07 | " Iluminada ou droga qualquer?"
Jane
Do outro lado da rua, o pastor Norman e William envolviam-se numa animada conversa. O marido de April se remexia e gesticulava constantemente arrancando profundos sorrisos do pastor. Este segurava sua bengala com mais intensidade a cada gargalhada liberada. Não precisava estar próxima para saber que havia sido hilária e contagiante.
Eu os observava por uma pequena fenda oriunda do esfregão de meu polegar na janela embaçada do quarto de Jean. Ou seja, Norman e William estavam em frente ao casarão enquanto eu fitava cada movimento da casa de minha irmã mais velha.
Ambos vestiam roupas mais frescas e calçavam sandálias, algo raro em tempos próximo ao inverno.
A conversa deveria ser descontraída para que ambos estivessem tanto tempo como estavam parados a sorrirem um para o outro. Em minha mente comecei a traçar raciocínios para deduzir qual seria o assunto. Talvez o novo ganhador da loteria, ou alguma das histórias do passado de Norman ou qualquer coisa relacionada a Caroline, já que, ambos eram fascinados em caminhonetes.
Apoiei meu cotovelo no peitoril da janela do quarto e meus olhos focaram em Amora correndo alegre atrás de uma borboleta inocente no gramado do casarão. Esbocei um sorriso involuntário com aquela cena fofa. Sua coleira rosa se destacava em seu pelo preto brilhante. Eu havia lhe dado banho na quinta, então, eu acho que ela ainda cheirava bem.
– Então, pode falar o que houve! – Ordenou Jean adentrando no cômodo, fazendo com que sua voz aumentasse a medida que se aproximava.
Jean trazia consigo um doce de aroma de hortelã no ambiente. Meus olhos procuraram pela origem daquele cheiro, captando a pequena bandeja de prata com um bule e duas xícaras. Com certeza um chá.
– Não houve nada. – Minto.
Ela me encara desconfiada:
– Jane, convivo com você há dezessete anos, você acha que não sei quando algo te aborrece?! – Garante me oferendo uma xícara.
– Onde está Mark? – Pergunto.
– Plantão. – Responde.
– Você não tem plantão hoje? –
– Meu plantão é amanhã, em pleno domingo. Mas, as pessoas precisam da saúde, né?! – Franziu os lábios.
Eu suspiro enquanto ela enche o recipiente em minhas mãos com chá:
– Eu tive um aborrecimento... –
Ela serve-se e o bule na bandeja novamente e vira-se para mim insinuando que me ouviria:
– Com alguém do casarão? – Questiona.
Assenti e beberiquei meu chá levemente por conta de sua temperatura.
– Eu imaginava...Se não fugisse do conflito não seria Jane Mellark! – Ela sorri levando a xícara aos lábios.
Arqueio a sobrancelha:
– O que quer dizer? –
– Se você saiu de lá e veio para minha casa é porque brigou com alguém de lá, caso contrário teria me chamado!– Ela alisa minha mão.
Desloco meu olhar para a janela novamente, abstraindo aquela nova informação. Eu realmente havia vindo logo após a minha discussão com Harry. Assim que empurrei a nota por debaixo da sua porta, eu desci as escadas, saí do casarão e toquei a campainha da casa de minha irmã mais velha. Eu não queria encara-lo ou ser encarada. Não queria ter a sensação que ele estava planejar qualquer vingança contra mim ou a próxima provocação. Porém, não julgava o meu ato, uma fraqueza e sim uma proteção contra ataques desnecessários e idiotas.
– Ei, não estou te criticando! – Ela ameniza sorrindo.
– É, eu sei! – Bebo mais um pouco do meu chá.
Jean aperta meu ombro em sinal de conforto:
– Eu e o Harry brigamos. – Admito fitando William e Norman ainda a conversarem.
Ela me encara surpresa, mas não totalmente surpreendida.
– É, eu acho que esperava por isso! – Ela admiti encarando a janela.
A encaro por uns instantes:
– Por que esperava por isso? –
Ela sorri, deixando-me ainda mais confusa.
– Você é tudo que ele não conseguiu ser, Jane. É normal! – Jean termina seu chá e coloca a xícara sobre a bandeja.
A encaro perplexa. Todos diziam que nada fugia dos olhos reservados e atentos de Jean Mellark. Com seu jeito calado e despercebido, captava várias intenções. Mas eu acredito que esta análise de nosso primo distante era precipitada.
