08 | " Uma prostituta ou uma prostituta?"
Harry
Em toda minha vida sempre estive preocupado em toda gente ao redor e o que seria capaz de fazer a elas. O que meus comportamentos as causariam, o que eu poderia fazer sem a influência de uma maldita substância química legalizada.
E em todo esse tempo, vinte e um anos para ser mais específico, eu abraçava essa ideia de ser subjugado por remédios de ansiedade e temperamento. Eu realmente acreditava que eu deveria estar sobre controle ou proporcionar uma falsa sensação aos meus pais e a sociedade de segurança.
Era como se eu nunca estivesse a ser eu mesmo ou merda qualquer. Eu era apenas uma criatura subjugada pelos efeitos calmantes de meus medicamentos.
E os efeitos colaterais?
Eram constantemente ignorados. O suor frio que me acordava de madrugada diminuindo a minha pressão, ou a maldita sonolência durante as aulas e a falta de motivação para atividades que me agradavam, eram ignoradas. O que importava era se Harry Wilberforce estava sobe sua coleira prescrita por um homem de jaleco.
Então eu acordei. Vinte e um anos mais tarde eu acordei.
Eu não queria esta vida, eu não queria ser controlado. Eu fazia até sapateados.
Quando em minha vida eu gostei daquela merda?! Era apenas, indiretamente, para não afetar as pessoas redor. Então eu me cansei.
Eu não iria tomar mais medicamentos ou tentar melhorar pateticamente minha relação com a sociedade. Eu sou o que sou, não importam o que pensem. Por mais que isso os machuque ou não.
E eles possivelmente se afastariam de mim, me mandariam para longe onde eu não pudesse causar tantos estragos.
Seria como Jane havia me dito há uns dez minutos atrás, que o meu pai fez bem em ficar longe de mim.
Não vou mentir, aquilo magoou bastante. No entanto, eu já não aprofundava nesta depressão de não ser querido por Tom. Eu também já não conseguia olhá-lo com os mesmos olhos.
Tom Wilberforce tinha uma extraordinária mente, um currículo impecável que incluía formação em alemão, latim e um hospital imenso sobre o seu comando, que cada vez parecia mais longe de sua falência. Ele tem a admiração de todos por qualquer lugar que andas, mas já não tinha mais a minha. Era um sentimento estranho, como aquele de rejeição. Você sabe que ama a pessoa, porém, ao ela não lhe dar atenção, esse sentimento se torna amargo. Você acaba desejando mal a esta.
Não que ele se importasse.
Tom era grande e influente e eu era para ser a continuação de sua reputação.
Mas me arruinei.
Soltei um gemido quando a ponta de meus dedos bateram contra o espinho do arbusto, me fazendo automaticamente empurra-lo para trás, como se este tivesse me espetado propositalmente.
Estava procurando a maldita vodka que fora lançada pela maldita Jane do telhado do casarão. Porém, a noite não ajudava com a visão.
Eu havia ficado alguns minutos sentado sobre as telhas a olhar a lua e raciocinar todas aquelas teorias sobre minha personalidade no diário de Mellark e nossa breve discursão logo após. Eu sentia raiva por estar novamente a ser desprezado por meu jeito. Era como se eu sempre sentisse inveja das pessoais normais, este era sempre o motivo.
Eu não sentia antipatia à Jane Mellark, apenas queria chateá-la para ver até onde sua bondade e doçura iriam. Porém, agora eu estava oscilar o que realmente sentia por aquela garota. Após formar toda aquela linha de pensamento insignificante e resolvi descer e tentar encontrar minha vodka.
Saí do meus devaneios quando a garrafa que eu procurava refletiu a luz lunar, fazendo com que meus olhos batessem contra ela. Agachei rapidamente para pega-lá na esperança de ainda ter líquido em seu interior. Porém, ao levantá-la, notei que já não havia mais nenhuma gota apenas partículas de terra colada ao seu redor. Praguejei internamente e lancei do outro lado da rua, ouvindo o estalar do vidro contra o asfalto. Após, me virei para a direção do casarão, entretanto uma voz me interrompeu:
– Noite ruim? – Perguntou o timbre fino e delicado.
