Capítulo 13: apaixonados em Keema
https://youtu.be/234u2ZV8HNY
XIII: apaixonados em Keema
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Dez dias depois
Hadin contemplava as ondas socarem as rochas e acariciarem a areia da praia. O vento do litoral bagunçava-lhe a cabeleira castanha e seu olhar azul compenetrado mirava o horizonte. O pôr-do-sol avermelhava o céu e realçava o rosa do Oceano Salmão, num espetáculo de cores. Porém, ele não estava admirando a beleza oceânica, ele estava dividido, entre o cumprir uma promessa feita a si mesmo ou a ceder ao seu próprio coração...
Hadin levantou-se para retornar à pousada, precisava levar Nemat ao Ninho, porém, quando se levantou virando-se para ir, deparou com Nemat chegando. Ela usava o vestido vermelho e branco, uniforme do bar.
–– Nemat? O que está fazendo aqui? Eu já estava indo para acompanhá-la até...
–– Hadin, precisamos conversar.
–– Agora? Vai se atrasar...
–– Não vou, será rápido. E você não precisa me levar até o Ninho, sou grandinha o suficiente para isso, é só me acompanhar na volta para casa...
–– Tudo bem... O que deseja?
O coração de Nemat batia forte e rápido demais. Você precisa fazer isso, garota, vamos, diga! Não vai fraquejar agora, vai? Leor tem esperança e está numa aventura... E você, o que tem? E o que terá se privá-la de viver o que tem vontade? Nada! Então, vamos lá... São só três palavrinhas...
–– Hadin... – Ela respirou fundo. Estava olhando para areia... Ergueu a cabeça e seus olhares se cruzaram – Eu te amo.
Hadin piscou. Nemat dissera aquilo tão naturalmente, tão abertamente e tão do nada que ele ficou sem reação! Bom, não completamente sem reação: seu coração batia forte, a barriga era invadida por ondas de frio e ele sentia uma alegria proibida...
–– E eu sei que você também gosta de mim! – Completou Nemat.
–– O que te faz pensar isso?! – Disse Hadin, quase ofendido. Estava com raiva de si mesmo por não conseguir controlar aquela emoção. Ele havia prometido a si mesmo! Então, por que seu coração estava contra ele? E contra Junny?
Nemat aproximou-se dele e empinou o nariz, como se estivesse desafiando-o.
–– Então diga que eu não balanço seu coração.
Hadin a encarou de volta, aceitando o desafio. Se ela contara que o amava, contaria para ela o porquê eles não ficariam juntos.
–– Nemat, sabe o que essa chave significa? – Disse ele, segurando o pequeno objeto que estava pendurado no pescoço – Dei essa chave à Junny e ela usava como colar, nunca tirava. Entreguei a ela no dia em que a pedi em casamento, disse que aquela era a chave do meu coração e que ela era a mulher da minha vida. Quando Junny morreu... Eu peguei a chave para mim como forma de me lembrar a quem meu coração pertencia. – Nemat estava com a cabeça virada para o lado, fitando o nada. Ela parecia chateada – E naquele dia, Nemat, eu prometi a mim mesmo que jamais amaria outra mulher e que vingaria a morte de Junny. É por isso que não podemos ficar juntos.
Ela voltou a fitá-lo. Tinha lágrimas nos olhos.
–– Eu sinto muito por você, Hadin... Porque está preso no passado de tal forma que morre aos poucos, dia a dia! E só você, Hadin, só você pode se salvar... Você precisa nadar para fora desse mar de dor e ódio em que está se afogando. Me diga, o que é pior: quebrar uma promessa feita a si mesmo ou se proibir de ser feliz? – Ela segurou sua mão com força, obrigando ele a fitá-la – Sente isso? É porque você está vivo! E a Junny não está mais aqui! Você precisa aceitar isso, Hadin... Não estou dizendo para esquecê-la, estou dizendo que ela não vai voltar pra você. – Hadin a encarava. Por incrível que pareça ele não estava com raiva de Nemat, era como se ele estivesse precisando ouvir aquilo e soubesse disso – E eu tenho certeza, Hadin, que se a Junny estivesse aqui agora ela não iria querer vê-lo assim, preso ao passado. Ela te fez feliz enquanto estava viva e você foi fiel a ela, agora está na hora de voltar a viver... Por favor, não se enterre antes mesmo de morrer...
As duras palavras de Nemat eram como um bálsamo para o coração de Hadin... Ela fora sincera e ele estava precisando daquilo. Ele queria desesperadamente sair daquele mar de angústia que Nemat mencionara, mas...
Ela virou-se e foi embora, deixando Hadin pensar no que dissera. Ele voltou a sentar na areia e fechou os olhos... Tinha jurado que seu coração pertenceria somente à Junny, mas ela não estava mais ali e o seu próprio coração havia se rendido à Nemat...
