12 | " AI CARAMBA!"
Harry
Elise Wilberforce havia me enviado um email esta manhã e por incrível que pareça ele não havia me irritado tanto. O motivo não tinha nada relacionado ao fato da minha mãe não ter traços irritantes, mas sim por eu já estar esperando pela contínua rejeição de Tom, sendo assim não me frustrei com o seu não arrependimento.
Ela sequer havia mencionado o nome do papai, seus carácteres foram apenas direcionados a sua preocupação, sua organização para vir até Creekside e a nova caixa com roupas que me enviaria quando eu precisasse.
Era nítido que a conversa de ambos sobre mim não havia tido êxito, mas naquele momento aquilo não me incomodou. Talvez, após anos, eu finalmente estava me acostumando com a ideia de Tom Wilberforce não fazer mais parte da minha rotina idiota, talvez um início de um aliviador sentimento de indiferença.
Todavia, eu ainda não queria passar os próximos meses preso em um cidade fantasma. O desejo de ainda ir para Brooklyn com Ben para noites baratas de bebida e baseado ainda serpenteavam a minha mente de modo constante.
Por que ficar em Creekside, já que Tom nunca irá me perdoar?
Essa pergunta perambulava por minha mente, em vista da mamãe ter me despachado para essas bandas num genuíno intuito de recolocação social e uma certa forma de repensar meus atos e ser um filho melhor.
Um plano idiota! Penso.
No Brooklin, a essas horas, eu estaria voltando para o apartamento do Ben embriagado excessivamente e de quebra com alguma garota que eu certamente não me lembraria o nome. Aliás, eu teria motivos de sobra para bater em alguém, o que me aliviaria bastante.
No entanto, por ironia do destino, vim parar numa cidade onde todos se conhecem e onde não existem motivos para bater nas pessoas. Claro, exceto por meu querido primo Cooper.
Em Nova York, eu sempre estava cercado de pessoas, entretanto eu conseguia me desvencilhar, fugir para algum canto, e ficar um pouco sozinho para não enlouquecer. Todavia em Creekside eu nunca consigo ficar só um segundo sequer, sempre tem alguém na minha cola perguntando se estou bem ou me chamando para um jantar em família, já que tudo é motivo para jantar em família.
A noite passada foi um exemplo disto.
Após Jane e eu voltarmos do Morro das Pipas, os corredores do Casarão eram como uma orquestra de vozes e risadas altas. Um tremendo alvoroço para uma simples quarta-feira. E o motivo ilustre da "reunião da família mais feliz de Creekside" era um simples pernil assado feito por Mark e tio Paul, que servia a família inteira, já que tudo que eles compram é sempre para servir a família inteira.
Todo mundo junto por conta de um porco? Eu pensava uma vez ou outra.
Na verdade, aquilo me irritava profundamente e me enlouquecia. Enquanto eu queria resolver os meus problemas, a minha família materna sempre parecia estar disposta sentar e cantar, como se nada de ruim acontecesse em suas vidas pacatas.
Era deveras irritante!
Na noite passada eu subi cedo para o meu quarto. Não estava disposto para "ser agradável", sorrir sem vontade ou fingir que não sou mais um garoto problemático, mesmo com a não presença de Cooper, Christina e Rick.
O garoto havia tido problemas com a escola, segundo tio Paul, e certamente precisou de seus queridos papais para resolver.
Patético! Penso.
E de suma ainda tivemos Jane Mellark tentando ser gentil comigo me questionando o porquê de eu não querer ficar mais um pouco na "convenção familiar".
Eu espero que ela não pense realmente que agora somos amigos.
Porque não somos!
– Merda! – Esbravejo quando bato com a ponta dos dedos no canto da parede.
Toda manhã eu machucava os dedos no mesmo local, era como se o Casarão sentisse quando eu penso mal sobre a minha família, já que normalmente é por esse horário.
Talvez estejam conectados! Rolo os olhos com meu pensamento idiota.
Esquadrinho meu rosto quando o encaro no espelho. Eu definitivamente exibia uma feição menos cansada, o que era consequência das minhas ótimas noites de sono propiciadas por Creekside.
Nem tudo é tão ruim, seu babaca! Minha consciência, que possui comicamente a voz de April, cuspiu.
