Capítulo Seis: Os Doze Grandes Reinos de Jeter.
--- Florestas são chatas.
Octávia não estava em seu melhor humor naquele dia nublado. O grupo havia recomeçado a viagem após o café da manhã, e agora adentrava cada vez mais na densa floresta de pinheiros que cercava Taber.
--- Não, você está chata, a floresta não tem culpa alguma. --- Rebateu Apolo, na garupa de Líria --- Não me lembrava que você era tão chata, quando viaja a cavalo.
--- Vou te lembrar com uma flecha no pescoço, idiota. --- Octávia retrucou, guiando a égua pela trilha larga --- Levi, você acha que estou sendo chata?
Levi congelou em cima de Trovão, olhando de canto para a dupla ao seu lado. Ele já conhecia o bastante de Octávia para saber que não era uma boa idéia irrita-la um pouco mais.
--- Não...não acho. --- Mentiu, apressando Trovão.
--- Eu sabia. Apolo que é um chato. --- Octávia sorriu vitoriosa, enquanto o loiro revirava os olhos.
Levi tratou de ir o mais a frente possível, Octávia e Apolo discutiam logo atrás, e o andarilho não queria ser colocado no meio da discussão.
Ele ainda não havia entendido muito bem o relacionamento entre Octávia e Apolo, eles não eram irmãos, e também não eram casal, mas pareciam ter um laço além de tudo isso.
Apolo terminou de falar uma resposta sarcástica para Octávia, e a loira se irritou ainda mais, retrucando:
--- Ah, é? Então você pode ir pra...
--- Silêncio. --- Pediu Levi, fazendo Trovão parar, e levando a mão ao cabo da espada.
Octávia parou Líria, e aguçou os ouvidos. A loira ouviu o farfalhar de folhas secas, eram os passos de alguém, não, de alguns. Apolo segurou o cabo de sua espada, enquanto Octávia pegava um flecha na aljava.
A brisa fresca da manhã parou. O vento ficou mudo, e os barulhos da floresta morreram, quando um grupos de homens e mulheres bem armados os cercou.
Eles tinham um problema.
Fenda, Cidade-Capital de Gless...
--- Elas podem vir a ser uma ameaça para nós e nosso reino, Majestade.
O homem alto e magro disse, os cabelos castanhos e ralos, estava frente a frente com o trono de pedra escura, lindamente esculpido. A sala ampla era de pedra cinza, as janelas altas com cortinas brancas, estavam fechadas, neve espessa caia do lado de fora.
--- O treinamento não faz efeito, e nossos inimigos, um certo alguém em especial, não tardaria em atacar. --- Continuou.
O velho rei, Getúlio de Friz, suspirou sentado em seu trono. Os olhos azuis intensos encarando seu chanceler com desespero, diante da situação em que se encontravam.
O jovem príncipe, ao lado do trono do pai, estava mais pálido que o comum, o rosto jovial e incrivelmente bonito com uma ruga de preocupação, olhos tão azuis e tão intensos quanto os do pai, e cabelos de um loiro tão claro, que parecia branco, e uma fina cicatriz no rosto.
--- Meu pai... --- Começou o príncipe --- Se elas tiverem mais tempo, por certo que não terão problemas em se controlar. --- Argumentou.
--- Nós não temos tempo, vossa alteza. --- Tornou o chanceler, num tom cordial, demais até --- Reinos prósperos caindo, cavaleiros desertando, e assassinos a solta. Uma rainha tirana e Jeter, nosso continente, por um fio.
--- Gless é forte o suficiente para passar por isso. --- Rebateu o príncipe, respirando devagar e fundo --- Meu pai... --- Se virou para o trono --- Não faça isso, não com elas.
O rei ficou em silêncio por um tempo. Nenhum deles percebeu, mas, atrás de uma porta mal fechada, no canto da sala do trono, escutando a conversa, duas jovens aguardavam em silêncio.
Os vestido rodados e cheios de babados, os cabelos presos em penteados pomposos e coroas delicadas nas cabeças. O sangue real corria em suas veias, e algo a mais.
Elas eram idênticas, a não ser pelos olhos, enquanto os de uma delas seguia o exemplo do resto da família e eram azuis, os da outra eram brancos como gelo, e tão frios quanto.
A respiração das jovens foi presa nos pulmões quando o rei respondeu:
--- Prepare a pira.
Sangue machava o chão da floresta, refletindo os raios de sol do meio dia, espalhado pelas pedras, flores e pela grama, junto com corpos ensanguentados e mutilados.
Octávia, empunhando a espada de Levi, respirava devagar, o rosto e as roupas sujas de sangue, cercada por um homem e duas mulheres. O arco jogado ao chão e a aljava vazia, mas sem nenhum ferimento grave.
Cinco corpos com flechas cravadas em sua carne estavam espalhados pela trilha, enquanto outros dois, um sem a cabeça e outra sem uma mão, estavam perto de um Levi desacordado.
--- A Assassina do Manto... --- Sibilou a jovem mulher, a esquerda, morena com olhos claros --- Suas histórias fazem jus a sua habilidade.
--- É sempre bom agradar o público. --- Ironizou a loira.
Apolo tinha uma luta árdua com outros dois homens, o rosto manchado de sangue, as mãos cansadas de empunhar a espada.
O loiro matou um dos homens com um único golpe, atacou ao ver uma brecha na defesa, e logo só restava um oponente.
Octávia e uma das jovens começaram uma luta, a moça era boa com a espada, Octávia admitia isso, e ela também era, embora fosse raro para ela manusear tal arma.
As coisas ficaram mais interessantes quando o homem também entrou na luta, dificultando para Octávia.
Era um grupo de mercenários, interessados na recompensa pela captura de Octávia e Apolo.
Trovão e Líria haviam descido a trilha, de volta a clareira onde pernoitaram, a um comando de Levi os cavalos dispararam. O jovem andarilho havia recebido uma forte pancada na cabeça, e ainda estava inconsciente.
Octávia foi atingida na perna, um corte superficial mas que cortara seu vestido, girando o corpo, a loira desarmou o homem corpulento que a atacava, e quando a espada desse caiu longe, a loira lhe atravessou a barriga com a lâmina afiada.
A última das mulheres agora lutava com Apolo, mas logo fora desarmada, e enquanto Octávia tentava tirar a espada de sua oponente, o loiro dava fim em seu último rival.
Octávia bloqueou o ataque que lhe teria custado o olho, então, quando as lâminas se chocaram, a loira acertou o joelho da outra com um chute, acabando com a postura de defesa da mercenária e atravessando a espada em seu coração.
O sangue dela respingou no rosto da loira.
Apolo se aproximou devagar, deixando sua própria espada no chão antes de segurar as mãos de Octávia, ainda atrás dela, o loiro segurou o cabo da espada de Levi.
Octávia não conseguia soltar a espada. Estava em choque. Suas mãos tremiam.
--- Tudo bem...solte a espada. --- Ele mandou, ao ouvido dela.
Os dedos de Octávia relaxaram e Apolo tomou a espada de sua mão, a jogando perto da sua antes de abraça-la, apoiando o queixo no topo da cabeça loira dela.
--- Respira...o andarilho precisa de nós, vamos? --- Ele a soltou aos poucos.
Octávia respirou fundo, o brilho em seus olhos finalmente parando antes dela ir até Levi de Berg, ignorando a carnificina a sua volta.
Carnificina. A realidade que cada um dos Doze Grandes Reinos de Jeter tentavam encobrir.
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