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08_ Música ao vivo

ㅡ Eu só acho que os meninos deveriam ser cavalheiros hoje e pagar a conta. ㅡ Perola comentou enquanto andávamos pela calçada. Deviam ser quase oito da noite e estávamos indo para o centro de Saquarema. A ventania que vinha do mar não deixava o meu cabelo quieto um segundo sequer.

ㅡ Que isso? ㅡ Gabriel fez uma careta. ㅡ Tu que é a rica do bonde.

ㅡ Exato. ㅡ Maicon assentiu.

ㅡ Do jeito que vocês estão me extorquindo, vou ficar pobre já já. ㅡ Perola balançou a cabeça.

Estávamos rindo, mas fomos interrompidos por Pedro que, completamente do nada, tropeçou na calçada e caiu no meio da rua.

ㅡ Que isso, Pedro? Ta bêbado já? ㅡ Dafine fez uma careta enquanto Perola estava quase se ajoelhando no chão morrendo de rir.

ㅡ Meu amor! Cuidado! ㅡ Priscila se abaixou para ajuda-lo a levantar.  ㅡ E se passasse um carro?

ㅡ Não tenho tanta sorte. ㅡ Perola enxugou as lágrimas que estavam em seus olhos após conseguir se recuperar da gargalhada.

ㅡ Ta achando que vai se livrar assim de mim? O dia que eu morrer, volto para te assombrar nos sonhos. ㅡ Pedro apontou para Perola. Os dois seguiram discutindo até finalmente chegarmos ao centro. Eles discutem bem mais do que é descrito no livro.

O centro da cidade estava cheio. Todos os restaurantes abertos, a feira de artesanatos também, a pracinha repleta de crianças e a pista de skate de adolescentes. Também havia músicas diferentes vindas de vários lugares, incluindo os postes que tinham, cada um, uma caixa de som tocando a mesma música.

ㅡ Maicão ta em casa em, Maicão! ㅡ Saulo deu um tapa nas costas de Maicon, que logo abriu um sorriso e começou a sambar.

ㅡ Eu to com fome, vamos sentar em algum lugar logo. ㅡ Dafine disse olhando em volta. ㅡ Ali! Não é ali que vocês queriam comer? Onde tem música ao vivo?

ㅡ Ai, aquele moço canta muito bem. Vamos lá. ㅡ E assim seguimos para o restaurante que tinha mesas e cadeiras tanto fora, quanto dentro. Porém, a maioria das pessoas estavam sentadas ao lado de fora para ver o rapaz tocar e cantar.

É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã... ㅡ  O rapaz cantava enquanto tocava o violão.

ㅡ Você podia tocar em, GB. ㅡ Pedro sugeriu assim que nos sentamos a mesa.

ㅡ Não acho que seja uma possibilidade. Ele é pago para fazer aquilo, não é voluntário. Não é todo mundo que pode ir lá. ㅡ Gabriel explicou puxando um dos cardápios para si.

ㅡ Obrigado, obrigado. ㅡ O rapaz agradeceu enquanto as palmas soavam. ㅡ Preciso beber uma água e dar uma descansada agora. Deixaremos outras músicas tocando, a não ser que algum de vocês queira tocar. O microfone está livre. ㅡ Gabriel parou de encarar o cardápio e se deparou com todos da mesa o encarando com um sorriso.

ㅡ Que foi? ㅡ Ele perguntou.

ㅡ Vai lá tocar. ㅡ Perola pediu.

ㅡ Eu não... ㅡ Gabriel olhou para o microfone e o violão posicionados lá na frente.

ㅡ Vai, cara! A gente sabe que você não canta lá essas coisas, mas você toca bem e isso disfarça. ㅡ  Rimos da careta que o Gabriel fez com as palavras de Saulo.

ㅡ Ó, se você não for eu vou lá, em! E você sabe que eu vou. ㅡ Maicon se colocou de pé.

ㅡ GB, ele vai expulsar todo mundo do restaurante. Vai!! ㅡ Dafine praticamente implorou.

ㅡ Ai, tá bom! Ta bom! ㅡ Gabriel ficou de pé, ajeitou sua blusa e caminhou por entre as mesas para ir até lá na frente.

ㅡ Arrasa, GB! ㅡ Priscila gritou. ㅡ Ei... ㅡ Ela me olhou. ㅡ Você não disse que canta?

ㅡ Eu?? ㅡ Arregalei os olhos só de me imaginar cantando na frente de todas aquelas pessoas. Pois não era só o pessoal do restaurante que assistia, como quem passava na rua também. Era muita gente. Eu não cantava nem na frente da minha família!