Desloquei meu olhar curiosamente para a figura atrás de mim.
Jena Mellark me dirigia a palavra pela primeira vez com um sorriso travesso nos lábios. Permiti-me observá-la melhor, diferente de quando a vi na cozinha de relance.
Ela estava a vestir uma blusa rosa sobe um abrigo jeans e uma saia. Jena tinha longas madeixas lisas e negras que se destacavam em sua pele branca, como todas as Mellark. Seu nariz era fino como seus lábios e seus olhos profundos como os de Jane. Porém, caçula transparecia um pouco mais de malícia que sua irmã.
– Não. – Respondi secamente lhe dando as costas.
Não tinha o que falar com aquela pirralha estranhamente maliciosa.
– Estava chateado por conta da Vodka? – Insistiu no assunto.
– Já disse que não aconteceu nada! – Continuei a andar.
– Que pena, poderia te arranjar mais na geladeira da garagem. – Fingiu um lamento.
Eu a encarei:
– Por qual motivo você me arranjaria uma Vodka?– Questionei entrando em seu jogo.
Ela riu se dando por satisfeita e se aproximou:
– O tio Anthony guarda suas cervejas lá, achando que Cooper e eu não sabemos. Posso pegar algumas! Ele não vai perceber. – Respondeu ignorando minha pergunta.
– O que você quer?– Não precisei de muito para saber que Jena Mellark não era do tipo boa de coração.
Ela sorriu mexendo em suas longas mexas negras. Jena era bem astuta para apenas quinze anos.
– Assim você me magoa! É apenas cortesia de primos que não se vêem há nove anos. – Ela esticou a mão, insinuando um aperto.
Rolei os olhos. Tenho noção de sua sagacidade gritante.
– Que seja! – Ignorei sua mão estendida e segui para a garagem.
Não precisava olhá-la para saber que havia suspirado para manter a compostura com alguém como eu. Ela não era tipo que se submetia a situação como estas, ela pretendia algo. E eu poderia me aproveitar disso.
Jena assumiu a minha frente para me guiar até a geladeira. Ela levantou o portão da garagem e se deslocou ao fundo até um eletrodoméstico enferrujado encostado na parede e abriu-o. A caçula retirou duas garrafas de Vodka e lançou uma em minha direção enquanto a outra ficou para si. Segurei a minha garrafa e por um instante a encarei confuso:
– O que está fazendo? – Questionei enquanto ela pegou o abridor em das gavetas empoeiradas.
– Estou tentando abrir esta droga! –Respondeu como se fosse óbvio.
Um estalo pode ser ouvido quando a pequena tampinha foi lançada longe fazendo com que a garrafa de Vodka de Jena ficasse aberta. Esta, em seguida, lançou o abridor para mim.
– Quantos anos tem? – Segurei o objeto no ar.
– Quinze. – Simplesmente respondeu dando um gole em sua bebida.
A encarei perplexo. Eu sei que eu fazia a mesma coisa com sua idade, mas olhar alguém a fazer soava completamente absurdo.
– Você sabe que só pode beber com vinte e um, não sabe ? – Era estranho eu enfatizar algo correto.
– Oh, vamos Harry, não estás aqui para me dar lição de moral! – Deu mais um gole em sua Vodka.
Dei de ombros, eu só queria beber e não ensinar uma garota fútil o que deve ou não fazer.
Posicionei o abridor na reta da tampinha e a retirei. Dei um gole em minha bebida, a sentindo queimar enquanto descia por minha garganta. Jena parecia estar satisfeita com meu ato, sorrindo com a sua garrafa entre os lábios.
– Se sente feliz? – Perguntou sentando em um dos bancos atrás do balcão de ferramentas.
– Tudo está menos merda agora! – Dei mais um gole.
Ela soltou uma gargalhada fina e irritante. Eu me sentei de frente a ela.
– Não sabia que o tio Anthony tinha que esconder as bebidas de uma sobrinha alcoólatra. – Disse-lhe.
