Freya

Acordo com uma das criadas separando minha roupa e o cheiro do pão quente entrando no quarto, hoje é o primeiro dia de outono, vou ter muito trabalho, e pensar que no início do inverno eu vou fazer dois anos de “casada”, nem eu acredito que já passou tanto tempo, melhorei e muito a vida na minha alcateia, não tem ninguém passando fome, todos trabalham pra todos e o melhor eu consigo administrar o dinheiro para que meu “marido” consiga beber até cair e transar com suas concubinas, sem faltar aos empregados e ao povo quando precisam. Olho para o vestido verde escuro que Selina separou, acho que isso é muito formal para o dia a dia, pergunto a ela
– Selina, não acha que esse vestido é muito pra hoje?
Levanto da cama indo pra tina me banhar quando a porta é aberta e Igor entra cambaleando com o rosto vermelho de tanta bebida, ele me olha só de roupa de dormir e diz:
– Você fez tudo isso pra mim mulher? Não esta nem perto da nossa comemoração de casamento – não deu tempo de processar oque ele iria fazer quando sinto suas as mãos apertando a minha cintura – Vamos comemorar hoje, não é. – ele me põem sentada em uma mesinha que tem ao lado da tina derrubando tudo que estava em cima, entra no meio das minhas pernas e enfia a mão por baixo da minha roupa e sem permissão alguma invadindo minha intimidade com três de seus dedos, a dor que segue me rasga, não me surpreenderia se estivesse sangrando, minha visão fica escurecida me agarro em seus braços e aperto forte ao ponto de furar sua pele – Eu gosto das violentas –  lambe meu rosto.
– Senhor! Preciso que durma ou no mínimo tome um banho gelado, hoje o palácio estará aberto a seus súditos eles virão pedir concelhos e bênção para que essa última colheita dure o inverno, além do mais comerciantes de todo o clã vão vir pra negociar depois de tanto tempo.
Cristofer interrompe Igor de forma desesperada fazendo com que ele tirasse seus dedos e os lambe olhando diretamente nos meus olhos e sai do meu quarto trocando os pés e resmungando que não consegue foder sua esposa. Seline quase que imediato vem em minha direção conferir se estou bem.
– Me desculpe senhora, eu não sabia que ele estava nesse estado, me desculpe da próxima serei mais cuidadosa – sorrio fraco, tento sair de cima da mesinha me apoiando nela e sinto um desconforto muito grande ao andar até a tina – a senhora é um anjo, não sei como aguenta tudo isso. – Selina fala me ajudando a tirar minha roupa e entrar na tina com água morna.
– Pelo bem dessa alcateia Seline – respondo olhando em seus olhos – Agora não tem cidadãos morrendo de fome, de sede, de peste ou ataques de lobos solitários – sento na tina e começo a lavar meu corpo, olho pra todas as marcas já existentes – Isso é que preciso aguentar pra manter a mim e a todos os outros vivos – ela balança a cabeça em negação – Não precisa se preocupar eu passo por coisas similares a anos, só não acostumei e esse jeito brutamontes que ele tem – ela olha para o quadro do meu casamento séria enquanto lava meus cabelos com sabão, ela joga água pra enxaguá-los e passar um óleo perfumado, o seu silencio é acusatório, levando e me seco Seline vem ajudar me vestir e perguntar enquanto amarra a cinta de couro marrom em minha cintura
– Você ama ele Freya? – ela pergunta sem me olhar – Não, eu não o amo e acho nunca amarei – sento em um banquinho de frente pra uma mesa mediana com vários assessórios para o cabelo, perfumes e maquiagem.