Ao sair do banheiro, após as minhas higienes matinais, visto uma blusa branca qualquer e uma calça moletom preta e me desloco até o andar inferior. Logo posso sentir cheiro que impregnava o Casarão nessa manhã e ele era inebriante, fazendo com meu estômago roncasse a cada degrau descido que me aproximava cada vez mais da cozinha. O aroma se assemelhava a ovos com bacon e ele nunca havia sido tão tentador.
Definitivamente, se tem algo que eu não poderia reclamar de ficar em Creekside...era a comida!
Era como se qualquer coisa feita por meus parente fosse dez vezes melhor que os cozinheiros cinco estrelas de Nova York e aposto que eles não utilizam nada além de temperos baratos ou cultivados em sua própria horta.
Creekside, mais especificamente o Casarão, definitivamente não favorecia alguém que segue de forma regrada uma dieta.
O sol já estava radiante ultrapassando as grandes janelas da sala, criando feixes de luz tranquilizadores que intervinham sutilmente na minha visão. Imagino que o dia será quente, o que me fez repensar a calça moletom.
De repente meus ouvidos captam uma voz que cantarola Bohemian Rhapsody enquanto o som de algo fritando se ofusca ao fundo.
O som vem da cozinha.
Me aproximo e percebo que se trata de um Liam sem camisa que joga tiras de bacon para alto enquanto direciona toda a sua "performance" a uma Amora totalmente envolvida na brincadeira.
– Galileo! Galileo! – O filho de Anthony encerra precocemente a canção ao notar minha presença.
Eu gargalho como uma criança.
– Cara, eu realmente não queria ter visto isso!–
Ele da de ombros e come uma tira bacon:
– Cale a boca, Wilberforce! A opinião de Amora é a única importante! –
A cadela levanta as orelhinhas com a menção do seu nome.
– Cara, você vai traumatizá-lá! – Agacho incentivando Amora a vir até mim.
Ela o faz.
– Eu sei que o seu sonho é ter um físico como esse, então vou deixar suas ofensas
passarem! – Liam desdenha jogando novamente as tiras para o alto.
– Claro...– É a única coisa que digo enquanto coço o pequeno focinho de Amora. – Onde está seu pai? –
Ele ri, talvez se lembrando de algo.
– O tio Paul trouxe duas bicicletas velhas para ele do bazar do Cheestefield e digamos que ele está na garagem se empenhando em consertá-las. –
– Os Cheestefield ainda fazem esse
bazar? – Questiono me sentando na cadeira e provando pela primeira vez o bacon.
– É quase um feriado municipal, na verdade é como uma Comic Con de Creekside! – Ele ri da própria alusão.
Eu não lembro muito bem dos Cheestefield, só ouvia muito sobre suas "bugigangas" compradas em cidades grandes estadunidenses.
– Você quer ir numa social hoje? – Liam rompe com o rápido silêncio desligando o fogo do fogão.
Nem preciso pensar.
– Não. –
As sociais de adolescentes em Creekside eram patéticas. As casas são pequenas, a bebida é barata e sempre pertencerão aos mesmos jovens que dominam a hierarquia da única escola deste lugar.
Jena Mellark nunca poderia saber que suas sociais já não me compram. Eu me divirto lhe dando a ilusão de uma certa parceria entre nós.
– Não? Assim de cara? – Ele me encara confuso colocando a frigideira para lavar. – Porque não? –
– Liam, eu não me interesso por sociais fazendeiras, aliás você também não deveria já que tem vinte e dois anos e seus primos dezessete. – Preparo um prato com bacon e ovos.
– Harry, eu gosto dos meus primos e as sociais são bacanas! Dá para se divertir, beber umas cervejas e essas coisas. – Ele enxuga a frigideira.
Dou de ombros:
– Eu as acho chatas! –
– Já parou para pensar que você que é o pé no saco? – Ele retruca. – É sério, vão ter garotas gostosas, o Cooper chamou a Lola Dawson, Valery Hill e algumas amiguinhas! –
Acho que Lola Dawson foi uma das meninas que eu havia beijado na social de Valery Hill, mas o porre não colabora para a confirmação.
– A social é do Cooper? –Indago já imaginando que nunca colocaria os pés lá.
– Não, é da Julie! Aquela que nós quebramos os dentes há uns dez anos. – Ele se serve sentando-se de frente para mim.
