58_ Minha garota
( Narrado por Gabriel )
Encarei os olhos de Thalia. Ela sorriu para mim parecendo realmente acreditar que eu finalmente aceitaria sua proposta. E por que não aceitar? A pessoa que amo não quer ficar comigo. Que mal teria tentar esquece-la com outra pessoa?
Eu ri. Não exatamente uma risada, mas sim um sorriso junto de um riso pelo nariz.
ㅡ Olha pra mim. ㅡ Pedi. ㅡ Quero que ouça com toda atenção o que vou dizer. ㅡ Ela assentiu. ㅡ Eu não gosto de você.
Thalia se afastou de mim e me encarou parecendo realmente confusa. Ela estava mesmo certa de que eu a beijaria.
ㅡ E não falo somente no sentido romântico. Falo no sentido pessoa. Eu não gosto de você como pessoa. E nunca vou gostar como mulher. ㅡ Sua expressão se tornou irritada. ㅡ O que te faz pensar que eu esqueceria tudo o que você fez? E não falo só do fato de dar em cima de mim sabendo que eu namorava, mas também do Paulo. Você lembra do Paulo? De como ele confiou em você? Ele te levou pra dentro da casa dele. Te apresentou pra família. Te assumiu como pessoa da vida dele e você o magoou. Sabia que foi o Paulo quem me indicou para o emprego aqui? O que te faz pensar que eu ficaria com a mulher que machucou um dos meus amigos? ㅡ Me coloquei de pé.
ㅡ Você acha que é melhor do que eu? ㅡ Havia mágoa em suas palavras.
ㅡ Não acho. Não sou melhor que ninguém, mas tenho caráter. Sei valorizar as pessoas que cuidam de mim, que zelam por mim e jamais seria infiel. Jamais ousaria pensar em trair a confiança de alguém que depositou a confiança em mim. ㅡ Cruzei os braços. ㅡ A verdade é que eu nem tenho a obrigação de te dizer todas essas coisas. Você como ser humano devia ter sua própria consciência. E eu também não tenho que explicar o motivo por não querer ficar com você. Eu não te devo nada. Você quem deve coisas para as pessoas. Deve desculpas. Redenção.
ㅡ Eu não devo nada. Eu fiz o que fiz por meus motivos e ninguém tem nada a ver com isso.
ㅡ Ótimo! Esse também é o meu caso! Você não tem nada a ver com a minha vida. Por que continua me enchendo o saco todo dia? Me lembrando constantemente que a Marina me deixou? Você não tem nada a ver com isso!
ㅡ Ta! Já entendi. Não vou mais te dar chance alguma. ㅡ Ela jogou os cabelos para trás. ㅡ Eu só queria te dar um pouco de diversão. Se não quer, o problema é seu. Você quem perde.
ㅡ Legal. ㅡ Assenti, voltando a me sentar.
ㅡ Tudo por causa daquela loira esquisita. ㅡ Resmungou prestes a sair da sala.
ㅡ Mesmo se a Marina não existisse, eu jamais ficaria com você, Thalia. ㅡ Ela voltou a me olhar. ㅡ Devia pensar melhor sobre quem você é. ㅡ Minhas palavras pareceram ter a atingido, mas não me importei. ㅡ E outra, eu voltaria para a Marina mil vezes antes de ficar com você. Aliás, se ela quiser voltar pra mim, eu volto sem nem questionar.
Nesse momento a porta que estava entre aberta, se abriu completamente. Marina apareceu olhando para nós dois e eu me coloquei de pé no mesmo instante.
Meu coração começou a bater num ritmo acelerado. Meus olhos não acreditaram no que estavam vendo. Por um momento pensei ser uma miragem. Ela não estava mesmo ali, estava? Se sim, por que estava? Ela queria falar comigo? Queria me ver?
ㅡ Marina... ㅡ Seu nome saiu da minha boca num ato automático.
Não percebi quando Thalia saiu da sala. Quando me dei conta, estávamos sozinhos. Ela deu um passo a frente. Fiz o mesmo. Ficamos nessa até estarmos um na frente do outro.
ㅡ Gabriel, eu... ㅡ Ela começou a falar, mas parou.
ㅡ Você... ㅡ Tentei incentiva-la. Marina ficou uns segundos sem dizer nada, até que um pequeno sorriso apareceu no canto de seus lábios e aquilo para mim foi o suficiente.
Eu a abracei. Abracei o mais forte que pude. Meus olhos se apertaram e meu coração parecia que ia explodir.
ㅡ Você voltou pra mim? ㅡ Segurei o seu rosto com minhas mãos. Ela já estava chorando quando assentiu de novo.
Eu sei que a situação merecia uma explicação. Que eu merecia uma explicação. Mas eu não me importei com nada disso quando puxei o rosto dela para mim e a beijei.
E, meu Deus, como senti falta do beijo dela.
Sentir o gosto de seus lábios, o calor de seu corpo e o carinho de seu abraço fez algo que estava quebrado em mim ser remendado. Cicatrizado.
Não sei quanto tempo ficamos ali. Não sei o quanto chorei, o quanto a abracei e nem quanto tempo passamos nos beijamos. Só posso dizer que ainda não parecia o suficiente.
ㅡ A gente precisa... Precisa conversar. ㅡ Ela disse com dificuldade, tanto pela falta de ar, quanto pelo choro.
