Sonhando Acordada...
... O sinal bateu anunciando que as aulas haviam acabado, eu estava caminhando tranquilamente rumo ao portão quando vejo aquele bolo de gente na saída. O que será que está acontecendo? Faz muito tempo que ninguém briga nessa escola, mas se está tendo briga, então eu quero ver!
Fui animada em direção ao portão porque briga era um evento raro na nossa escola, então eu não podia perder a chance de apreciar. Para minha surpresa, decepção ou preocupação, quando consigo me enfiar no meio dos outros alunos, vejo Caio e Daniel discutindo. Era só o que me faltava!
— Caio! O que você está fazendo? — Chamo sua atenção.
— Isso é culpa sua Dalila! — ele me olha com raiva e me acusa.
— Mas o que foi que eu fiz? — eu olho de um para o outro sem saber o que está acontecendo.
— Vai, escolhe logo! Quem é que você quer de verdade! — Caio quase grita comigo e eu fiquei apavorada. Ele nunca falou assim comigo. Ah não Caio! Não faz isso, por favor!
Eu fico muda, eu nem sei o que responder, desde quando eu tenho que escolher entre um e outro? E desde quando meu melhor amigo se tornou uma opção? Daniel me olhava esperando uma resposta, seus olhos praticamente brilhavam como se ele estivesse prestes a chorar. Heim? Quando foi que as coisas fugiram do meu controle? Olhei para todos aqueles alunos em nossa volta e meus olhos se cruzaram com o professor Eric. Só faltava ele mesmo! Ele balançava a cabeça negativamente, desaprovando aquela situação. Que vergonha meu Deus!
Dei meia volta e sai correndo!
— Dalila! Dalilaaaaa — eu ainda podia ouvir Caio me chamando. — Dalila, acorda.
Abri os olhos imediatamente. Graças a Deus tudo não passou de mais um sonho. Ergui minha cabeça e olhei para o lado, Simara não estava mais ali e Caio me encarava. Será que eu ainda estou sonhando?
— Cadê a Simara? — perguntei com medo de falar alguma besteira.
— Foi no banheiro.
— Nossa eu dormi mesmo! Cheguei sonhar... — falei esfregando os olhos me arrumando na cadeira.
— Eu percebi. — ele falou rindo da minha cara.
Dei um sorriso amarelo, um pouco envergonhada.
— Você falou meu nome. — ele disse do nada e eu quase tive uma parada cardíaca.
Ah que merda! O que mais que eu falei?
— Ah é? — me fiz de desentendida.
— O que você estava sonhando? — ele tinha um sorriso provocador nos lábios.
— Nem sei... Não me lembro! — Desde quando eu tinha que mentir para meu amigo?
— Hum...!
Graças a Deus o sinal bateu e eu consegui escapar ilesa. Ou quase! A Simara não estava no banheiro coisa nenhuma, estava agarrando o Mateus no corredor.
— Safada! — falei tirando sarro dela — Só tem a cara de santinha.
— Nem a cara! — Caio falou atrás de mim.
A chuva já tinha parado, me despedi do Caio e dos pombinhos, Felipe e Kamile, que agora não se misturava mais com a gente e fui pra casa da Simara.
***
Na sexta feira ainda chovia e eu já estava entediada de ficar dentro de casa, ainda mais dentro de uma casa que não era a minha.
— Amiga, vamos chamar o pessoal pra um karaokê? Ou então a gente chama o Leandro e o Caio pra eles fazer um show particular pra gente. Eu não aguento mais ficar aqui assistindo TV.
— Até concordo, mas você sabe que aqui em casa não vira né!
— Na casa da Fran então!
Mandei mensagem pra todo mundo e combinamos de nos encontrar na casa da Fran. E é claro que eu pedi pro Caio buscar a gente porque eu não queria andar na chuva, o pai dele tinha carro e ele podia buscar todo mundo.
— Amorzinho, passa ali no Mané comprar uns salgadinhos! — falei mansinha com o Caio pra ele não me xingar pelo abuso.
— Cadê o dinheiro? — ele perguntou.
— Você que tem dinheiro — falei — Esqueceu que é o marido que paga a conta?
— Pra qual deles eu devo pedir dinheiro então? — brincou.
— Sem graça!
Ele deu risada e parou no Mané. Desceu embaixo de chuva e voltou com uma sacolada de biscoitos e salgados, as vezes eu tinha dó dele, porque eu sabia que abusava de sua boa vontade. Sempre compramos coisas fiada ali no bar e depois a gente rachava a conta, já que só pegavamos o que era pra comer no coletivo mesmo.
