Capítulo Trinta e Quatro: Correndo Com as Águas.
Druida. Apolo repetiu a palavra mentalmente, analisando os movimentos de Kalias enquanto isso. Já ouvira essa palavra antes...mas onde?
--- Os druidas...você não... --- Alasca franziu as sobrancelhas levemente, encarando os olhos azuis do assassino --- Yracedette tinha um druida trabalhando para ela...
Kalias sorriu para a princesa. Ela teria se assustado? Mal sabia ele que estava diante de três bruxas.
--- Um druida? Já ouvi falar, mas, resumidamente o que são? --- Levi perguntou a Ice.
--- Druidas são sábios, não têm natureza mágica, tão pouco são humanos, eles... bem, são um meio termo. --- Explicou rapidamente --- São habilidosos, e principalmente...
--- ...perigosos. --- Alasca completou.
A bruxa e o assassino se encararam, o coração dela deu um salto ao ver um brilho estranho nos olhos dele, algo no meio do azul, que não deixava-a ter medo do mercenário.
--- E burros. --- Octávia tirou a espada da bainha --- Vai lutar contra cinco, sozinho? Achei que fosse mais esperto.
--- Se vocês fossem espertos... --- Começou Kalias, pegando sua espada --- Teriam vindo com mais cinco.
Então eles começaram a lutar. Levi foi o primeiro a avançar, as lâminas refletiam a luz do sol que aos poucos brilhava sobre a ponte.
--- Vocês duas, nada de poderes. --- Apolo disse as gêmeas, pegando sua espada da bainha nas costas --- Ele não pode saber que são bruxas.
--- E o que quer que façamos? --- Ice questionou, impaciente.
Kalias e Levi bradavam as espadas com violência, e começavam a seguir em direção a ponte. Octávia observava de perto, ainda não havia entrado na disputa, mas só estava a esperar o momento certo.
--- Cobertura, vamos precisar de cobertura, ele pode ter cavaleiros escondidos por perto. --- O loiro puxou um punhal da bota, e entregou a gêmea de olhos azuis --- Aqui, não faça nada de estúpido.
Alasca sabia que ele se referia a Kalias, e não respondeu.
Levi bloqueiou um ataque do mercenário, e tentou acertá-lo com um chute, mas o outro era habilidoso, e conseguiu acertar o estômago do ex cavaleiro com uma joelhada antes.
Octávia então entrou na luta. A bruxa investiu contra o mercenário, que para se defender, desistiu do golpe que estava prestes a dar em Levi.
A loira teve dificuldade em defender os golpes de Kalias, e atacar era difícil, ele era forte, hábil, perigoso no sentido literal da palavra, e isso não era bom.
A bruxa tentou um golpe na altura do ombro de seu adversário, Levi e Apolo procuravam uma brecha para atacar, e as gêmeas patrulhavam com os olhos o local ao redor da ponte.
Kalias sorriu, defendendo o ataque da bruxa de cabelos loiros, então soltou uma das mãos da espada, passando a segurá-la apenas com uma, e acertando uma cotovelada no braço da loira, que sem querer soltou a espada.
O mercenário tomou posse da espada da loira, que ela havia ganhado de Merlin, com uma espada em cada mão, Kalias chutou Octávia para a ponte.
--- Claro que ele tinha que lutar bem! --- Reclamou o ex cavaleiro, partindo para o ataque.
Octávia sentiu o lado direito do corpo doer ao raspar contra a madeira da ponte, então se levantou, deixando a magia cobrir seus punhos.
Kalias queria briga? Tinha acabado de conseguir.
--- Eles estão levando uma surra. --- Ice disse, uma flecha armada no arco --- Queria poder ajudar.
--- Eu também. --- Alasca mordeu os lábios --- Mas, veja, Octávia vai usar magia!
A bruxa de cabelos loiros avançou no mercenário, acertando-o com fogo, verde e flamejante, e lhe tirando uma das espadas, a dela, que Apolo logo recuperou.
Ice ouviu algo vindo pela estrada, a paisagem ao redor contava com poucas árvores, enquanto a luta de seus amigos avançava pela Ponte Vermelha, a bruxa puxava a corda do arco, e procurava por algo escondido.
