intenso, e o outro apagado, sem brilho, amarelado, e ele voltou a se sentar no trono.
Não querendo admitir que seu Chanceler tinha a mais completa, e absoluta razão.
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