Capítulo Trinta e Cinco: Separados.
Octávia observou atentamente cada movimento de Kalias, enquanto tirava o excesso de água dos cabelos loiros.
--- Deixa eu ver se entendi. --- A assassina cruzou os braços --- Você, que hoje de manhã queria matar a mim e aos meus amigos, agora quer me levar a Wells para salvá-los, é isso?
--- Resumidamente, sim. --- Kalias pois as mãos na cintura --- Por sorte estamos do lado da fronteira de Wells. --- Ele olhou o mar ao longe --- Tinha esquecido-me de como isso é bonito.
A loira franziu as sobrancelhas para ele, olhando para o horizonte enquanto se levantava. Era mesmo lindo, o mar, o céu, o cheiro de água salgada e o calor do sol.
Mas não era hora para pensar nisso.
--- Pode observar o mar o quanto quiser, pode até viver lá com os peixes se quiser, porém, vai cumprir sua palavra de me levar a Wells antes. --- Ela disse a ele --- E se estiver mentindo eu mato você. Sem hesitar.
--- Tocante. --- Kalias revirou os olhos, se virando para a loira --- E só para saber, bruxa, eu não sabia que haviam soldados a espreita.
--- Ah, claro que não sabia. --- A loira começou a andar --- Até parece que não era uma emboscada, acredito em você. --- Debochou.
--- Wells fica para o outro lado. --- O assassino alertou, tirando o sobretudo.
--- Eu sabia disso. --- Octávia deu meia volta, de queixo erguido.
Kalias revirou os olhos.
Os dois seguiram em silêncio praia a fora, até chegarem numa estrada de terra batida, cercada por um bosque de altos pinheiros. O reino de Wells começava ali.
--- E então? Você tem algum plano mirabolante? E principalmente, por que está me ajudando? --- A loira questionou, quando pararam de andar.
--- A rainha Yracedette é uma mulher com a qual não se deve brincar, se os soldados vieram atrás de vocês, pode significar que ela já chegou em Wells. --- Ele avaliou --- Então seus amigos estão com problemas, e nós dois também.
--- Ajudou muito.
--- Escuta... --- Ele pois as mãos na cintura --- Eu posso estar com um pé na cova por estar aqui, seja lá porque diabos eu resolvi que não a deixaria morrer, eu decidi, então vamos chegar a Wells e pegar seus amigos. Agora quero Yracedette morta tanto quanto você, por isso estou aqui.
--- O quê aconteceu para mudar de idéia? --- A loira estreitou os olhos verdes.
Kalias respirou fundo.
--- Acho que eu não estava do lado certo, outra vez, e obviamente, pedir para ser jogado ponte abaixo era algo que eu não podia evitar de testar. --- Debochou, voltando a andar.
--- Quem jogou você? --- Octávia o acompanhou.
--- Uma das princesas. --- Ele respondeu, tentando parecer indiferente --- A que tinha cabelo longo.
--- Alasca. --- A loira constatou, olhando o assassino de canto --- Você realmente estava de olhos em nós, podia ter tentado algo antes.
Kalias deu de ombros.
Nem ele mesmo sabia os motivos de não ter feito algo antes, talvez não quisesse fazê-lo. Ao menos agora sabia que ela era Alasca, e a outra certamente era Ice.
Os dois andaram mais alguns minutos. Octávia sentia a garganta seca pela sede, e estava cansada, sentia areia formigar sobre a pele.
O druida viu um cavalo vindo numa curva acentuada a frente, e estreitou os olhos, reconhecendo Rajada, seu cavalo, que parou para comer grama na beira da estrada.
--- Eu sabia que ia me encontrar! --- Kalias se aproximou do alazão, fazendo carinho em sua cabeça.
--- É seu? --- A loira franziu as sobrancelhas, o outro assentiu --- Tens água com ele? Estamos sem previsões para chegar a Wells.
--- Há um vilarejo depois dessa estrada. --- Kalias pegou um cantil da cela, com água ao invés de vinho e jogou para a loira, --- Vamos nos reabastecer lá, almoçar, e então seguir para Berg.
--- Quanto tempo até chegarmos lá? --- Ela perguntou, após beber uma boa quantidade da água.
--- Com sorte, chegamos amanhã pela manhã. Espero que seus amigos tenham tanta sorte assim.
Octávia jogou o cantil para o assassino e este bebeu, antes de continuar, guardando-o outra vez.
--- Se Yracedette estiver em Berg, eles terão uma chance de continuar vivos. O príncipe mandaria executar todos, mas a rainha é cautelosa. --- Ele passou a alça do cantil pelo pescoço --- Ela não vai matá-los enquanto você não estiver lá.
--- Achei que ela quisesse Levi, que tenho eu haver com isso?
--- Veja bem, você é uma bruxa, além do que, é a assassina mais procurada de Jeter, acha que ela não quer lhe matar pessoalmente? --- Ele levantou as sobrancelhas --- O cavaleiro, Levi, não teria chegado tão longe sem você e aquele loiro, Yracedette quer vocês mortos também.
--- Mas e se ela achar que nós dois já estamos mortos? --- A assassina observou o mercenário montar no cavalo.
--- Ela sabe que eu não morreria tão fácil.
Kalias estendeu a mão para a loira. A bruxa encarou a mão dele, grande, calejada, a mão de alguém que a pouco era um inimigo.
Mas agora era um aliado.
Octávia segurou a mão dele, e deixou que a ajudasse a montar, então, quando o cavalo começou a andar pela estrada, ela disse:
--- Daremos uma prova de nosso poder a Yracedette Ravanclew, e ela vai cair de seu pedestal.
Berg, Cidade-Capital de Wells...
