Capítulo Quatro: Caminhos Cruzados.
Madame Boss subia um lance de escadas escuras, com o trio logo atrás.
--- Da próxima vez que vier para minha taverna ao menos me diga de quem está fugindo! --- Reclamou a dona tá taverna.
Ela fez uma pausa, parando no meio da escada para encará-los e acrescentar, pondo as mãos na cintura:
--- Já tive problemas demais por causa de vocês, e com meus sobrinhos aqui, não quero me arriscar mais que o necessário. --- Voltou a andar.
--- Ninguém está lhe obrigan...
--- Nós entendemos. --- Apolo assentiu, interrompendo Octávia, com os olhos sérios --- Sua família é prioridade, e não vamos esquecer do que está fazendo.
--- Espero que não esqueçam mesmo. --- A morena parou diante de uma porta, e se virou para encarar o trio --- Vocês partem de madrugada, entendido?
--- Entendido. --- Levi e Apolo responderam juntos.
Madame Boss abriu a porta de madeira, com uma chave que pegou de dentro do corpete, e deixou que entrassem no quarto.
--- Bem, o rapazinho aqui podia ao menos contar em que confusão está metido. --- Ela encarou Levi --- Tem gente atrás de você também, e aconselho, Apolo, que fique bem longe de Aster, a Rainha Delfine está pagando em ouro quem levar sua cabeça para ela.
--- Ao menos não é prata. --- O loiro deu de ombros.
O quarto em que estavam era grande, mas ocupado por quatro camas e dois armários, além de um lavatório pequeno.
As cortinas das janelas estavam fechadas e a tarde se estendia preguiçosamente, o calor do sol sumindo ao poucos, o laranja e o vermelho banhando as montanhas de calcário.
Octávia tirou a capa e a aljava, pondo-as sobre uma das camas, onde Apolo colocou a bolsa que carregava, e também o arco de madeira branca que levava para a assassina.
O loiro não largou sua espada, e Levi também não o fez, a notícia de que estavam procurando-o deixou um alerta em sua mente.
--- Quem está me procurando? --- Levi questionou, Octávia se jogou numa das camas e encarou o teto --- Deve ser um engano.
--- Assim como no beco? --- A loira levantou as sobrancelhas, Madame Boss estreitou os olhos azuis --- Ah, vamos lá, você fez alguma coisa, querem sua cabeça também.
--- Seu segredo estará seguro conosco, não posso deixá-lo ficar aqui sem saber com quem estou lidando. --- A dona da taverna cruzou os braços, se apoiando na parede.
--- Quanta persistência. --- Bufou o loiro.
Apolo marchou até uma das janelas, afastando as cortinas para espiar a rua rapidamente, e se virou para continuar:
--- Ou ele é um assassino, como nós, ou... --- O loiro encarou Levi nos olhos --- Ele é um ex cavaleiro.
--- Ex cavaleiro?! De Wells? --- Octávia se sentou depressa, Levi abriu a boca e a fechou outra vez --- Sabia! Seu rei está a sua procura, deve haver uma recompensa por você...o que fez?
--- Minha vida não é um livro aberto! O quê aconteceu, ou não aconteceu, diz respeito apenas a mim. --- Ele cruzou os braços --- Eu era um cavaleiro sim, mas já não o sou, então assunto encerrado.
--- Seu cavalo parece mais simpático que você. --- Octávia se deitou outra vez --- Ele tentou me morder, mas, ao menos parece o tipo que gosta de uma conversa.
Levi franziu as sobrancelhas para a loira. Ah, se ela conhecesse Trovão como ele, veria o quão enganada estava.
--- Bem, um ex cavaleiro não é algo de tão especial assim, se não quer dar mais detalhes, não vou insistir, e você também não deveria. --- A dona da taverna encarou a loira --- Cada um com seus fantasmas.
Madame Boss saiu do quarto em seguida, Maria traria o jantar para eles, e também notícias sobre o que acontecia quando a noite chegasse.
Octávia dormiu depressa, e Apolo ficou vigiando a rua pela janela até estar escuro demais para ver direito, e ele desistir da vigia.
--- Como era? Ser cavaleiro. --- Apolo perguntou a Levi, sentando numa cama ao lado de Octávia.
O rosto do loiro era sereno, mas seus olhos eram os mais intensos que Levi já vira. Como um mar em tempestade.
--- Bem... --- O andarilho começou, surpreso pela pergunta --- Não era ruim, ser um cavaleiro é sinônimo de honra e coragem pôr toda Jeter, você sabe.
--- Um Continente movido pela coragem dos cavaleiros. --- Citou Apolo, com sarcasmo --- Essa parece ser a única coisa com a qual todos os Reinos concordam.
--- Cada Monarca tem uma visão diferente do que é o certo, as coisas são assim, questão de opinião, ponto de vista. --- Levi encarou o breu pela janela, os olhos castanhos vagando por lembranças distantes --- Se perguntar a uma criança, qualquer uma, em qualquer Reino, sobre o que ela acha certo, você não terá as mesmas respostas. Óbvio que não, elas crescem acreditando naquilo que seus pais acreditam e que seus filhos acreditarão.
--- Opinião. A monarquia implanta uma opinião que será passada de geração em geração, e assim as coisas não mudam. --- Refletiu Apolo, o azul de seus olhos era intenso como o mar e tão turbulento quanto --- Os cavaleiros são os heróis que morrem pela coroa, e matam por quem a usa. Doentio.
--- Nunca quis ser um cavaleiro? --- Levi levantou as sobrancelhas, incomodado, afinal, ele já fora um cavaleiro.
