19_ Feliz aniversário
Pedro se jogou em cima da gente com tanta confiança que eu não aguentei e soltei uma gargalhada quando Gabriel lhe deu um tapa na nuca. Uma lanterna nos iluminou e Priscila saiu correndo para bater na parede.
ㅡ Pow, Pedro! ㅡ Pedro foi empurrado para fora do tanque enquanto eu não conseguia parar de rir.
ㅡ Foi sem querer! ㅡ Tentou se justificar, mas Gabriel correu atrás dele e os dois saíram dali me deixando sozinha com minha risada.
Parei de rir no momento que percebi estar me sentindo feliz de novo, como daquela outra vez. Eu estava feliz... E isso era bom.
Saí de debaixo do tanque e segui para a área da piscina. Já tinha umas velas espalhadas por aquela área. Para falar a verdade, ficou meio assustador.
ㅡ Falta só a Dafine. ㅡ Priscila voltou a andar pela pousada.
ㅡ Poxa, ela me achou tão rápido. ㅡ Perola riu de si mesma.
ㅡ Ela nos achou por causa do Pedro. ㅡ Gabriel reclamou.
ㅡ Quando eu digo que ele é uma inconveniência, ninguém me escuta. ㅡ Perola assentiu.
Nós brincamos mais algumas vezes, mas não demorou muito para que ficássemos enjoados. Subimos para os quartos, mas ficamos no das meninas.
ㅡ Eu tenho um jogo legal no meu celular. ㅡ Priscila se sentou no chão e cruzou as pernas. ㅡ Diz que tipo de pessoa você é. Começa você, Perola. ㅡ Ela se ajeitou olhando a tela do celular.
ㅡ Por que eu?
ㅡ Porque é a cobaia. ㅡ Pedro deu com os ombros.
ㅡ E você é adotado. ㅡ Perola retrucou.
ㅡ Óh, começa, não. ㅡ Priscila estalou os dedos para chamar a atenção de Perola. ㅡ Ouve aqui... O que você prefere? Pizza ou hambúrguer?
ㅡ Isso vai dizer que tipo de pessoa eu sou? ㅡ Uma careta se formou no rosto de Perola.
ㅡ É, responde! Tem tempo! ㅡ Ela balançou uma das mãos.
ㅡ Ai... Sei lá! Eu gosto dos dois. Eu... ㅡ Foi interrompida.
ㅡ Acabou o tempo. Próximo... Prefere piscina ou praia?
ㅡ Ambos são bons, mas na piscina consigo aproveitar mais porque não sei nadar direito, mas a praia é mais vibe e... ㅡ Foi interrompida de novo.
ㅡ Acabou o tempo.
ㅡ Responde direito, Perola! Sabe brincar, não? ㅡ Pedro voltou a puxar a discussão.
ㅡ Eu vou te chutar de volta pra Rio Bonito, não me estressa, não! ㅡ Ela apontou para ele. Pedro apenas sorriu.
ㅡ Filme ou série? ㅡ Priscila voltou a perguntar.
ㅡ Olha só as perguntas! ㅡ Reclamou. ㅡ Como que eu escolho um negócio desses? Eu gosto dos dois, uai! Por que não pergunta quem eu prefiro entre meu pai e minha mãe ou entre o Pedro e o Saulo? São fáceis!
ㅡ Ó! Já está me ofendendo! ㅡ Pedro novamente. Perola apenas lhe mandou língua.
ㅡ Ok, Pérola... ㅡ Priscila passou o dedo pela tela do celular. ㅡ Você é uma pessoa indecisa, problemática e que, se estivesse numa situação de vida ou morte, morreria sem saber o que fazer.
ㅡ Eu to sofrendo bullying de um aplicativo? ㅡ Perola fez outra careta.
ㅡ Gente... ㅡ Maicon estalou os dedos para que ficássemos em silêncio. ㅡ Cheiro de Maconha.
ㅡ Meu Deus, Maicão, do nada? ㅡ Saulo começou a rir.
ㅡ Ué, to sentindo. Ta vindo do corredor. Tem alguém fumando maconha da pousada do seu tio, Loirinha. ㅡ Maicon inclinou-se para a porta e olhou lá fora.
ㅡ Aposto que é aquela fresca que não come feijão. Mó cara de nóia. ㅡ Dafine revirou os olhos.
ㅡ Você não disse que ia parar de julgar as pessoas? ㅡ Priscila arqueou uma sobrancelha para sua amiga.