Porém, ele ainda sentia ódio das pessoas que mataram a esposa... Também sabia que, a partir do momento em que decidisse viver o amor que sentia por Nemat, ele deixaria aquele ódio de lado, mesmo sem querer. Agora, precisava escolher entre continuar vivendo pela vingança ou entregar-se ao amor.
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Três dias depois
Um mês havia se passado desde que eles se conheceram em Scien e embarcaram naquela jornada, porém ainda não tinham chegado em Alzask. Estavam terminando de cruzar Keema e Leor já estava acostumado com a nova rotina de dormir tarde, acordar cedo e caminhar por horas a fio. Durante a viagem, eles quase não ficaram em pousadas, geralmente acampavam na estrada, como os nômades mais aventureiros costumavam fazer. Não haviam sido assaltados nenhuma vez e era sobre isso que eles estavam conversando naquela tarde.
–– Somos dois loucos sortudos! – Dizia Shari, rindo.
–– Três.
–– Você ainda não desistiu de tentar me fazer gostar do Marboh, não é?
–– Lógico, ele é meu amigo. E eu já te entendi, Shari. – Ela olhou intrigada para ele – Você finge que não gosta do Marboh, mas, no fundo, o ama.
–– Ah, tá, tenho pena de vocês dois. Não gosto do seu lobo e de nenhuma outra bola de pelos que voe.
Marboh deu uma mordidinha na perna dela e Shari deu um gritinho, agarrando sem querer o braço de Leor com o susto. O barman não segurou a gargalhada.
–– Não precisa ter medo dele, Shari, apesar de odiá-lo, ele não vai te atacar... Marboh tem outras táticas de conquista.
–– Eu não tenho medo dele! – E também não o odeio, pensou ela – É que ele me mordeu! Foi de leve, mas eu assustei, poxa!
–– Está vendo o que acontece com quem magoa um lobo? Você feriu os sentimentos dele.
–– Sentimentos! – Os dois riram.
De repente, Marboh parou e começou a rosnar, com os pelos arrepiados. Ele estava olhando na direção de Shari.
–– Leor... – A voz dela denunciava seu pavor. Shari tinha trauma de lobos e apesar de ter simpatizado com Marboh, ainda tinha um pouco de medo dele.
Leor puxou Shari para trás de si, estranhando o comportamento do amigo felpudo.
–– O que é isso, Marboh?!
O lobo estava em posição de ataque e mesmo Leor colocando-se entre Shari e ele, Marboh continuava encarando-os. O barman não compreendia a reação do lobo. De repente, ele voou para cima deles, Leor ainda teve tempo de gritar para Shari:
–– Abaixa!
Eles se abaixaram e Marboh passou por cima deles, pisando nas costas de Leor, pegando impulso e indo para trás. Imaginando que o amigo enlouquecera e com medo dele ter atacado Shari, Leor virou-se ainda abaixado, quase em pânico.
–– Shari!
–– Aqui, estou bem... Ele... Passou por cima. – Ela estava ofegante, aproximou-se de Leor e o agarrou apavorada. Ergueu os olhos e viu que ele estava olhando para atrás de si, Marboh aprontava outra coisa. Ela virou-se e viu.
O lobo estava atando três homens. Bandidos.
–– Shari! – Leor segurou seus ombros, forçando-a a olhar pra ele. Ela estava visivelmente com muito medo – Concentre-se! Corra para aquele lado, eu vou cuidar desses filhos da mãe. Se alguém se aproximar de você, use suas flechas!
Ela correu para o outro lado da estrada, enquanto Leor pegava seu "cajado-lança" para atacar os ladrões. Aquele era um trecho que, se Shari fosse realmente uma guia profissional, teria evitado. Apesar de ser o mais bonito, era onde havia mais assaltos. A estrada era cercada por árvores de folhas amarelas, que formavam uma espécie de túnel natural. E esse túnel além de bonito, era perfeito para esconder gatunos.
Leor e Marboh lutavam contra os três homens, enquanto Shari estava escondida atrás de uma árvore. Suas mãos tremiam do susto que tinha levado com Marboh voando em sua direção. Pegou o arco e flecha e mirou. O tremor das mãos dificultava a mira, mas ela conseguiu atingir a perna de um dos três. Pegou a segunda flecha, quando foi imobilizada por trás, sem sequer ter a chance de ver quem era...
Na briga, um bandido morreu e os outros dois fugiram, então Leor virou-se procurando pela amiga. Ela estava sendo usada como refém por um quarto ladrão que eles não tinham visto. Ele lembrou-se da negociação fria e eficaz de Hadin... Será que ele conseguia fazer igual?
–– Dê-me cinco moedas de ouro, vire-se e caminhe até sumir de vista e eu prometo que não machucarei ninguém!