--- Não, nunca. Eu queria ser um cara vivo, nada mais. --- Apolo deu de ombros.
--- É uma perspectiva um pouco triste, não acha? --- O andarilho cruzou os braços.
--- Um homem morto nem perspetivas tem, estou certo? --- O loiro rebateu --- Veja... --- Ele suspirou --- Cavaleiro não é uma profissão que me chame atenção, já encontrei muitos, e meu caminho cruzou com mais um, então não leve a mal o que digo.
Alguém bateu na porta e Octávia acordou num salto, olhando desconfiada em volta até ver Apolo e então, voltar ao normal e abrir a porta.
Maria entrou com uma bandeja nas mãos, e João vinha atrás, com sacolas numa das mãos e uma garrafa na outra.
--- Titia mandou o jantar. --- Maria, com metade do tamanho de Apolo, que era visivelmente o mais alto dos três, avisou, pondo a bandeja sobre a cama onde Octávia a pouco dormia --- E mandou previsões também, para a viajem de vocês.
--- Diga a ela que agradecemos! --- Octávia fechou a porta e agarrou a tigela com uma apetitosa sopa antes de continuar --- E as notícias?
--- A comissão de soldados que vieram de Darot está presa no castelo, não tenho detalhes, mas parece que a rainha está ameaçando o Rei Marcos. --- A garota começou a mexer numa das tranças --- Um bando de saqueadores entrou pelos portões essa tarde, o grupo que procurava vocês foi embora e...
--- E seu cavalo mordeu ela! --- João acrescentou, apontando para a irmã com os olhos, ao entregar as sacolas e a garrafa para Levi --- Maria não sabe lidar com animais. --- Acrescentou, sorrindo.
--- Isso explica eu não saber lidar com você. --- Maria rebateu, num tom tão frio que Octávia franziu as sobrancelhas --- Titia disse que os guardas em torno das muralhas estão alertas e o número cresceu.
--- Como vamos sair então? Eles vão nos parar e um certo alguém... --- Apolo olhou de canto para Octávia, a loira enfiava um pedaço de pão na sopa quando ele continuou --- Não é bem vindo aqui, passar por eles seria loucura.
--- Ela vai dar um jeito, titia sempre consegue o que quer. --- Maria puxou João pelo braço --- Melhor se prepararem. Vamos.
Quando os dois irmãos saíram pela porta, Apolo a fechou, Octávia já acabava a sopa e pegava mais um pedaço de pão.
--- Ela não se parece em nada com a mãe. --- A loira comentou, deixando a tigela vazia na bandeja e pegando uma coxa de frango assado --- E é bom você dar um jeito naquele cavalo.
--- Trovão não é o tipo de cavalo que pode ser controlado. --- Respondeu Levi, antes de Apolo lhe tomar as sacolas e a garrafa --- Para onde... vocês vão quando saírem de Tíbia?
Octávia franziu as sobrancelhas, parando de saborear a coxa, Apolo começou a arrumar os mantimentos na bolsa e nem se deu ao trabalho de responder, ou mesmo olhar para o ex cavaleiro.
--- Pensei que seria bom dar uma volta em Brunis. É um reino muito interessante e eu sempre quis andar pelo Deserto Branco. --- Octávia comentou, entregando a segunda tigela de sopa para Levi --- E você?
--- Ainda não sei. --- O andarilho passou a mão pelo curto cabelo castanho antes de pegar a tigela e começar a sopa.
--- Quer ir a Brunis? A Princesa Mintaka lhe odeia. --- Apolo se virou para olhar Octávia --- Você dormiu com o noivo dela as vésperas do casamento.
Levi engasgou com a sopa. Octávia lançou um sorriso debochado a Apolo, e então deu de ombros, terminando o frango.
--- Você pode não se importar em der pega, Octávia... --- Começou o loiro, voltando a arrumar a bolsa --- Mas eu me importo. Não quero outra cicatriz de flecha por sua causa.
--- É só não me acompanhar em casamentos. Garanto que sua bunda vai ficar a salvo se fizer isso.
Ignorando o olhar de raiva que Apolo lançou, Octávia deitou outra vez, não sem antes pegar um terceiro pedaço de pão e, já deitada, comê-lo.
A madrugada já estava na metade quando Madame Boss deixou discretamente o balcão da taverna.
Edmund, seu homem de confiança, sempre cuidava do estabelecimento a noite, quando Maria e João iam dormir, o rapaz ruivo chegava a tempo de atender as pessoas que vinham para jantar.
--- Madame... --- Edmund chamou a patroa, quando ela começou a subir as escadas --- Estão patrulhando as ruas.
--- Quem lhe disse? --- Madame Boss olhou para a rua através das portas abertas.
Os olhos azuis capitando o movimento lá fora, dois guardas, com lanças nas mãos e o brasão da casa Demóstenes, um leão com uma coroa, bordado no peito.
--- Eu vi, todos os acessos a muralha e aos portões estão fortemente vigiados, chequei bem antes de vir trabalhar. --- O rapaz informou, a barba era tão ruiva quanto os cabelos.
--- Já sei o que fazer, obrigada, Edmund. --- Madame Boss virou nos calcanhares antes de acrescentar --- Se perguntarem, Maria está com febre.
--- E precisa de toda a sua atenção. --- Acrescentou o ruivo, voltando ao balcão.
Um sorriso discreto apareceu nos lábios pintados de vermelho de Madame Boss, enquanto ela subia as escadas.
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