Reencontro e o "Passeio" no Shopping
Dois anos depois.
Batom e lápis de olho, ok
Vestido tubinho vinho que serve como para um jantar ou para uma balada, ok, também.
Aquele salto doze, bico fino caríssimo, mas que é tão causante que foi impossível deixá-lo exposto sozinho numa loja, mais que ok.
Tudo pronto para comemorar um dia importantíssimo do meu calendário. O nosso segundo aniversário de amizade. Parece que foi ontem que aceitei ser amiga de um gato, mais do que gostoso, com olhos de céu noturno e covinhas lindas chamado Cristiano Valle.
Falando nele, o meu telefone toca com uma mensagem:
"Lelê, estou chegando em vinte minutos. Cris".
Faz tempo que não o vejo. Para ser exata duas semanas. Tudo por causa de um problema de fusão na Cosmos que não permitiu que as nossas férias fossem em conjunto como tínhamos feito ano anterior. Aí do nada ele me conta de uma viagem de duas semanas no período. O pior de tudo foi a maneira que o dito cujo me informou do fato:
"Já fazia um tempo que havíamos decidido que nos feriados iriamos assistir filmes durante a tarde. Numa conversa a mais de um ano, acertamos que os feriados seriam para os amigos. Então formamos a nossa panelinha: Vi, Lucas, Cris e eu.
Tudo aconteceu no dia sete de setembro. Desta vez a tarde de cinema foi feita na minha casa.
Vi e Lucas chegaram atrasados, mas o Cris conseguiu extrapolar o conceito de atraso. Porém ele foi perdoado com um empadão de frango e uma torta alemã cheia de chocolate que salvou a noite.
Fazer o quê? Mesmos depois das minhas aulas de culinária com a Marta, meus dotes culinários não se comparam aos dele. Ele é praticamente um chefe de cozinha refinado e talentoso e eu sou a moça que pede pizza e sanduíches por telefone, porquê algo na cozinha não deu certo.
O único problema dos nossos feriados de cinema, é a escolha dos filmes. Porque Lucas gosta de filmes de ação, Vi ama os romances, Cris prefere ficções científicas e super-heróis e eu curto um terror de arrepiar os cabelos. A causa da discórdia é a pergunta: "Quem escolhe o primeiro filme"?
Para acabar de vez com isso, decidi fazer um sorteio de quem iria escolher o primeiro filme. Mas para tristeza de todos faltou luz na hora; então decidimos comer toda as gostosuras que Cris trouxe.
Mas só quando já está bem tarde da noite que ele diz:
— Pessoal. Amanhã estou indo embora em uma viagem de duas semanas e vou ficar offline total! ― Informa ele, como se falasse que a previsão do tempo para o dia seguinte fosse de sol forte e sem nuvens para o dia todo.
E como eu fiquei com essa história? FURIOSA, POSSESSA, IRRITADA E OUTRAS COISAS QUE NÃO CONSIGO DESCREVER EM PALAVRAS.
Ele bem que podia ter me contado antes. Almoçamos juntos todos os dias de semana. Custava falar para mim antes? Mas não, ele prefere fazer isso na véspera da viagem.
Isso acabou com a minha noite. Ele bem tentou argumentar dizendo que o Eduardo tinha organizado tudo sobre a viagem para esse tal retiro de tecnologia. Me pediu desculpa dizendo que traria algo para mim da viagem. Mesmo chateada com o babaca, preferi o perdoar. Vai pensando que eu, Letícia Serra, iria ficar remoendo durante duas semanas essa situação toda.
Ouço o barulho de buzina na frente de casa e Encantado solta um miado alto.
― Acho que ele chegou, Encantado ― Anuncio animada, retocando o batom vermelho no espelho do banheiro. O meu gato lindo está na porta me olhando, e mexendo com o seu rabo fofinho.
Em menos de cinco minutos, pego uma bolsa, me despeço do Encantado e saio da minha residência. Mas nada me prepara para o que vejo quando viro em direção à rua de frente, onde tem um carro parado.
