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59_ Filmes e pizza

ㅡ Você ta me sequestrando? ㅡ Marina perguntou depois de passarmos mais de meia hora no carro. Levando em consideração que eu não estava fazendo o caminho de volta para Rio Bonito, sua pergunta era válida.

ㅡ Depois do que passamos, eu poderia mesmo fazer isso. ㅡ Abri a janela ao meu lado para deixar que a brisa do mar entrasse. Durante todo o caminho, segui pela pista do lado da praia. Não tinha vista mais bonita que essa. Não quando o mar me faz lembrar dela.

ㅡ Isso foi um sim? ㅡ Ri de sua pergunta.

ㅡ Nós já vamos chegar. ㅡ Levei minha mão até o seu joelho e o apertei levemente.

Quinze minutos depois estávamos em frente ao lugar. Estacionei em frente e mandei uma mensagem pelo aplicativo.

ㅡ O que fazemos aqui? ㅡ Marina encarou o lugar praticamente deserto.

Ainda estávamos em frente a praia, mas não praticamente não havia casas ou pessoas ali, apenas uma casa.

Ouvi o som do portão da casa sendo destrancado e saí do carro. Dei a volta para abrir a porta para ela e a vi sair, olhando em volta com o olhar mais confuso possível.

ㅡ Gabriel! ㅡ Meu tio apareceu com os braços abertos. Depois de me dar um abraço e cumprimentar Marina, me entregou as chaves. ㅡ Já deixei tudo certinho. Qualquer coisa é só me ligar.

O homem nos deixou a sós. Olhei para Marina e ela continuava me encarando como se eu estivesse mesmo a sequestrando.

ㅡ Ele é meu tio. Aluga esse AirBnb. ㅡ Abri o portão para que ela entrasse. ㅡ É que... ㅡ Parei em sua frente após fechar o portão que era apenas uma grade. O muro era baixo, então ainda podíamos ver o mar. ㅡ Desde que você terminou comigo, a única coisa em que pensei todos os dias foi pegar você, te convencer a voltar pra mim e te levar pra longe. Longe de problemas, das pessoas, das preocupações. Longe de tudo. Queria apenas passar algumas horas com você longe do resto do mundo. ㅡ Analisei o seu rosto que ainda me olhava sem expressão. ㅡ Ainda estamos na cidade, mas estamos longe o suficiente para ninguém aparecer. ㅡ Ela sorriu. ㅡ É... Bom estar com você de novo. Ótimo, na verdade. Perfeito.

Marina era um pouco mais baixa do que eu. Sempre que ela tomava a iniciativa de me beijar, seus pés se erguiam até ficar nas pontas. E eu amava isso.

Ela me beijou. Não foi um beijo desesperado como o de alguns minutos atrás. Aquele beijo foi de reconciliação. Tinha ansiedade nele. Alegria. Tristeza. Muita coisa misturada. Nesse não. Esse beijo tinha segurança. Não era um beijo de " não acredito! Estamos juntos "  era um beijo de " estamos juntos ".

Nos separamos e eu grudei nossas testas. Nunca senti por ninguém o que sinto por ela. Nunca pensei tanto em alguém como penso nela. Nunca sofri tanto por alguém quanto sofro por ela. Nunca amei ninguém como amo ela. A amo com todas as partes de mim.

ㅡ Eu to com fome. ㅡ Suas palavras me tiraram de meus pensamentos e eu comecei a rir.

ㅡ Vamos entrar. ㅡ Peguei em sua mão e a levei para dentro.

ㅡ As meninas me tiraram da cama as sete da manhã e eu não comi nada até agora. E já são quase uma da tarde. ㅡ Arregalou os olhos após ver a hora no celular.

ㅡ Você já avisou sua tia que vai passar o dia comigo? ㅡ Fechei a porta atrás de nós e ela balançou a cabeça.

Marina começou a mexer no celular e eu passei pela sala, indo até a cozinha. A casa não era muito grande, só tinha uma sala, um quarto, cozinha, banheiro e uma área atrás.

Na geladeira encontrei vários tipos de comida congelada. Coloquei uma pizza para assar e voltei a sala, onde ela estava sentada no tapete com as pernas cruzadas, olhando para a televisão que passava um desenho.

ㅡ Qual o seu filme favorito? ㅡ Ela perguntou aleatoriamente, quando me sentei ao seu lado.

ㅡ Eu não sei. ㅡ Tentei pensar em algum. ㅡ Talvez, O candidato honesto. ㅡ Marina me olhou com uma careta que dizia claramente que ela nunca havia visto. ㅡ Não conhece? ㅡ Balançou a cabeça. ㅡ Como não? É nacional. Um clássico com Leandro Hassum.

ㅡ Aquele que faz Até que a sorte nos separe e Os caras de pau?

ㅡ Ele mesmo. Esse filme é muito engraçado. É sobre um político que é amaldiçoado e não pode mentir.

ㅡ Sério? ㅡ Ela me olhou com interesse. ㅡ Podemos ver hoje?

ㅡ Claro. ㅡ Me acheguei para trás e me recostei no sofá. ㅡ E você? Qual o seu filme favorito?

