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Capítulo Trinta e Seis: A Rainha de Darot.

Quando Kalias e Octávia chegaram ao vilarejo mencionado pelo assassino, já passava do meio dia. Eles conseguiram achar uma pensão, onde almoçaram, e alimentaram Rajada.

--- Precisamos de armas para entrar na cidade. --- A loira começou, após empurrar o prato já vazio --- Estamos sem nada.

--- Você não pode ter uma arma, é uma prisioneira. --- Ele cruzou os braços sobre o peito, do outro lado da mesa --- Eu que preciso de uma espada, não faço a menor ideia de onde a minha foi parar. --- Franziu as sobrancelhas.

--- A minha deve de estar com Apolo, ou ao menos estava com ele. --- A bruxa suspirou.

Ela estava muito preocupada com os amigos, não sabia do que o príncipe era capaz de fazer com eles, visto que havia mandado matar o próprio pai, apenas para subir ao trono.

Os Abraxs eram conhecidos por serem loucos.

--- Assim que Rajada estiver descansado, vamos partir, imagino que se mantermos um bom ritmo poderemos chegar aos entornos de Berg nessa madrugada. --- Kalias disse, ficando de pé.

--- Estamos indo direto para eles. --- Octávia fixou o olhar num ponto distante --- E podemos acabar todos mortos.

--- A morte é só mais uma etapa na vida, de qualquer um, em qualquer lugar. --- Ele sorriu, lembrando de quando ouviu essas palavras pela primeira vez --- Vou comprar uma espada.

E ele saiu. Octávia cruzou os braços, Kalias era muito estranho, porém, habilidoso o suficiente para ajudá-la, e a bruxa estava sem ideias para salvar seus amigos, e Jeter.

A coroação e o casamentos estavam muito perto, e ela não tinha tempo a perder.

Kalias não demorou a voltar, tinha uma espada nova, mantimentos para a viagem, e a loira notou uma corda amarrada a cela do cavalo, quando montou, para partirem em direção a capital.

--- Se o cavaleiro tivesse desistido da honra dele, nada disso estaria acontecendo, e ninguém precisaria morrer. --- O assassino comentou.

Octávia suspirou, passavam por uma floresta espessa, a tarde quase no fim, estavam perto da capital.

--- Pode culpá-lo? --- Ela levantou as sobrancelhas, montada a garupa do cavalo --- Levi foi acusado de crimes que não cometeu, e acima disso, ele quer salvar Jeter.

--- Acha que nosso continente precisa ser salvo?

--- Não acha que Yracedette é uma ameaça? --- Rebateu a loira --- Ela pode limpar a magia que resta em Jeter, e sabe que ela é uma tirana, seríamos todos escravos dela.

--- Não posso negar isso. Ela certamente o faria.

--- Então por que esteve do lado dela? --- Indagou.

Kalias ficou em silêncio, por fim, riu antes de começar:

--- Você era uma mercenária, bruxa, todo trabalho é digno desde que bem pago. --- Citou --- Ela me ofereceu dinheiro, sou um druida, fazemos os trabalhos que os monarcas não podem pedir aos seus cavaleiros. E eu não tinha nada a perder ficando do lado dela.

--- E agora você tem? --- A bruxa questionou, olhando as árvores.

--- Talvez.

O mercenário franziu as sobrancelhas, estranhando as palavras em sua boca, a imagem de um rosto bonito, com olhos azuis distintos, perspicazes, e cabelos brancos invadindo sua mente.

Talvez Alasca fosse alguém a quem valesse a pena salvar, mas ele certamente não era.

Os dois atravessaram a floresta durante a noite, e só pararam quando já estava muito escuro para continuar.

Octávia não conseguiu dormir, sempre que o sono parecia chegar, alguma imagem onde um de seus companheiros eram mortos, ou torturados, invadia a mente da loira, e o sono ia embora.

Kalias dormira tanto quanto ela, e quando os primeiros sinais do sol surgiram no horizonte, eles partiram.

O dia estava amanhecendo quando eles subiram um morro, e lá embaixo, poderam ver Berg e seus muros.

--- O plano é o seguinte. --- Kalias se virou para a loira --- Vou levar você amarrada para a cidade, e entrar no castelo contigo como minha prisioneira para a rainha e o príncipe.

--- E vai ser assim tão fácil? --- A loira cruzou os braços.

--- Os cavaleiros e guardas me conhecem, não vai ser difícil visto que, seus amigos já estão presos lá. Yracedette e Ângelo sabem que eu estou com você, caímos no rio juntos, então vamos fingir que eu a capturei.

--- Está bem. --- Ela descruzou os braços --- Mas o que vamos fazer quando estivermos dentro do castelo?

--- Eu vou soltar seus amigos, porém, precisarei de tempo para achá-los, então preciso que você seja a distração. --- Ele a encarou --- Você e seus poderes.

--- Quer que eu seja uma distração? --- A bruxa sibilou, então bufou --- E se desconfiarem?

--- Você não vai dar a eles tempo para pensar nisso. E eu vou cuidar do resto, estou contando com seu amigo loiro para o plano funcionar.

--- Apolo? Como assim? --- Octávia franziu as sobrancelhas.

--- Ele é esperto o suficiente para se igualar a mim, se ficar de bico fechado Yracedette não vai desconfiar que a trai, então não teremos problemas para entrar na cidade. --- Explicou rapidamente.

--- E se eles já...

--- Vamos acreditar que não. --- Kalias a interrompeu.

O assassino se virou para observar a cidade murada abaixo do morro.