– Sei quem é! – Levo o bacon a boca.
– Então... vamos? – Ele insiste – Vai ter garotas gostosas! –
– Liam, se você realmente ficou em Washington durante esses anos, vai perceber que aquelas garotas são apresentáveis! – Eu rolo os olhos.
Ele repete o ato.
– Tá.. a Jane vai estar lá! –
O encaro confuso:
– E daí? –
Ele me olha ainda mais confuso:
– Pensei que agora eram amigos. Sabe... vocês foram aí Morro das Pipas ontem! –
Eu gargalho mais alto que normal.
– Jane só queria uma carona... e nós não somos amigos. – Garanto-lhe de boca cheia.
Nós nunca seríamos amigos.
Jane e eu, sempre quando estávamos juntos, parecíamos tão empenhados em nos ignorar, que qualquer ruído que deveria ser imperceptível numa situação habitual, tornava-se audível ao nosso redor.
Mesmo que a tarde no Morro das Pipas não tenha sido entediante, terminada em discussão ou merda qualquer. Pelo o contrário, havia sido agradável, arrisco dizer. Portanto, era óbvio que Jane Mellark e eu nunca seríamos amigos. Éramos diferentes e com conteúdos tão contrastados entre si, que um diálogo mais profundo tornava-se um desafio. Ela tinha o seu jeito calmo e era preocupada em agradar os outros e eu tenho os meus problemas com raiva e normalmente os outros não gostam de mim.
Jane tem uma presença agradável e um modo bastante educado de falar desde criança, no entanto, não é o tipo de presença que eu gostaria de passar horas conversando. Seus assuntos sempre voltados à fazenda e caridade não me eram interessantes. Na verdade, em Creekside, além da minha irmã, apenas Liam eu me interesso pela companhia.
Entretanto, o diálogo que tivemos no Morro das Pipas não foi um dos mais superficiais que já tive. Não era como as conversas vagas que eu tinha com as garotas dos Hamptons quando queria transar com elas. Não foi um assunto voltado a grana, sexo, status ou Ferraris.
Jane havia perguntado sobre mim e não sobre o meu dinheiro. O que era algo que eu definitivamente não estava acostumado em relação à garotas de dezessete anos.
A nossa conversa havia se baseado brevemente sobre o meu passado e vagamente sobre o futuro dela. Ela perguntou se eu não queria fazer faculdade e tive de responder dizendo que não havia me identificado com a que comecei, ocultando qualquer Tyler Benson da história.
Ela também mencionou o seu forte desejo relacionado à psicologia, um antigo sonho do seu pai antes de engravidar Katherine, e que pretendia mudar para a cidade de Indiana, já que Creekside não tem faculdades. E de resto conversamos sobre os meus verões passados aqui e as lembranças proporcionadas por este.
Nada muito interessante, apenas o fato de dialogar com ela sem quaisquer explosão repentina.
– Droga, o que tenho que fazer pra você ir? – Ele bufa tomando um gole do seu suco. – Vai ser divertido! Os pais da Julie estarão em um casamento em New Bern e a casa é só
nossa! –
Eu rolo os olhos pela septuagésima vez.
– Eu tenho vários motivos para não ir. O primeiro: Cooper vai estar lá, e como ele me ama, vai tentar me provocar; segundo: as bebidas serão horríveis! Aliás, acho que não são necessários mais motivos. A questão é: porque você quer ir? – Digo irritado mas num timbre calmo.
– A Julie Clarkson, acho que ela está me dando mole! – Liam responde por fim.
O "novo alvo" não foi o suficiente para me persuadir.
– Não quero ir. – Termino o meu café da manhã.
– Ah qual é? Vai ser maneiro e eu prometo encher o Cooper de porrada caso ele seja um pé no saco. –
Meus olhos acendem com a cena.
– Se você enchê-lo porrada...eu não tenho como rejeitar! – Aperto sua mão como um trato.
🌙
Cooper Adam me fita incessantemente enquanto caminhamos por uma rua escura por conta da iluminação intimista de Creekside. O seu maxilar está rígido e suas sobrancelhas se unem formando uma feição nada agradável que parecia determinada a me desferir um soco a qualquer instante. Ele não havia aceitado muito bem quando notou que eu juntava a eles na caminhada até a casa da Julie, isto é notório por suas bufadas e os constantes resmungos que sussurra a Noah à medida que nos aproximamos da residência dos Clarkson.
