Na fazenda
Logo que chegamos na fazenda tomamos o maravilhoso café que a mãe do Caio havia feito. Já eram mais de oito horas da manhã e Caio foi rapidamente encontrar com João Paulo e eu fiquei sozinha com a sogra.
— Dalila, eu ainda não tive a oportunidade de dizer o quanto estou feliz por você e o Caio terem voltado. — Suzana começou a falar e eu apenas a encarei sorrindo — Tenho certeza que os dias que ele fica longe de você são os piores dias da sua vida. Se ele não tivesse te trazido, tenho certeza que ele nem viria.
— Sério? — perguntei quase não acreditando no que ela dizia.
— Sim. Sabia que ele quase desistiu do curso de agroecologia para ficar perto de você, mas incentivamos ele bastante e dissemos que vocês teriam todo o tempo do mundo para ficarem juntos. E que se o amor de vocês fosse verdadeiro, vocês ficariam juntos apesar da distância.
Será que ela estava me dando uma indireta dizendo que nosso amor não era suficiente? Eu terminei com Caio, mas isso não significa que eu não o ame.
— Tivemos nossos contratempos, mas felizmente estamos juntos de novo. — falei sentindo um aperto no perto, lembrando dos dias que ficamos longe um do outro.
— Eu sei minha filha. Caio sofreu tanto, nunca vi ele daquele jeito. Mas agora ele voltou a ser o mesmo de antes e eu sei que isso tudo é por você. Sei que nessa vida ele nunca vai amar alguém como ele te ama.
Oh meu Deus! Se ela continuar falando assim eu vou acabar chorando.
— Você acha mesmo? — perguntei lutando para não chorar de emoção.
— Eu sou a mãe dele. Conheço meu filho melhor do que ninguém.
— É claro que sim. — falei com meus pensamentos longe sem saber o que dizer.
O que Caio nunca me disse antes, a mãe dele estava me dizendo agora e eu queria mais do que tudo abraçar ele naquele momento.
Começamos a tirar as coisas da mesa e eu pensando em tudo o que eu precisava conversar com Caio. Eu precisava dizer a ele o quanto eu o amava.
— Eu também amo ele! — falei mais pra mim do que pra ela enquanto tirava a mesa do café.
A mãe de Caio sorriu pra mim, feliz por saber que o amor do filho era correspondido.
— Caio sempre foi o meu melhor amigo. Acho que estávamos predestinados a ficar juntos, conhecemos os gostos um do outro, sabemos nossos defeitos e nossas qualidades e como contornar os problemas. Eu sempre amei ele, antes como amigo e agora como namorado.
— Isso é verdade minha filha, vocês dois tem tudo pra ter um futuro lindo juntos.
Será que ela estava falando em casamento? Eu ainda era muito nova para pensar nisso, por isso resolvi nem responder, lavei a louça e comecei arrumar a cozinha enquanto Suzana foi colher alguns produtos para o almoço.
A manhã se arrastou lentamente, quanto mais eu queria que o tempo voasse, mas ele demorava. O almoço ficou pronto e eu conversava com minha sogra sem tirar os olhos do campo na esperança de ver algum sinal de que Caio estivesse chegando. Dez minutos depois, finalmente vi ele chegando montado no cavalo e seu pai ao lado montado em outro.
Ele era lindo! Com aquela postura de homem poderoso em cima do cavalo, fazia ele parecer mais velho do que realmente era. Assim que ele colocou os pés na área eu corri ao seu encontro e ele me abraçou assustado com minha reação.
— Eu já estava com saudade. — falei beijando sua boca.
Eu queria tanto recompensar ele por todo o tempo que ficamos longe, por todo o nosso sofrimento. Eu pensei que eu havia sofrido sozinha, mas agora eu sei que não foi fácil pra ele também.
— Eu também. Obrigado por ter vindo comigo! — ele me abraçou apertado como se para confirmar que eu realmente estava ali.
— Com você, eu vou para qualquer lugar desse mundo. — falei e ganhei mais um beijo como recompensa — Vamos almoçar? Você deve estar com fome. — convidei.