ㅡ Quem está julgando as pessoas? Eu não disse nada. Nada! Alguém me viu abrir a boca para julgar alguém? ㅡ Dafine tocou o próprio peito.
ㅡ Faz da Dafine. ㅡ Perola pediu.
ㅡ Ok... ㅡ Priscila seguiu com as perguntas até conseguir formar o perfil de Dafine segundo o app. ㅡ Aqui diz que você é altamente egocêntrica. Uma pessoa que gosta de reclamar da vida e que julga a vida alheia. ㅡ No meio da frase Priscila já estava gargalhando.
ㅡ Esse app é brabo mesmo, em? Acertou certinho a personalidade da Dafine. ㅡ Gabriel comentou segundos antes de levar um empurrão de Dafine. Empurrão esse que o fez esbarrar em mim e me desequilibrou por um momento, tanto física quando mentalmente.
ㅡ Como essa droga de aplicativo sabe disso perguntando se eu prefiro frio ou calor, salgado ou doce? ㅡ Questionou, Dafine, com as mãos na cintura, citando duas das várias perguntas que o app fez.
ㅡ Ele é muito sábio. ㅡ Priscila assentiu. ㅡ Quem é o próximo?
ㅡ Que tal você? ㅡ Gabriel olhou para mim.
ㅡ Loirinha? Ok. ㅡ Priscila concordou com a cabeça e se virou para mim ainda sentada no chão. ㅡ Vixi, essa daqui tem três opções. ㅡ Passou o dedo pela tela do celular e ajeitou a postura. ㅡ Andar de carro, bike ou a pé?
ㅡ Bike. ㅡ Respondi de imediato. Eu sempre gostei muito de andar de bicicleta, mas não para ir a lugares, mas sim para esvaziar minha mente. Gosto de andar por lugares tranquilos e só... Respirar.
ㅡ Série, filmes ou livros?
ㅡ Livros.
ㅡ Azul, preto ou vermelho?
ㅡ Azul.
As perguntas foram se seguindo, a maioria bem aleatória. Até sabor de bolo perguntou e me senti estranha por estar expondo meus gostos. Amo bolo de morango, mas nunca contei a ninguém porque nunca pareceu que alguém se importasse em saber disso. É claro que ali eles não estavam interessados em saber meu sabor favorito de bolo, mas ainda assim eu estava expondo isso e era bem estranho.
ㅡ Ok, você é uma pessoa com um potencial incrível e é ótima em tomar decisões, porém se esconde e não deixa que as pessoas percebam isso. É como uma estrela que brilha para dentro. ㅡ Engoli em seco ao ouvir a descrição do aplicativo.
ㅡ Uma estrela que brilha pra dentro? ㅡ Pedro enrugou o nariz.
ㅡ Quer dizer que ela é uma ótima pessoa, mas ninguém sabe disso porque ela não demonstra, anta. ㅡ Perola explicou com sua paciência e delicadeza.
ㅡ Anta é seu pai!
ㅡ Ahn... ㅡ Pérola se preparou para contradizer, mas parou antes mesmo de falar. ㅡ Concordo.
ㅡ Quem é agora? ㅡ Priscila balançou o celular.
ㅡ GB. ㅡ Maicon sugeriu.
As perguntas para Gabriel se iniciaram e ao final Priscila leu:
ㅡ Você já sofreu muito e por isso é inseguro. Está na hora de esquecer e seguir em frente. ㅡ Priscila leu e ela mesmo fez uma careta depois. ㅡ Esse app é bem estranho, na verdade.
ㅡ Eu acho que a Priscila ta inventando isso tudo. ㅡ Perola cruzou os braços.
ㅡ Tua cara! ㅡ Virou a tela do celular.
A luz acabou voltando, o que tirou nossa atenção do tal app. Depois de uma certa hora, cada um foi para seu quarto e eu fiz o mesmo. Me joguei na cama após tomar um banho e vestir um pijama.
Me peguei sorrindo. O dia tinha sido tão legal. Eu estava me sentindo feliz, mas essa felicidade evaporou no momento que me lembrei que um dia eles voltariam para suas vidas e eu voltaria a ser a anti-social sem amigos.
[...]
A terça-feira passou rápido. Muito rápido. Talvez porque, após fazer o almoço, fui a livraria da cidade para ler. Quando me dei conta, já era cinco da tarde, e aí voltei pra pousada.