– Sim, após ele descobrir quem sumia com suas latinhas da geladeira. – Ela gargalhou.
– Como ele descobriu? – Queria saber como funcionava a "inteligência" do meu tio.
– Uma vez que Scott, um amigo nosso, passou mal e ele nos encontrou bêbados tentando ajudá-lo e cheirando a cerveja. Os seus pais criaram um confusão louca com a nossa família. – Respondeu.
– Iniciantes! – Os subestimei baixo demais para a caçula Mellark ouvir.
– Hey, veja lá! Não sou apenas eu, Cooper e Noah ás vezes vêem para bebermos
escondido! – Garantiu contendo o riso.
Senti um pouco de raiva quando escutei o nome "Cooper", mas ela logo se foi.
– Mas ele são mais velhos que você! – Afirmei. Jena Mellark só tinha quinze anos.
Ela sorriu.
– Sim, e foi um deles que me ofereceu a primeira vez. Mais precisamente, Cooper. – Deitou a garrafa sobre a mesa.
Cooper realmente parecia ter se tornado um pouco difícil e Jena também não era o mar de rosas.
– Bem, então vocês ficam bebendo na garagem quando Anthony não está? – Perguntei já me sentindo um bocado mais agitado.
Ela assentiu bebendo mais um gole.
– Até mesmo Jane? – Um súbito interesse surgiu em meus pensamentos a cerca da outra Mellark.
Jena se desmanchou em gargalhadas ao ouvir minha pergunta sobre sua irmã. A encarei.
– Jane é fraca e criança . Deve ter medo de fantasmas ainda! – Desprezou-a em seu comentário.
Logo era notório o quanto Jena ainda se sentia melhor que Jane e o quanto gostava de esnoba-lá. Porém, eu até concordava com o jeito infantil e fraco que lhe foi acusado.
– Você é uma cobra. – Afirmei terminando minha bebida.
Ela me encarou perplexa e surpresa durante alguns segundos, porém sua feição logo transformou-se em um sorriso, um tanto perverso por sinal.
– Nada do que nunca me disseram. – Mexeu em seus cabelos.
Ri irônico com sua frase e me levantei do banco. Queria ir me deitar.
– Sempre que quiser uma cerveja ou Vodka, me procura!– Anunciou.
Eu a encarei sorrindo, sabia que ela queria algo em troca.
– Me diz o que você quer! –
– Eu não quero nad..... – Foi interrompida.
– Agiliza logo esta merda, eu sei que não é bondosa! –
– Já que insiste nisso! Só quero que possamos formar uma dupla. – Disse por fim, fingindo inocência.
Eu gargalhei a deixando com um semblante irritado.
– Uma dupla?! O que uma pirralha como você pode me oferecer? – A esnobei.
Ela bufou, não gostava de ser subestimada. Porém, não demorou muito para voltar a seu semblante de superior.
– Festas, garotas e bebidas. Algo que possa te divertir nesta merda! – Ofertou.
Jena Mellark sabia fazer negócios. Porém, não era nada que eu não conseguisse sozinho.
Pensei um pouco, talvez seria divertido.
– Que seja! – Disse-lhe e saí da garagem.
– Fechado então! – Ouvi-a gritar.
Dei de ombros e segui para dentro do casarão. Ela sabe jogar e eu também sei. Sabia que tudo isto era pelo dinheiro de Tom e o prestígio social que nossa condição financeira nos proporcionava. Era por isso que quase todo mundo queria me ter por perto. E não seria diferente em Creekside, na verdade, seria até pior.
Eu faria "dupla" com Jena e ainda sairia com vantagem. Era simples enganar crianças.
🌙
Acordei sobressalto com algum alto rangido próximo. Vasculhei ao redor, até meus olhos se deitarem sobre a figura idosa segurando uma caixa, possivelmente de alguma encomenda. A avó Leslie me encarava com um sorriso envergonhado por ter me acordado.
– Meu menino, não sabia que estava dormindo ainda! – Lamentou.