— Morrendo de fome. — ele falou colocando os braços em meu ombro e entramos pra dentro.
Após o almoço ele voltou pro campo junto com seu pai e seu irmão. Suzana foi tirar um cochilo e eu fiquei assistindo filme na televisão. Já era mais de cinco horas da tarde quando eles voltaram. Caio tomou um banho e ficou sentado comigo na rede enquanto tomávamos chimarrão.
— Vou ajudar sua mãe com a janta. — falei tentando me levantar, mas ele me puxou de volta e não me deixou sair.
— Nem pensar, eu te trouxe aqui pra ficar comigo e agora que eu estou aqui você quer se escapulir. — ele falou jogando o peso de suas pernas em cima da minha e caímos deitados na rede.
— Sua mãe vai pensar que eu sou uma folgada. — argumentei.
— Até parece! Você vai ficar aqui e acabou a discussão.
Eu apenas concordei feliz e me acomodei em seu ombro. Fechei meus olhos e senti o cheiro do homem que eu amava. A noite chegava lentamente e eu quase dormi com seus dedos alisando meus cabelos.
— Eu gosto tanto de ficar assim com você. — falei.
— Eu também. Desculpa por não ficar aqui com você te fazendo companhia, mas você sabe que eu preciso ajudar no trabalho. — Caio se desculpou baixinho.
— Eu sei, não se preocupe.
— Mas eu queria ficar grudadinho, coladinho, agarradinho com você. Juro que se você me pedisse, eu ficavam — Caio falava beijando minha orelha e meu corpo todo se arrepiava.
— Não me tente! — respondi brincando. Claro que eu queria passar mais tempo com ele, mas eu também não queria atrapalhar os serviços na fazenda, afinal, é pra isso que ele veio.
— Você gosta assim? — ele substitui os beijos por leves mordidas.
Eu não consigo abrir a boca para dizer que sim, e minha resposta sai num gemido.
— Você vai dormir comigo? — ele sussurra em meu ouvido.
— Você sabe que não podemos, — respondo me virando desajeitadamente na rede para ficar de frente a ele. — Mas bem que eu gostaria.
— Se importa se eu invadir seu quarto a noite?
— Seja discreto por favor. Não quero ter problemas aqui na sua casa, senão meus pais de castigam de vez. — falei com medo de sermos pegos em flagrantes, mas eu sentia a adrenalina e correr em minhas veias só de pensar nessa possibilidade.
— Não se preocupa meu amor. Eu sei ser discreto.
— Meu amor? — pergunto com um sorriso idiota no rosto. Ele disse novamente!
— Claro! Meu amor, minha deusa, minha rainha, minha gostosa... E por aí vai! E vai ser assim que eu vou te chamar daqui pra frente... Meu amor! Ou será que eu te chamo de meu bebê?
Revirei os olhos e dei risada!
— Sem chances! Bebê não, por favor! Amor combina mais comigo. — resmunguei.
— Tá bom então, meu amor! — ele falou me apertando em seus braços e colando nossos lábios antes que eu pudesse falar mais alguma coisa.
Ficamos nos beijando por vários minutos, ora calmo e apaixonado, ora intenso com direito a mordidas e chupões. A rede não era o lugar mais confortável do mundo para namorar, mas tínhamos uma ligação especial com ela desde nossa amizade, era a forma que encontrávamos de ficar próximos um do outro mesmo que inconscientemente.
Quando Suzana nos chamou para jantar, Caio se levantou rápido como um tiro. Se tinha uma coisa com a qual eu não podia competir, era com a fome dele.
Enquanto jantavamos, todos falavam ao mesmo tempo, e eu ficava rezando para que todos fossem dormir logo e eu pudesse ir para meu quarto esperar ansiosamente por Caio.
Mesmo que seus pais tenham ido dormir cedo, João Paulo resolver assistir televisão. Eu mesma já estava morrendo de sono por ter acordado de madrugada e não sei como ele estava aguentando já que acordou bem mais cedo que eu.