E não se preocupe,Cooper, também gostaria de encher sua cara de pancada!
Entretanto ter o Liam fazendo isso por mim me evitaria problemas e me satisfaria do mesmo modo. Tudo isso para não ter Christina enchendo o meu saco com suas lamúrias insignificantes.
Cooper não foi único a se surpreender e questionar a minha ida até a casa de Julie Clarkson. Jane, Noah e Jena também uma exibiram expressão surpresa com a minha presença.
A casa dos Clarkson definitivamente não ficava tão distante do Casarão, na verdade uma distância equivalente a duas ruas, o que nos permitiu caminhar à noite enquanto a lua se escondia entre as árvores.
Exceto por Cooper, todos conversavam animadamente enquanto eu questionava o quão "a sério" os adolescentes de Creekside levavam as sociais. Todos estavam bem vestidos demais para um evento então dito "informal" e animados demais para algo que, ao meu ver, era entediante. Até mesmo Jane Mellark estava bem vestida, livre de qualquer roupa que fazia alusão a uma menina inocente que acredita em príncipes encantados. Ela vestia uma uma blusa e uma jaqueta couro preta e um jeans escuros que destacavam a sua pele branca e em seus lábios um suave batom vermelho. Jane, que antes possuía um ar juvenil, agora aparentava ser uma mulher madura e atraente, consequentemente atraindo meu olhar de soslaio diversas vezes.
Ela é sua prima, Harry! Um lado do meu consciente alerta.
Meio-prima. Relembra o outro.
Ela conversava com Liam, que estava entre nós dois, e Noah que ignorava os incessantes resmungos de Cooper. Eles falavam sobre qualquer assunto insignificante sobre uma garota da escola que Liam havia iludido na época da adolescência.
– Você está bonito! – O timbre fino de Jena Mellark invade os meus ouvidos.
Ela havia se colocado ao meu lado
Dou de ombros:
– Valeu! –
Ela exibe uma feição pensativa talvez imaginando como puxar assunto comigo.
– Não sei porque Julie Clarkson insiste em dar sociais, normalmente são um fracasso! – Desdenha.
– Então por que está indo? – Indago sem qualquer vontade de prolongar o diálogo com ela.
Jena sorri:
– Porque as minhas amigas Lola, Valery e Danielle vão! E eu acho que Julie nem
imagina. –
Rio pela nariz pelo título "minhas amigas", mas não é isto que questiono a ela.
– Como assim "a Julie nem imagina"? –
Ela gargalha, talvez uma gargalhada maquiavélica.
– Cooper tá afim da Danielle! Ele as chamou escondido. –
Rolo os olhos com tamanha idiotice.
– Ele é um pé no saco! – Resmungo baixo chutando uma pequena pedra no meu caminho.
– Ah qual é, Harry? Até parece que você não gostou de beijar Lola Dawson na casa Valery Hill na segunda! – Ela esbarra no meu braço de modo brincalhão.
Então era realmente Lola Dawson uma garotas que beijei nessa festa imbecil.
– Chegamos! – Jane avisa alto interrompendo qualquer resposta que eu possa dar a Jena.
A casa dos Clarkson era devidamente interessante. Não era luxuosa, mas também não beirava a mais pura simplicidade. A residência tinha um ar californiano, talvez mais próximo a Malibu. Era revestida de madeira escura com grandes janelas e portas de vidro que a assemelhava a casas praianas. Não era tão grande, aliás era bem menor que o Casarão, tendo um comprimento maior que a largura.
Ao analisar a residência eu me recordo da antiga história sobre os pais de Julie serem surfistas na sua juventude e terem se conhecido numa dessas competições de surf da Califórnia.
Meus devaneios desaparecem quando Noah aciona a campainha nada sútil da casa dos Clarkson, causando um leve zumbido no meu ouvido.
– Ô DE CASA! – Ele grita esganiçado.
– JÁ VAI! – Ela devolve do segundo andar tão esganiçado quanto.
Logo a figura de Julie Clarkson se faz presente quando esta abre a porta para nos receber com um sorriso largo e olhos marcados por um lápis de olho. Ela vestia uma blusa preta e um short jeans com um casaco quadriculado amarrado na cintura.