Eu tinha a absoluta certeza que Harry Wilberforce não tinha problemas particulares em relação a mim, mas em relação a todos.
– Não é isso, Jean! Ele sente raiva de todos nós. – Garanti também terminando o meu chá e depositando minha xícara também sobre a bandeja.
Ela ri como se eu fosse uma criança tentando entrar em assuntos de adultos.
– É claro que sente. Mas você é um alvo um pouco particular, mesmo que
indiretamente. – Garantiu.
– Não entendo... –
– As pessoas se sentem frustadas quando não conseguem alcançar aquilo que tanto almejam, e as vezes lidar com alguém que consegue, se torna um desafio. – Jean explica como se fosse a teoria do universo.
– Como sabe que ele não consegue? – O que Jean sabia sobre Harry, não o via há nove anos.
– April e eu conversamos sobre isso. Mas acho que não devo lhe contar, pelo menos não agora! –
Um misto de confusão inunda a minha mente. Ele tinha tudo o que eu não tinha! Harry Wilberforce poderia dominar o mundo e eu não tinha grana nem para sair de Creekside. Não havia motivos plausíveis e concretos para ele ter uma certa insegurança ao meu lado.
– Você não está acreditando, não é?! Me conte o que aconteceu e eu vou te dizer se estou certa ou não. – Jean diz com segurança.
Concordo e lhe explico toda a história, desde a xícara quebrada até o bilhete grampeado. Minha irmã mais velha me encara com uma expressão de que a resposta estava bem embaixo da minha cara.
– Eu lhe disse, pode ser indireto, mas você o deixa inseguro! – Jean alisa meus cabelos.
Eu ainda não acreditava naquela teoria nada complexa de fixação.
– Não sei como você chegou a isso, mas não acredito! – Admito rolando os olhos.
– Bem, isso não importa. Posso estar errada! Enfim, estou orgulhosa que o respondeu! Jane aprendendo a se defender. – Ela diz gargalhando.
Eu a encaro brava. Não aguentava sempre ser comparada a um ser inofensivo, ou ser a "fraquinha" ou até quando Noah se intrometia para me defender. Eu sei me virar.
Jean percebe minha súbita mudança de feição e me puxa para um abraço apertado e caloroso. Sorrio já esquecendo seu comentário anterior.
– Sabe que pode contar comigo sempre, né Marshmallow? – Beija a minha testa levemente.
Marshmallow foi o apelido mais antigo que recebi. Com apenas quatro anos, Liam ficava me assustando com o doce, garantindo que era cocô de monstro e se eu o comesse me tornaria um. E ele ficava tentando enfia-los em minha boca.
– Sei sim, Jean! – Sorrio.
Alguma horas depois eu havia reunido qualquer coragem existente e retornado para o casarão. Já estava anoitecendo, as estrelas já roubavam o céu. Nessa noite não ventava tanto quanto a noite anterior, tornando-a mais calada e monótona. E o som de corujas e morcegos formavam uma intimidante trilha sonora.
Jean e eu havíamos conversado sobre diversos assunto, lembrado de várias histórias que não notamos o tempo passar. Minha irmã mais velha sempre foi meu baú dos segredos, conseguindo até sobrepor Julie. Jean sempre me instruía nos mínimos detalhes, como: não tomar banho no lago menstruada e não conversar com caras mais velhos no MSN.
Ela foi muito calada durante sua adolescência, lembro-me de papai e mamãe discutirem várias e várias vezes questionando um ao outro qual era o problema.
Em nossa antiga casa, nos três dividíamos um quarto, no qual me recordo de Katherine sempre se sentava ao lado da cama de Jean todas as noites, para perguntar como foi o seu dia e se algo a aborrecia. E ela sempre respondia que não. Lembro das constantes insistências de mamãe para que ela a acompanhasse ao psiquiatra, dizendo que April não era desta forma, e Jean negava alegando que estava tudo bem e que não era rica como April Wilberforce para sempre estar sorrindo.
Sam percebendo que sua filha estava cada vez a afundar, comprou-lhe um caderno para que ela escrevesse todos os seus sentimentos , garantindo que nunca o leria sem vossa permissão. Segundo o meu pai, o caderno havia sido essencial em sua adolescência e achava que poderia salvar sua primogênita. Recordo-me de uma noite, Jean levantar de madrugada e encara-lo pensativa, logo após decidindo escrever.
