51_ Enquanto houver ondas no mar, eu vou amar você.
Eram cinco da tarde quando virei a esquina a vi sentada lá. Marina saía antes de mim, então me esperava num dos bancos em frente a praia. Ela sempre estava no mesmo banco, geralmente lendo alguma história, ou ouvindo música, ou admirando a praia.
Me aproximei dela e me sentei do seu lado no banco. Seus olhos saíram do livro que ela estava lendo e se focaram em mim. Eu ainda não sabia como ela estaria. Talvez estivesse com raiva. Talvez estivesse chateada. Eu, provavelmente, estaria no lugar dela. Mas ela sorriu. Fechou o livro. Me beijou.
ㅡ Tudo bem? ㅡ Me olhou depois de me arrancar um sorriso surpreso.
ㅡ Eu estou bem, e você? Ta tudo bem? ㅡ O vento que vinha do mar jogou seus cabelos em seu rosto e eu os afastei, para ver melhor o sorriso dela.
ㅡ Eu to bem. Passei um pouco de raiva, mas estou bem ㅡ Ela encarou a praia com um sorriso sereno. ㅡ Ela tentou alguma coisa, né?
ㅡ Me pediu pra tocar pra ela. ㅡ Marina revirou os olhos. ㅡ Marina, eu posso dar um fim nisso. É só eu... ㅡ Ela me interrompeu.
ㅡ Não quero que faça nada. Ela é filha do CEO e a última coisa que queremos é que ela se queixe de você e você acabe perdendo o emprego. Deixa ela fazer papel de ridículo. Uma hora ela vai se tocar e parar com isso. ㅡ Marina apoiou a cabeça no meu ombro e eu a abracei. ㅡ Contanto que você não dê crédito, eu não me importo. ㅡ Seus olhos encontraram os meus. ㅡ Nós somos felizes, Gabriel. Não quero deixar que uma garota atrapalhe isso.
ㅡ Ninguém pode atrapalhar o que a gente tem, meu amor. Eu não vou deixar. ㅡ Segurei seu rosto e o puxei para mim, depositando um beijo em seus lábios. ㅡ Enquanto houver ondas no mar, eu vou amar você.
Ela abriu um sorriso tão lindo para mim que não pensei duas vezes antes de beija-la de novo. Quem era Thalia? Ninguém chegava aos pés da Marina para mim. E ninguém tiraria o que eu sentia por ela.
[...]
ㅡ Tchau, tio! ㅡ O último garotinho saiu da sala e eu acenei para ele.
Me sentei para esperar a próxima turma que entraria e observei as cifras da música que estava nas minhas mãos.
Por que eu só gostava de ensinar com músicas que me lembraram da Marina?
ㅡ Toc toc... ㅡ Olhei para a porta ainda com um sorriso nos lábios.
Era Thalia.
Olhei para ela por uns segundos e apenas me lembrei da Marina nos meus braços ontem em frente a praia. O meu sentimento por ela tomou tudo e eu me peguei sorrindo de novo, encarando a música.
ㅡ Alguém está feliz. ㅡ Ela se aproximou e esticou umas folhas. ㅡ Me pediram para te entregar.
Olhei para as folhas em suas mãos e vi que era a música da próxima turma. Mas duvido que tenham pedido para a filha mimada do CEO vir me entregar.
ㅡ Essa música é linda. ㅡ Ela começou a andar pela sala depois de deixar as folhas na minha mesa. ㅡ Só eu
Sozinha
Agora eu tô tão
Na sua... ㅡ Fiz uma careta ouvindo a garota cantar.
Ela cantava tão bem que eu quase mudei de ideia e troquei a música da turma.
ㅡ Eu adoro cantar. Faríamos uma bela dupla. Você toca e eu canto. ㅡ Ela se aproximou novamente.
ㅡ Não, obrigado. ㅡ Fui até a porta para descobrir onde diabos estavam esses alunos que me deixaram ali ouvindo aquela doida cantar.