Lancei-lhe um sorriso preguiçoso.
– Não tem importância, já iria acordar
mesmo! – Menti para tranquilizar sua culpa.
Ela assentiu um pouco aliviada com minha confissão.
– O que é isso aí? – Perguntei me sentando sobre a cama.
Ela encarou a caixa:
– Ah sim! Chegou para você de Nova York. Deve ter sido de Elise! – Andou com dificuldade até mim.
Levantei-me num instante e peguei a caixa de seus braços a colocando sobre a cama.
– Obrigada, Harry. Foi por conta desse peso que a porta fez este alvoroço! – Justificou-se.
Num instante seguinte eu já estava a rasgar a caixa para descobrir qual era o conteúdo. Com certeza era mamãe, mas um pedaço de mim ainda tinha esperanças que fosse Tom.
– Eu realmente achei que tivesse acordado e não tivesse ido tomar o café. – Disse.
– Por que? – Perguntei sem nunca tirar os olhos da caixa.
Ela se moveu inquieta.
– Porque já está pronto o almoço. –
Dei de ombros e observei o conteúdo da entrega, finalmente visível. Eram alguns suéteres, velhos e novos. Havia alguns de meus cd's favoritos, como Rod Stweart, Elton Jhon entre outros. Constatei que meu pai não havia me aceitado de volta, pelo fato dela estar me mandando mais roupas. Senti o sentimento de rejeição me atacar novamente.
– Harry, querido? – Avó Leslie tocou meu ombro.
Encarei-a, tentando mascarar minha frustração:
– Sim? –
– Eu esqueci de te avisar! Hoje o almoço é em família. – Disse-me cuidadosamente.
Senti um pouco de desespero nesse instante. Não estava pronto para ver Cooper, Christina novamente, muito menos almoçar com eles.
– O que? Por que? – Questionei-a claramente irritado.
– Hoje é domingo, sempre almoçamos juntos! Não se lembra dos seus verões. – Tentou amenizar a informação.
Encarei um canto qualquer do meu quarto tentando absorver aquilo. É claro que eu me lembrava dos domingos em família, da mesa cheia. Mas eu não queria ter de descer. Eu com certeza ouviria merdas, e de fato, hoje não era um dia propício.
Meu pai ainda estava me rejeitando e mantendo distância e agora teria que fingir ser um bom menino.
– Por favor, é importante que desça! Pelo menos tente. – Acariciou meu cabelo desgrenhado.
– A April vai estar? – Perguntei. Ter a minha irmã por perto amenizava o clima. Pelo menos para mim se era transmitida esta sensação.
– Oh não, querido! Ela foi almoçar com a sogra. – Lamentou.
Soltei um suspiro pesado. Eu realmente teria de fazer isso.
– Tudo bem. Eu não tenho outra escolha! – Levantei-me profundamente irritado. Uma hora ou outra teria de encara-los. Avó Leslie sorriu satisfeita com a minha decisão.
– Vista algo, por favor! – Disse corada.
Percebi que estava falando do fato de eu apenas dormir de bóxer. Assenti e dei as costas para ela, escutando o som da porta logo após.
Encarei o chão confuso, eu realmente não estava apto para manter a compostura hoje. Eu ia acabar a fazer alguma merda naquele almoço que entraria para a minha coleção . Porém, eu já havia dado a minha palavra a avó Leslie.
Vesti qualquer calça a minha frente e uma T-shirt branca. Coloquei a caixa no canto de meu quarto e desloquei para fora do mesmo.
Ao chegar no início da escada, senti meu coração acelerar com a nova experiência que teria. Puxei meus cabelos para trás nervosamente e alisei a minha cara.
Qual seria a reação do tio Paul? Ou da tia Katherine ( que por incrível que pareça, não havíamos nos cruzado). Ou pior, Christina?!
Já estava a me preparar para ter olhos julgadores sobre mim.
Eu não fui muito querido há nove anos, enforcar Cooper foi um erro. Não o culpo por me odiar. Mas, este era eu. Não me sobreponho pelo bem estar de ninguém.