--- Alasca... --- Ice chamou, franzindo as sobrancelhas --- Há algo aqui, alguém está nos vigiando.
As bruxas observaram a estrada, as árvores, e então, a bruxa dos olhos azuis viu poeira se levantar ao longe, na estrada, Alasca estreitou os olhos, e viu soldados fardados em preto e verde. A cor da casa Abraxs...
--- Soldados de Wells! --- Gritou a bruxa.
A luta na ponte parou, e as gêmeas trocaram olhares antes de correr em direção a ela.
Kalias franziu as sobrancelhas. Ele não queria ajuda, deixou bem claro para Yracedette, e por que estavam do lado de Alter? Haveriam outros do lado de Wells?
--- Não precisa de ajuda, não é? --- Octávia olhou para Kalias, não usava sua espada.
Antes que o mercenário falasse algo, a bruxa o acertou com magia, o assassino caiu longe, as gêmeas passaram por ele depressa, e logo o grupo estava reunido.
--- O quê vamos fazer? Os cavalos estão em algum lugar do outro lado da ponte! --- Levi disse, ofegante, um corte na lateral da cabeça.
--- Temos que continuar. --- Apolo decidiu, vendo Kalias ficar de pé --- Não importa como.
O grupo avançou pela Ponte Vermelha em direção a Wells, e Kalias se pois a segui-los. Octávia, a última da fila, parou, os demais logo o fizeram.
--- Vou dar um jeito nele, assim vocês podem seguir até o outro lado. --- Magia cobriu as mãos da loira.
--- Não vamos lhe deixar aqui. --- Apolo segurou-a pelo braço, os outros concordaram, a loira sorriu de leve --- Juntos, ou não vale a pena.
Kalias acompanhou-os no meio da ponte, e recomeçaram a lutar, as gêmeas não o fizeram, e Ice aproveitava a distância para atirar flechas nos soldados, que estavam cada vez mais perto.
Kalias repeliu o ataque de Octávia com a espada, e quando a magia dela explodiu entre os dois, a loira tombou para trás da mureta da ponte, caindo para a imensidão de águas logo abaixo.
O corpo da assassina afundou nas águas claras do rio, e a correnteza começou a carrega-la para cada vez mais longe, enquanto os olhos azuis do assassino se aregalavam em surpresa.
--- Octávia!
A exclamação angustiada de Apolo teria partido uma rocha. E ele partiu, um coração em forma de rocha que se escondia no peito de Kalias, e o fez perceber o quão errado ele estava, em tudo, sobre tudo.
Os olhos muito azuis do mercenário foram do loiro debruçado na mureta, ao rio, de lá ao trio que se ajoelhava na ponte e, deles para os soldados que corriam pela estrada, voltando ao trio, para a moça de cabelos platinados que olhava com horror para as águas.
Então ele teve uma ideia. Maluca, completamente mal pensada, porém, a única que tinha.
--- Eu...me...jogue na água. Depressa! --- Kalias mandou, segurando Apolo pelos ombros.
--- O quê? Não! --- O loiro franziu as sobrancelhas, olhando para o rio e não para os olhos de Kalias --- A Octávia, eu tenho...
--- Me jogue na água, não conte a rainha e eu juro, juro que salvo sua amiga e volto para salvar vocês. --- Apolo finalmente olhou nos olhos do outro, uma apreensão e uma determinação brilhando no azul intenso --- Você não tem tempo, e ela também não!
Apolo hesitou, Octávia, se debatendo e lutando contra as correntezas que a puxavam, sumia numa curva acentuada. Ela não sabia nadar, ele se lembrou.
As gêmeas olharam de um ao outro, enquanto Levi observava, espantado, as águas do rio e a loira que descia com elas.
Os solados de Wells chegaram a ponte. Levi, Alasca e Ice ficaram de pé, alertas.
O ar estava tenso e quando a primeira flecha inimiga cortou o ar para atingir as tábuas da Ponte Vermelha, Alasca se meteu entre Kalias e Apolo.