Me despedi de Caio e ele fez uma promessa silenciosa:
— Daqui a pouco eu vou!
Assim que me deitei na cama, eu apaguei.
***
Acordei sentido meu corpo pesado. Eu estava presa embaixo do braço e da perna do Caio. Quando foi que ele veio parar aqui? Não me lembro de ter sido acordada durante a noite e nem de ter feito nada.
A claridade entrava por trás das cortinas indicando que já era dia. Fudeu! Como Caio sairia do quarto agora? Olhei as horas no meu celular e já eram mais de nove horas.
— Misericórdia! — me virei rapidamente para acordar-lo. Ele já devia estar trabalhando fazia horas. Seu pai ficaria uma fera. — Caio acorda! — cutuquei ele e ele apenas resmungou. — Acorda, já são mais de nove horas.
Ele suspirou e abriu apenas um olho com dificuldade.
— O que aconteceu com o amor?
Heim? Do que ele estava falando? Será que estava tendo um sonho?
— Do que você está falando? — perguntei confusa.
— Você não pode me chamar de Caio, tem que me chamar de amor. — ele falou sorrindo.
Já acorda fazendo piadinhas.
— Entendi Caio, agora me diz como que você vai sair daqui? — perguntei preocupada.
— Com os pés oras! — falou o imbecil.
— Acordou cheio de graça né! — falei me deitando novamente e olhando para o teto. — Que horas você veio pro meu quarto?
— Agora cedo. — ele respondeu e eu me virei para encara-lo. — Ontem eu me deitei e acabei dormindo na primeira piscada. Hoje cedo meus pais me acordaram para dizer que estavam voltando pra vila e eu vim pra cá.
— Seus pais voltaram para a Vila? — perguntei e ele concordou com a cabeça. — Por quê?
— Choveu de madrugada. Você ouviu? — neguei. — Então, eles ficaram com medo da chuva engrossar e não conseguirem sair mais daqui. Daí voltaram com meu carro.
— E nós vamos voltar com o quê? — perguntei.
— Com o carro deles. Até sexta feira já terá parado de chover... Eu acho. Mas sabe qual é a melhor parte? — fiz que não novamente. — temos a casa só pra nós. — ele falou subindo em cima de mim.
— E o João Paulo?
— Ah, ele não vai falar nada pra ninguém. — Caio me beijou e se levantou da cama. — Vamos tomar café? Estou morrendo de fome.
Aff... Quem é que acorda com fome?
Ele estava sem camisa e eu me permiti admirar seu corpo magro com a musculatura bem definida. Aquele loiro era meu. Só meu!
— Vai ficar aí? — perguntou me olhando da porta.
— Daqui a pouco eu vou.
Assim que ele saiu eu me levantei da cama, se eu ficasse um minutinho a mais ali eu acabaria dormindo novamente. Troquei de roupa e coloquei uma calça sentindo o frio.
Fui até o banheiro e fiz minha higiene matinal. Deixei os cabelos soltos para esquentar as orelhas e fui até a cozinha. Caio não estava lá, então fui para a área dos fundos e o encontrei olhando para o nada.
— Estava esperando por você, vamos tomar café? — disse me estendendo a mão.
— Vamos.
Apesar da garoa que caía lá fora ele ainda tinha que ir para o campo e eu fiquei sozinha naquela casa imensa após o café da manhã.
Aproveitei o tempo que fiquei sozinha e comecei a vasculhar tudo o que havia nos armários, dispensa e na geladeira. Não havia nada de gostoso para comer, então eu resolvi inovar. Eu me sentia animada em preparar guloseimas, sempre foi uma coisa que eu gostei de fazer, mas fazer aquilo sabendo que Caio chegaria do campo com fome me deixava ainda mais inspirada. Eu me sentia feliz por poder fazer alguma coisa para agradar ele, nem que fosse para agradar o seu estômago.
Bati uma massa de bolo e coloquei para assar. Já estava tarde e eu precisava fazer o almoço antes que eles chegassem, então preparei um risoto rápido e fiz uma salada de alface. Quando eles chegaram, antes do que eu esperava, eu sorria satisfeita.