Leor deu uma risada.
–– Cinco moedas de ouro por minha prima insuportável? Pode ficar com ela e de graça! – O blefe tinha que funcionar, pois ele não tinha tanto dinheiro...
–– Como é que é?! – Shari estava furiosa. Ele ia tentar blefar quando a sua vida estava em risco? – Olha aqui, turista...
–– Aliás, obrigado. E boa sorte!
Leor virou-se para ir, Shari reclamava sem parar e homem ficou irritado.
–– Espera aí! Eu não quero a garota, elas são problemas demais para ladrões como eu!
O garçom virou-se com a lança pronta para o disparo.
–– Problema é o que você terá se não largá-la em cinco segundos! Prometi a mãe dela que a levaria para o seu pretendente. Demoramos anos pra achar alguém que quisesse casar com essa chata e se algo der errado por sua culpa, será obrigado a se casar com ela e virar um homem decente!
Shari continuava reclamando furiosa, e o homem ficou aflito.
–– Casar?! Ei, eu estou com a sua prima, quem faz as ameaças aqui sou eu!
–– Acha mesmo que está em poder de negociação?! Eu finalmente vou me livrar dela e quem quer que apareça no meu caminho terá problemas muito maiores do que um assalto que deu errado! Agora, se você não largá-la em cinco, quatro, três...
O homem empurrou Shari com força e saiu correndo. Nada como um casamento para assustar mais um ladrão! Leor se aproximou dela e lhe estendeu a mão para ajudá-la a levantar-se.
–– Você está bem?
Shari estava de cabeça baixa, com o coração ainda apertado, limpando seu vestido que sujara quando ela caiu no chão. Ergueu o olhar e viu Leor segurando-se para não rir. Irada, deu-lhe um tapa na cara. Ele desatou a rir e ela começou a caminhar apressadamente, vermelha e bufando.
–– Shari, espere!
–– O que você queria, Leor?! Fez isso porque não era a sua vida ou a do Marboh que estava em perigo! Não tem importância se é a artista que está com a vida em jogo, não é? Nããão, vamos lá, vamos blefar, quem liga se a Shari pode morrer?! – Ela falava sarcasticamente quase gritando de tanta raiva, enquanto caminhava às pressas.
–– Poxa, Shari, me perdoe, mas eu não poderia pagar cinco moedas de ouro! Tive que blefar...
Ela parou e virou-se para ele, num jeito ameaçador. Leor quase trombou nela, mas conseguiu parar a tempo.
–– E se desse errado Leor, e se ele não caísse no seu blefe patético?! O que você faria?
–– Então eu iria apelar para a masculinidade dele e pediria uma luta. Eu só sei que jamais te deixaria... – Eles estavam muito próximos e a resposta de Leor foi como um balde de água fria na raiva dela. Ele não tinha obrigação nenhuma de pagar um resgate, qualquer um teria abandonado-a, e agora que ela parara para pensar nisso estava constrangida...
Shari piscou e virou-se, continuando a caminhada, dessa vez num ritmo normal. Leor sorriu ao vê-la zangada e depois embaraçada... Ela era encantadora de qualquer jeito!
Caminharam por alguns minutos e ouviram o barulho de água corrente. Fazia alguns dias que eles não se hospedavam e acampar na estrada significava nada de banho. Decidiram aproveitar a água e seguiram o barulho, até encontrarem uma cachoeira. Leor nunca tinha visto uma e estava maravilhado!
Shari tirou a roupa, ficando apenas com o vestido de baixo. Como em Saas não existem calcinhas, sutiãs ou cuecas, no oriente as mulheres usam uma espécie de mini-vestido por baixo da roupa. Ele era feito com um tecido leve, delicado e quase sempre branco. Os homens usavam uma bermuda por baixo da calça, que também costumava ser branca. Ela e Leor estavam viajando juntos há mais de um mês e sentiam-se à vontade o suficiente para tomarem banho de cachoeira.
Leor fez o mesmo e correu para um mergulho. A água estava gelada e Shari mal conseguia se mexer... Ela estava com a água na cintura, tentando ir mais fundo, a passos lentos. Leor aproximou-se.
–– Mergulha logo, é bem melhor!
–– Fique longe! – Ele nadava perto dela com um ar maroto e Shari estava com medo dele jogar água nela – Para, turista! Estou falando sério, hein!
–– O quê?! Eu não estou fazendo nada...
Shari fechou os olhos arrepiando-se ao dar mais um passinho não muito corajoso. Leor aproveitou que ela não estava olhando e abraçou-a, mergulhando junto com ela. Shari levantou-se ensopada, furiosa e tentando acertar Leor, que fugia dela.
–– Aaaahh! Eu falei pra você ficar longe! Turista estúpido, o que você tem na cabeça?! Nunca mais chegue perto de mim!