Quando chegamos na Fran, só estava o Leandro lá, os outros ( Felipe e Kamile) deram calote. A Fran morava sozinha, então tínhamos mais liberdade na casa dela. Era lá o lugar das nossas festinhas particulares.
Sentamos todos nos sofás e os meninos começaram a afinar o violão. Enquanto isso, nós meninas íamos comendo os salgadinhos. Nós três estávamos concentradissimas na afinação, mas em um minuto de bobeira eu fugi da realidade. A única pessoa que eu via ali naquela sala era o Caio. Ele estava tão lindo com aquele moletom cinza, aquela calça preta e o cabelo bagunçado como sempre. Seu rosto e seus lábios estavam rosados, pois o pouquinho de vento que ele pegava já servia para deixar sua pele avermelhada, assim como a minha. Eu sou tão apaixonada por violão que eu não sabia o que eu admirava mais, se ele ou o seu dom.
Caio era jovem, mas quando ele estava muito concentrado em algo, coisa que acontecia muito raramente, suas feições ficavam sérias e ele parecia mais velho. Eu só queria saber por que eu estava pensando tanto nele ultimamente? Será que era por suas provocações? Ou por sua implicância com Daniel? E que música é essa que eles vão cantar?
"Amiga não tá dando pra esconder, eu não tô bem"
Essa música eu não conheço e apenas o Caio cantava. Sua voz que geralmente não era das melhores para cantar, agora parecia sussurrar em meus ouvidos de tão perfeita que estava.
"Acho que a gente descuidou e foi além.
Aquele abraço virou beijo e me cegou
Não controlei os meus instintos e rolou
Amiga não tô dando fora no seu coração
Mas nós estamos misturando amizade e paixão
Amizade e paixão"
É possível eu querer chorar escutando essa música? Parece até que ele está falando comigo, talvez eu esteja mesmo misturando amizade e paixão e ele tenha percebido, e agora está me dando um fora discreto. Enquanto ele cantava, um filme se passava em minha cabeça.
"Bem, amiga, então vamos parar por aqui
Vou te poupar da despedida e sair
Vou levantar, fugir, tentando não chorar
Você também engole o choro e tenta disfarçar
Vou convencer meu coração que nunca sentiu nada
Você é a pessoa certa, mas na hora errada"
Ai Caio, por que você está fazendo isso comigo? Eu estava com meu coração apertado como se estivesse prevendo o futuro.
"Não vou negar que vou sentir saudade sua
Quem sabe um dia a gente continua, a gente continua
Posso pirar, me declarar pelos bares da rua
E esculpir o seu rosto na lua, o seu rosto na lua"
Definitivamente essa música não falava sobre a gente. Mas por que eu tenho a impressão de que é um recado para mim?
"Amiga linda, quem sabe um dia vira amada minha?
Quem sabe um dia vira amada minha?"
E foi nesse exato momento, no fim da música que Caio cantou olhando diretamente para mim. Nossos olhares se encontraram e ficamos nos encarando por alguns segundos que mais pareceram horas. Todos começaram a bater palmas, tirando a gente daquela hipnose. Será que alguém percebeu? Como pode uma música mexer tanto comigo? Precisei me levantar e tomar um pouco de ar antes que alguém percebesse meus olhos cheios de lágrimas.
Entrei no banheiro e passei uma água no rosto, respirei fundo várias vezes, tentando entender o que estava acontecendo comigo. Algo mudou em relação ao meu amigo, eu só não conseguia entender se isso estava partindo de mim ou dele, mas alguma coisa estava diferente. Ah senhor! Me faça entender. Será meus sonhos que estão me deixando tão confusa? Voltei para a sala e continuei assistindo os dois tocar e cantar, as meninas cantavam animadas junto com eles, mas eu estava perdida dentro dos meus pensamentos.
— Amiga o que foi? Você estava tão animada para vir aqui e agora está com essa cara de velório. — Simara perguntou discretamente.
— Eu não sei amiga! De repente me bateu uma tristeza. — eu estava mentindo de novo! Agora era essa a minha rotina? — Mas eu vou ficar bem! Já está passando...
***
Olá,
se você ficaram curiosos para conhecer a música que o Caio cantou, o vídeo está na mídia! Espero que gostem❤️
Bjs
Débora
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