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CAPÍTULO 12 - SEM MÁSCARA

Do mesmo modo que a conduziu até a igreja, Roger Bellingham acompanhou Susan até sua casa, caminhando ao lado dela, sem se atrever a lhe oferecer o braço. Não disseram uma única palavra o caminho todo, mas Susan sentia, mais do que percebia, o olhar dele deslizando para ela a cada poucos segundos, e estava certa de ter feito o mesmo algumas vezes. E naquele momento a partida anunciada de Roger fazia aumentar a dor em sua alma. Pois se ele não podia ficar por ela, e talvez não fosse mais regressar à cidade, então porque lhe dar um pequeno momento de esperança, para, em seguida, abandoná-la? Era melhor que ele nunca tivesse demonstrado nenhum afeto, do que deixá-la pensar que o pouco que havia não era suficiente para fazê-lo ficar.

Ao parar em frente ao jardim de sua casa, Roger Bellingham se virou e segurou a mão de Susan. Ela esperou que ele erguesse sua mão e a beijasse, mas ele se deteve no meio do caminho, encarando-a com o olhar angustiado.

– Agradeço muito sua ajuda, Sr. Bellingham – disse Susan, finalmente rompendo o silêncio.

Ele assentiu, acanhado.

– Gostaria de poder levar Anne amanhã para lhe agradecer também pessoalmente... – Susan começou a dizer, e para seu desespero, ouviu o tremor em sua voz, apesar de todo o esforço que estava fazendo para se controlar, e evitar que ele percebesse sua angústia.

– Infelizmente, isso não vai ser possível – respondeu Roger suavemente, parecendo sofrer infinitamente ao dizer estas palavras.

– Sim, eu sei... – murmurou Susan, e sua voz saiu quase como um lamento. Sentia-se desconcertada com a proximidade dele, e por ainda estar segurando sua mão, mas intimamente desejava que não a soltasse.

– Eu sinto muito – disse Bellingham, acariciando os dedos dela com o polegar.

E Susan não tinha certeza se ele se referia à Anne ou ao beijo na igreja.

– Eu também – disse Susan, friamente. No fundo não importava; ela lamentava as duas coisas.

Os olhos de Roger faiscaram dentro dos de Susan, tornando sua angústia ainda mais evidente. Então de repente ela percebeu o real motivo de seu pedido de desculpas: Roger era um Griplen; e Anne estava prestes a se tornar mais uma vítima da maldição que sua família havia trazido para essa cidade.

– Mas nada disso é culpa sua – acrescentou Susan, um pouco mais suavemente.

– Talvez seja – sibilou ele, fitando os dedos dela em sua mão.

– Como poderia? – ela perguntou, ainda mais desconcertada. – Não foi você quem começou isso.

Ele apertou os olhos um instante, e cerrou a mandíbula. Quando ergueu os olhos novamente para ela, estavam nublados de lágrimas.

– Acredite que me dói de verdade fazer parte disto. – A voz dele saiu rouca e profunda, e ele deu mais um passo para junto dela.

– Sr. Bellingham... – começou Susan, esforçando-se para manter as próprias lágrimas dentro dos olhos.

Mas ele lhe interrompeu, pousando um dedo sobre sua boca. Então ele sorriu sem humor, e logo seu olhar escureceu – talvez de tristeza, talvez de vergonha.

– É um nome estúpido que eu inventei... – sibilou ele, segurando ternamente o rosto dela em sua mão. – Uma máscara nojenta para esconder quem eu realmente sou, e todo o tormento que meu nome carrega. Mas eu te prometo, Susan: você ouviu meu nome pela última vez.

Uma lágrima traiçoeira escapou dos olhos de Susan, fazendo transparecer que seu coração estava despedaçado. Tinha sonhado tanto com o amor de Roger, mas seu romance não preencheria sequer uma página de um diário. E isso fazia seu coração doer como se tivesse sido atravessado por uma agulha.