Vi uns quatro conversando no corredor e os chamei para entrar. Thalia saiu da sala e eu revirei os olhos.
ㅡ Ela gosta de você? ㅡ Um dos garotos perguntou. Devia ter uns treze anos.
ㅡ Quem liga? Já viu a namorada dele? Mó gostosa. ㅡ Encarei o garoto que nem tinha pelos no suvaco chamar minha namorada de gostosa.
ㅡ É mesmo. ㅡ O outro concordou.
ㅡ Olha só, vamos estudar antes que eu esqueça que vocês são só crianças e dê com esse violão na cabeça de vocês. ㅡ Eles riram e eu comecei a aula.
( Narrado por Marina )
Eram quatro e meia da tarde. Ainda faltavam meia hora para o Gabriel aparecer e irmos embora. No início pensei que ficaria entediada nesse tempo que preciso esperar por ele, mas quem fica entediado com a vista do mar?
" enquanto houver ondas do mar, eu vou amar você. "
As ondas passaram a ter um significado diferente para mim desde que conheci Gabriel. Amo ouvi-las quebrar. Amo vê-las se formar. Amo ver uma na minha aliança sempre olho para minha mão.
Alguém se sentou ao meu lado e meu primeiro pensamento foi Gabriel, mas ainda era cedo.
ㅡ Ah, como ela é diferente das outras garotas. ㅡ O tom sarcástico em sua voz me fez encara-la. ㅡ Gosta de ler livros, ver a praia, é tímida... ㅡ Thalia riu de maneira debochada. ㅡ Você é tão genérica que não sei o que o Gabriel viu em você.
ㅡ O que você quer?
ㅡ Só conversar. Tentar entender o que tem de tão especial em você. É só mais uma garota comum sem nada demais. ㅡ Ela me analisou. ㅡ Nem é tão bonita.
ㅡ Ta sendo divertido pra você? Porque insultos vindos de você não fazem diferença nenhuma pra mim. ㅡ Voltei a encarar o mar.
Não tenho a menor ideia do que está acontecendo comigo. Se fosse a meses atrás, eu jamais peitaria alguém. Eu nem conseguia dar bom dia sem sentir uma vergonha imensa.
ㅡ Claro. ㅡ Ela assentiu. ㅡ Ta legal, já chega de joguinhos. ㅡ Encarei-na novamente. ㅡ O que você quer? Ou... Quanto você quer?
ㅡ Do que ta falando? ㅡ Franzi as sobrancelhas.
ㅡ Todo mundo tem um preço. O que você quer para deixar o Gabriel livre?
ㅡ É sério? ㅡ Quis rir. ㅡ Você quer me pagar para eu terminar com o Gabriel?
ㅡ Veja como quiser. ㅡ Deu com os ombros.
ㅡ Qual é o seu problema? ㅡ Me virei para ela. ㅡ Por que acha que eu aceitaria seu dinheiro para terminar com ele? Pensa que todos são como você? O pai da Perola te ofereceu algo para largar o Paulo também ou você só gosta de maltratar as pessoas?
ㅡ Escuta aqui, garota! ㅡ Ela se levantou e apontou um dedo para mim.
ㅡ Escuta aqui, você! ㅡ Também me coloquei de pé e apontei para ela. ㅡ Nem todos são como você. Eu amo o Gabriel e não tem nada que você possa fazer para me fazer terminar com ele.
O seu olhar de raiva se dissipou, dando lugar a um sorriso que eu só poderia descrever como maligno.
ㅡ Você tem muita certeza. ㅡ Ela cruzou os braços. ㅡ Acho que se lembra que eu sou filha do CEO. E o CEO pode demitir quem ele quiser. E, por acaso, o meu pai faz qualquer coisa que eu pedi. O que significa que, se eu quiser, o Gabriel perde o tão sonhado emprego hoje mesmo.
