55_ Bolo de aniversário
( Narrado por Marina )
Era sábado de manhã. Um sábado frio e chuvoso. Um sábado triste e sem gosto para mim. Um dia que eu queria passar afundada na cama ou no sofá, me entupindo de qualquer outro entretenimento que me tirasse da minha realidade.
Infelizmente eu tinha lido rápido demais o livro que Gabriel me deu e agora não tinha mais opções. Eu precisava comprar mais livros. Afinal, agora eu provavelmente voltaria a viver através deles.
Era péssimo pensar que eu tinha voltado a estaca zero. Ta, eu já não me sentia mais tão abalada pelo meu passado e conseguia socializar melhor, até tinha um amigo na faculdade, mas eles eram meus melhores amigos. Chegaram do nada e me ensinaram tanta coisa...
E Gabriel... O que eu sentia por ele parecia que não passaria nunca. E eu não sabia exatamente se queria que passasse. Por mais que eu quisesse esquecer tudo o que aconteceu e parar de sentir o meu coração chacoalhando em milhões de pedaços dentro do peito, eu também não queria deixar de sentir o que eu sentia por ele.
Cresci lendo livros sobre o amor. O amor era algo tão idealizado por mim, mas que sempre pareceu distante demais. E agora que eu sinto isso, que eu finalmente sei como é amar alguém, não quero deixar de sentir. Não mesmo. Mesmo que isso me machuque todos os dias.
Eu ainda estava deitada na cama. Deviam ser quase dez da manhã e a chuva caía forte lá fora, molhando a minha janela.
Meus olhos se focaram no post it colocado no espelho da minha parede.
" Enquanto houver ondas no mar, vou amar você. "
Será que ele também tem torcido para deixar de sentir o que sente por mim? Será que as coisas vão se resolver? E se não? E se essa decisão foi definitiva e nós nunca mais voltarmos? E se ele me esquecer e se apaixonar por outra pessoa?
Apertei os olhos. Parte de mim queria que ele se apaixonasse por outra pessoa. E que essa pessoa não tivesse que fazer a escolha que fiz e magoa-lo como eu fiz. Mas espero que essa pessoa o ame tanto quanto eu e não coloque os próprios sentimentos a cima dos sonhos dele. Só quero que ele seja feliz...
ㅡ Ta acordada? ㅡ Marina colocou o rosto para dentro do quarto depois de bater na porta algumas vezes. ㅡ Eu não vou trabalhar hoje e vou maratonar alguma coisa na televisão. Quer me fazer companhia?
Forcei um sorriso para ela. Seja lá que ela for assistir, vai ser melhor do que ficar aqui pensando no que vai ou não vai acontecer.
Me arrastei até a sala com a coberta enrolada no corpo. Me deitei em um dos sofás e ela no outro. Supernatural começou a passar na televisão e eu me aconcheguei no sofá quente e confortável. O som da televisão estava alto para superar o som das gotas de chuvas pesadas que caíam na sacada.
Quatro horas depois e Cecília estava chorando.
ㅡ Por que você ta chorando? ㅡ Franzi as sobrancelhas vendo ela assoar o nariz no lenço.
ㅡ To emocionada. ㅡ Foi sua resposta.
ㅡ Estamos vendo o episódio do Homem gancho. Não tem nada de emocionante. ㅡ Voltei a encara-la.
ㅡ Me dá um crédito, eu to de tpm, vou menstruar em breve e não tem um chocolate no armário porque minha versão saudável quem fez as compras. ㅡ Resmungou. ㅡ E ver esses dois salvando pessoas me faz querer tem um homem assim que me protegeria de homens ganchos e Poltergeist. ㅡ Eu quis rir, mas me segurei e puxei a coberta até meu rosto. ㅡ Quer saber? Vou nas Americanas.
ㅡ Agora? ㅡ Olhei para a porta da sacada. Ainda estava chovendo muito.
ㅡ É, preciso muito de uma barra de chocolate branco com pedaços de biscoitos, uma de diamante negro, uma da chocotrio, uma caixa de bis de limão, um pacote de M&Ms com amendoim e umas maçãs pra equilibrar o universo. ㅡ Cecília saiu da sala usando seu pijama e arrastando a pantufa do Shrek no chão.
Minutos depois ela estava de volta, vestida normalmente e com o cabelo preso.
ㅡ Eu já volto. Quer alguma coisa? ㅡ Pegou as chaves do carro no gancho da parede.
Neguei com a cabeça e a observei sair do apartamento. Na televisão o episódio insetos começava. Fui obrigada a pegar o controle e mudar, porque tenho nervoso. Deixei que o de volta ao lar começasse.
Depois de uns minutos me peguei mexendo no meu celular. Eu ainda seguia todos eles no Instagram. Não sei se ainda me seguiam ou se deixaram de seguir, não tive coragem de olhar. Ver que eu havia sido tirada do grupo já havia sido doloroso demais.