Após aquilo, minha irmã mais velha passou a melhorar o seu humor e todo o seu ar depressivo e melancólico. Ela desabafava em suas paginas, tirando um bocado de peso de seus ombros.
Papai ficou tão feliz com o resultado que repetiu o mesmo feito com Jena e eu, prevenindo-nos de uma adolescência conturbada. Mesmo que Jena não se importasse com o seu caderno.
Hoje, pela primeira vez, Jean me contou um pouco dos complexos que vivia e o quanto discutia com April. Ela não sentia-se boa o suficiente, não era como a filha de Tom, não tirava boas notas, não era cobiçada pelos rapazes da cidade, não se vestia feito uma boneca e não tinha dinheiro para comprar o que quisesse e quando quisesse. Era frustrante para Jean não conseguir ser como April, enquanto para ela, ser daquele modo, era algo natural. Apesar disso, hoje elas são melhores amigas, mas no passado já fez a irmã de Harry chorar diversas vezes por conta de sua fracassada autoestima. Por conta disso, ela esclareceu a diferença gritante entre Mark e seus antigos namorados motoqueiros que abusavam de álcool e cigarros. Segundo Jean, ela não sabia quem ela era, consequentemente, não sabia o que queria.
Minha irmã explicou, que por conta de suas experiências, acreditava que Harry Wilberforce poderia ter atitudes semelhantes, enfatizando para mim ou para Liam. E que eu não deveria levar a sério caso ele tentasse me subestimar. Não era nada pessoal, era apenas um reflexo de sua péssima autoestima.
A porta da entrada do casarão estava aberta, significando que havia mais alguém ali, fora do costume.
Adentrei no hall, sem o tradicional rangido da velha porta de madeira. A luz da cozinha estava acesa, e o podia-se ouvir burburinhos e o som de algo fritando.
Deveríamos ter visitas.
Ao entrar na cozinha, meus olhos fitaram a figura loira da tia Christina a se virar lentamente para encarar quem chegara. Ela vestia roupas de ginástica cinzas, tinha o rosto avermelhado e os cabelos um bocado oleosos. De fato estava correndo.
Ela sorriu em conjunto a avó Leslie que estava fritando algo que identifiquei como um omelete.
– Olá, criança! – Tia Christina segura meus dedos brevemente.
Sorrio adentrando mais no espaço.
– Oi tia! Estava correndo? – Pergunto beliscando uma bolacha exposta no balcão.
Ela suspira:
– Estava sim, fui até a praça, estou exausta e suada! – Segura a gola de sua camisa com feição de nojo.
Tia Christina havia tingido seus cabelos de loiros há um mês. Ela naturalmente tinha cabelos negros, como suas irmãs, mas digamos, que aquele loiro a deixou mais bonita, sincronizando com seus olhos azuis céu, os tão admirados de Cooper e Connor.
– Você viu Cooper? Ele saiu com Connor e não atende minhas ligações. – Pergunta.
– Acho que Jane não estava com ele. – Avó Leslie observa e entrega o prato com omelete para ela.
– Não, não estava! – Concordo.
Ela assente um pouco confusa, porém logo volta a seu semblante anterior:
– Tudo bem! Se caso encontrá-lo antes, avise a ele que a diretora ligou. –
Assenti imaginando que era algo referente a suas notas baixas. Cooper não era do tipo que estudava.
– O seu primo não desce do quarto não? – Tia Christina pergunta referindo-se a Harry.
Engulo seco, não querendo demonstrar desafeto a este.
– Eu acho que ele é apenas tímido. – Respondo evitando o desejo de xinga-lo.
Ela ri com um bocado de sarcasmo.
– Não descer do quarto para falar com uma família que não vê há nove anos, para mim, não é mais timidez é questão de antipatia. – Argumenta cortando sua omelete como uma fina mulher.
Tia Christina não era muito de guardar seus conceitos para si, ela falava o que pensava.
– Sabia que Elise iria mimar essas
crianças! – Sorri com sua análise.
A avó Leslie a encara:
– Christina! – Repreende.
– Estou mentindo?! Elise também sempre foi mimada e casar com Tom não ajudou muito! –Desdenhou.