ㅡ O amor é cego. ㅡ Ela respondeu e foi a minha vez de fazer a careta de quem nunca tinha visto. ㅡ Você nunca viu? Não acredito. É sobre um cara que só liga para a aparência das mulheres, mas aí ele é amaldiçoado e enxerga ao contrário. Quem é mais gordinho, ele vê magro e etc. É antigo e meio criticado, mas amo. ㅡ Ela se achegou para perto de mim e apoiou a cabeça no meu ombro.

ㅡ Podemos ver hoje também. ㅡ Dei um beijo em sua cabeça. ㅡ A gente come, vai na praia e voltamos para ver filmes a noite.

Marina ergueu a cabeça para me olhar.

ㅡ A gente vai dormir aqui? ㅡ Não consegui decifrar o tom de sua pergunta. Não soube se foi no sentido de que ela queria ou não. De qualquer forma, aluguei a casa até o dia seguinte.

ㅡ Não precisa, se não quiser.

Observei sua expressão. No fundo eu torcia para que ela quisesse, mas aceitaria tranquilamente se ela não quisesse.

ㅡ Tudo bem. ㅡ Sorriu. ㅡ Mas eu não trouxe nada. Como vou sobreviver até amanhã com uma muda de roupas? Nem biquíni tenho.

ㅡ Sua tia se importaria de arrumar umas coisas suas e colocar num Uber. Eles trazem.

ㅡ Vai ficar uma fortuna. ㅡ Ela franziu o cenho.

ㅡ Bom, graças a você eu tenho um emprego. Nada mais justo que gastar meu dinheiro com você. ㅡ Marina sorriu sem graça.

Ela falou com a tia e eu tenho quase certeza que ouvi ela falar algo sobre usar camisinha na ligação. E pelas bochechas vermelhas de Marina, acho que ouvi certo.

ㅡ Ela vai mandar. ㅡ Deixou o celular de lado e voltou a se sentar comigo.

ㅡ Ótimo. ㅡ Puxei a para mim, passando meu braço por seus ombros. ㅡ A gente espera e depois vai pra praia.

ㅡ Ta bom. ㅡ Marina sorriu. Seu sorriso era tímido e sem jeito, provavelmente pelo que sua tia disse. Mas ela também parecia tão genuinamente feliz que eu me peguei sorrindo também.

Aproximei o rosto dela do meu e a beijei. Segurei o seu rosto com minha mão e a outra toquei a sua nuca, aprofundando mais o beijo.

Deus, como senti falta dela.

Senti meu coração pulsar um pouco mais forte. O beijo causou um calor no meu corpo e eu esqueci até de onde estávamos.

Minhas mãos desceram para sua cintura e eu a induzi a se sentar no meu colo. Ela consentiu. Marina se aconchegou em cima de mim sem interromper o beijo e o calor em mim se intensificou.

Voltei uma de minhas mãos até sua nuca, puxando o rosto dela mais para mim. Minha outra mão tocou suas costas. Ela rodeou os braços no meu pescoço e eu fui tomado pelo perfume dela.

Marina cheirava a verão. Ao banho que tomamos depois de passar o dia na praia. Isso faz sentido?

Não sei. Não sei nem como cheguei nessa linha de pensamento. Meus pensamentos estavam confusos e flutuando. Todo o meu foco estava nela e eu não sabia quanto tempo conseguiria me segurar.

ㅡ Espera... ㅡ Marina se afastou de mim. Observei seus lábios rosados e me segurei para não beija-la de novo. ㅡ Ta sentindo esse cheiro de queimado?

Demorei a raciocinar sobre o que ela estava falando. Só quando o cheiro de queimado tomou o lugar de seu perfume em minhas narinas que fui entender.

ㅡ Merda, a pizza. ㅡ Marina saiu de cima de mim e amaldiçoei a pizza por isso.

Fomos correndo até a cozinha. Abri o forno e a fumaça me atingiu.

ㅡ Não pega com a mão! ㅡ Ela gritou um segundo antes de eu enfiar a mão lá dentro. ㅡ Toma. ㅡ Me entregou uma luva.

Puxei o tabuleiro para fora e coloquei a pizza na pia. Não se via nada além do que parecia ser carvão naquele tabuleiro cinza.

Marina ligou a torneira e deixou a água caísse, diminuindo a fumaça.

ㅡ Você não disse que tinha colocado uma pizza no forno. Como esqueceu? ㅡ Marina perguntou em meio a gargalhadas.

ㅡ Você me fez esquecer. ㅡ Ela riu mais.

Desliguei a torneira depois da pizza ter sido encharcada e a fumaça na cozinha ter acabado.

ㅡ Ta, agora deixa eu fazer alguma coisa. ㅡ Marina abriu a janela da cozinha. ㅡ Se não, daqui a pouco você bota fogo na casa.

ㅡ Ah, desculpa, senhora chefe renomada da gastronomia. ㅡ Ela sorriu e veio até mim, depositando um selinho em meus lábios.

ㅡ Eu sei que sou. ㅡ Disse convencida. ㅡ Agora vai fazer qualquer coisa pra você não me distrair. ㅡ Virou as costas para mim, indo até a geladeira.

ㅡ Não vou te distrair. ㅡ Prometi.

ㅡ Vai, sim.

•••
Continua...

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