Essas duas semanas fizeram um bem danado ao bonitão, que está parado encostado no capô do carro com um lindo presente na mão.
― Cris. ― Corro para o abraçar.
― Lelê ― diz ele, me pegando no ar. ― Que saudade eu tava de você, Doida!
Para, Lelê. Pensa que no quanto ele é seu amigo.
― Que bom que você chegou, Cris ― falo, me afastando de seu abraço.
Não é bom para a minha sanidade ficar muito perto. Meu corpo tem reações estranhas quando ele está por perto. Tipo, querer bagunçar aqueles cabelos negros, arranhar suas costas, morder seu ombro e outras coisas que prefiro não ficar pensando agora.
Lembra das regras, Letícia. As Regras.
― Você bem que podia surrupiar um telefone para falar com a gente ― reclamo, entrando em outro assunto.
― Lelê, eu te disse antes de ir...
― Quando você resolveu fugir na véspera? ― retruco, irritada. Está bem. Na verdade, não perdoei totalmente. Preciso ver esse projeto bem-sucedido de homem gostoso com frequência para ficar tranquila.
― Você não vai esquecer isso, não é? ― pergunta sem esperar a resposta. ― Primeiro eu não fugi. Não tenho motivos para isso, e segundo te avisei que lá é offline total. Só por sinal de fumaça. Não dava para subornar ninguém. Ainda mais que eles não queriam dinheiro ― confessa ele rindo.
― E o que eles queriam então? ― fiquei curiosa. O que uma cambada de anti-tecnologia iria querer diferente de dinheiro. Plantas, flores e metais preciosos?
― Deixa para lá ― desconversa ele. ― Vamos, então?
― Para onde vamos?
― Surpresa ― Comunica ele, entrando no carro. Noto um sorriso curvar no canto de sua boca, um sorriso como "doces ou travessuras", embora pareça mais "travessuras". ― Entra, Lelê.
Entro no carro, e seguimos, sabe-se lá, para onde. Durante o caminho ele fala do lugar para onde ele foi, que era cheio de mato e bichos. Pelo que ouço, parece ser um safari sem telefone. Com toda certeza eles gostam de peles de animais. Será que o Cris matou algum animal grande nessas duas semanas?
Pensando nele usando roupas de explorador das Índias, queimando no sol aqueles braços fortes, e atacando um javali para alimentar a todos seus companheiros. Eu mordo o lábio, tendo uma visão perfeita de seus músculos nus.
Me perco em meus devaneios, porém despertei quando entramos no maior shopping da cidade. O Esquina Shopping.
― Shopping, Cris? Em plena sexta-feira? ― reclamo, não acreditando.
― Tem algo muito legal, aqui hoje ― responde ele, animado ignorando a minha contestação. ― Você falou com a Vi hoje?
― Ela ligou de manhã antes d'eu ir para a Cosmo. Disse "bom dia" e falou mais uma vez que o Lucas vai terminar com ela. Te falei quando isso começou.
― Sim, na véspera d'eu ir embora.
― Isso mesmo. De lá para cá, ela está me deixando louca com essa dúvida.
― Não acredito que ele quer terminar com ela.
― Também não. Mas conforme ela, ele está cheio de segredos e conversas sigilosas no telefone. Isso é realmente estranho.
― Para mim ele tá de boa. Vocês mulheres que exageram, sempre procurando chifre em cabeça de cavalo. O Lucas não é daquele tipo de cara que trai ― retruca ele.
― Vocês homens são bastante canalhas quando querem ― comento, me arrependendo. Não gosto muito do sexismo, mas a maioria dos homens que conheço não prestam. ― Se o Lucas está fazendo o que ela disse. Realmente tem algo estranho na parada.
― Você vai fazer de tudo para recuperar a sua amiga. Já tô vendo. ― Sentencia ele, decepcionado.
― Claro que não. Só para você saber. Prefiro os dois juntos.
