No momento em que desprendeu-se,
foi como se fosse sempre uma primeira vez,
a descoberta, a sensação anestesiante que o novo proporciona.

Então desprendeu-se
e foi voar com asas feitas de cera -
voou voos longos, distantes, ausentes;
voou paisagens inteiras debaixo da minha pele,
através das minhas veias.

Depois, em terra firme,
caminhou relevos destruídos e planícies,
mapeou esses lugares na memória
e recolheu algumas lembranças caso o momento exigisse.

Sendo assim,
foi-se de mim levando a poesia
e os dias que eu ainda tinha,
as palavras que morreram dentro da garganta seca.

Deixou-me algumas sementes para crescer dentro do meu ser,
uma paz violenta, um mantra,
uma bússola sem direção
como se fosse uma folha branca direto para o meu coração.