Julie me encara surpresa por poucos segundos tentando decifrar a minha presença, no entanto o seu bom humor parece dissolver qualquer "mal presságio".
– E aí, galera! – Ela nos recebe com os braços abertos num tom animador.
– E aí, Julie! – Cooper devolve ríspido entrando bruscamente para dentro da residência.
Certamente ele queria demonstrar que não aguentava mais nenhum segundo perto de mim. Só de pensar, não consigo controlar a minha vontade de rolar os olhos.
Ela nos encara apreensiva.
– O que deu nele? –
– Nada de importante! – Jane suspira abraçando a sua amiga.
– Nós só queremos festa! – Noah grita eufórico pulando no pescoço de Julie após Jane cessar seu abraço.
Ele quase a derruba.
– Me larga, Noah! – Ela gargalha se apoiando na grande porta de entrada.
Quando Noah se afasta saltitando para dentro da casa, Jena se aproxima de Julie e ambas se cumprimentam secamente comparado aos outros. E então Liam se aproxima e ambos se cumprimentam em um tom "derretido" e um pouco mais carinhoso que os outros.
Um pouco mais eu vomito! Penso.
– Quando quiser entrar, bate à porta! – Ela diz me deixando para trás enquanto sua silhueta, acompanhada de Liam, some do meu campo de visão.
Mal tenho tempo de assentir.
A noite estava incrivelmente bonita como só o céu de Creekside me permitiria ver. Por conta da pouco iluminação as estrelas se tornavam evidentes e brilhantes. A luz da lua é intimista e atravessa entre as folha das árvores que até então dançavam com a brisa fria. E eu poderia cochilar ao som do vento e dos animais noturnos que tornavam tudo isto uma obra de arte pacífica.
Eu realmente fiquei olhando a noite por alguns minutos.
🌙
A "festa" já havia começado há uma hora e eu não poderia estar mais entediado. Com um copo de bebida barata na mão, eu encarava a bicicleta infantil rosa largada no canto da cerca, certamente utilizada por uma Julie criança. Nós nos encontrávamos em uma pequena área de lazer que existia atrás da casa dos Clarkson, de modo que o quarto da garota tinha vista para ela. A área era pequena, mas o suficiente para a quantidade de jovens existentes no local, já que a social era mais sobre o círculo íntimo da filha dos Clarkson.
Julie é uma ótima anfitriã, ela serve bebidas aos convidados e encomenda as pizzas enquanto tagarela sobre não sujar o gramado da área com os copos descartáveis. O tudo isso com seu sorriso animado habitual ainda ocupa o seu rosto desde o início da social.
Segundo ela, os seus pais haviam ido ser padrinhos de um casamento em outra cidade próxima, sendo assim teriam de passar à noite deixando a casa livre para adolescentes idiotas.
No entanto, a ausência dos Clarkson não era o suficiente para tornar a "festa" divertida, já que todos conversavam em seus cantos sobre qualquer assunto aleatório que não necessita a participação conjunta de todos presentes nesta casa.
Noah tagarelava e gargalhava animadamente com Cooper e Jena, possivelmente sentindo o efeito da bebida. Já o segundo mal prestava atenção na conversa enquanto virava vários mini copos de vodka e me encarava uma vez o outra. Já Jena sempre estava a checar o seu celular, mas ainda assim gargalhava de algumas coisas que o Noah dizia. Jane estava conversando numa certa proximidade com Scott Green, enquanto o garoto motoqueiro mexia em algumas mechas do seu longo cabelo negro. Ele havia chegado um pouco depois de nós, mas não perdeu qualquer mísero segundo longe de Jane.
Ela estava tão bonita que agora eu entendia a atração de Scott.
Julie e Liam também não ficavam para trás, estavam fazendo competição de shots enquanto gargalhavam incessantemente e trocavam alguns olhares cheios de significado.
E eu... bem... eu estava apenas tomando uma cerveja enquanto me sentava sobre um pufe que certamente não era parte da área de lazer.
Era para ser algo íntimo, Harry! Você não é íntimo de Julie Clarkson, não deveria estar aí.
No entanto as coisas parecem se agitar quando a campainha toca.
