41_ As ondas do amor
O intervalo do espetáculo chegou e nós saímos do auditório. Estava uma confusão de pais e pessoas no terceiro andar, então decidimos voltar ao quarto onde ficavam os bailarinos. Mas, tenho plena certeza de que não podíamos ficar lá, pois éramos os únicos lá em cima que iam dançar.
ㅡ Eu nunca mais convido vocês. ㅡ Priscila apareceu, dessa vez usando uma calça jogger bem larga vermelha e uma blusa de frio preta que mostrava um pouco da sua barriga. O cabelo estava solto do coque e ela usava tênis, ao invés de sapatilha.
ㅡ Você disse que a gente podia gritar no final da música. ㅡ Pérola tentou justificar a vergonha.
ㅡ É, mas não gritar " Priscilão ". Vocês não tem noção do quanto riram de mim na coxia. Aposto que até os bailarinos vão me chamar de Priscilão agora, os únicos que ainda me chamavam pelo meu nome direito. ㅡ Ela resmungou levando uma garrafa de água até a boca.
ㅡ Ah, Priscilão, a gente só faz isso porque ama muito você. ㅡ Dafine sorriu. ㅡ Eu não gritaria assim e passaria vergonha por qualquer um.
ㅡ Isso mesmo. ㅡ Saulo assentiu.
ㅡ O que você vai dançar agora? ㅡ Maicon perguntou e só nesse momento percebi que ele estava comendo um sanduíche. Um sanduíche que não tenho a menor ideia de onde ele tirou.
ㅡ Aonde você arrumou isso? ㅡ Gabriel perguntou, tirando as palavras da minha boca.
ㅡ Ali. ㅡ Maicon apontou para uma mesa do outro lado da sala, e era uma sala enorme, onde haviam vários sanduíches, água e Guaravitas.
ㅡ Aquilo é só pros bailarinos. ㅡ Priscila o encarou.
Maicon olhou para ela com as bochechas estufadas de tanto sanduíche que enfiou na boca.
ㅡ Não tem placa nenhuma dizendo nada. ㅡ Ele disse depois engolir.
ㅡ Eu vou dançar hiphop. ㅡ Priscila acabou com a água e jogou a garrafa na lixeira mais próxima. ㅡ Nessa vocês podem gritar durante a música, mas não gritem meu nome no aumentativo.
ㅡ Eu vou gritar do jeito que eu quiser. ㅡ Pedro deu com os ombros e recebeu em troca um olhar mortal da Priscila. ㅡ Eu vou ficar bem calado.
ㅡ Vocês estão em tudo lugar... ㅡ Outra voz desconhecida para mim.
Todos olhamos na mesma direção e quem eu vi foi uma garota ruiva. Ela estava vestindo um dos figurinos da noite, mas não me lembro de já ter visto ela dançando. Provavelmente ainda dançaria depois do intervalo.
Olhei para o rosto de todos presentes esperando a mesma recepção que tiveram com Jurema, mas não foi isso que eu vi. Todos eles estavam de cara fechada como se a garota fosse a maior inimiga deles.
ㅡ Oi, Gabriel. ㅡ Ela sorriu para ele, que não retribuiu o sorriso.
ㅡ Você é que tá em todo lugar, igual barata. ㅡ Perola quem falou primeiro.
ㅡ Sempre estressada né, Pérola... ㅡ A garota disse de maneira cínica.
ㅡ Quem é que não fica assim quando te vê? ㅡ Dafine a questionou.
ㅡ Eu não me dirigi a você em nenhum momento. ㅡ A garota apontou para Dafine.
ㅡ Como é que é? ㅡ Dafine tentou partir para cima dela, mas foi segurada por Maicon.
ㅡ A gente vai ser expulso. ㅡ Ele murmurou.
ㅡ Thalia, deixa a gente em paz... ㅡ Priscila pediu bufando. Pelo jeito dela, parecia que ela estava acostumada a lidar com a garota todo dia. Espera... Thalia?
