29_ O que??
ㅡ O que? ㅡ Eu devo ter ficado com uma cara estranha, porque quase engasguei para responder. A pergunta de Perola me pegou de surpresa.
ㅡ Perguntei se quer ir pra Rio Bonito com a gente. É só um fim de semana. Nós vamos no sábado pra votar e voltamos na segunda. Você pode ficar na minha casa, se quiser. ㅡ Ela estava falando sério.
Tenho certeza que, para ela, aquilo não causou o mesmo efeito que causou em mim. Sabe quando você lê uma história que te prende e, de repente, você acaba querendo muito visitar o lugar onde se passa? Deus, eu já sonhei tanto em visitar Nova York, porque já li muitos livros que se passam lá.
Pérola me chamar para passar um fim de semana em sua casa e conhecer a cidade onde o primeiro livro se passa é como me convidar a entrar no universo do último livro que li.
Eu vou conhecer o parque da caixa d'água?
ㅡ Por que ta fazendo essa cara? ㅡ Ela franziu as sobrancelhas.
ㅡ É que... ㅡ Expliquei todo o meu surto e ela soltou uma gargalhada. ㅡ Desculpa, Marina. É que nossa cidade não tem nada demais. Você ta criando tanta expectativa que tenho certeza que vai querer ir embora assim que pisar lá.
ㅡ Mesmo assim. ㅡ Ri junto dela. ㅡ Eu adoraria, mas tenho que cozinhar aqui. Não acredito que meu tio iria me liberar.
ㅡ Iii, a gente fala com ele. É só um fim de semana. Tenho certeza que ele vai entender. ㅡ Ela abanou as mãos. ㅡ Você topa?
ㅡ Bom... Eu só preciso avisar a minha mãe. Mas, sim. ㅡ Abri um sorriso empolgado.
ㅡ Ótimo! Vou falar com o pessoal. ㅡ Ela saiu dali, me deixando sozinha com meus pensamentos estranhos de leitora e o cheiro de sabão em pó.
Mais tarde naquele dia, tomei coragem de mandar uma mensagem para minha mãe, avisando que passaria um fim de semana com uns amigos.
Depois de quase uma hora, ela respondeu perguntando que amigos?
Ela poderia ser o que for, mas me conhecia bem.
Depois de explicar toda a situação, ela me disse que eu não devia ficar na casa da Pérola. Em palavras não tão educadas, ela disse que eu atrapalharia e seria um estorvo para a mãe da Perola. Disse que eu tinha uma tia, irmã do meu pai, que morava em Rio Bonito e que eu podia ficar na casa dela.
ㅡ Ela não deixou? ㅡ Priscila perguntou, provavelmente notando o meu olhar desanimado.
ㅡ Ela tem que deixar? A Marina não é de maior? ㅡ Dafine comeu mais um pouco da pipoca.
ㅡ É, mas mora com a mãe. Tem ao menos que avisar. ㅡ Priscila puxou a coberta.
ㅡ Ela deixou, mas disse que eu posso ficar na casa de uma tia minha lá. ㅡ Deixei o celular de lado e encarei a televisão, que passava o filme Carros.
ㅡ Se você preferir, tudo bem. ㅡ Perola assentiu.
ㅡ Ai, to doida pra voltar pra casa e dormir direito. ㅡ Dafine fingiu um arrepio.
ㅡ E por que você não está dormindo direito? ㅡ Perola a encarou com uma sobrancelha arqueada.
ㅡ Desde aquele dia que a porta do quarto da Marina bateu sozinha, não consigo mais dormir direito. Na minha cabeça, essa pousada é mal assombrada. ㅡ Ela puxou a coberta até o pescoço.
ㅡ Não foi o vento? ㅡ Olhei para ela enquanto pegava mais um pouco de pipoca.
ㅡ Estava tudo fechado.
ㅡ Ta amarrado no nome de Embucete, Priscilão e Kendra Foster. ㅡ Perola disse, se ajeitando na cama.
ㅡ E eu acho que aquele Douglas veio atrás da gente. ㅡ Dafine comentou, me fazendo arregalar os olhos.
ㅡ Credo, por que? ㅡ Perguntei.
ㅡ A gente invadiu o velório dele e o idiota do Maicão se fingiu de melhor amigo dele. Noite passada eu sonhei com um soldado puxando meu pé. Tenho certeza que é ele.
ㅡ Ai, Dafine! Para! ㅡ Priscila lhe deu um empurrão.