– Chega de falar de Elise, ela não está aqui! – Avó Leslie diz firme.
A mãe de Cooper assente rolando os olhos. Odiava ser repreendida.
– Eu vou subir! – Aviso.
– Vai lá, querida! – Tia Christina se despede.
Dou de ombros e me desloco para o segundo andar, porém ao lembrar que poderia ter um encontro com Harry, me fez fincar os pés no chão. Eu não aguentaria ter de olhá-lo e rezava com todo o meu ser para que ele estivesse a dormir ou fazer qualquer outra coisa do que sair de seu quarto.
– Algo errado, Jane? – Tia Christina encara-me confusa.
– Não, apenas estava me lembrando se havia colocado a comida de Amora. – Menti.
Ela deu de ombros e eu suspirei criando coragem. Mas cada degrau, ela parecia de esvair de mim. Até o momento que me abandonou completamente, me fazendo alternar meu percurso para o sótão.
Ir ao telhado escrever não seria de todo mal?
Era uma boa desculpa para justificar minha covardia de sempre fugir de conflitos.
Desloquei-me até a pequena e estreita escada que nos permitia acessar o sótão e adentrei no mesmo.
O cheiro de mofo e poeira dominavam o ar, fazendo acelerar o passo para passar pela janela que nos concedia o maravilhoso telhado do casarão.
Passei cautelosamente minha perna para o lado de fora, sentando-me sobre o peitoril e terminando de passar a outra até estar completamente do lado de fora.
Andei lentamente procurando um local menos íngreme para que eu me sentasse e não sentisse uma certa premonição que acabaria por cair do telhado.
Encontrando o local, me sentei rapidamente e estiquei minhas pernas até que ficassem penduradas. Ajeitei minha calça e peguei meu caderno no bolso de meu abrigo.
Sorri com sua simples capa marrom de um tão imenso significado. Nem o caderno mais colorido poderia ser mais belo que aquele para mim.
O céu estava estrelado e admirável, poderia passar horas o olhando.
A brisa noturna abraçou meu corpo, criando uma sensação de melancolia e de gratidão inexplicável. Fechei os olhos para senti-la, tornando aquele casual vento, em um único de significado especial na história dos ventos especiais sentidos por Jane Mellark.
Aquele simples ato da natureza, aumentou meu desejo por escrever como foi o meu dia. Sam precisava ser atualizado.
Abri o caderno sem nunca deixar de ler o pequeno recado deixado por meu pai no ano de 2003, logo no início de minha adolescência.
" Sempre te guiarei para casa, não importa o que aconteça. Seu pai te ama muito e sempre vai te achar, marshmallow! "
Meus olhos lacrimejaram em conjunto a um sorriso genuíno. Eu sentia tanta falta do calor que emanava de seu bondoso coração, do seu sorriso acolhedor e seu jeito de melhor amigo.
Passei as páginas que eram praticamente preenchidas em qualquer espaço existente, apenas para que não precisasse comprar um novo e abandonar aquele. Havia tantas coisas ali, como eu me senti quando briguei com Jena por ela ter roubado vinte dólares da minha mesada. Ou quando beijei pela primeira vez, em 2005, com Thomas Sprouse, um rapaz viciado em War.
Havia dias que estava inspirada e detalhava todos acontecimentos e havia dias que apenas escrevia frases aleatórias, como no dia em que escrevi:
"Eu odeio ervilhas."
Lembro do respectivo momento dessa frase, em maio de 2006, quando fizemos pizza para comemorar os catorze anos de Noah e tia Christina as preencheu com aquilo.
Era por isso que gostava tanto do meu caderno, eu escrevia e desenhava sentimento abstratos em linhas. Toda vez que abria a primeira página, um sentimento de casa e família me inundava.
Cheguei a página de hoje, tirei um lápis do bolso e comecei a escrever:
Jane Mellark em novembro de 2009.
É, quanto tempo não específico os detalhes de meu dia, ultimamente só tenho sido direta e aleatória. Mas hoje eu gostaria de me expressar.