ㅡ Não tem nenhum casado aqui pra você tentar seduzir. ㅡ Pedro disse as palavras com mais peso do que queria demonstrar.
ㅡ Eu não seduzi ninguém. ㅡ Thalia rebateu.
ㅡ E quem liga, garota? Ninguém aqui liga pra você, por que ta aqui enchendo nosso saco? ㅡ Perola encarou Thalia já sem paciência.
ㅡ Eu vim cumprimentar o Gabriel, não vim... ㅡ Ela foi interrompida pela risada de Perola.
ㅡ Já ta atrás de outro? O que é? Gosta dos compromissados? GB esteve solteiro esse tempo todo e agora que ele está namorando você resolve encher o saco dele? Por que não vai lá embaixo? Ta cheio de pais ricos e casados lá que você pode tentar alguma coisa.
ㅡ Eu não ligo para o que você pensa de mim, Perola. Fiz o que fiz por meus motivos e não me arrependo. Mas tudo acabou e ficou no passado.
ㅡ E o GB é a bola da vez? Cuidado em, Gabriel. A cobra quer você agora. ㅡ Dafine revirou os olhos.
ㅡ Não quer tentar meu pai? Acho que ele faz mais o seu tipo. ㅡ Gabriel me abraçou de lado e sorriu para Thalia, que focou os olhos diretamente em mim.
ㅡ Cuidado que ela vai mesmo. ㅡ Dafine riu.
ㅡ Vocês acham que eu ligo muito pra essas provocações. Mas vocês não passam de um bando de imaturos. ㅡ Thalia disse com raiva.
ㅡ Quem? ㅡ Maicão perguntou.
ㅡ Quem o que?
ㅡ Te perguntou. ㅡ Ele respondeu já dando gargalhadas.
Todos começaram a rir, só provando o quão maduros são.
Thalia se afastou de nós, mas antes fez questão de olhar para mim e para Gabriel. Gabriel e eu não estávamos oficialmente namorando. Eu não tinha uma aliança no dedo e ele ainda não havia pedido. Mas... Éramos meio que assumidos publicamente como namorados. Ele sempre me apresentava assim e durante a última semana agimos como namorados. Tecnicamente éramos, eu acho.
Mas... Isso não impediu aquela velha amiga ( insegurança ) de bater na minha porta bem naquele momento. Thalia era muito mais bonita do que o livro descrevia e pensar que ela estava interessado nele me fazia sentir extremamente insegura, e eu odiei isso. Odiei tanto que me recusei a abrir a porta e deixar o sentimento me dominar.
Gabriel ainda estava abraçado a mim quando olhei em seus olhos e ele sorriu. Um sorriso sincero e um olhar que me assegurou de que eu não tinha nada com que me preocupar.
E não só com relação a traição. Porque mesmo se eu um dia fosse trocada por alguém como ela, não deveria me sentir insegura porque isso não me torna menos que ela.
O que é isso? De onde veio toda essa segurança e autoconfiança?
ㅡ Eu esqueci de avisar que ela estaria aqui. ㅡ Priscila abraçou os próprios braços. ㅡ Ela vai dançar na turma de jazz avançado e tem um solo também.
ㅡ Eu prometo fazer o impossível para não vaiar. Não quero ser tóxica nesse nível. ㅡ Dafine mostrou a palma da mão.
Os bailarinos começaram a se colocar em fila na direção de uma porta de vidro e nós percebemos que ia começar a segunda parte do espetáculo.
Todos nós descemos novamente para o auditório e tomamos nossos lugares, que ficava na primeira fileira.
O espetáculo foi acontecendo. Apresentações fofas de crianças no ballet, turmas de HipHop que me deixaram impressionada. Apresentações de jazz que quase me fizeram chorar e um solo.
Um solo em que Thalia ficou sozinha no palco e dançou uma espécie de Jazz funk. A música era Nada contra ( ciúme ) da Clarissa e ela fez questão de dançar olhando para Gabriel.
A música inteira.
