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Capítulo Doze: A Princesa Rebelde.

Apolo franziu as sobrancelhas, em silêncio.

--- ...e é por isso que vamos impedir o príncipe e salvar Jeter. --- Levi concluiu, nervoso.

--- Apolo surtando em três, dois... --- Octávia contou num sussurro.

--- Eu sabia que vocês eram dois cabeças de vento, mas realmente se superaram dessa vez! --- O loiro exclamou, cruzando os braços --- Ao menos cogitaram a possibilidade de que serão mortos assim que se aproximarem de Wells?

Levi e Octávia estavam sentados lado a lado, enquanto Apolo estava a ponta da mesa.

A assassina e o andarilho haviam se revezado para contar ao loiro tudo que acontecera nos últimos dias, e o que haviam decidido em relação ao príncipe de Wells e seus planos malignos.

--- Você entende que precisamos fazer isso, não entende? --- Octávia tentou.

--- Não. Não precisamos, se o rei Antônio é cego o suficiente para não ver a cobra que criou como filho, não podemos fazer nada. --- Ele franziu as sobrancelhas, indignado --- O príncipe Ângelo é só um nobre mimado, nada garante que seus planos mirabolantes funcionem.

--- Não é com o príncipe que me preocupo! --- Levi respirou fundo --- A mulher que colocou essas ideias na cabeça dele, ela é o perigo.

--- Eu sei bem o poder que uma mulher pode ter, e acredite no que digo, por mais que tentem o rei não vai acreditar em vocês, isso se ao menos conseguirem falar com ele. --- Apolo descruzou os braços --- Só vão conseguir se matar se continuarem com isso.

--- Muitos podem morrer se não pararmos os dois! --- Levi exclamou --- Mas se você nos ajudar teremos mais chances, e então quando eu contar a verdade ao rei ele irá devolver meu título de cavaleiro e minha honra.

--- Está fazendo isso por um título? E você está o ajudando? --- Apolo olhou surpreso para Octávia --- Como pode querer ajuda-lo?

--- Eu também não queria, acredite, mas percebi que você já me seguiu em ideias bem mais perigosas sem questionar. --- A assassina respondeu --- E fazíamos por dinheiro, ele quer a honra dele de volta, e estaremos salvando o continente inteiro.

--- Quer salvar Jeter? --- Apolo levantou as sobrancelhas. Octávia assentiu.

Pelo olhar da assassina, Apolo percebeu o que era queria ao ajudar Levi, Octávia estava em busca de redenção, e acreditava que ajudar Levi a salvar Jeter traria, finalmente, paz ao seu espírito.

--- Apolo, você prometeu. --- Octávia sussurrou, com os olhos suplicantes.

O loiro respirou fundo, ele havia prometido estar com ela em qualquer situação, e que não a deixaria morrer enquanto não se perdoasse.

--- Vamos conversar. --- Ele levantou saindo pela porta, e esperando a loira no corredor --- Mal conhecemos ele e você quer arriscar sua vida pelos planos que ele tem?

--- Não é só por ele. --- Rebateu a assassina, fechando a porta do quarto --- Estamos com Levi há algum tempo, não acha que deveríamos ajudá-lo?

--- Não, não acho. --- Apolo cruzou os braços, a loira pois as mãos na cintura --- Quer fazer isso por ele? Sabe que por mim teríamos nos separado na Estrada Norte.

--- Mas não nos separamos. --- Ela insistiu, se aproximando --- Não estou me arriscando por ele, estou fazendo isso por Jeter.

--- Acha que esse continente amaldiçoado vale a pena salvar? --- O loiro levantou uma sobrancelha.

--- Vivemos nesse continente amaldiçoado. --- Ela sorriu --- Achei que soubesse disso.

Apolo suspirou, encarado a loira com reprovação, antes de abrir a porta outra vez, e entrar no quarto, com Octávia em seu encalço.

Ele ficou em silêncio por um tempo até responder:

--- Eu vou ajudar. Mas primeiro... --- Começou --- Vamos descobrir quem é a mulher por trás dos planos, e então decidir como chegar ao rei, e o que fazer em relação ao príncipe.

--- Obrigado. --- Levi sorriu, sincero.

--- Não me agradeça eu... --- Ele foi interrompido por um abraço rápido de Octávia, que o agradeceu por fazer tal esforço --- Um abraço não paga minha provável morte, Octávia. --- Debochou.

--- Eu sei, mas não tenho toda fortuna que você acha que sua vida vale, então se contente com isso. --- A loira sentou sobre a mesa --- Mas você disse que tinha algo para nos contar, o que era?

Apolo ponderou.

Então contou ao ex cavaleiro e a assassina sobre Ria, sua informante em Físia e sobre o desejo dela de se juntar a eles, ressaltou a lealdade dela, e o quanto confiava nela.

Octávia percebeu logo o interesse do amigo em Ria, havia um brilho nos olhos de Apolo quando ele falava dela.

--- Acho que deveríamos conhecê-la antes. --- A loira sugeriu --- Um jantar parece ótimo, o que acha, Levi?

--- Me parece bom.

No dia seguinte eles jantaram juntos numa taverna próxima a hospedaria em que estavam.

Ria havia se enturmado bem com Levi, e Octávia, embora desconfiada no início, também gostou da jovem. Ela era alegre, comunicativa, e fazia Apolo feliz.

--- Acho que você será uma ótima companhia de viagem. --- A loira disse a Ria, ao se despedirem --- Ficarei feliz em lhe ensinar a arte do arco e flecha.