ㅡ É sério! ㅡ Dafine insistiu.
ㅡ Que horror. Lembro de uma vez que eu fui brincar de Charlie Charlie, aí... ㅡ Perola começou a falar, mas Dafine a interrompeu.
ㅡ Óh! Nada disso. Daqui a pouco aparece um Douglas Douglas aqui e não vai prestar.
ㅡ Parem de falar disso e vamos focar no filme de criança, que não tem nenhum espírito nem nada. ㅡ Priscila sugeriu e assim fizemos.
Na verdade, não se passou nem dez minutos e o silêncio terminou.
ㅡ O que os garotos estão fazendo? ㅡ Priscila sacudiu o balde vazio de pipoca.
ㅡ Sei lá, acho que estão na piscina. ㅡ Dafine respondeu, já escorada no travesseiro, parecendo pronta para dormir.
ㅡ Ainda? Ficaram lá a tarde toda. ㅡ Pérola foi até a porta do quarto e a abriu. Ela saiu e voltou em menos de cinco segundos. ㅡ Estão lá brincando igual crianças. ㅡ Voltou a se deitar.
ㅡ Em quem vocês vão votar? ㅡ Perguntei, mudando completamente o assunto.
ㅡ Sabe que eu não sei? Não sei nem quem está se candidatando. ㅡ Perola disse com um ponto de interrogação no rosto.
ㅡ Eu também não sei, não. ㅡ Priscila disse, parecendo a única focada no filme.
Dafine não respondeu, já estava dormindo.
Voltamos a prestar atenção no filme e, quando acabou, todas elas já estavam dormindo. Era incrível como nenhuma delas nunca via nenhum filme inteiro.
Saí do quarto delas e percebi que os garotos já não estavam mais na piscina. Na verdade, já eram quase onze da noite e não tinha ninguém na área aberta da pousada.
Me escorei no batente da varanda e observei a praia lá fora. Era uma noite bonita, com céu estrelado.
Uma das portas dos quartos se abriu e eu olhei na direção. Gabriel saiu pela porta com o cabelo molhado e vestindo uma bermuda e chinelos.
ㅡ Oi. ㅡ Disse quando me viu. ㅡ Pensei que vocês já estavam dormindo.
ㅡ Elas estão. ㅡ Sorri ladino. ㅡ Elas sempre dormem. Acho que nunca viram o final de um filme na vida.
ㅡ É. ㅡ Ele riu, se escorando no batente, parando ao meu lado. ㅡ Você vai com a gente?
ㅡ Vou. Vou ficar na casa de uma tia que eu nem conheço. ㅡ Olhei pra ele.
ㅡ Ah, que bom. Eu acho, né. ㅡ Ele riu de novo. ㅡ E o que você está lendo no momento?
Sua pergunta fez aquele sentimento me voltar a tona. Aquele que aquecia o meu peito e me fazia acreditar que ele se importa.
ㅡ Um dos livros que estava no buquê que você me deu. Um favorzinho do vizinho.
ㅡ E é sobre o que? ㅡ Ele continuou me olhando.
Será que ele sabia o quão eu amava falar das minhas leituras?
ㅡ Se passa em Nova York. Eles trocam e-mails e... ㅡ Expliquei tudo o que tinha acontecido até a página que eu estava. Talvez eu tenha falado até demais. ㅡ Me desculpa. ㅡ Interrompi a mim mesma. ㅡ Você perguntou sobre o que e eu faltei ler a história pra você.
ㅡ E qual o problema nisso? ㅡ Ele voltou a sorrir. ㅡ Acho incrível o modo como você explica. Da até vontade de ler.
ㅡ Se quiser, eu te empresto.
ㅡ Quem sabe um dia.
O silêncio tomou conta da nossa conversa, mas não era algo estranho ou constrangedor. Era confortável. Como se nenhum de nós dois nos importassemos com o silêncio, pois gostávamos de estar perto um do outro. Independente se tem assunto ou não.
ㅡ É... ㅡ Gabriel voltou a falar, atraindo meu olhar para ele. ㅡ Não sei como vou te falar isso, mas minha mãe me pediu para te convidar pra jantar lá em casa no domingo.
ㅡ O que? ㅡ Outra pergunta que quase me deixou de queixo caído.
ㅡ Eu meio que falei de você pra ela e agora ela quer te conhecer. ㅡ Ele abriu um sorriso nervoso.
ㅡ Falou de mim pra ela?
•••
Continua..
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