Hoje o dia foi um pouco fora costume. Passei toda tarde na casa de Jean, ao invés de ir ajudar o Tio Anthony com as vacas. Mas não me arrependo. Jean e eu trocamos experiências. Ela contou uma parte de seus problemas adolescentes e como projetava tudo aquilo em April, aquilo que ela nunca poderia ser. Jean me assegurou que eu não devia levar consideração os comentários de meu primo Harry, já que, segundo ela, ele também poderia projetar suas expectativas frustadas em mim. Eu ainda não entendi muito bem sua análise, espero que isso realmente não aconteça. Mas, não duvido muito, ele não se mostrou o mais simpático e subestimou meu ato de gentileza. Mas acho que isso não deve preencher essa página.
Sabe, pai, eu queria entender o porque de tia Christina ser tão dura com tia Elise. Às vezes não parecem irmãs....
E por fim, após minha discussão com Harry Wilberforce, eu fugi para a casa de Jean, tentando me desviar de qualquer conflito.
Parabéns Jane, você progrediu?
Sim ( )
Não (X)
– A noite está bela, não é? – Aquela voz desviou minha atenção de minha animada anotação para o arrepio que subiu a minha espinha. Virei-me lentamente.
Harry Wilberforce tinha sorriso sarcástico e maldoso no rosto enquanto em uma de suas mãos segurava uma garrafa de vodka. Ele me encarava no fundo de meus olhos, enquanto eu poderia sentir a felicidade que este sentia.
– Sim, ela es...tá! – Gaguejei.
Harry sorriu satisfeito com a intimidação que me causara. Desviei meu olhar para o caderno, fechando-o na esperança que não fosse notado.
– O que veio fazer aqui em cima, Jane? – Abriu sua garrafa de Vodka.
Engulo seco e o encaro:
– Vim apenas ver a estrelas. –
Ele dá de ombros e se senta ao meu lado, me deixando desconfortável.
– E você, o que veio fazer aqui? – Tentei disfarçar o tom de indguinação em minha voz.
Ele sorri encarando o nada.
– Beber minha bebida em paz! – Responde dando um gole na mesma.
Rolei os olhos com o tipo clichê de menino rebelde sentado ao meu lado.
– Eu queria te agradecer, Jane... –
O encaro perplexa.
O que Harry Wilberforce teria para me agradecer?!
– Como? – Indago segurando o riso.
Ele sorri novamente sem nunca me encarar dando mais um gole em sua vodka.
Harry vestia um moletom preto e um jeans escuro.
– Por ter me devolvido as minhas cinquenta pratas! Precisava dela para comprar a minha cerveja. – Ele me encara sorrindo.
Rolo os olhos com aquele comentário. Eu não tinha paciência para ouvir qualquer coisa de sua boca.
– Queria te agradecer também por abrir meus olhos e me fazer enxergar que preciso do amor das pessoas! – Harry fita o profundo dos meus olhos, me fazendo acreditar, por um momento, que falava a verdade. Portanto, logo sua risada escandalosa ocupa os meus ouvidos.
Rolo os olhos, sentindo cada partícula minha ser tomada por um raiva descomunal, aquele sentimento que apenas Harry Wilberforce conseguia provocar.
Quando sua gargalhada de desdém e ironia começou a cessar, eu suspirei pesadamente e apenas disse em um tom baixo:
– Me deixa em paz! –
Ele continuou a rir:
– Eu não ouvi direito... – Desdenha.
– ME DEIXA EM PAZ! – Gritei o fitando com fúria enquanto ele me olhava sério. Desviei o olhar para a casa de April do outro lado da rua.
Harry bebe mais um gole de sua Vodka e ignora o meu grito de segundos atrás. Enquanto isso eu tentava suprimir meu desejo de que ele ficasse extremamente bêbado e caísse do telhado.
– Acho que tio Sam não gostaria que você se dirigisse às pessoas assim! –
– E eu acho que você não sabe nada sobre meu pai! – Bati em sua garrafa a tombando na relva por um momento de fúria, o qual me arrependi segundos depois.
– Minha nossa, me desculpa! – Me redimi.
Harry me encara pela primeira vez com uma expressão de raiva arrebatadora, me fazendo estremecer. E num movimento súbito, ele arranca o meu caderno de meu colo.
Sinto meu coração gelar com aquilo, fazendo com que eu me lançasse sobre ele na tentativa de recuperá-lo.
Ninguém nunca havia lido minhas anotações, a primeira pessoa não poderia ser Harry Wilberforce.
Porém, qualquer movimento meu foi em vão. Com uma das mãos ele abria o meu caderno, com a outra ele me continha.
