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Capítulo Oito: O Rei de Wells.

Octávia se ocupava em comer metade do frango assado diante de si, enquanto Merlin e Levi, sentados diante a lareira, começavam uma conversa séria.

A jovem havia simpatizado com Merlin, e embora o feiticeiro estivesse irritado com a intervenção da moça sobre sua identidade, não degostava dela.

--- Pode começar me explicando essa história de feiticeiro, não estou entendendo como o Marcos, que eu conheço a vida toda, pode ser um. --- Desabafou Levi.

Merlin suspirou, apoiando as costas no encosto da cadeira de madeira. Entendia o amigo e sua irritação, entendia os motivos dele estar magoado. Então contaria tudo.

--- Minha mãe era uma bruxa poderosa, e herdei algumas das habilidades dela, mas meu pai as manteve em segredo para que eu não fosse parar na fogueira também. Ela foi queimada quando eu fiz meu quinto aniversário, então papai decidiu que seria melhor nos mudar, e fomos para Berg, em Wells.

--- Os feiticeiros são quase tão temidos quanto as bruxas. --- Octávia comentou, colocando vinho em sua taça --- Qual seu reino de origem?

--- Você tem razão. Meu pai era de Aster e minha mãe de Helion, nasci no reino dela. Resolvi ser cavaleiro para não levantar suspeitas, e não lhe contei para que não fosse colocado em perigo. --- Merlin explicou, com calma, olhando para Levi.

A loira olhou de um para o outro. Ela entendia o feiticeiro e seus motivos, aqueles que tinham a magia dentro de si, vivia nas sombras.

--- Você era o melhor cavaleiro da infantaria, e não tinha nada com o fato de ser um feiticeiro, sei disso, mas ainda acho que podia ter me contado. --- Levi cruzou os braços --- Achei que não houvessem segredos entre nós!

--- E não há! Levi, eu lhe disse onde me encontrar quando fugiu, mesmo você tendo continuado na infantaria. --- O feiticeiro argumentou --- Confio em você mais do que em qualquer um!

--- Posso ver sua confiança! Eu entendo seus motivos, ao menos alguns, mas queria que tivesse explicado as coisas para mim, antes que outra pessoa precisasse fazê-lo.

A chuva começava a ficar mais forte, raios clareavam a floresta lá fora, os pingos ricocheteavam com força nas janelas fechadas.

Octávia jantou em silêncio, deixando que Levi e Merlin esclarecessem as coisas um para o outro, não era direito dela intervir, não agora ao menos, eles se resolveriam. E eles ficaram bem, tudo esclarecido.

É como Apolo diz, pensou a loira, quem começa o fogo nunca o apaga.

Foi somente após Merlin examinar o ferimento de Levi, e cuidar dos pequenos cortes de Octávia, que a assassina perguntou:

--- Por que foram afastados? Se eram tão bons.

A pergunta fervilhava a mente da loira desde o momento em que conhecera Levi e sua curiosidade aumentou ainda mais após encontrar o feiticeiro.

Houve um momento de silêncio até que Merlin começasse a falar.

--- O rei de Wells é um homem desconfiado, muito inteligente e mais orgulhoso ainda. Talvez ele também seja um pouco... instável. --- Os olhos escuros do feiticeiro fitaram os verdes da assassina com seriedade --- Todos os reinos têm perdido cavaleiros, e em Wells não é diferente. Não sei como, mas alguém da corte do rei descobriu que eu era um feiticeiro, então fugi antes de me executarem, pois o rei não tardaria em me prender numa pira quando soubesse dos meus poderes e habilidades.

--- Os cavaleiros que saíram de Wells para as estradas só o fizeram pois fugiram, desertaram antes que a morte chegasse, o rei sempre manda matar aqueles que são traidores da coroa, então ou você foge e vive ou fica e morre. --- Levi completou --- Se eu tivesse ficado em Wells, estaria morto agora.

--- O quê você fez?

Levi sustentou o olhar firme de Octávia, Merlin o encarava com curiosidade, também desejava saber o que tinha acontecido ao amigo, já que sabia da conduta impecável que ele tinha.

--- Eu descobri algo sobre o Príncipe Ângelo... --- O andarilho começou, hesitante --- Porém, fui pego em uma cilada, para me incriminar o Príncipe e seus aliados me acusaram de assassinar o Conde de Fortur, tive que fugir para não morrer e meu nome está na mais suja e pútria das lamas.

--- O quê o príncipe esconde? --- A assassina loira franziu as sobrancelhas --- Para ir tão longe, deve ser algo muito sério.

--- É sério, e a pior parte é que não posso voltar a Wells para avisar ao rei sobre quem é seu filho primogênito de verdade. --- Levi suspirou, com irritação --- Minha palavra não serve de nada no momento, e não sei como mudar isso!

--- Não há alguém que posso interceder por você? Sua fama era grande em Wells e toda Berg lhe via como herói. --- Merlin disse, surpreso com a história do amigo --- Não achei que o príncipe fosse um tirano desse nível.

--- E ele não era, mas alguém esta a fazer a cabeça do futuro rei de Wells, e isso vai derrubar o reino. --- Levi contou, suspirando --- Jeter tem uma inimiga, mas a maior parte dos reinos está cego para isso. Fingem não ver o perigo.

--- Inimiga? --- Repetiu Octávia, analisando as palavras --- Uma mulher capaz de por todo um continente em perigo? Quem?

--- Eu não sei, mas há uma mulher manipulando o Príncipe. E Jeter vai cair por causa dela.

Reino Taber, Oeste de Jeter...

Apolo, o jovem assassino andava sem pressa pela rua de terra batida, pessoas indo e vindo, carroças passando, todos vivendo suas vidas. Físia era a Cidade-Capital de Taber, uma das mais pacíficas de Jeter.

As casas baixas com janelas redondas, e os comércios em construções altas, um castelo cheio de torres na parte norte da cidade.

Como havia previsto, o loiro chegara nas imediações de Taber na noite do segundo dia após deixar Octávia e Levi na floresta, e tratou de chegar a Físia o mais rápido possível. Pelo que havia descoberto, era completamente seguro para Octávia e Levi saírem da floresta.

Os olhos azuis do loiro avistaram uma figura encapuzada no beco adiante, quando ele apressou o passo a figura sumiu, o jovem segurou firme o cabo da espada e avançou entre as pessoas até chegar ao beco estreito, olhando para os dois lados antes de entrar.

--- Parece que as coisas esquentaram em Estelin. --- Uma voz suave comentou, nas sombras do beco.

O rosto bonito de uma jovem foi revelado, quando ela tirou o capuz da capa marrom. O cabelo era castanho, brilhante e longo preso numa trança jogada sobre o ombro, olhos cor de mel, bochechas coradas e lábios vermelhos curvados num sorriso.

--- Não recebi nenhuma mensagem sua desde que disse que ia para esse Reino. --- A jovem disse, avançando alguns passos até Apolo --- O quê aconteceu?

--- Mais coisas do que posso explicar. --- Apolo se aproximou dela, os olhos azuis intensos analisando o rosto bonito --- Está tudo bem? Novidades em Taber?

--- Nunca há novidades em Taber. --- Ela debochou, sorrindo alegremente --- Senti sua falta, Apolo.

Um sorriso sincero apareceu nos lábios do loiro diante do tom suave da jovem, e ele a puxou para seus braços iniciando um beijo demorado, e cheio de saudade.


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