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14_ Aniversário

Aniversário.

Acho que meu aniversário era a data comemorativa que eu menos gostava. Sei que muitas pessoas amam seus aniversários, aguardam ansiosas por seus dias e aproveitam ao máximo. Mas, eu... Nunca senti que o dia do meu aniversário era realmente meu.

...

Dois anos atrás

Naquele dia eu acordei mais velha. Finalmente 18 anos. Nem acredito. Durante a minha adolescência idealizei os dezoito anos como a idade da liberdade. Pensava que nessa idade já estaria me formando, indo para a faculdade, namorando e deixando de ser a tímida excluída.

Ilusões de uma adolescente.

Hoje eu fazia dezoito anos e absolutamente nada havia mudado na minha vida desde então. A única coisa que realmente estava acontecendo era o fato de eu estar me formando, mas... O resto... Eu não tinha passado para faculdade, estudaria mais um ano em casa até conseguir prestar o vestibular de novo, eu estava longe de conseguir um namorado, já que nem amigos homens em tinha, nem mulheres, né? Para ser mais exata. O que também deixa claro que a minha neta de já não ser uma excluída tímida também não rolou.

Levantei da cama naquele dia não sentindo nada diferente. Me arrumei para ir a escola e passei pela cozinha. Minha mãe estava tomando café enquanto falava com alguém no telefone, alguém do trabalho, provavelmente. Parei na frente da mesa, mas ela apenas me olhou e logo voltou a encarar sua caneca branca de porcelana.

Como eu disse, mais um dia normal.

Fui para a escola de bicicleta, deixei-a na entrada e passei pelos corredores lotados de alunos. Abri a porta da minha sala e fui pega de surpresa quando vi a sala toda enfeitada. Bolas, cartazes, frases escritas no quadro, uma mesa com bolo e todos usando aqueles chapéus pontudos de festas.

SURPRE... ㅡ Pararam de gritar.

ㅡ Ah, qualé? Entra logo, Marina. ㅡ Um dos rapazes empurrou o meu braço para que eu saísse da frente. Assim que saí do caminho, Ana Clara entrou na sala.

ㅡ SURPRESA! ㅡ Todos gritaram fazendo a garota sorrir e se sentir especial por aquele ser o seu dia.

Me sentei no meu lugar, ao lado da janela, e coloquei a minha mochila sobre a mesa. Observei a cena de todos cantando parabéns empolgados. O professor chegou a sala, mas não interrompeu a comemoração, apenas se juntou a eles.

Eu precisava mesmo fazer aniversário no mesmo dia da garota mais popular da sala?

Encarei a janela me perguntando se ao menos minha mãe se lembraria. Meu pai estava viajando a trabalho, de novo, então não estaria presente em casa hoje.

ㅡ Mari? ㅡ Parei de encarar a janela quando ouvi a voz de Ana Clara perto de mim. Ela me estendeu um pedaço de bolo e sorriu. ㅡ Parabéns. ㅡ E assim voltou para junto de seus amigos.

Observei a fatia de bolo com recheio de doce de leite e suspirei.

Aquele dia se seguiu normal. Como eu disse, era um dia normal. Aulas, aulas, aulas e volta para casa. Adentrei a sala da minha casa e me surpreendi quando vi uma embalagem de presente retangular sobre o meu sofá. Franzi as sobrancelhas e me inclinei para tentar enxergar minha mãe, sua voz vinha da cozinha.

Me sentei no sofá puxando a etiqueta, etiqueta que continha o meu nome e um Feliz aniversário.

Foi inevitável sorrir.

Um pingo de esperança surgiu no meu peito quando pensei na possibilidade da minha mãe ter se lembrado que hoje era meu dia.

ㅡ Ah, você chegou. ㅡ Ela pareceu na sala, ainda com o telefone pendurado na orelha.

ㅡ O que é isso? ㅡ Perguntei. Eu ainda estava sorrindo. Sorrindo feito uma boba.

ㅡ Seu pai mandou para você por algum motivo. ㅡ O por algum motivo desmanchou o meu sorriso no mesmo instante.

Abri a embalagem me deparando com um livro.

ㅡ Um de nós está mentindo. ㅡ Falei para mim mesma observando a capa do livro. Livro esse que eu já tinha e já tinha lido. Mas, mesmo assim sorri de um modo meio fraco. Ao menos ele se lembrou de mim.

Enquanto ainda conversava com a pessoa no telefone, minha mãe puxou a etiqueta por curiosidade. Sua expressão não mudou nada quando ela leu o Feliz aniversário.

Ela apenas me observou e voltou a cozinha. Minha mãe não era boa em se desculpar, ou agradecer, ou dizer qualquer coisa que não seja o básico, como bom dia ou não seja estúpida.

Voltei pro quarto me conformando de que ela não voltaria. Coloquei o livro na estante e me joguei na cama. O vibrar do meu celular me chamou atenção.

Pai- Espero que goste do presente. Não vou conseguir chegar a tempo.

Marina- Eu amei. Estou ansiosa para ler.

Joguei o celular de volta na cama e tomei uma decisão: não criaria mais expectativas para o meu aniversário. Tentarei esquecer que é meu aniversário e agir como se fosse um dia qualquer. Sem expectativas, sem decepções.

...

ㅡ Não conta pra ninguém, por favor! ㅡ Implorei.

ㅡ Por que? É o seu aniversário. A galera ia gostar de fazer algo pra você. ㅡ Gabriel respondeu estranhando o meu pedido.

ㅡ Eu não gosto dos meus aniversários. ㅡ Encarei a piscina novamente. ㅡ Não quero que ninguém saiba. Por favor, me promete? ㅡ Ele não me respondeu. ㅡ Por favor, Gabriel! Me promete! ㅡ Segurei seu ombro e comecei a balança-lo de um lado para o outro.

ㅡ Tudo bem, eu não conto. Vai ser nosso segredo. ㅡ Estendi o meu dedo mindinho para ele. Ele riu na hora, mas quando percebeu que eu estava falando sério, ele concordou e apertou seu mindinho ao meu. ㅡ Mas, vou te dar um presente.

ㅡ Ah, não, Gabriel. Não precisa, juro!

ㅡ Não vai ser de aniversário, vai ser... Quarta-feira. ㅡ Fiz uma careta. ㅡ Um presente para te desejar uma feliz quarta-feira. Só isso.

Observei-o. Ele parecia certo de fazer aquilo e nada que eu dissesse o faria mudar de ideia. Acabei assentindo.

ㅡ Mas nada muito caro. Não quero incomodar. ㅡ Apertei o livro em minhas mãos.

ㅡ Você não é incômodo. ㅡ Senti que ele estava me olhando. Tentei a todo custo não o olhar de volta, mas meus olhos foram teimosos e eu virei meu rosto para ele, encontrando seus olhos. ㅡ As vezes sinto que você se trata como se fosse incômodo para as pessoas, mas você está longe de ser isso. Não sei se já notou, mas você é gentil. É meiga. É engraçada. É... Natural. Você não força ser o que não é, só... Se esconde. ㅡ Ele direcionou sua mão até meu cabelo e tirou algo dele, parecia um fiapo, logo o jogou lá embaixo. ㅡ Não devia se esconder.

Senti o meu coração acelerar de repente. Acelerar de um jeito estranho, de um jeito alto. De um jeito que pensei que estava morrendo.

•••
Continua...

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