– Seu nome não diz quem você é – argumentou Susan, tentando convencer a si mesma de que era inútil. Via nos olhos de Roger que ele não voltaria atrás. – E se te traz dor, enterre-o, e adote o nome de Bellingham como seu para sempre.

Ele sorriu, enquanto uma lágrima lhe escapava dos olhos.

– Queria ter conhecido você em outra vida – sibilou ele, apertando-a num abraço.

Mas logo respirou fundo, e sem soltá-la, corrigiu-se:

– Não... Não me atreveria... Você é boa demais. Meu destino não devia tocar o seu.

Susan o apertou junto de si, e neste momento não importava que estivessem no meio da rua, à vista dos vizinhos. Não seria capaz de trocar os braços de Roger por nenhum pudor moral, mesmo que isso lhe custasse sua reputação.

Ele recuou um instante, e apertou seus lábios nos dela pela última vez.

– Adeus, Susan – sussurrou ele, afastando-se lentamente.

Ela não conseguiu abrir os olhos por quase um minuto, enquanto ele se afastava. E quando finalmente pôde abri-los, como um sonho, ele já havia desaparecido.

Susan entrou em casa silenciosamente, sentindo que seus pés pesavam uma tonelada. Havia uma dor em seu peito que ela discernia bem: a dor do coração partido; e outra dor que ela apenas compreendia porque as palavras de Lizbet e do Reverendo Bichop ainda martelavam em seus pensamentos: o espírito atormentado de Robert Griplen estava burlando vigílias há duzentos anos, e nunca lhe escapou uma noiva! De modo que ela temia, acima de todas as outras coisas, que naquela noite o cordão umbilical invisível que a unia à Anne se partisse, e ela não pudesse evitar que a irmã fosse levada por ele para se tornar mais uma sereia nas profundezas do mar de Salem; mais um nome na lista de mulheres desaparecidas no aniversário da tragédia dos Griplen.

Susan foi até o quarto da irmã, e viu que Anne tirava a sesta. Sua fraqueza era cada vez mais notória. Talvez o excesso de sono fosse uma maneira de Robert manter suas noivas sob seu encanto. Pensando nisso, Susan quis acordá-la, mas Anne parecia tão serena enquanto dormia, que ela não teve coragem de perturbar seu descanso. Então, fechou a janela e se recostou na poltrona para vigiá-la, mas estava tão exausta que também acabou pestanejando por alguns minutos.

Suas lembranças iam e voltavam dos registros que descobrira na igreja à despedida dolorosa de Roger, fazendo-a ter sonhos nebulosos e incompreensíveis.

De repente Susan viu o mascarado entrar pela janela do quarto, carregando consigo aquele doce e familiar odor de jasmim, que ao mesmo tempo lhe encantava e dava vertigem. Ela tentou abrir os olhos para conferir se ele era mesmo real, todavia as pálpebras pesavam assombrosamente, e suas forças não eram suficientes para transpor o peso delas. Ele usava o mesmo fraque elegante com que vinha até elas todas as noites, mas havia algo diferente e ainda mais encantador em seu sorriso, quando ele se aproximou e pôs um anel muito caro em seu dedo.

Susan esquadrinhou os olhos azuis através da máscara veneziana: um tom que ao mesmo tempo lhe fascinava e causava horror.

O mascarado lhe estendeu a mão, e a convidou para uma dança silenciosa. Ela se levantou sem resistir, e permitiu-se valsar por algum tempo em seus braços, enquanto ele sussurrava palavras de amor em seu ouvido com uma voz suave e aveludada.

De repente o homem se afastou dela e estendeu a mão para Anne, que já se levantava da cama. Susan assistiu, com inexplicável ciúme, a valsa que sua irmã dançava com o mascarado.

Até que Anne tocou o rosto dele. O coração de Susan se apertou no peito e ela se esqueceu de respirar, aguardando com ansiedade que Anne removesse a máscara.

Então, os olhos de Susan se encheram de pavor. Sua cabeça girava vertiginosamente, tomada pelo assombro: diante dela, com os braços em volta de Anne, o rosto que lhe encarava era o de Roger Bellingham.

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