― Como assim? A sua fase anti-amor acabou?
― Para a sua informação, não é uma fase. É meu estilo de vida.
Ele começa a rir.
― Falando desse jeito parece que você se tornou vegana ou algo do tipo.
― Se bem que é bem parecido ― admito de um jeito para que pense no sentido maldoso, que passa pela minha mente. Conquisto êxito quando ele me lança um olhar desaprovador do meu comentário tosco.
Nessa brecha da nossa conversa, o telefone dele toca. Cris fica nervoso e para o carro bruscamente.
― Ei, eu tô aqui ― reclamo, mas ele me ignora para atender a ligação mais estranha que já vi na vida.
O doido fala em monossilábicos o tempo todo: "sim", "não", "sim", "não" "sim". Quando ele desliga é impossível eu não perguntar.
― Quem era?
― Meu irmão.
― Que irmão?
― O único que eu tenho, Eduardo. Esqueceu? Que mudou para a cidade a um ano com a minha mãe. E que fez a viagem comigo durante duas semanas. Lembra agora? ― ironiza ele.
― Não é disso que estou falando. Você tá cheio de segredinho hoje ― meu comentário o faz sorrir. Tento não o encarar. Sendo sincera, um dia o lindo de bonito vai me deixar doida de pedra. Bem que essas covinhas não deveriam ser tão encantadoras.
― Me espera aqui que já volto, Lelê ― Pede ele saindo em direção a entrada do shopping com o telefone na mão e uma pasta grande preta.
Mordo o lábio, olhando para ele se afastar. Meus olhos estão em seu traseiro. Como não admirar essa bunda linda!?
Meu telefone toca me tirando o foco da visão do paraíso. Atendo sem nem ver quem está ligando.
― Lelê. Tô desesperada. É hoje que ele vai terminar comigo. ― Reviro os olhos, lá vem a minha best mais uma vez com isso.
― Vi. Faz o simples. Pergunta para ele. ― Aconselho.
Quero muito que eles se acertem, não estou com tempo e nem paciência para aguentar a fossa monstra da Vi se ela terminar com o Lucas
― Ele vai negar. ― Gritou ela. ― Eu vou terminar com ele antes dele terminar comigo.
― Oi?!
― Isso mesmo, Lelê. Não vou ficar chorando por ele. Perdi dois anos da minha vida com o Lucas.
― Vi, se escuta. Ele é o seu namorado. Fala com ele primeiro.
― Lelê, ele marcou um encontro comigo no Esquina Shopping, onde aconteceu o nosso primeiro encontro. É hoje que ele vai terminar comigo. Tô sentindo.
Se Deus quiser, o pressentimento dela está totalmente errado. Por favor, mais uma romântica viciada em filmes melosos e novelas dramáticas chorando por um babaca, não dá. Ninguém merece isso.
― Miga. ― Fala ela um tom mais tranquilo. ― Você sabia que o Cris voltou de viagem? Ele está na minha frente. Tá mais moreno que o normal. Parece que pegou praia ― ouço ela cumprimentar ele.
― Oi, Cris. Você já falou com a Lelê? Estou com ela no telefone. ― fala a Vi me ignorando por telefone.
― Sim, ela está lá no meu carro ― diz ele.
Realmente estou no carro dele, só não sei por qual motivo aceitei ficar aqui parada. Porém a minha ligação é encerrada.
Aí tem coisa.
Sinto que tem alguma coisa acontecendo, e ninguém pensou em me contar. Minha intuição não está errada, preciso descobrir o que está acontecendo. Guardo o celular na bolsa, pego as chaves do carro que ele deixou na ignição e saio em disparada para dentro do shopping.
Passando pelas portas automáticas começo a ouvir uma música internacional bem conhecida, super-romântica, mas a voz que canta me lembra de alguém conhecido.
O carinha do som deve estar apaixonado, só pode, penso procurando ao redor. Já estamos em outubro e o povo continua a engrandecer o amor. Que chato.