ㅡ Precisamos mesmo? ㅡ Choraminguei. ㅡ Não sei se quero.
ㅡ Você merece uma explicação, Gabriel.
ㅡ Mereço? ㅡ Ela abriu um sorriso que fechou seus olhos e eu puxei seu rosto, lhe dando um beijo na testa. ㅡ Tudo bem.
Nós dois nos sentamos nas cadeiras dos meus alunos. Fiz o possível para me concentrar em sua explicação, apesar do meu cérebro só pensar em beija-la, beija-la e beija-la.
Quando a explicação começou a ficar mais séria e eu comecei a entender o que tinha acontecido, minha raiva cresceu.
ㅡ Ela quem mandou? Eu não acredito! ㅡ Minhas mãos se fecharam em punhos e meu maxilar ficou rígido.
ㅡ Eu sinto muito. Eu não tive escolha. Eu não podia... ㅡ Percebi o quanto ela também havia sofrido com tudo isso e me levantei. A puxei novamente para mim e a abracei.
ㅡ Marina... Meu amor, por que você não me contou?
ㅡ Era o seu sonho, Gabriel.
ㅡ O meu sonho é você. ㅡ Segurei o seu rosto entre minhas mãos.
ㅡ Você teria feito a mesma coisa no meu lugar. ㅡ Sorri com a astúcia de sua resposta.
ㅡ É, eu teria. ㅡ Passei a mão em seus cabelos, impedido-os de ficar em seu rosto. ㅡ Eu faria qualquer coisa que achasse certo por você. E se o seu sonho estivesse em jogo, também faria a escolha mais dolorosa para mim. ㅡ Analisei cada detalhe de seu rosto. Cada parte dela que senti falta. As pintas perto dos olhos, a boca rosada, os cílios que em um dos olhos era maior, as pequenas sardas perto do nariz que só eram perceptíveis de perto... ㅡ Eu pensei que você não me amasse.
ㅡ Eu te amo de todo meu coração. Só por isso fiz o que fiz. ㅡ Suas palavras me fizeram sorrir de novo.
ㅡ Você vai pra faculdade hoje?
ㅡ Não, por que?
Sorri sem dizer nada. Novamente a puxei para mim e abracei. Eu estava tão feliz naquele momento que tudo em que pensava era: Não acorda, Gabriel, por favor.
Infelizmente uma gritaria nos interrompeu. Saímos da sala e vimos todos no corredor. Pérola, Dafine, Priscila, Jurema, o dono do lugar, o CEO e a Thalia.
ㅡ Você não pode demitir o meu pai!! ㅡ Thalia gritava. ㅡ O que foi que você fez?? ㅡ Encarou o próprio pai.
ㅡ Os seus caprichos! ㅡ O homem gritou. ㅡ Foi isso o que eu fiz!
Ele saiu pelo corredor com uma caixa de papelão e, provavelmente, suas próprias coisas dentro.
ㅡ Isso é coisa de vocês. ㅡ Thalia encarou as meninas.
ㅡ É claro! Lembra, Pérola, daquele dia que a gente ligou pro pai dela e mandou ele cometer fraudes? ㅡ Dafine disse com sarcasmo.
ㅡ Nossa! É verdade. A culpa é toda nossa do pai dela ser um bandido. ㅡ Perola assentiu.
ㅡ E o seu pai é o que? ㅡ Thalia questionou.
ㅡ Seu ex.
ㅡ Pérola, eu vou... ㅡ Ela começou a gritar, mas o dono deu um passo a frente, fazendo-a se calar.
ㅡ O seu pai não trabalha mais aqui. Saia antes que eu chame a segurança. ㅡ Ele disse com calma. Thalia encarou cada um de nós com mágoa e depois saiu marchando pelo corredor. ㅡ Precisa de mais alguma coisa, filha? ㅡ Olhou para Jurema.
ㅡ Não, pai. Era só isso. ㅡ Ela sorriu para ele.
ㅡ Tudo bem. Gabriel? Podemos conversar? ㅡ Ele me olhou e eu concordei.
Dei um beijo na bochecha de Marina e entrei na sala com ele. Estava agoniado. Passei toda a conversa com ele torcendo para ele terminar logo e eu poder voltar para a minha garota. Minha namorada.
No fim ele apenas se desculpou pelas atitudes de seu ex funcionário e disse que não permitiria mais situações do tipo. Disse que zela por profissionalismo e praticamente me implorou para não sair da empresa, pois eu vinha fazendo um ótimo trabalho.
Eu o tranquilizei dizendo que não pretendia sair e ele me deu o resto do dia de folga. O que era tudo o que eu precisava.
Quando saí de sua sala, percorri o corredor com os olhos em busca da Marina. Não vi nenhuma das meninas, mas ela estava ali, com vários alunos meus ao redor dela.
ㅡ Eu sou mais bonito que ele, pode falar. ㅡ Cheguei perto dela em tempo de ouvir meu aluno de treze anos. ㅡ E aí, tio. ㅡ Sorriu sem graça pra mim. ㅡ Estava só conhecendo a sua namorada.
ㅡ Sei. ㅡ Abri a porta da sala. ㅡ Entrem que outro professor vai dar aula pra vocês hoje.
ㅡ Por que? ㅡ O mesmo garoto perguntou.
ㅡ Porque vou passar o dia com a minha namorada. ㅡ Pisquei para ele antes de fechar a porta da sala, os deixando lá dentro.
•••
Continua...
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