Receoso abri a tranca do pequeno baú, o cheiro de mofo inundando o ar me fazendo espirrar, contudo segui em frente pegando o pequeno álbum, localizado no fundo escondido entre outros. Não sabia ao certo o motivo que me levara a guardar aquelas imagens, não era sentimental, mas agradecia-me por ter guardado-as. Aquelas fotografias, que para muitos podia não ter significado algum, carregavam histórias que ajudaram na minha construção como homem e que me fizeram ser o vigilante que sou hoje.

O álbum empoeirado já estava gasto, a capa preta já apagada com o tempo dava lugar a uma coloração acinzentada. Respirando fundo abri o álbum. Já era de se esperar, a primeira fotografia pertencia a ela. Adornada com seus ouros em um vestido num tom de vermelho vinho, seus cabelos negros e resvaladios moldavam seu rosto traçado por anjos e demônios. Talia al Ghul era o pecado em forma de mulher.

Era um tanto difícil falar sobre Talia. Ela era única. Uma mercenária, filha do homem que tentou tirar minha vida várias vezes que ironicamente me achava o par ideal para sua primogênita e, mesmo compartilhando de ideais totalmente diferentes me via como um, sucessor de seu legado criminoso. As lembranças que a envolviam eram muitas, nos amamos intensamente e cada momento com ela era memorável, mas nenhuma data conseguia ser tão importante quanto à recordação do dia que geremos a Damian.

Depois de tomar conhecimento da tragédia ocorrida durante a infância de Talia, Ra's al Ghul me concebeu a mão de sua filha. Era a minha chance de concertar o passado. Eu não sabia ao certo o que sentia naquele momento: felicidade, paixão e medo... Por mais que Talia fosse forte e super protegida, ainda assim era arriscado. O Cavalheiro das Trevas não poderia amar.

Entretanto, quando entrei em seu quarto e senti o toque de suas mãos sedosas, seu pequeno corpo e lábios macios juntos aos meus, eu esqueci tudo. Esqueci toda a maldade daquele mundo. Deixei minhas responsabilidades de lado e me permiti ser homem, abandonando o Batman por aquele momento. Talia fazia isso comigo, ela tinha o poder de me teletransportar pra outra dimensão, me enchendo de prazer.

As palavras ditas por ela me faziam perder o controle, libertando os meus instintos mais selvagens. Sua camisola branca desenhava seu corpo, revelando seu corpo esguio e curvilíneo, com a boca rosada e pele corada, ela parecia um anjo. Eu estava apaixonado. Não era amor, compreendia isso, mas sabia que era paixão. Meu corpo ardia como brasa quente, eu a desejava desesperadamente naquele momento, eu precisava fazê-la mulher.

Naquela noite nada mais importava, eu só a queria. Seus beijos me extasiavam, o seu toque queimava a minha pele e poder tê-la me fazia sentir como uma supernova prestes a explodir. Não existia mais Talia nem Bruce, éramos um. Uma só carne, um só desejo, era paixão.

O ato era carnal, mas havia ligado nossas almas, lutávamos juntos aquela batalha. Sempre quando precisava buscava e encontrava minhas energias nela, me sentia mais forte do que nunca. E quando achei que era impossível ela fez da minha vida um mar de felicidades. Talia estava grávida.

Finalmente poderia me livrar do meu trauma, fazendo do meu filho, do nosso filho, a criança mais feliz e amada de todo o universo. Ele ainda nem possuía feições mas eu já o amava com todo meu coração. E amava Talia por isso, amava ela por ter me dado a maior dádiva de todas, ser pai.

Eu queria proteger os dois de tudo neste mundo, queria dar para eles uma vida cheia de paz e amor, estava disposto a abandonar o meu manto, tudo por amor. Ela enxergava isso e sabia o que abandonar o meu eu Batman significava pra mim, ela sabia que Gotham não poderia ficar sem um Batman. Imprudente, Talia se sacrificou por mim.

Não era o que eu queria, o que eu mais ansiava era ter o meu filho nos meus braços o protegendo do mundo. Talia entendia a importância da paternidade para nós dois, porém ela abriu mão de um egoísmo meu por um bem maior. Posso não ter compreendido na época, mas esconder Damian de mim foi a melhor decisão que ela poderia ter tomado.

No momento que ela me contou que havia perdido o bebê meu mundo desmoronou, já tinha planejado tudo até os nomes eu já tinha Thomas e Marta... Mas mesmo assim eu estava disposto a prosseguir com o nosso relacionamento e tentar de novo. Eu queria ter uma vida ao lado de Talia e construir com ela uma família, mas não era isso o que ela queria. Acreditei no seu amor e confiei nele pra mais tarde descobrir a sua efemeridade.

Todas as declarações foram feitas da boca pra fora, nenhum "eu te amo" era verdadeiro, porque se fosse ela teria me amado com atos, ficando do meu lado e realizando todas as promessas feitas em nossas noites de amor. Talia me via como um forte pretendente capaz de progredir com o império de seu pai, talvez me via além disso mas sua ambição por poder era maior.

Quando toda a luta acabou achei que poderia encontrar conforto em seus braços e a consolar de toda dor e sofrimento, mas fui enxotado da mesma forma de como se despede um funcionário. E com um pedido de desculpas eu sai, prometendo pra mim mesmo que nunca mais iria voltar.