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Capítulo Quatorze: Socorro!

Desespero era, sem dúvida, a palavra que melhor descrevia a Assassina do Manto naquele momento.

--- Apolo, por favor...eu não consigo sem você! --- Octávia chorou, com a cabeça do loiro apoiada no colo --- Não me deixa, amigo, por favor não me deixa.

Mas Apolo não a respondeu, a mente do loiro vagava por anos passados, tempos antigos, de quando ele não tinha que se preocupar em manter a cabeça no pescoço.

Foi numa manhã nublada, depois de uma noite de tempestade, que seu pai chegou com uma surpresa.

Apolo, o menino, não passava dos sete anos, e brincava no quintal de casa. A cabeleira loira e rebelde, um brilho feliz nos olhos azuis, e um sorriso infantil nos lábios.

--- Papai! --- Ele largou os brinquedos para correr até o pai.

Homem alto, robusto, cabelos escuros, olhos azuis como os do filho, um sorriso sincero nos lábios, tinha a barba rala, e covinhas.

Apolo se deteve ao ver a mãozinha que segurava a de seu pai, o menino franziu as sobrancelhas e tentou espiar a menina que se escondia atrás das pernas altas do pai.

--- Quem é essa? --- Ele perguntou, ficando na ponta dos pés e esticando os pescoço.

--- Achei-a na floresta, parece que se perdeu. --- O homem se ajoelhou --- Escute, pequena, esse é Apolo meu filho, lembra que lhe falei dele?

A garotinha apontou a cabeça, cabelos loiros e longos caindo sobre os ombros, olhos verdes curiosos, um vestido branco simplis até os tornozelos.

Apolo deu um dos seus maiores sorrisos a ela, enquanto se aproximava.

--- Está tudo bem, não somos maus. --- O garotinho estendeu a mão para ela --- Qual seu nome?

--- Octávia. --- Ela respondeu, tímida ao segurar a mão dele, num aperto rápido.

--- Eu mal consegui tirar um olá dela o caminho todo! --- O homem sorriu, ficando de pé e se afastando --- Sou Anísio, vou chamar minha esposa, ela vai gostar de você. Apolo fique aqui com ela.

--- Tudo bem. --- O menino acompanhou o pai com os olhos até ele entrar na casa modesta atrás deles, de madeira, pintada de branco --- Por que estava na floresta? Você tem mãe?

A menina negou, cutucando a terra com a ponta do pé, sujando de lama os sapatos gostos. Apolo tombou a cabeça de lado.

--- E pai? Você tem? --- Insistiu.

--- Tinha. --- Ela encarou o loiro, apertando os lábios --- Ele que me deixou lá.

Apolo franziu as sobrancelhas outra vez.

Por que o pai dela a deixaria na floresta? Ela era tão pequena, e tão magra, não aguentaria muito tempo na floresta. Ela era uma pessoa e também uma criança, e as crianças devem morar em casas com os pais.

--- Sabe por que ele te deixou lá? --- A menina negou, era pelo menos dois ou três anos mais nova que Apolo --- Sabe, você pode morar aqui, eu posso dormir na sala e você fica com meu quarto. Meu cachorro dorme na sala.

--- Mas você não é cachorro, não pode dormir na sala. --- Ela franziu as sobrancelhas claras.

--- Ah, eu me viro! --- Ele sorriu, e ela deu um sorrisinho tímido --- Você devia sorrir mais. Mamãe diz que sorrisos deixam as pessoas mais bonitas. Papai está sempre sorrindo!

Uma mulher alta e loira saiu a porta da casa, um avental por cima do vestido verde, um lenço florido nos cabelos dourados e um xale nos braços.

--- Oh! E você a deixa aqui fora, nesse frio! --- A mulher marchou até as crianças, com o marido logo atrás --- Seu pai é um cabeça de vento!

Ela se abaixou, envolvendo os ombros da garotinha no xale, encarando com carinho o rostinho dela e acariciando seus cabelos.

--- Olá, sou Diana, a mãe dele. --- A mulher sorriu, apontando para Apolo --- Está com fome? Acabei de fazer um bolo. --- Ela ficou de pé.

A pequena Octávia se encolheu no xale, envergonhada.

Anísio e Diana trocaram olhares preocupados, e um cachorro veio correndo e abanando o rabo. Tinha um focinho longo, e era peludo, marom, com olhos escuros.

--- Esse é Caramelo, meu cachorro! --- Apolo apresentou, abraçando o animal pelo pescoço, eram quase da mesma altura --- Caramelo essa é Octávia, diz oi pra ela.

O cachorro latiu, lambendo o nariz da menina, que se assustou mas no final sorriu, acariciando o focinho do animal.

--- Mamãe, mamãe! --- Apolo chamou --- Ela pode ficar, não pode? Meu quarto pode ficar com ela, aí eu durmo com Caramelo na sala, que acha?