ㅡ É, eu lembro de você dizer que canta. ㅡ Pedro assentiu.

ㅡ Não, eu não disse. Vocês deduziram. ㅡ Puxei o cardápio para tapar o meu rosto.

ㅡ Eu me lembro bem dela dizer que cantava melhor que todo mundo aqui e que ia nos humilhar quando tivesse a chance. Disse até que ganhou o The Voice. ㅡ Abaixei cardápio com os olhos arregalados e encarei Maicão.

ㅡ A gente está brincando, Marina. ㅡ Priscila disse rindo. Só nesse momento meu coração voltou a bater normalmente.

ㅡ A gente é assim, mas não vamos obrigar você a fazer algo que não se sinta confortável. O GB a gente obriga porque... Porque... Porque sim. ㅡ Perola deu com os ombros.

ㅡ E porque ele já tocou em público muitas vezes, então sabemos que isso é moleza para ele. ㅡ Dafine finalizou a explicação e eu assenti.

Estava encarando o cardápio sobre a mesa quando ouvi o som do violão. Meus olhos foram instantaneamente na direção de Gabriel, que estaca sentado num daqueles bancos altos. O violão estava apoiado em sua perna e o microfone estava posicionado na frente da sua boca.

A melodia da música se seguiu até que ele se inclinou para a frente e fechou os olhos.

Não se admire se um dia
Um beija-flor invadir
A porta da sua casa
Te der um beijo e partir
Fui eu que mandei o beijo
Que é para matar meu desejo
Faz tempo que eu não te vejo
Aqui que saudade d'ocê... ㅡ  Por terem o zoado, falando que ele não sabia cantar direito, eu não estava esperando muito. Porém, eu fiquei meio que hipnotizada no momento que ele começou a cantar.

Gabriel cantava muito bem!

Eu conhecia aquela música e ela era muito fofa. Amava ouvir. Geralmente, eu cantarolaria junto, só para mim, mas eu não consegui. Tudo o que fiz foi admira-lo enquanto ele cantava e tocava. Tudo ali tinha tanta harmonia que, quando ele terminou, me peguei sorrindo.

Os aplausos soaram, Gabriel abriu os olhos e ao mesmo tempo um sorriso. Ele agradeceu, colocou o violão de volta no lugar e voltou na nossa direção.

Percebi que ainda estava sorrindo feito uma boba, então tratei de parar e apenas voltei a me sentar virada para a frente.

ㅡ Olha ele! Arrasando corações em Saquarema! ㅡ Dafine disse apontando com a cabeça para um grupo de quatro meninas que estavam sentadas ao nosso lado, atrás dela e do Gabriel. Gabriel se sentou na cadeira a frente da minha, como antes, e olhou para trás, encontrando as garotas sorrindo para ele e cochichando entre si.

ㅡ Parece mais que estão zombando de mim. ㅡ Gabriel disse balançando a cabeça enquanto ria.

ㅡ Ah, deixa de ser lerdo! ㅡ Pedro lhe deu um tapa no ombro.

ㅡ Olha quem fala! ㅡ Perola arqueou as sobrancelhas para Pedro. ㅡ Levou uma vida para perceber que a Priscila gostava de você e eu que tive que dizer ainda, atraindo ele até a cozinha dizendo que tinha bolo.

ㅡ Espera, VOCÊ contou pra ele que eu gostava dele?? ㅡ Priscila arregalou os olhos. Dessa vez foi Pérola quem puxou o cardápio para cobrir o rosto. Ela se arrastou pela cadeira até ficar com o corpo quase todo embaixo da mesa.

ㅡ Briga, briga, briga! ㅡ Os meninos falaram enquanto observavam a cena.

ㅡ Perola, você... ㅡ Priscila foi interrompida por Pérola que apontou para o microfone novamente.

ㅡ Olha Maicão! ㅡ Todos olhamos para o microfone e lá estaca Maicão com ele na mão.

ㅡ Vamo comigo...  No dia em que eu saí de casa
Minha mãe me disse: Filho, vem cá... ㅡ Maicon começou a cantar à capela e não demorou muito para que as pessoas que estavam no restaurante começassem a cantar junto dele. No meio da música ele começou a balançar um braço de um lado para o outro e as pessoas a balançar o celular com a lanterna ligada. Foi engraçado, pois Maicon não sabe cantar e desafinou milhares de vezes, mas foi, com certeza, uma noite que eu nunca me esqueceria.

•••
Continua...

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