--- Melhor não ser um truque. Cumpra com sua palavra, assassino. --- Ela o encarou, os olhos azuis muito sérios.
--- Eu vou, princesa.
A resposta de Kalias se perdeu no vento quando Alasca o jogou ponte abaixo, por cima da mureta.
O corpo do assassino atingiu as águas turbulentas do rio, uma flecha acertou o ombro da princesa de olhos azuis, e o grupo foi cercado pelos soldados de Wells.
Costa de Jeter, Mar de Sal...
Octávia sentiu os pulmões arderem, implorando por ar, então acordou engasgada, desorientada, e após tossir a água salgada para fora de seu corpo, a bruxa olhou em volta, perdida.
--- É uma assassina há tanto tempo e não aprendestes a nadar?
Octávia se sentou no meio das areias claras, encharcada de água salgada da cabeça aos pés, descabelada e com os olhos vermelhos. Estava numa praia.
O sorrisinho debochado de Kalias a fez revirar os olhos verdes, enquanto tentava lembrar dos detalhes do que havia acontecido. O sol estava alto, quente.
--- Vá pro inferno, Kalias! --- Exclamou se pondo de pé.
--- Se me mostrar o caminho, talvez eu vá. --- O outro debochou, limpando as unhas com uma faca afiada --- Seus amiguinhos devem estar preocupados com você, a essa altura.
--- Então isso quer dizer que eles estão vivos? --- Octávia se virou para Kalias, lentamente, com as sobrancelhas levantadas.
A bruxa lembrava dos soldados chegando a ponte, enquanto ela despencava, o que teria acontecido com os outros? Estariam em Wells? Por que estava numa praia com o mercenário de cabelos negros?
--- Estão. --- Kalias respondeu, sem tirar os olhos da faca e das mãos --- Só não sei por quanto tempo. Vai depender da generosidade do príncipe, ele é bem temperamental, sabes.
--- Maldito seja ele. --- Ela franziu as sobrancelhas --- Por que está aqui? Onde está meu manto?
Ela levou uma das mãos ao ombro, sentindo falta de sua marca registrada, seu manto azul.
--- Eu não o peguei, bruxa. --- O rapaz de olhos azuis guardou a faca na cintura --- Seu querido manto está descascando no fundo das águas do rio. Junto com os peixinhos.
O sorriso presunçoso de Kalias sumiu quando Octávia se lançou sobre seu pescoço e o derrubou de costas na areia, agarrando-o pela gola alta da camisa.
--- Você o deixou afundar de propósito! --- Exclamou, sacudindo o corpo do assassino --- E quer me impedir de chegar a Wells! Seu grande filho da...
--- Era você ou o manto. E não tirei-a do rio para matá-la agora. --- Ele a cortou, seca e friamente.
O aperto de Octávia afroxou.
Kalias estreitou os olhos para a loira e com um movimento simplis, empurrou o corpo de Octávia para fora do seu, deixando que a bruxa caísse de costas na areia muito branca.
Os dois permaneceram em silêncio, deitados lado a lado. Estavam numa praia silenciosa, de frente para o Mar de Sal, que cercava Jeter.
Na imensidão de areias brancas e do cheiro da maresia vinda da água salgada do mar, o silêncio reinou. Sem diálogos, ou brigas, só silêncio. Puro e desconfortável.
--- Devia ter pego o manto. --- Octávia falou, em voz, observando a vastidão do céu azul.
--- Posso te jogar no mar, se quiser.
--- Tentador. --- Foi a resposta seca de Octávia, como ela se sentia impotente! Silêncio e então... --- Sua rainha me quer morta, por que não me deixou afogar?
--- Ela não é minha rainha, e essa areia é bem mais desconfortável do que parece. --- Kalias se sentou, os cabelos negros úmidos e cheio de grãos de areia --- Vai passar o resto dos seus dias aí?
--- Vai me deixar ir até Wells e salvar meus amigos? --- Devolveu a assassina.
Kalias a encarou por longos segundos, analisando a expressão da bruxa, calculando seus próximos movimentos e quanto eles lhe custariam, por fim, respondeu.
--- Vou te levar até lá para isso.
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