– Quem será que é? – Julie questiona um pouco lenta por conta da bebida.
– Só espero que não sejam os seus pais! – Noah beberica a sua cerveja.
– Eu te acompanho! – Liam se oferece.
Ambos se deslocam até a porta de entrada e a minha mente já começa supor a presença das garotas que eram indesejadas por Julie, ainda mais pelo sorriso nos cantos dos lábios que Jena exibia.
– Nós não pedimos pizza... espero que não seja encrenca! – Jane diz em voz alta mas com os seus olhos voltados à Scott.
O "motoqueiro" e a "fazendeira" estão em um papo animado há uma hora, o que me fazia questionar o quê de tão interessante eles conversavam. Sendo assim, Jane não havia me dirigido uma palavra sequer hoje e por mais estranho que fosse, eu sentia uma leve incômodo pela falta de atenção.
– Tá legal, quem chamou elas? – Julie retorna junto com Liam ao nosso campo de visão com uma feição claramente irritada.
Seguido dela, estão as figuras de três garotas de maquiagem forte e roupas curtas. Duas delas eu reconheço serem Valery Hill e Lola Dawson.
A outra eu acredito ser Danielle Palms.
– Julie Clarkson, você continua sendo uma péssima anfitriã! – Valery desdenha mexendo arrogantemente em seus fios castanhos.
Julie esboça um sorriso forçado:
– Vocês sabem que eu não gosto de vocês e eu não tenho que fingir! Só as deixei entrar por pena. – Ela cospe.
Jane se agita um pouco nervosa com situação enquanto um sorriso rasga o rosto de Jena.
– Por pena? Minha querida, você trabalha para mim! – Lola Dawson levanta os ombros de modo arrogante.
Julie solta uma risada de escárnio.
– Lola, se nos acha tão inferiores, por que está aqui? – Jane se intromete.
– O Cooper nos chamou! – Quem responde é a bonita figura de olhos claros e cabelos escuros desconhecida para mim, mas que eu acredito ser Danielle.
– Eu não acredito, Cooper! A casa é minha. – Julie rosna.
O garoto levanta os braços em rendição.
– Qual é, Julie? Era só para trazer mais diversão. Você não acha que isso está muito parado? –
Pela primeira vez eu concordava com Cooper. A social estava tão parada que a festa da independência dos Estados Unidos promovida pela idosas do meu condomínio era mais agitada.
Há aproximadamente quatro metros de mim Liam de desmancha em gargalhadas, enquanto Scott e Noah encaram a discussão divertidos.
– Era para ser algo mais íntimo, mas você chamou essas barangas sem a minha autorização! – Ela esbraveja.
Agora quem se diverte sou eu. Eu simplesmente estava amando o jeito explosivo e sem filtro de Julie Clarkson.
Após o último comentário, Valery Hill e Lola Dawson se aproximam de Julie num tom de ameaça:
– Não sei se você ouviu... mas você ainda trabalha para mim, Clarkson! – Lola a empurra.
– Olha aqui sua...– Julie a empurra mas é impedida pela "Voz da sabedoria" de Jane Mellark:
– Vocês podem ficar! – Ela interrompe.
– Podem? – Julie questiona.
Jane a encara cética e diz suavemente.
– Você ainda trabalha para ela, Julie. E você precisa dessa grana! –
A filho dos Clarkson a encara surpresa pela mudança de lado enquanto a risada das garotas ecoa pela a área.
– Isso mesmo, volta ao seu lugar, patética! – Valery ri com escárnio.
– Eu trabalho para ela e não pra você! – Julie empurra Valery a fazendo cambalear.
A garota empurrada apresente um semblante incrédulo. Talvez nunca fora desafiada por "perdedoras".
– JULIE! – Jane grita.
Valery Hill novamente se desloca até Julie, mas é impedida por Scott.
– Para com isso, Valery! – Ele a segura.
– Isso tudo é culpa do imbecil do Cooper! –
– Vocês chamaram Harry Wilberforce, que não é nada nosso, então achei que poderia chamar as garotas! – Ele acusa me encarando ao se aproximar.
Reviro os olhos com a ameaça ridícula.
– Não sei se você se lembra, mas Harry é o nosso primo! – Noah me defende, me surpreendendo.
– E ele é quente! – Lola Dawson assume quebrando um pouco o clima da briga.