Principalmente na parte que dizia " Nada contra ela, inclusive até faria, mas acho que quem caberia bem melhor sou eu ".
O solo terminou e ela saiu do palco. Aplausos soaram e Pedro abriu a boca com as mãos na frente, como se fosse gritar.
ㅡ UUU... ㅡ Ele começou a vaiar, mas levou um tapa de alguém. Um tapa estalado que foi tão alto que até a plateia começou a rir.
Eu não ri. Nunca pensei que quando finalmente conseguisse me socializar e namorar com alguém, veria uma outra garota dançando num palco praticamente pra ele.
O que se faz quando você não é do tipo que concorda com a coisa de arrumar confusão?
O espetáculo terminou. As luzes do auditório se acenderam e começou aquela coisa dos bailarinos tirar fotos com os pais. Buquês de flores, comemoração e tudo mais.
Priscila nos chamou para subir ao palco e tirar foto com ela. No meio disso acabou ganhando um buquê de flores de Pedro e eu sorri tanto com aquele momento. Foi tão lindo, porque eles também foram um casal literário que li se formar. Até desejei saber dançar só para ganhar flor ao final de um espetáculo.
ㅡ Eu tenho que pegar minhas coisas lá em cima. Vamos lá comigo. ㅡ Priscila pediu.
ㅡ Ainda tem sanduíche? ㅡ Maicon perguntou.
ㅡ Tem. ㅡ Priscila riu.
Eles começaram a subir, por trás do palco mesmo. Eu estava prestes a segui-los, mas Gabriel segurou minha mão e me fez parar de frente para ele.
Já não tinha ninguém no auditório e ele esperou que as últimas duas pessoas saíssem até começar a falar.
ㅡ Eu fiquei a semana toda tentando planejar alguma coisa. Tentando pensar num jeito criativo e digno pra te pedir em namoro, mas cheguei a conclusão que, por mais romântico que eu pense que sou, não sou nada criativo. ㅡ Gabriel tirou uma caixinha de veludo vermelha de seu bolso e só de ver aquilo em suas mãos, meu coração começou a pular no peito. Esse era um dos momentos que eu mais amava ler nas histórias e pensar que estava acontecendo de verdade na minha frente me emocionava. ㅡ Sei que eu já te apresentei pra todo mundo como minha namorada e me gabei de você pra pessoas que você nem conhece, mas você merece um compromisso de verdade e eu quero deixar claro que é isso que eu quero. Não sou de acreditar em destino, mas sonhei que estava na praia com uma garota loira antes mesmo de ir para Saquarema e assim que conheci você, parecia até que eu já tinha te visto. Como se meu coração já soubesse e gritasse pra mim que você era a garota que ele sempre esperou aparecer. Eu contei do sonho pro pessoal e por isso eles te apelidaram de loirinha. ㅡ Ele riu e abriu a caixinha. ㅡ Se quiser, eu fico de joelhos... ㅡ Segurei suas mãos.
ㅡ Não precisa. ㅡ Ri sentindo meus olhos se embaçarem.
ㅡ Quer namorar comigo, Marina? Oficialmente? ㅡ Me estendeu a aliança prateada que tinha o desenho de uma onda cravado.
ㅡ Eu quero. ㅡ Sorri para ele.
Gabriel colocou a aliança no meu dedo e eu nem lhe dei tempo de colocar a dele, pois o abracei.
Ele não demorou a retribuir o meu abraço e não sei quanto tempo ficamos assim.
Só naquele momento vi Thalia na coxia nos observando. Ela virou as costas e sumiu por de trás do palco assim que a notei.
ㅡ Eu queria cravar algo especial. Nos conhecemos na praia e você tinha lido o livro da Pérola. Fiquei pensando título nosso livro teria e pensei que seria As ondas do amor, para combinar com As regras do amor. Daí a onda. ㅡ Ele sorriu para mim.
ㅡ Eu adorei. ㅡ Falei em tempo dele dar um passo a frente e me beijar.
•••
Continua...
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