Berg era cercada por um muro de pedra branca, e dentro dele estava a cidade, então havia o segundo muro, que cercava o castelo e o terreno ao redor, onde ficavam as casas dos nobres.

--- Achei que me odiasse. --- Octávia encarou as costas do assassino.

--- Eu chamo de profunda aversão. --- Kalias respondeu, observando o castelo de longe.

--- Então por que está me ajudando? --- A loira questionou.

Silêncio.

--- Eu não sei, bruxa. --- Um suspiro --- Não tenho a menor ideia.

Octávia ficou em silêncio.

Uma hora depois, os dois chegavam aos portões do muro um, que cercava toda Berg. A bruxa amarrada e a pé, era puxada por Kalias, montado em Rajada.

--- Tenho um presente para o príncipe. Abra logo que não tenho o dia inteiro! --- Kalias gritou para o guarda, em cima do muro.

--- Claro, Lord Kalias. --- Com um sinal do guarda, os pesados portões foram abertos.

--- Espero não estar atrasado para o casamento. --- Comentou o assassino, puxando a corda que prendia a loira.

--- Oh, não! Ainda teremos uns bons três dias até lá. --- Garantiu o guarda --- Trouxeste um ótimo presente.

Ele sorriu de forma maliciosa para a bruxa. Octávia cuspiu no chão.

--- Vá pro inferno, seu porco! --- Exclamou, enquanto Kalias guiava o cavalo para dentro da cidade.

Antes que os portões fossem fechados, a loira ouviu o guarda rir com seu parceiro. Ela revirou os olhos.

--- Guarde essa raiva para Yracedette. --- Sussurrou o assassino.

--- Tenho raiva o suficiente para todos. --- Rebateu a loira, em voz baixa.

Eles atravessaram a cidade sem problemas, então, finalmente chegaram ao muro dois, era tão alto quanto o um, e tão bem protegido quanto.

Octávia percebeu torres de vigias com dois ou três guardas ao longo do muro, e os portões, menores que os do outro muro, eram guardados por quatro cavaleiro, com armaduras e grandes espadas.

--- Quem vem lá?! --- Um dos cavaleiros, uma mulher, andou em direção a dupla, com a mão na espada.

--- Ora, quanta agressividade, não reconhece mais um amigo de vosso príncipe? --- Kalias levantou as sobrancelhas.

--- Não me lembro de vê-lo com o príncipe. --- Rebateu a cavaleira, os cabelos negros como a noite eram cortados na altura do queixo --- Olha só o que temos aqui.

Ela contornou Rajada, parando perto de Octávia, que tinha as mãos amarradas, porém, continuava de queixo erguido.

--- A Assassina do Manto! --- Ela olhou a loira da cabeça aos pés --- Acredito que meu príncipe ficará feliz em vê-la, não que sua cabeça vá ficar muito tempo sobre o pescoço.

--- Quer ver como posso tirar a sua cabeça do pescoço? --- A bruxa estreitou os olhos verdes.

A cavaleira puxou a espada pelo cabo, começando a tirá-la da bainha, Octávia não se mexeu.

--- Eu adoraria um embate, porém... --- Kalias puxou a corda, afastando a loira da morena --- Espero ver o príncipe antes. Não precisa me anunciar, ele já espera por mim.

A cavaleira franziu as sobrancelhas para o mercenário, soltando o cabo da espada, e deixando-a na bainha.

--- Kalias, imagino. --- Ela fez um sinal para os outros cavaleiros, então os portões foram abertos --- Aaron, escolte-os até o castelo, se tentarem algo, mate-os.

Um cavaleiro alto, forte e moreno deixou seu posto, e logo escoltava a dupla para dentro do muro dois, com uma carranca no rosto, e a mão sobre a espada.

Rajada fora deixado nos cuidados de um cavalarisso, e eles seguiram por uma rua de pedras, em direção ao castelo, Kalias não largou a corda e agora puxava a loira de perto.

Atravessaram a cidadela composta pelas casas grandes e luxuosas dos nobres, árvores e flores por toda parte, um rio passava pelo lado norte da cidade, e dele, um riacho seguia diretamente para dentro do muro dois.

Chegaram ao castelo alguns bons minutos depois, era grande e imponente, além de bonito. Octávia tentava manter seus nervos de aço no lugar, apesar de sua magia se agitar constantemente em e suas veias.

Atravessaram salões e escadas, até chegarem ao andar da sala do trono, Kalias arrastou a loira pelo corredor, ele estava impassível, com um cavaleiro em seu encalço não podia ser nada menos que isso, e logo avistou as portas altas que davam para a sala tão aguardada.

As portas foram abertas pelos guardas, assim que eles se aproximaram.

--- Acredito que sei o caminho até o trono. --- Kalias disse ao cavaleiro, quando este ameaçou entrar com eles na sala --- Mas, agradeço pela escolta.

--- Lord Kalias, minhas ordens... --- Começou.

--- Acabam de mudar. --- O assassino o interrompeu, apertando a corda que prendia a loira na mão --- Posso seguir sozinho. Passar bem!

Kalias avançou para dentro da sala, e o cavaleiro se viu obrigado a dar meia volta. O assassino puxou de leve a corda que prendia a bruxa, então avançou.

--- Yracedette! --- Ele sorriu --- Sua bruxa está aqui, meu trabalho está feito.

Ele empurrou Octávia em direção aos degraus, e a loira ouviu a risada dela, e do príncipe, então levantou os olhos para o trono, e a viu.

A rainha de Darot.


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