Solto uma piscadela a ela demonstrando que talvez haja uma segunda vez.
Jane revira os olhos.
– Cooper, deixa o Harry em paz! – Liam ignora o comentário de Lola e intervém cumprindo o nosso trato.
– Por que, o que você vai fazer? – Cooper diz num tom intimidador que acaba por cessar a briga das meninas, deixando todos apreensivos.
Noah se aproxima de ambos no intuito de impedir qualquer ação desnecessária enquanto Jena gargalha venenosa:
– Mete logo um soco na cara dele, Liam! –
– Cala boca, Jena! – Jane se irrita cerrando os punhos.
– É...cala boca, senão vai sobrar para você também sua vagabunda! – Cooper rosna com o rosto já se tornando vermelho.
Nunca vou entender a relação tóxica que Jena e Cooper possuem um com o outro. Uma hora se amam, noutra são os piores inimigos um do outro.
– Do que você chamou a minha irmã? – Jane dá um tapa na nuca de Cooper.
Pela primeira vez eu gargalho estrondosamente surpreso com a atitude "violenta" da Mellark do meio.
– Eu sei me defender, Jane! – Jena revira os olhos.
– Sai de perto de mim, Jane! – Cooper a empurra de leve a fazendo cambalear um pouco.
Este ato do filho Christina me enfurece junto à Noah, Liam e Scott e eu me levanto do pufe enquanto os três se aproximam.
– O que você pensa que está fazendo? – Noah grita.
– Você tá maluco? – Eu também grito e assim como eu, Jane se surpreende com a minha defesa.
– Harry, não se mete, eu resolvo isso! Cooper só está bêbado. – Liam diz.
– Não, deixa ele vir para cima de mim, daí eu aproveito e mato ele! – Ele rosna e eu posso ver o quão alterado ele está apenas por suas pupilas dilatadas.
– Galera, o que que é isso? Meus pais vão me matar se vocês quebrarem alguma coisa. – Julie se assusta com a proporção que a briga estava tomando.
– Isso tá muito bom! – Valery sussurra às meninas gargalhando.
– Harry, não precisa me defender, nem Liam, nem Noah e nem Scott! – Ela diz.
Tarde demais! Penso. Eu já ansiava por briga.
– Deixa, Jane! Eu quero terminar o que eu comecei há nove anos! – Eu sorrio arrogante.
É o suficiente para que Cooper venha com a cabeça no meu estômago me derrubando no chão. Minhas costas doem com o impacto mas eu sorrio com satisfação.
– AI CARAMBA! – Noah arregala os olhos se aproximando junto à Scott para separar a briga.
– Isso que eu chamo de uma quinta prazerosa! – Danielle diz.
– Parem! – Jane grita nervosa.
Jena se junta às suas "amigas" para bater palma e incitar a pancadaria.
– Eu não vou encostar a mão em você, seu fracassado! – Eu tiro meu corpo debaixo do de Cooper, tomando o controle e o colocando sobe mim enquanto o prendo.
Ele se remexe passando a mão por meu rosto para me atingir em algum ponto.
– Saí daí, Harry! – Liam me puxa pela gola do meu casaco, com um pai que acaba com a diversão do filho, me derrubando no chão novamente.
– Vai lá Harry, enche a cara dele de porrada! – Jena se agacha ao meu lado me incitando.
– Jena, qual é o seu problema? – Scott grita desesperado.
– Me solta, Liam! – Cooper desfere um soco no rosto de Liam, que move apenas um pouco a face do filho de Anthony para o lado.
– Você não fez isso...– Liam devolve o soco deixando Cooper inconsciente instantaneamente.
O silêncio se instaura.
– Liam! – Jane o empurra se aproximando de um Cooper desmaiado, e mesmo que o impacto seja mínimo sobre ele, Liam se afasta com uma feição arrependida. – Por que você fez isso? – Ela coloca a cabeça de Cooper sobre seu colo.
– Jane, eu só fiquei com rai...–
– O Cooper mereceu, Jane! – Jena se orgulha.
– Guarda o seu veneno pra você! – Noah cospe.
– Eu nunca me diverti tanto! – Lola Dawson sussurra à "suas amigas".
– A festa acabou! – Diz Julie exasperada.
Votem e comentem! :)
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