Leor aproximou-se dela, tentando defender-se dos tapas com um braço e provocando-a ao mesmo tempo.
–– Mentira, você que não consegue manter suas mãos longe de mim!
–– Como é que é?!
Ele ria e Shari deu-lhe outro tapa no braço-escudo antes completar com um sorriso, respondendo à provocação dele:
–– Você é que não consegue tirar os olhos de mim...
–– Claro, é porque eu preciso seguir você! Esqueceu que é minha guia?! – Leor ainda ria quando lembrou-se de algo que lhe chamara a atenção, só que não tinha mencionado antes porque Shari estava zangada demais – Ah, falando nisso, por que você disse que "ninguém liga se é a vida da artista que está em jogo"?
Shari engoliu em seco. Ela dissera aquilo?
–– Porque para aturar você e o Marboh é preciso ser uma artista!
Leor jogou-lhe água na cara e ela retribuiu a afronta. Estava ficando tarde, então Shari afastou-se dele para tomar banho direito e mais rápido. Estava quase anoitecendo e o frio a fazia estremecer. Terminou e foi secar-se.
Quando ele também terminou seu banho, foi para a grama que rodeava a cachoeira. A queda d'água tinha apenas uns três metros e a grama ao redor continha uns arbustos aqui e ali de flores silvestres azuis. Ele sorriu ao ver Shari sentada sobre uma manta, secando-se com um pano. O vestido molhado e grudado dela não mostrava o corpo, mas delineava-o perfeitamente e ele não pôde deixar de notar... Quem ele estava tentando enganar?! Sabia que tinha gostado dela desde a primeira vez que a vira e cada dia ao seu lado só o fazia apaixonar-se cada vez mais...
Shari estava secando o cabelo quando percebeu que Leor sentava-se ao seu lado. Ela não olhou para ele, apenas disse com a cabeça virada para o outro lado, secando o ombro esquerdo.
–– Eu espero que tenha vindo pedir perdão por ter me mergulhado naquela água terrivelmente fria!
–– Perdão. – Disse Leor, enquanto segurava delicadamente o rosto dela e virava-o em sua direção, beijando-a.
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Era seu dia de folga e Nemat estava em casa, desenhando. Ela adorava pegar um lápis e rabiscar alguns papéis. Estava desenhando o rosto de Hadin. Ao perceber, amassou o papel, irada.
–– Eu vou te tirar da cabeça, Hadin, você vai ver... – Murmurou para si, sabendo que era mentira.
Alguém bateu na porta e, pelas batidas, parecia com pressa. Eram nove horas da noite e ela não queria receber visitas. Lembrou-se de quando, há dois dias, ela confessara para Hadin que o amava e abaixou a cabeça, envergonhada.
Mais batidas. Estava chovendo e quem é que iria bater em sua porta à noite, ainda mais naquelas condições climáticas?! Ela realmente não queria atender. Mas quem quer que fosse era insistente, então ela levantou-se chateada.
Abriu a porta e deparou-se com Hadin. Ele estava encharcado, com o cabelo desarrumado e ofegante. A camisa meio aberta dele mostrava o peito nu. Ele não estava carregando a chave. Nemat ergueu os olhos para ele, intrigada com a ausência do pequeno objeto. Ao ver que ela reparara, Hadin sorriu um sorriso encantador.
–– Eu estou livre!
Não era preciso dizer mais nada, aquela frase e o brilho de seus olhos diziam tudo. Hadin avançou, abraçando-a com carinho enquanto fechava a porta atrás de si. Ela olhou pra ele, queria tanto odiá-lo! Mas aquele abraço e o sorriso de pura alegria eram demais para qualquer coração resistir...
Ele ainda a tinha nos braços e os olhos de Nemat revelavam a sua luta interior. Ela estava resistindo ao abraço... E Hadin não a culpava, já que ele tinha dito "não" a ela duas vezes!
–– Eu te odeio! – Disse Nemat entre os dentes...
–– Eu te amo... – Sussurrou Hadin ao beijá-la.
Era um beijo doce, leve e apaixonado... Ele parou e olhou pra ela, que ainda abria os olhos.
–– Me perdoa, Nemat... Eu sinto muito...
Como odiá-lo depois de um beijo daquele?! Ele jogava sujo! E como não perdoar alguém que se ama?
Nemat passou os braços pelo pescoço de Hadin e o puxou para si...
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Vocês conheciam a banda The Corrs? Essa música deles que eu coloquei no princípio do capítulo tem tudo a ver com Nedin (Nemat+Hadin) *------*
P.S: aproveitem esses capítulos tranquilos e fofos, eles estão prestes a acabar (não estou falando do final do livro, estou falando que as coisas vão pegar fogo rsrs).
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As lendas de Saas
Escrito e publicado por: Becca Mackenzie
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