Alasca gritou de dor quando uma das cavaleiras arrancou a flecha de seu ombro, com um puxão violento. A bruxa segurou as lágrimas, sentindo o sangue escorrer pelo braço.
--- Melhor segurar o choro, princesa! --- A mulher sorriu, jogando a flecha ensanguentada no chão.
A bruxa não disse nada.
Haviam acabado de chegar a Wells, amarrados, eles haviam sido separados em carroças, e ela sabia, pelo som que as rodas faziam, que já não estava mais na estrada, e sim dentro da cidade.
Será que os outros estão indo para Berg também? A bruxa se questionou.
Haviam cavaleiros do outro da Ponte Vermelha quando chegaram lá, bem armados e com carroças para levá-los.
Alasca segurou um gemido de dor, e então, tomando todo cuidado que conseguiu, deixou a magia que pulsava dentro dela parar a dor, e começar um processo muito lento de cura, para não levantar suspeitas.
Quando a carroça parou, dois cavaleiros arrastaram a bruxa para fora, e Alasca se viu diante do muro alto que cercava o castelo, o muro dois.
Os olhos azuis inspecionaram em volta, e ela viu Apolo ser escoltado para fora de um carroça, não muito longe dela.
Os dois trocaram olhares rápidos, e um movimento sutil de cabeça vindo do loiro, indicou a princesa que ela não deveria resistir, e ela não resistiu.
Deixou-se ser guiada para dentro do muro, e de lá para o castelo, Apolo já não estava mais a vista, e ela não disse uma palavra durante todo o caminho.
Avançaram por salões e escadarias, que ela percebeu serem os mesmos, após muitas voltas passando por eles, numa tentativa de confundirem-na.
Por fim, quando a luz de fim de tarde irrompeu pelas janelas, Alasca chegou a sala do trono. Janelas altas, com as cortinas abertas, guardas em cada canto, e no patamar superior, um trono, com uma linda vidraça colorida atrás.
Ice, Levi e Apolo estavam de joelhos, amarrados diante os degraus de mármore que ligavam um patamar a outro, e Alasca fora obrigada a se ajoelhar ao lado da irmã.
--- Alteza. --- Um cavaleiro, que havia escoltado a bruxa, fez uma reverência.
O príncipe Ângelo, com os seus olhos castanhos atraentes, e a pele escura brilhando ao sol, sentava-se no trono um dia ocupado por seu pai, estava trajado com roupas luxuos, e com a coroa sobre os cabelos encaracolados.
Ao lado do trono estava Yracedette. Olhos azuis claros como o oceano, os cabelos vermelhos trançados num penteado alto, um vestido verde de seda, com diamantes na cintura, e um sorriso nos lábios.
--- Vejam só! O grupo que deu-nos tanto trabalho. --- Começou a rainha --- Se vocês tivessem cuidado das próprias vidas, não estariam aqui.
Nenhum deles disse algo. Yracedette franziu as sobrancelhas, avançando alguns passos pelo patamar em direção aos degraus de mármore.
--- Onde está Kalias? E a Assassina do Manto? --- A rainha exigiu, olhando para o cavaleiro.
--- A Assassina caiu da ponte antes de a capturarmos, e Lord Kalias foi jogado por essa vadia aqui. --- Ele empurrou Alasca com o pé.
Os olhos azuis faíscaram de ódio quando ele a cutucou nas costelas, e Ice ameaçou revidar, porém, uma sutil cotovelada de Apolo, foi o suficiente para fazê-la repensar e ficar quieta.
--- Estão mortos, então? --- O príncipe perguntou.
--- Não. --- Yracedette foi quem respondeu, antes que o cavaleiro pudesse abrir a boca --- Kalias não morreria numa queda, tão pouco a Assassina do Manto, sabe bem o quê ela é.
Os olhos da rainha analisaram o rosto da bruxa de olhos azuis, e dela aos outros, um a um.
--- Você poderia ter seguido sua vida, Levi de Berg, estava fora do nosso alcance, e mesmo assim, pretendia vir direto para a toca do leão. --- A ruiva pois as mãos na cintura --- Por que não esqueceste do que ouviu?
Os olhos castanhos do ex cavaleiro foram da rainha, ao príncipe sentado no trono, e ele nada respondeu.
Na situação em que estavam, o silêncio era a melhor opção, como não sabia quais eram os planos de Kalias, ou mesmo se ele tinha um, tudo que podiam fazer era ficar em silêncio. E esperar.
--- Cavaleiros e seu código de honra! --- Yracedette revirou os olhos --- Vais me deixar falando sozinha?
Silêncio.
Apolo olhou a rainha, se suas mãos estivessem livres, ele torceria seu pescoço! Entrar no castelo já não era mais um problema, e o loiro temia o que poderia ter acontecido com Octávia.
--- Você, cavaleiro. --- Yracedette apontou para o homem atrás do grupo ajoelhado --- O quê aconteceu na ponte?
--- Lord Kalias lutava com eles quando chegamos, a Assassina do Manto é uma bruxa habilidosa, mas caiu após um de seus ataques, então quando chegamos a ponte, ele foi jogado para as profundezas do Rio Cler, e eu atirei uma flecha nela.
Ele apontou para Alasca, que tinha o braço ensanguentado, e a manga do sobretudo suja de sangue, a rainha a encarou outra vez.
--- Fez bem, cavaleiro.
Após dispensar o cavaleiro, Yracedette desceu os degraus de mármore, e segurando Alasca pelo queixo, disse:
--- Sua sorte, queridinha, é que vou esperar Kalias chegar com sua amiga assassina para começar a festa. --- Ela largou-a bruscamente.
--- Mando matá-los? --- O príncipe Ângelo ficou de pé.
--- Não. --- A rainha subiu os degraus --- Levem-nos para as masmorras, ficarão lá até segunda ordem.
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