Quando começo a caminhar para o elevador para ver o cantor misterioso, ouço de notificação no telefone. Pego e vejo tem um live do Lucas, mas ignoro e tento ligar mais uma vez para a Vi. Quando cai a minha ficha.
Cara. É a voz do Lucas!
Abro o live e vejo que ele está cantando para a Vi acompanhado do Eduardo em um teclado. E é a música que estou escutando.
― Meu Deus do céu!!! ― Grito desesperada sozinha no corredor a poucos passos da porta do elevador.
Corro até lá e aperto o botão milhares de vezes ainda ouvindo.
"Cause all of me (Porque tudo de mim)
Loves all of you (Ama tudo em você)
Love your curves and all your edges (Ama suas curvas e todos os seus limites)
All your perfect imperfections... (Todas as suas perfeitas imperfeições)"
A porta abre com dois velhinhos precisando de ajuda para sair — sempre nas piores horas essas coisas acontecem. Ajudo eles com pressa e quando conseguem sair entro apertando botão do térreo.
Meu telefone ainda está aberto com o Live dele. Vejo que a Vi está chorando com criança de tão emocionada.
― Miga, pelo amor de Deus. Não diz sim, por tudo que é mais sagrado. ― Faço uma prece sozinha olhando para o telefone. ― Fica só namorando que é melhor.
Ainda estou ouvindo.
"You're my end and my beginning (Você é o meu fim e meu começo)
Even when I lose I'm winning (Mesmo quando perco estou ganhando)
'Cause I give you all of me (Porque te dou tudo de mim)
And you give me all of you (E você me dá tudo de você oh)
Give me all of you...(Me dá tudo de você)"
Quando saio do elevador o shopping percebo que a música acabou, corro pelo corredor para o encontro da minha amiga. Vejo um aglomerado de pessoas e forço minhas pernas a andar mais rápido.
Chegando perto consigo ver com muita dificuldade o Lucas segurar a mão dela.
― Eu amo tudo em você, Virgínia ― declara ele, apaixonado.
― Você é louco ― responde ela, ainda chorando e sorrindo ao mesmo tempo.
― Sou o louco que te ama ― retruca ele, sorrindo. ― Tudo que cantei para você é verdade. Amo as suas imperfeições perfeitas, tudo em mim te ama.
Ouço uns gritinhos das mulheres ao redor comemorando.
― Pergunta logo, Lucas. ― Ouço a voz irritada do Eduardo, que ainda está tocando a música como fundo.
― Cala boca, Eduardo ― grita a voz do Cris, também irritado de algum lugar.
Tento o encontrar, mas o grande aglomerado de pessoas que assisti não deixa e ainda ri com os comentários. Lucas volta a falar.
― Meu amor. Você fez de mim um homem muito melhor do que poderia ter imaginado. Com toda a sua doçura e loucura você... é muito mais do que eu imaginei. Você é a mulher da minha vida. E agora, venho no meio desse pessoal todo te perguntar uma coisa. Virgínia Freitas, você quer se casar comigo?
Parece que todos prendem a respiração aguardando a resposta, mas a única coisa que está na minha mente é: "Vi, diz não! Por favor! ".
― SIM!!! ― Grita ela em alto e bom som.
No instante seguinte, eu grito não, mas os gritos de comemoração não deixaram ninguém me ouvir. As pessoas começam a dispersar e quero por tudo nesse mundo ficar o bem longe daqui. Volto para o estacionamento e pego o carro do Cris. Preciso com urgência ficar longe disso tudo.
Por favor, penso pasmada, alguém me diga que isso não está acontecendo.
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Oi, Meus lindos.
Sextou com música!
A música que usei foi para embalar o pedido de casamento do Lucas para a Vi foi "All Of Me" de John Legend. Coloquei a baixo a versão que usei para escrever essa cena.
Não esqueçam de curti, comentar e compartilhar.
Mil bjnhos.
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