– E se seu companheiro chegar? Você vai abandonar Igor? – ela me pega de surpresa com essa pergunta, eu reflito alguns instantes, o meu sonho é sair desse lugar dessa vida, mas Igor é um péssimo alfa e não sei se teria outra pessoa que aguente tudo pelo bem da vila, antes de responder ela, eu olho em seus olhos através do espelho e falo com toda a convicção
– Se eu o abandonasse iria abandonar essa alcateia e eu não conseguiria deixar vocês a mercê dele. – ela me olha assustada não acreditando nas minhas palavras
– Você rejeitaria seu companheiro só pra não nós deixar sofrer? – eu concordo com a cabeça, atrapalhando um pouco enquanto ela faz uma trança – Você realmente é um anjo que a lua enviou, você não merece isso, você deveria fug... – corto a fala dela, e sorrindo com o resultado da trança e a minha resposta – Vocês também não merecem que o passado volte, o que é o sofrimento de um comparados a de uma alcateia inteira? – Selina se calou ainda contrariada, ela coloca um colar com um rubi em meu pescoço, me olho no espelho e respiro fundo eu tenho que dar o melhor pra essa vila, hora de trabalhar.
Saio do meu quarto e a primeira pessoa que vejo é Cristofer andando de um lado para o outro, quando ele me vê me abraça forte mesmo sobre os olhares de julgamento dos guardas, ele se afasta e me olha nos olhos
– Perdão Freya, eu estava de olho nele quando me virei pra pegar a coroa no chão ele tinha sumido, eu até achei que ele iria pra outro lugar, que ingênuo que eu fui – seu olhar era pura culpa, seguro em suas duas mãos e tento acalmá-lo  – Tudo bem, você não teria como saber que ele viria direto pra cá – aperto de leve suas mãos – Uma hora ou outra eu terei que dormir com ele, faz 3 meses que consigo me esquivar, melhor fazer isso enquanto ele ainda esta calmo – solto suas mãos e dou um leve sorriso – Hoje temos muito trabalho, além de visita dos cidadãos creio que alguns comerciantes do clã virão para troca de recursos, estou certa?
Ele confirma apenas acenando com a cabeça, seguimos o corredor ate as escadas aonde encontro um dos responsáveis sobre o comércio interno da cidade, desço conversando sobre quais são os alimentos que estão em falta e sobre quais as previsões da seca no inverno. Cristofer me olhava sem conseguir disfarça seu descontentamento sobre minha ultima resposta. Eu sei que todos se preocupam, bem a maioria é que tudo volte a como era antes e os que convivem direto comigo e com o Igor se preocupam com minha vida.
Bem era de se esperar, antes do casamento ele era conhecido como o alfa vermelho, Igor tem uma sede por sangue que beira a loucura, ele decapitou uma de suas concubinas pelo simples fato de tentar olhar pra ele durante o ato. Foram épocas horríveis, sempre que podia ele arrumava mais uns seis valentões e iam atacar lobos solitários, segundo ele era pra proteção, muitos lobos confiam sua vida a ele, tem mulheres que até sonham em estar no meu lugar, eu quem sonho em estar no lugar delas.
Chego na sala de jantar e já tem comerciantes conhecidos se servindo, assim que notam minha presença eles se levantam e dão uma breve reverência, eu nunca vou me acostumar com isso, me sento ao lado esquerdo da cabeceira* da mesa, alguns dos comerciantes olham torto o meu gesto deles não se contém  e pergunta
– Mil perdões Luna, mas o seu lugar é ao lado direito de seu companheiro. A senhora vem de tão baixo nível da hierarquia que não sabe coisas básica – debocha o que parece ser um comerciante de Luna nera, Cristofer fica agitado e tenta falar porém calo ele com um gesto de minha mão
– Caro senhor, esse é o lugar que eu escolhi, a companheira de Igor, a verdadeira Luna, faleceu a pouco mais de quatro anos, eu não me sinto no direito de tomar o lugar dela, ela sempre será a Luna dessa alcateia, e eu sou apenas a administradora e esposa do alfa...
– E se tiver algo contra minha esposa peço que se retire e leve seus produtos para longe de minha alcateia – Igor fala enfurecido da porta do salão, todos se calam nem mesmo o vento quer atrapalhar essa entrada, nenhuma pessoa em sã consciência tentaria contrariá-lo, escuta apenas seus passos em direção a mesa, ele senta em seu lugar pega minha mão e da um beijo em seu dorso
– Bom dia querida – Igor fala com uma voz mansa.
Isso me deixa muito preocupada, ele esta aprontando algo.