Quando cheguei, já estava escurecendo. Não vi sinal do pessoal, a pousada estava bem silenciosa. Tomei um banho e fui até a cozinha para fazer um sanduíche, porque estava morrendo de fome. Voltei para o quarto e o comi assistindo televisão.
Como imaginei ontem, meu dia não foi lá de grandes aventuras, já que não estive com o pessoal. Foi um dia normal na minha vida, em que eu apenas vivi coisas através dos livros. É claro que não estou reclamando, é ótimo viver coisas pelos livros, mas... Viver de verdade era muito melhor.
Começou a ficar tarde e eu comecei a ficar com sono. Abaixei um pouco o volume da televisão e me sentei na cama apoiando as costas na parede. Dobrei os joelhos e os abracei.
Será que eu era mesmo uma estrela que brilhava para dentro?
Batidas na porta do meu quarto me assustaram. Puxei o meu celular e me dei conta de que já eram onze da noite. A hora havia passado muito rápido.
Me levantei da cama coçando os olhos e abri a porta.
ㅡ Gabriel?? ㅡ Arregalei os olhos. Eu estava com um pijama branco com pequenas cerejas espalhadas por ele e o cabelo em duas tranças de maria chiquinha.
ㅡ Oi, posso entrar? ㅡ Ele sorriu. Notei que segurava umas sacolas.
ㅡ Po-pode. ㅡ Gaguejei dando espaço para que ele entrasse. ㅡ Onde está o pessoal? ㅡ Perguntei quando me dei conta de que ele estava sozinho.
ㅡ Estão na rua, eu estava com eles mas voltei quando vi a hora. ㅡ Se sentou na minha cama. ㅡ Você já jantou? Eu trouxe salgadinhos. ㅡ Abriu a sacola e tirou umas embalagens de alumínio de dentro. Fechei a porta atrás de mim me sentindo envergonhada com a situação, mas me aproximei dele. ㅡ Tem kibe, enroladinho de salsicha, coxinha, bolinha de queijo e risole. ㅡ Olhou para mim com um sorriso. Ele parecia bem contente, para falar a verdade. ㅡ Trouxe refrigerante também. ㅡ Tirou duas latas da sacola. ㅡ Mas, também trouxe suco, caso você não beba refrigerante.
ㅡ Por que isso tudo? ㅡ Me sentei na cama deixando a comida entre nós. Meu quarto estava com a luz apagada, tudo que iluminava ali dentro era a televisão.
ㅡ Nada. ㅡ Ele deu com os ombros sem tirar o sorriso do rosto. Encarou a televisão. ㅡ Só pensei que gostaria de companhia. ㅡ Gabri tirou seu tênis, o empurrou para baixo da cama, se achegou para trás esticando suas pernas e apoiou as costas na parede.
Devagar, fiz o mesmo, sentando-me da mesma maneira, apenas com as comidas e bebidas nos separando.
Os próximos minutos foram seguidos apenas de risadas e nada mais. Não dissemos uma palavra um ao outro, apenas a televisão falava ali. Enquanto Vai que cola passava nós comiamos e apenas riamos.
ㅡ Opa... ㅡ Gabriel olhou em seu telefone. ㅡ Meia noite. ㅡ Ele se levantou, limpou a mão num guardanapo, parou em pé de frente para mim e abriu os braços.
ㅡ O que? ㅡ Fiz uma careta.
ㅡ Feliz... Quarta-feira. ㅡ Voltou a sorrir.
Naquele momento fiz o possível para segurar a vontade de chorar. Eu não estava entendendo o motivo de ele estar ali perdendo tempo comigo, mas ele apenas estava esperando dar meia noite e ser meu aniversário. Ele queria me parabenizar pelo meu aniversário. Alguém estava se lembrando do meu aniversário.
ㅡ Meus braços estão doendo... ㅡ Ele cantarolou.
Eu praticamente pulei da cama e lhe abracei. Fui rapida para evitar que o choro me dominasse. Senti seus braços me abraçaram e me agarrei aquilo.
ㅡ Feliz aniversário, Marina. ㅡ Ouvi sua voz perto do meu ouvido. ㅡ Sei que não gosta de comemorar, mas estarei do seu lado hoje o máximo que eu puder para garantir que você aproveite bem e passe a gostar de hoje. Afinal... É o seu dia. Então, precisa ser tão incrível quanto você é.
•••
Continua...
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