— Você fez o almoço? — Caio perguntou com um sorriso no rosto e eu concordei. — Amor, não precisava, eu vim mais cedo para fazer comida.
— Até parece que eu vou ficar aqui morrendo de tédio. Pode deixar que a comida é por minha conta.
— Só o almoço. A janta eu faço questão de fazer. — ele falou caminhando em minha direção. Me pegou pela cintura e me beijou.
— Veremos... — provoquei. Eu deixaria a janta pronta se fosse preciso.
Continuamos o nosso beijo até sermos interrompidos por João Paulo.
— Hummm que cheiro bom! Ainda bem que você está aqui Lia, ninguém merece comer a comida do Caio.
— Ninguém merece comer a sua. — Caio rebateu.
Sorri e almoçamos. Não sobrou um grão de arroz para contar história e eu fiquei me perguntando se eu havia cozinhado pouco ou se eles comiam demais mesmo.
A tarde, quando eles voltaram para o campo amassei o pão e fiz uns bolinhos esticados com a mesma massa do pão. Se eu bem conheço o Caio, esses são os seus preferidos.
Eu estava me sentindo uma dona de casa, preparando tudo enquanto esperava ansiosamente pela chegada do seu marido. Não que eu me imagine assim no futuro, mas naquele momento eu estava feliz. Eu pretendia trabalhar, ser dona do meu próprio nariz e não ter que depender de ninguém, mas eu nem fazia ideia do que eu queria fazer. Não havia nada com que eu me identificasse plenamente.
No fim da tarde, começou chuver calma novamente e o sono me pegou. Me deitei no sofá para assistir a novela que estava passando, mesmo sem ter ideia de qual se tratava e acabei dormindo. Acordei com Caio me chamando para tomar café, ele já havia tomado banho, fritado os bolinhos e feito café.
— Cansou hoje amor? — ele perguntou.
Eu ainda não havia me acostumando com essa nova forma dele me chamar. Eu sempre queria rir, não sei se de nervoso ou felicidade, mas me controlava para não deixar ele nervoso.
— Um pouco. E você? — perguntei relutante em chamar ele de amor também, mesmo ele sendo exatamente isso.
— Um pouco. Estávamos arrumando as cercas e por isso deu pra trabalhar um pouco, mas se amanhã continuar essa chuva, não vai dar pra fazer muita coisa.
— Que bom, assim você fica o dia inteirinho comigo.
A noite João Paulo fez a janta, depois de muito reclamar ele conseguiu fazer uma macarronada. Comida super light para a noite!
Caio e eu não precisamos dormir separados e eu curti cada segundo do meu tempo acariciando e sentindo todas as partes do seu corpo no meu. Não precisamos ter pressa para nos amar e nos entregarmos um ao outro, tudo foi feito calmamente mas com muita intensidade. Depois de horas nos amando, nos mordendo e nos atacando, finalmente conseguimos dormir.
***
Já era quarta feira. Eu estava sozinha na cama e não fazia ideia de que horas eram. Caio já deveria ter ido pro campo. E por que ele não me acordou? Ele sabe que sem despertador eu durmo o dia inteiro.
Procurei pelo meu celular para ver as horas e não encontrei. Ao lado da cabeceira da cama estava o celular do Caio. Peguei para ver as horas quando me deparei com uma chamada perdida da Poliana.
Meu sangue ferveu de ódio ao ler aquele nome. O que ela queria com o Caio? E por que ele tinha o número dessa maldita? Minha vontade era gritar e xingar ou quebrar a cara de alguém.
Entrei no registro de chamadas dele só para verificar se eles vinham mantendo contato e vi muitas outras chamadas perdidas dela. Havia também uma mensagem não lida e eu resolvi abrir. Foda-se se não for dela.
Ao ler aquela mensagem eu tinha certeza de que eu queria matar alguém.
Maldita Poliana. Maldito Caio! Vocês me pagam!
***
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