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23_ Oi, mãe

O tio de Marina apareceu para cumprimenta-la. Maicão continuou com a música alta. Alguns hóspedes da pousada se juntaram a nós e logo o aniversário dela se tornou uma grande festa.

Admito que fiquei meio preocupado de fazemos algo assim e ela não se sentir bem. Não tenho a menor ideia do que aconteceu ou o motivo dela não gostar do próprio dia, mas vê-la sorrindo enquanto conversava com as meninas e comia as besteiras, me fez ficar tranquilo.

As horas foram se passando e a minha cabeça começou a doer. Percebi naquele momento que fiquei quase o dia todo sem beber água e provavelmente era esse o motivo. Ou, talvez, seja o Maicão cantando no meu ouvido.

Todos estavam distraídos conversando e rindo entre si, então aproveitei para sair e ir até a área da piscina, onde estava um pouco mais de silêncio.

As luzes estavam baixas ali, a piscina tinha sua luz interna azul acesa e não havia ninguém a vista. Me sentei na beirada da piscina após dobrar a barra da calça para não molhar e puxei o ar com força.

Minha cabeça estava latejando.

Meu celular vibrou no meu bolso e eu o peguei. Era uma mensagem.

Kimberly- Oi, sumido

Encarei a mensagem sem saber o que responder. Eu não estava interessado nela, e nem ela em mim. Kimberly só queria uma aventura e eu caí no caminho dela.

O fato de eu ser um idiota romântico me impedia de achar graça nessas ficadas sem compromisso.

Eu estava prestes a digitar quando ouvi o som da porta se abrir. Marina apareceu usando um daqueles chapéus pontudos de festa na cabeça e com outro na mão.

ㅡ Ta tudo bem? ㅡ Ela se aproximou e se sentou ao meu lado, deixando os pés caírem na água da piscina. ㅡ Você sumiu lá de dentro. O Pedro disse que você devia estar com piriri.

Soltei uma risada imaginando perfeitamente algo assim vindo do Pedro.

ㅡ Eu to bem, só estou com dor de cabeça. A música estava muito alta. ㅡ Observei o chapéu em sua mão. ㅡ Isso é pra mim?

ㅡ Han? ㅡ Ela olhou para a própria mão. ㅡ É. ㅡ Sorriu meio sem jeito.

Marina me entregou o chapéu e eu o coloquei na minha cabeça. Depois me virei para ela para que ela visse se ficou bom. Pela risada dela, acho que deve ter ficado ridículo.

ㅡ O que você estaria fazendo agora, se estivesse na sua cidade? ㅡ Ela perguntou aleatoriamente, enquanto observava a água da piscina.

ㅡ É... Provavelmente estaria na aula de música. ㅡ Apoiei minhas mãos no chão, um pouco atrás do meu corpo.

ㅡ Você faz aula de música? ㅡ Ela me olhou com interesse.

ㅡ Na verdade, eu dou aula de música. Ensino a tocar alguns instrumentos, mas não é nada profissional, é só para algumas pessoas. Não é lá um emprego.

Dali, ainda era possível ouvir a música e a voz de Maicão vindas lá de dentro. Mas, no fundo, também se ouvia o quebrar das ondas na praia.

ㅡ Se você recebe por isso, eu chamo de emprego. E deve ser tão legal trabalhar com música. Quais instrumentos você toca? ㅡ Marina tirou os pés da água e virou o corpo para mim, cruzando as pernas feito índio.

ㅡ Violão, guitarra, bateria e teclado. Já fiz umas aulas de violino, mas faz muito tempo.

ㅡ Isso é tão legal. Eu amo música, mas não sei tocar nada, só canto. ㅡ Ela arregalou os olhos após dizer as duas últimas palavras, como se tivesse contado o segredo mais importante da vida dela que ninguém jamais poderia saber. ㅡ Digo... Eu...

ㅡ Eu sei que você canta, Marina. Eu te vi ouvi cantando Taylor Swift aquele dia. Mas, relaxa. Mesmo que eu queira muito te ouvir de novo... Não vou implorar. O dia que você se sentir pronta, vou estar aqui para escutar.

Sorri para ela que apenas sorriu sem jeito, olhando em volta.

ㅡ Você... Tem algum vídeo tocando alguma coisa? ㅡ Ela voltou a falar.

Peguei o meu celular e procurei na minha galeria algum vídeo. Acabei achando um em que eu estava tocado bateria. Dei play e entreguei o celular para ela.

Marina pegou o celular e se ajeitou ao meu lado, para que eu também pudesse ver.

Acontece que eu não vi, porque ela estava tão perto que eu fiquei apenas olhando para ela enquanto ela via o vídeo.

Marina estava sorrindo, até que seu sorriso se desmanchou lentamente. Sem entender, olhei para a tela do celular e vi outra notificação de mensagem.

Kimberly- Bora sair, gato?

Sem nem terminar de ver o vídeo, Marina me entregou o celular e dobrou os joelhos, abraçando as pernas.

ㅡ Você não vai responder? ㅡ Perguntou após eu ficar uns segundos apenas olhando para a tela do celular.

ㅡ Não, eu... To ocupado. ㅡ Deixei o celular de lado.

ㅡ Tem certeza? Ela é bem bonita. ㅡ Marina arqueou uma sobrancelha com um sorriso maroto.

ㅡ Você achou? ㅡ Balancei a cabeça com indiferença. ㅡ Achei ela normal.

ㅡ Normal? Gabriel! ㅡ Soltou uma gargalhada. ㅡ A garota parece que saiu de um filme. ㅡ Ela me observou, esperando uma resposta, mas continuei balançando a cabeça negativamente. ㅡ Vai mesmo perder a oportunidade de sair com ela só pra ficar perdendo tempo aqui comigo?

ㅡ E por que eu perderia a oportunidade de ficar aqui com você para ficar perdendo tempo lá com ela? ㅡ Marina não sorriu, ela apenas me encarou com aqueles olhos.

Suas bochechas começaram a ficar vermelhas e, novamente, eu quis beija-la. Ela estava tão perfeita sob a luz da área que eu não consegui pensar em outra coisa.

Quando tomei coragem, o celular dela começou a tocar e ela deu um grito com o susto. O grito dela também me assustou e eu quase dei um pulo.

ㅡ Oi, mãe. ㅡ Ela ficou em pé para atender o celular. ㅡ O que? Não, eu... ㅡ Silêncio. ㅡ Não, eu não pedi nada pra ele. ㅡ O tom de sua voz mudou. A garota feliz que estava aqui agora mesmo havia se esvaído, dando lugar a uma tristeza muito aparente. ㅡ Eu não pedi nada pra ele! ㅡ Sua voz embargada obrigou-me a me levantar. ㅡ Hoje é meu aniversário, mãe! Deve ser por isso!

Marina desligou a chamada com lágrimas molhando o seu rosto. Me aproximei dela sem saber o que estava acontecendo, mas ela se afastou.

ㅡ Me desculpa. Eu preciso ficar sozinha. ㅡ E assim ela subiu correndo as escadas e se fechou em seu quarto, me deixando sem saber o que fazer, com uma preocupação enorme no peito.

•••
Continua...

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