--- Você não vai dormir com o cachorro. --- Diana respondeu, calmamente, continuando quando o filho ameaçou retrucar --- Ela vai ficar, e seu pai vai desocupar aquele quarto de quinquilharias dele para ela. Não é, querido?

--- Não são quinquilharias. --- Anísio cruzou os braços --- Mas vou tira-las de lá.

Apolo agarrou a mão da pequena Octávia, puxando-a em direção a casa, alegando que sua mãe faziam os melhores bolos.

A felicidade inocente da infância, refletida nos sorriso deles.

--- Você não pode fazer nada? --- Octávia, a adulta, perguntou a Levi --- Ele está morrendo!

--- Eu estou vendo, mas não sou curandeiro! --- O ex cavaleiro rebateu, usando um pedaço de sua capa para parar o sangramento do loiro --- E não sei como interromper o veneno da flecha.

--- Estamos muito longe de qualquer um para pedir ajuda e logo vai escurecer! --- A loira mordeu os lábios, Apolo suava frio --- Não sei o que fazer.

Ela passou as mãos pelo cabelo, desesperada.

--- Onde será que estão os cavalos?

--- Se conheço bem Apolo, estão no riacho, ele deve tê-los deixado lá quando resolveu voltar. --- A loira respondeu --- Se o veneno se espalhar...

Ela não terminou, apenas fechou os olhos, tentando segurar as lágrimas. Levi a encarou por sob cílios, voltando a examinar o ferimento.

--- Achei que bruxas soubessem lidar com venenos. --- Soltou. Octávia abriu os olhos.

--- Nem todas. --- Sussurrou --- Eu prometo que lhe explico tudo depois, mas agora o foco é o Apolo, sim?

--- Sem pressa, depois você me explica. --- Levi a encarou --- Olha, temos duas opções tirar a flecha, ou não tirar. Para cuidar do ferimento precisamos tira-la, mas o veneno pode se espalhar mais rápido e não temos um antídoto para ele.

--- Poderíamos procurar um vilarejo próximo, alguém deve saber como ajuda-lo. --- Octávia sugeriu.

--- Vou buscar os cavalos.

O loiro contraiu o rosto, suando, enquanto o veneno ia se espalhando pelo seu corpo.

As lembranças de Apolo vagaram até a época em que ele e Octávia começaram a treinar, no início da adolescência.

--- Não acho que eles deviam treinar para se tornarem assassinos! Nós saímos dessa vida e você quer colocá-los nela! --- Diana gritou.

--- Estou tentando manter eles vivos! Alguém que não saiba se defender não está seguro nas estradas, e não espere que eles fiquem embaixo das suas asas para sempre! --- Anísio rebateu.

--- Parece que eles não vão chegar a um consenso nunca. --- O jovem Apolo comentou.

Ele e Octávia, estavam sentados a varanda, observavando Caramelo brincar.

Octávia, com os cabelos amarrados num rabo de cavalo, as curvas deixando o corpo mais adulto e menos infantil. Apolo se tornando um homem, já era muito bonito.

--- Ela não quer que a gente saiba lutar. --- A loira opinou --- Sabe, Ap, acho que papai está certo, temos que saber nos defender, uma hora ou outra vai ser necessário.

--- Saber se virar, não quer dizer que vamos sair matando as pessoas, não é? --- O loiro a encarou --- Ela só está preocupada com o que pode acontecer...

--- É, mas vamos treinar de qualquer jeito. Ao menos eu preciso fazer isso. --- Octávia encarou a palma da mão, uma pequena chama verde se acendendo e apagando depressa --- Acha que seus pais têm medo de mim?

--- Nossos pais te amam! --- Apolo segurou a mão da loira --- Eles não abandonaram você quando seus poderes se manifestaram, e medo não é algo que a família Henson tenha. Somos lobos, lembra?

--- Convencido. --- Octávia o cutucou com o cotovelo, sorrindo --- Eu sei que eles me amam, mas as vezes eu mesma tenho medo dos meus poderes, do que está dentro de mim.

Apolo a encarou por um tempo. Ela havia tido alguns descontroles com os poderes instáveis, mas nunca havia machucado alguém.

--- Olha, não tenha medo de quem você é, ou do que pode fazer. --- O loiro suspirou, voltando a olhar o cachorro brincar --- Deixe isso para os outros.

Ele empurrou ela com o ombro, arrancando sorrisos da loira.

--- Tem alguém vindo. --- Levi avisou, parando de andar, havia acabado de voltar com os cavalos.

Octávia limpou as lágrimas, olhando em volta com atenção. Duas jovens encapuzadas apareceram, cautelosas e desconfiadas, se aproximando devagar.

A primeira tinha olhos azuis, os cabelos ocultos pelo capuz, assim como os da outra, que vinha atrás, mas essa tinha olhos brancos. Eram gêmeas.

--- Socorro. --- Octávia pediu.


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