Não mais.
Soltei um suspiro longo e pesado e resolvi descer as escadas. A claridade de início da tarde irradiava o casarão pela janela da sala, fazendo Amora se esparramar pelo chão confortável. Aquela vista me acalmou um pouco, porém, foi passageiro.
O burburinho da cozinha se tornava cada vez mais forte a cada passada que eu dava. Uma orquestra de talheres e vozes preenchiam o ambiente.
Eu me lembro perfeitamente dos domingos, eu os adorava. Gostava de atirar ervilhas contra Liam, April e Noah. A avó Leslie sempre brigava com o Cooper, acreditando que a culpa era sua.
Mas agora as coisas eram diferentes.
Não éramos mais crianças inocentes que deixavam os legumes de lado e atiravam as ervilhas um no outro.
Ao me aproximar da cozinha, era notório o quanto eles estavam entretidos entre si. Conversando sobre seus trabalhos, dores nas costas e festas. Definitivamente parecia que eu iria estragar tudo.
Sem mais delongas, eu decidi entrar na cozinha. Porém, logo me arrependi do meu ato de coragem. Imediatamente o burburinho cessou e todos os olhares foram direcionados para mim. Senti meu peito gelar e desloquei meus olhos para o armário no canto, por não ter onde pousa-los. A cozinha era grande, tinha espaço para a mesa de jantar, porém, com tantas pessoas, ela estranhamente parecia pequena.
– E olha quem voltou! – Tio Anthony cuidadosamente anunciou, consequentemente, amenizando o clima.
O que pareceu funcionar, já que alguns começaram a sorrir e se deslocar até mim.
– Harry, querido! Como você está? – Tio Paul me abraçou. Ele continuou o mesmo, estava um pouco mais grisalho e com muitos quilos a mais.
– Estou bem. – Respondi sorrindo sem exibir os dentes.
– Seja bem-vindo de volta! – A esposa do Tio Paul, Abigail, me cumprimentou após seu marido se afastar. Em seguida encarou Noah e Snow, os incentivando a vir até mim. Ela tinha os cabelos mais curtos, barriga mais visível como os traços da idade. Eu não tinha muitas lembranças de Abigail, me recordo apenas que ela trabalhava bastante em outra cidade, quase sem tempo para Noah.
Jean me cumprimentou em conjunto a seu marido, em seguida sua mãe, Katherine, beijou a minha bochecha, me deixando surpreso e envergonhado.
– Seja bem-vindo de volta, meu querido! – Disse.
– Obrigado! – Respondi.
Após a senhora Mellark se afastar, meus olhos pousaram sobre Noah todo atrapalhado se aproximar de mãos dadas com sua irmã caçula.
– E aí cara?! Foi mal por aquilo na cozinha. – Apalpou meus ombros e sorriu.
Assenti em concordância. Em seguida senti uma mão delicada segurar a minha e depositar um beijo leve e doce.
– Nós te amamos menino que nunca vi na
vida. – Snow cumprimentou.
A caçula era extremante parecida com a mãe, com longas madeixas douradas, olhos azuis e bochechas salientes.
– Snow, ele se chama Harry! – Abigail corrigiu a filha.
Permiti sorrir pela primeira vez com aquela cena, porém, não durou muito, já que Christina se aproximou com seu marido Rick. Ela estava loira, mais magra e pisava firme em minha direção.
– Olá rapaz! Vejo que está bem alto! – Rick apertou minha mão. A sua estava escorregadia, consequência de seus cremes hidratantes, os quais ele era viciado.
Eu definiria o pai de Cooper como metrossexual. Ele sempre estava a acompanhar a moda, tinha a barba bem aparada e os cabelos com uma quantidade excessiva de gel. Era o oposto completo de seu filho.
Christina se aproximou de mim com um sorriso estranho em seus lábios. E eu optei por fingir que não estava percebendo .
– Olá Harry! Vejo que está diferente. Espero que não seja apenas minha impressão. – Ofereceu a mão.