--- Com certeza vou adorar aprender! --- Foi com um sorriso que Ria deixou o trio.

Após três dias em Físia, Levi e Octávia acompanhavam Apolo pelas ruas, numa tarde parcialmente nublada, fazendo compras para a viagem que planejavam fazer em breve.

--- O quê está acontecendo? --- Octávia perguntou, franzindo as sobrancelhas para as pessoas que passavam apressadas.

--- Pronunciamento Real. --- Um jovem respondeu, no meio da multidão que seguia para a praça.

--- Podem ser novidades sobre a situação de Jeter, talvez tenha alguma pista sobre aquele assunto. --- Levi considerou.

--- Vamos até lá então. --- Apolo abriu caminho na multidão.

A praça estava lotada quando o trio chegou, um palanque de madeira estava adornado com as cores do brasão da família Aureo, azul celeste e prata.

Soldados com um dragão azul bordado no peito estavam por toda parte, e o Rei, Pacifique Aureo II, com uma suntuosa capa de veludo azul, e uma coroa pomposa sobre os cabelos ralos, estava ao centro.

O rei tinha três filhos, as duas princesas eram as mais velhas, e o príncipe acabava de entrar na juventude. A rainha morrera havia três anos.

--- Povo de Taber! --- O monarca começou --- É com imenso prazer que anúncio o noivado de minha filha mais velha, Princesa Síria, com o Marquês de Zerin.

O povo vibrou de alegria pela praça, enquanto o Marquês de Zerin parava a esquerda do rei, ele era jovem, elegante, mas não tinha uma beleza arrebatadora, mesmo com as roupas suntuosas que usava e o lindo par de olhos castanhos que tinha.

A princesa se pois a direita do rei, e Apolo abriu a boca surpreso.

Vestida com a mais rica das sedas, num elegante vestido azul celeste, e com um manto da mesma cor, estava Ria, ou melhor, Princesa Síria.

Os olhos cor de mel não refletiam o sorriso que ela mantinha nos lábios, e uma delicada coroa de prata, com uma linda pedra topázio ao centro, adornava os brilhantes cabelos castanhos.

--- Aquela não é... --- Levi se calou ao ver pela expressão de Apolo que estava certo.

A princesa e a informante eram a mesma pessoa.

O rei se afastou para deixar os noivos a frente, ele e o príncipe Augustus ficaram cada um de um lado da séria princesa Vassa, uma elegante jovem de cabelos negros, presos num coque, a coroa em contraste com o vestido cinza.

Quando o Marquês de Zerin pegou-a pela mão, o rosto da princesa se contraiu levemente, então seus olhos encontraram o trio no meio da multidão.

Ela ficou pálida como papel quando Apolo, com olhar ferido, a encarou, uma turbulência se instalando nas ondas daqueles olhos azuis.

A surpresa de Octávia e Levi pesando ainda mais, até que Apolo virou as costas e se afastou, abrindo caminho entre a multidão alegre.

O coração da princesa deu um salto. Agora ele sabia quem ela era, e sua única oportunidade de ser feliz estava indo embora.

Octávia e Levi saíram atrás de Apolo o mais rápido que conseguiram, o alcançaram num beco, próximo a hospedaria em que estavam.

--- Apolo, espera! --- Octávia pediu.

--- Esperar pra quê? --- O loiro se virou, a respiração irregular --- Ela vai se casar, o que posso fazer? A mulher que conheci não era uma princesa, e ela não estava noiva!

--- Mas você ainda a ama? --- A loira questionou, o mais suave que conseguiu --- Ainda ama ela, Apolo? --- Insistiu.

Ele ficou em silêncio, os ombros subindo e descendo, a garganta seca. Fora enganado, e sentia uma angústia estranha no peito.

--- E de quê esse amor adiantaria agora? --- Ele rebateu. Apolo sempre fora bom com perguntas.

--- Não acha que ela estava lhe enganando, acha? --- Levi perguntou --- Se ela queria ir com a gente, o casamento de certo era um dos motivos, ela não quer se casar, até mesmo eu vi isso.

--- Eu também vi nos olhos dela o quanto não queria ficar noiva. --- Octávia reforçou --- E se ainda gosta dela, o mínimo que pode fazer é lutar por isso. Se fosse outra pessoa, eu provavelmente diria para partir para a próxima, mas conheço você, e nunca havia te visto daquele jeito por uma mulher, mesmo com as várias que já passaram por sua vida. Com ela era diferente.

--- Eu não posso fazer isso, não entende? --- Apolo olhou de Levi a Octávia --- Ela é uma princesa, vai assumir Taber quando o rei morrer, não posso pedir a ela que viva uma vida como a nossa, nas estradas, com alguém sempre atrás de nós, querendo nossas cabeças.

--- Ela queria isso, lhe pediu isso, e você estava disposto a deixar que ela viesse conosco antes de saber que Ria, era Síria, e que era uma princesa. --- Octávia se aproximou do amigo --- Achei que não se importasse com títulos.

--- E não me importo, mas me importo com ela. --- Ele respondeu, se afastando em direção a rua --- Achei que ela era uma pessoa, e essa conseguiria viver a vida que eu levo, mas... --- Ele fez uma pausa, e continuou, apontando para a praça --- A princesa que eu vi lá, ela não conseguiria.

--- Vai mesmo deixar que ela saia da sua vida? --- A loira perguntou, pondo as mãos na cintura.

--- Eu vou sair da dela. Partimos ao amanhecer.

Apolo saiu em direção a hospedaria, Levi e Octávia trocaram olhares preocupados antes de irem atrás do loiro.

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