Minha raiva deu lugar a um medo. Um medo enorme. A última coisa que eu queria era ver o sonho de Gabriel se esvair por suas mãos.
ㅡ Você não pode fazer isso...
ㅡ Ah, eu posso. E vou. Se você não terminar com ele.
ㅡ Por que... ㅡ Um soluço me impediu de continuar. Eu não queria chorar, mas pensar na possibilidade de ver Gabriel perdendo o emprego dos sonhos me machucou bem no fundo. ㅡ Por que ta fazendo isso? Gosta tanto assim dele?
ㅡ Não é questão de gostar ou não dele. É só o fato de que eu sempre tenho tudo o que eu quero e eu não aceito perder. Muito menos pra você.
ㅡ Isso não é a merda de uma competição! Isso é vida real! O Gabriel não é um troféu que você compete pra ganhar. Ele é uma pessoa. Uma pessoa com sentimentos e sonhos. Não pode pisar nas pessoas para conseguir o que quer, isso é... ㅡ Não consegui terminar de falar, minhas mãos estavam tremendo e eu sabia que choraria a qualquer hora.
ㅡ Eu já falei e não vou repetir. Não quero ouvir discurso de moralidade. Ou você termina com ele, ou ele vai para a rua. E se você contar para qualquer pessoa sobre isso, ainda mais para ele, ele também vai ser demitido. E vou fazer o máximo para que ele seja tão mal recomendado que não consiga mais emprego nessa área. ㅡ Nessa hora senti as lágrimas escorrerem por minhas bochechas. ㅡ Você entendeu?
ㅡ Thalia, não faz isso. ㅡ Implorei, abaixando a cabeça, sentindo tudo em mim doer.
Todas as vezes que Gabriel me contou do seu sonho, de como queria ensinar música, do quanto isso era importante para ele passou na minha cabeça.
ㅡ É só você colaborar.
ㅡ Por favor...
ㅡ Para de chorar! Só termina com ele logo e...
ㅡ O que ta acontecendo? Ta tudo bem? ㅡ Não consegui olhar para ver quem era, mas a voz me soou familiar.
ㅡ Não se mete, ta bom? ㅡ Thalia resmungou.
ㅡ Olha só, fala direito. ㅡ Outra voz familiar, dessa vez feminina. Olhei para cima e encontrei Vitor e Gabriela, o casal de guarda-vidas que conheci quando morava na pousada. ㅡ Aqui não é lugar de escândalo.
ㅡ Ta tudo bem? ㅡ Vitor me perguntou. Assenti apenas para responder, porque não. Não estava tudo bem.
ㅡ Quem vocês pensam que são? Sabem quem é o meu pai? ㅡ Thalia colocou as mãos na cintura.
ㅡ Não e não me interessa. Agora vaza daqui. ㅡ Gabriela fez Thalia sair batendo pé e eu voltei a abaixar minha cabeça. ㅡ Garota nojenta.
ㅡ Obrigada. ㅡ Funguei, limpando as lágrimas.
ㅡ É Marina, né? ㅡ Gabriela sorriu. ㅡ Gostou do livro das tartarugas?
ㅡ Gostei. ㅡ Forcei um sorriso e voltei a me sentar.
ㅡ Quem era ela? Por que vocês estavam discutindo? ㅡ Gabriela se sentou ao meu lado.
Olhei para ela, mas logo fechei os olhos.
ㅡ Ninguém. Foi só uma confusão. ㅡ Menti.
ㅡ Tem alguma coisa que a gente possa fazer por você? ㅡ Vitor perguntou.
Balancei a cabeça. Será que existia alguma coisa que alguém podia fazer? O que eu podia fazer? Eu não podia nem contar para ninguém.
ㅡ Acho que seu namorado chegou. ㅡ Gabriela se levantou e eu olhei para o lado.
Gabriel estava parado na calçada. O sorriso dele se transformou num olhar preocupado e o meu coração se partiu quando ele correu na minha direção.
•••
Continua...
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