Com muito custo a segurei, por mais que a vontade de ignora-lá me consumisse. Ela esboçou o mais falso dos sorriso e se retirou a seu assento.
De repente sinto meu pescoço ser envolvido por um par de braços nada familiares. Por um momento, até pensei que tivesse sido Jane. Porém meus olhos a encontraram no canto da cozinha a encarar seus pés. Ela vestia um vestido verde e parecia nada interessada em minha pessoa.
Então percebi que os braços eram os de Jena, ou seja, aquilo não era nada verdadeiro. Naquele momento recebi muitos olhares curiosos e furiosos (como os de Cooper). Por fim, acabei por me sentar à mesa, recebendo um sorriso orgulhoso da avó Leslie.
🌙
O almoço não estava a exigir muito de mim. Já estávamos há uns oito minutos comendo e ninguém havia me dirigido a palavra de forma ofensiva. Ou seja, não havia feito merda.
Eu estava apenas fingindo ouvir os cochichos, sem dirigir uma palavra sequer apenas assentir e forçar um sorriso. Apenas percebia o olhar de Cooper sobre mim de vez quando, porém o ignorava constantemente.
Todos estavam a almoçar em silêncio enquanto Katherine e Christina estavam a debater animadamente o futuro de seus filhos na terceira pessoa, como se estes não estivesse presentes na mesa. Porém não contive o riso nessa com essa seguinte frase:
– O casamento de Cooper será um sonho. Eu penso em vesti-lo com um terno azul. –
Cooper rolou os olhos aborrecido e esbravejou:
– Mãe, por favor! Eu nem sei se quero casar e usar terno azul?! Por favor! Não sou o namorado da Barbie! –
Jena liberou uma gargalhada estrondosa levando as mãos aos lábios por ter comida na boca. Em seguida Noah, tio Paul, Jean e seu marido, praticamente todos, até mesmo Rick pareciam segurar o riso.
– Que isso, Cooper Adam! – Christina olhou-o atônita.
– Casar de azul?! Tem certeza que vai casar com uma mulher?! – Jena gargalhou em deboche.
Noah não conseguiu segurar o riso, sendo seguido de seu pai.
– Jena! – Advertiu Katherine lhe dando um tapa no braço e recendo uma careta em resposta.
As risadas continuavam a serem liberadas sem nenhum pudor.
– Que comentário preconceituoso, Jena! – Jane observou seriamente, a repreendendo.
– "Sou o Cooper Adam se você quer ser meu namorado! " – Noah cantarolou referente a música da Barbie Girl.
Mais gargalhadas eclodiram, até mesmo de Mark. Mas só a de Jena parecia interessar.
Cooper a fuzilou com o olhar:
– Bem, se eu for me casar, com certeza será com uma garota. E você? Vai ser uma prostituta ou uma prostituta? –
O silêncio pairou sobre a mesa e o clima ficou pesado. Mesmo estando em uma distância considerável, senti o quando Jena suspirou para manter a calma. Jane levou as mãos ao rosto como se estivesse desapontada. Mark e Jean se encaram surpresos.
– Minha nossa, Cooper! – Avó Leslie se levantou da mesa com a mão no peito e saiu da cozinha.
– Tá vendo o que você fez?! – Jane gritou e foi atrás da avó.
Katherine mantinha o olhar baixo como se estivesse a se controlar a não defender a filha em brigas bobas de primos.
– Olha aqui, Cooper....– Jena Mellark continuou a briga.
Porém, infelizmente, resolvi fazer gracinhas:
– Não liga, Jena. Tem motivos para Christina escolher um terno azul, não tem?! É para combinar com os lindos olhos de Cooper! – Ironizei liberando uma risada um bocado sarcástica.
Eu não estava defendendo Jena, eu só queria provocar o patético do Cooper e esnobe da Christina. Porém, eu havia me esquecido do imenso odeio que o filho de Rick nutria por mim.
– Escuta aqui seu infeliz...– Cooper se levantou abruptamente socando as mãos na mesa, fazendo com que os utensílios sobre esta se remexessem.