– "Jane em setembro de 2003: Hoje é primeira vez que vou escrever neste caderno!" Vamos ver o que temos aqui! – Disse passando a pagina, enquanto eu continuava a me debater.
– Por favor, me devolve! –
– "Jane em outubro de 2003: Jena é tão chata, ela fica roubando minhas roupas para parecer mais velha. Mal sabe ela que fica igual a um saco de batata." Nossa, que
falsa! – Continuou a avaliar o conteúdo escrito por mim.
Me lancei mais sobre ele. Eu não poderia deixar que lesse minhas anotações mais íntimas.
– "Jane em novembro de 2003 : Ás vezes fico com um pouco de inveja dos peitos grandes da minha melhor amiga, Julie! Por que os meus não crescem?" Acho que devia se preocupar, porque já se passaram seis anos e eles ainda não cresceram.– Desdenhou vitorioso.
Após aquela leitura, continuei a me remexer segurando as lágrimas de humilhação que estavam se formando no canto de meus olhos.
– Essa aqui também é boa: " Jane em fevereiro de 2004: Hoje eu descobri que Scott beijou uma menina, ela nem é daqui, é de Nova Jersey. Contei para o meu pai chorando e ele apenas me disse que sou nova e não devo me preocupar com isso!". Que fofa! –
Ele continuou a passar as páginas procurando algo que fizesse-me me sentir pior.
– Por favor, para! – Supliquei chorosa.
– A claro! Vamos ver as anotações de hoje! –
O pânico me tomou imaginando o que ele faria quando lesse o que escrevi sobre ele. Aumentei minha força para tentar recuperar o caderno, mas o seu aperto se tornou mais forte.
– " Jane em novembro de 2009: É, quanto tempo não específico os detalhes de meu dia...blá blá blá" Ei, espera... " [...] Jean me assegurou que eu não devesse levar consideração os comentários de meu primo Harry, já que, segundo ela, ele também poderia projetar suas expectativas frustadas em mim."
Ele fechou o caderno e me encarou surpreso contendo o sorriso vitorioso.
– Você acha que eu tenho algum tipo de inveja sua? – Desdenhou e gargalhou.
Não respondi o que aumentou o seu sorriso.
– Patética! –
Senti meus olhos lacrimejarem ainda mais, fazendo com que eu desviasse o olhar.
– Por que eu iria querer ser como você, Jane? Uma menina que ainda é apaixonada pelo mesmo rapaz desde a quarta série e não consegue dizer um "oi"?! Aquela menina de pensamento ingênuo que acredita que se a alguém não gosta dela, é porque sente inveja?! Por que eu iria querer ser como você? Você não consegue se defender de uma briga sequer! Qualquer um consegue te derrubar apenas levantando o tom de voz. Por que teria inveja de você? Porque você é iluminada ou droga qualquer? Você não é especial, Jane Mellark. É só uma garota ingênua que não perdeu a virgindade. – Cospe todas aquelas palavras na minha cara com um sorriso no rosto.
Sinto meu coração ser esmagado por uma pedra. Como ele poderia me dizer coisas tão cruéis sorrindo como se estivesse a me elogiar?! Eu não entendia o motivo de tantas ofensas destinadas a mim.
Agora ele havia passado dos limites e não teria nada além de meu total desprezo e nojo.
– Já terminou o seu show, me devolva! – Falo firme engolindo o choro.
Ele encara o caderno e me encara novamente.
– Espera... agora acabou! – Diz e lança meu caderno do telhado, o fazendo cair dentro dos arbustos na entrada da casa.
Solto um grunhido e me levanto furiosa, não me importando com as lágrimas que escorriam por meu rosto. Harry Wilberforce carregava no rosto o mais vitorioso dos sorrisos.
Desloco-me até a janela do sótão,passando por ele, afim de logo pegar o caderno, porém eu paro e disparo:
– Agora eu entendo o porquê de seu pai o ter mandado para cá. Ficar longe de você foi a melhor coisa que ele já fez! –
Olá meninas(os), estou tão feliz que minha história já estava no ranking!!! Vocês são incríveis!! Alguns avisinhos:
- Postei dois capítulos hoje e postarei o resto ao longo da semana.
- Votem meninas!!! Não sejam leitoras fantasmas, o voto de vocês me estimula muito. Nem precisa votar em todos, só dá uma estrelinha!!
Só isso, beijos da Mari
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