Não os culpo. Na cabeça deles, fui só mais uma que ficou com o Gabriel e terminou sem explicação.
Me dói saber que eles pensam isso.
Comecei a olhar os stories deles e foi aí que algo novamente se quebrou em mim. Estavam todos postando fotos com o Gabriel e lhe parabenizando.
Era aniversário dele.
Minha culpa dobrou. Triplicou. Se tornou imensa. Maior que qualquer coisa que eu pudesse sentir.
Continuei passando os stories. Eles estavam no shopping, iam ver algum filme. Gabriel sorria em alguns stories, mas eu conseguia perceber em seus olhos que ele não estava sendo totalmente sincero. Isso fez eu me sentir a pior pessoa do mundo.
Me peguei chorando. Dean e Sam estavam na tela da televisão e eu estava chorando olhando para a cara deles.
Gabriel havia tornado meu último aniversário o melhor que eu havia tido e agora eu nem o veria. Nem falaria com ele. E nem saberia se não fosse pelo Instagram.
Eu não sei o que deu em mim quando simplesmente enxuguei as lágrimas e fui até a cozinha. Abri a dispensa e peguei tudo o que eu precisaria para fazer um bolo. Um bolo de aniversário. Por que? Não sei, não pensei nisso. Talvez meu lado gastronômico tenha me dominado. Ou talvez eu só quisesse muito fazer um bolo para ele, ignorando as perguntas que me cercavam, do tipo: como vai entregar? E se ele não quiser? E se criar esperanças nele e isso só machuca-lo mais? E se ele estiver esquecendo de mim e eu aparecer trazendo tudo de volta?
Infelizmente só fui pensar nisso tudo depois de já ter terminado. Depois de encarar o bolo perfeitamente decorado com creme de ninho e morangos sobre a bancada.
Ouvi o som da porta da sala e me escorei na pia.
ㅡ Credo, não sabia que hoje tinha promoção lá. Fiquei mais de uma hora na fila. ㅡ Cecília apareceu na sala com duas sacolas lotadas, certamente com muito mais coisa do que ela disse que compraria. ㅡ Você fez um bolo?
ㅡ Por que você demorou tanto? ㅡ Choraminguei atraindo seu olhar confuso. ㅡ Se não tivesse demorado tanto, teria me impedido de fazer esse bolo idiota. ㅡ Abaixei a cabeça. ㅡ Desculpa.
Cecília largou as sacolas, tirou o casaco e veio até mim, soltando um suspiro paciente.
ㅡ Por que você fez um bolo? ㅡ Perguntou olhando para mim.
ㅡ Hoje é aniversário do Gabriel.
ㅡ Jura? E você vai levar pra ele? ㅡ Percebi um certo entusiasmo em sua voz e neguei com a cabeça de imediato.
ㅡ Não. Esse é o problema. Eu fiz pra ele, mas não tenho cara para aparecer na casa dele e lhe entregar um bolo. Não depois de ter terminado com ele na semana do próprio aniversário dele. ㅡ Quis chorar de novo. ㅡ Eu me sinto patética.
ㅡ O que você vai fazer?
ㅡ Nada. Pode comer, se quiser. ㅡ Saí da cozinha e voltei a me afundar no sofá. O episódio asilo estava passando agora e eu me encolhi no sofá para assisti-lo e esquecer que eu estava sendo uma péssima pessoa.
[...]
Não sei que horas eram quando acordei. Ainda era dia lá fora e ainda estava chovendo. Será possível que vai chover o dia inteiro?
Me levantei do sofá com a cabeça doendo e fui até a cozinha procurar algo para comer. O bolo já não estava na bancada e nem mesmo na geladeira. Não é possível que Cecília tenha conseguido comer ele inteiro.
ㅡ Pensei que você estava em coma. ㅡ Cecília apareceu na cozinha e foi até a geladeira.
ㅡ Você comeu o bolo?
ㅡ Não.
ㅡ Onde o guardou?
ㅡ Não guardei. ㅡ Ela se virou para mim com um pote fechado na mão.
ㅡ O que fez com ele?
ㅡ Eu levei pro Gabriel.
ㅡ O que?? ㅡ Arregalei meus olhos. ㅡ Por que??
ㅡ Porque você fez pra ele.
ㅡ Mas, Cecília...
ㅡ Olha só, eu sei que você não quer que eu me meta nessa coisa que vocês estão tendo, que eu ainda não entendi, mas você fez um baita de um bolo enorme e eu não podia deixa-lo aqui em plena tpm. Então, ou eu entregava pra ele, ou comia tudo sozinha. E se eu comesse tudo sozinha, estaria agora passando mal e quase morrendo. Você quer que a sua tia favorita morra? Acho que não. ㅡ Ela me entregou o pote e fechou a geladeira.
ㅡ O que é isso?
ㅡ Um pedaço. Ele disse que você deu o primeiro pedaço do seu bolo de aniversário pra ele e ele queria te dar o primeiro pedaço também.
•••
Continua
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