– Cooper Adam, calado, não se iguale a ele! – Christina enrijeceu o corpo.
Este assentiu e retornou sua posição anterior como um bebê. Sua mãe direcionou seus grandes globos azuis para mim:
– Não era para você ficar calado? Escute aqui, garoto! A sua opinião e sua presença nesta casa é completamente insignificante. Por mim, você já não faz nem mais parte dessa família, ou seja, você só está aqui por pena, já que nem os seus pais o querem por perto! Então faça por onde! –
– Christina! – A senhora Mellark berrou.
Senti meu sangue ferver e meu peito doer com toda aquela exposição. Esfreguei minha cara e em seguida travei meus punhos, direcionando meu olhar para baixo, evitando qualquer explosão que só pioraria a situação. Minha vontade era atirar a faca em cima de meu prato sobre a cara de Cooper e em seguida rasgar a cara de Christina. Acho que se eu tivesse uma arma, ambos já teriam caído no chão baleados.
Estava difícil me controlar. Aliás, sem meus remédios por sinal.
Minhas mãos envolveram o talher disfarçadamente. Não sabia mais o que estava fazendo. Alisei meu cenho lutando contra ímpeto reagir. No entanto, uma voz me distraiu:
– Harry, calma! – Reconheci o timbre doce de Jane.
Eu estava tão furioso que nem notei ela retornar para a cozinha. Jane estava agachada ao meu lado, como se estivesse a me passar forças, me encarando como se realmente tivesse essa capacidade.
– Eu não acredito Jane...– Cooper abriu a boca e eu já enrijeci o corpo.
Jane notou o quanto eu estava a ficar tenso.
– Cooper, cala a boca! – Ela gritou.
Em seguida, alisou minhas costas tentando me acalmar. Eu larguei a faca após aquele ato. Eu acaricie sua outra mão em nervoso. Senti ela ficar desconfortável com meu ato, mas eu estava ficando mais calmo.
Eu podia sentir todos os olhares em alerta e apreensivos sobre mim.
– Tira esse menino daqui, Rick e Paul! – Christina esbravejou.
Suspirei mais uma vez ao ouvir este comentário.
– Tia Christina, por favor! – Jane perdeu a paciência pela primeira vez.
– Sai você daqui, já que está incomodada! – Paul se manifestou.
Direcionei meu olhar para o de Jane e notei que ela estava me incentivando a levantar e sair mantendo a calma. Dessa vez, também acariciava minha mão, causando um certo aconchego em mim.
– Saí daqui, Cooper! – A senhora Mellark ordenou.
– Meu filho não vai lugar algum! – Esbravejou fora de si.
– Dá para calar a droga da boca! – Katherine gritou.
Em seguida tio Anthony veio até mim e colocou meu braço sobre o seu ombro. Jane o agradeceu com o olhar.
– Vamos rapaz, você consegue! – Sussurrou em meu ouvido.
Tio Anthony me direcionou para fora da cozinha e eu o agradeci mentalmente por isso. A cada passada que eu dava, parecia incerta. A cada distância a mais que eu estava da confusão, mas eu ansiava por ela.
Subimos as escadas e ele me deixou em frente a porta de quarto.
– Entra aí e descansa. Não dá o gostinho de fazer merda a Christina. Ela é histérica e descompensada. –
Assenti abrindo a porta do meu quarto a tremer, eu entrei e parei ao ouvir:
– Respira rapaz! – Desejou e fechou a porta.
Seguido disso eu me sentei sobre o chão e encostei as costas na parede. Havia passado um fio de fazer merda, de machucar pessoas fisicamente. E o resultado não seria o mais agradável. Eu machucaria Cooper, Christina me machucaria, eu machucaria ela, Rick me machucaria defendendo a esposa e assim por diante. E talvez até a avó Leslie pararia no hospital.
Mal havia chegado e tudo parecia encaminhar para eu ir embora.
E por mais que eu odiasse admitir, eu não saberia o que teria acontecido se Jane não estivesse ali.
Não esqueçam de votar
Xoxo Mari
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