15_ Inveja
Já sentiu inveja alguma vez na vida? Não aquela inveja de quando você está em casa no calor e vê stories de vários amigos seus na praia, ou quando você precisa acordar cedo para trabalhar/estudar e um parente seu pode continuar dormindo até mais tarde, não esse tipo de inveja. Mas aquele tipo tóxico que faz a sua vida parecer uma merda perto da vida de outra pessoa. Aquele tipo de inveja que faz você olhar para alguém e desejar com toda a sua força ser essa pessoa. Já sentiu isso? Eu espero muito que não, pois é horrível.
Minha mãe largou o meu pai para ir morar com outro cara quando eu tinha doze anos. Como eu descobri? Cheguei da escola e ela já tinha ido. Não teve conversa, não teve preparação e muito menos a famosa pergunta: " quer ficar com seu pai ou comigo? ". Não teve nada disso.
Ela ainda mantém contato, as vezes fala com a minha tia, mãe da Perola, as vezes me manda mensagens em feriados e datas comemorativas, mas não a vejo com frequência.
Eu não tinha problemas com a minha vida. Na verdade eu só tinha a agradecer, minha família tinha uma ótima condição financeira, eu tinha pais presentes e morava numa cidade praiana. E, claro, eu era rica, então tinha muitos amigos.
Só que depois que a minha mãe foi embora e o meu pai passou a ficar mais tempo no trabalho do que em casa, minha vida já não parecia mais tão incrível. Eu parei de sair e ser a garota que era antes. Meus amigos se afastaram de mim porque eu tinha " mudado " e eu passei a odiar a mim mesma. Por que? Porque, na minha cabeça, minha mãe tinha ido embora por minha culpa.
Passei grande parte da minha adolescência me culpando e me sentindo a pior filha do mundo por ter feito minha mãe ir embora. E sempre que eu via meu pai triste e cabisbaixo, me sentia ainda mais culpada.
Até que meu pai disse que eu deveria passar as férias longe de casa e me mandou ir para a casa da minha prima, Perola. Disse que eu ficava muito em casa e que se eu passasse um tempo com a Perola, que, diferente de mim, era alegre e saía sempre, eu voltaria ao " normal " - palavras dele.
E foi aí que eu conheci a inveja. Aquela inveja ruim que desperta coisas ruins nas pessoas.
Perola tinha a vida perfeita aos meus olhos. Ela tinha pais que a amavam e sua mãe jamais a abandonaria. Ela tinha irmãos que gostavam dela, mesmo que ela e Pedro tivessem uma relação de amor e ódio, de mais ódio que amor, ele sempre estaria ali pra ela. Ela tinha os melhores amigos. Eram divertidos, engraçados, gostavam dela e não se afastariam se ela estivesse passando por um momento ruim.
Resumindo: Eu queria ser a Perola.
E isso me machucava. Me machucava passar tanto tempo na casa dela, ver tanto da rotina e vida perfeita dela e não ter nada daquilo.
Só que, infelizmente, eu fui imatura. Ao invés de buscar ajuda e terapia, eu decidi que minha vida pareceria um pouco melhor se a dela fosse pior.
Não gosto de me lembrar disso. A dor do arrependimento me machuca e se eu pudesse voltar, com certeza, teria feito tudo diferente. Mas, não fiz. Agi feito uma idiota e fui uma garota horrível.
Lembro de quando conheci um cara. Ele era bonito, engraçado e fazia totalmente o meu tipo. Pensei em me aproximar, mas logo percebi que a Perola também estava interessada nele. E o pior, ele também estava interessado nela. E muito. Já tinham marcado de sair e eu ouvi ele falando com os amigos que ela seria a namorada dele.
Aquilo pra mim significou mais do que deveria. Olhando hoje vejo que era só coisa de adolescente, quem nunca teve um coração partido ou viu o crush com outra garota? Mas, pra mim, naquele momento, foi a gota d'água. De novo? Ela se daria melhor que eu de novo?
Pedi meu pai pra pagar o Vinícius pra ele me ajudar numa coisa. E ele pagou. E o Vinício aceitou dar um fora da Perola e ficar comigo.
Foi bom? Não. A sensação de vitória foi boa na hora, mas ele não gostava de mim. Depois que tudo passou, ele espalhou pras pessoas que eu precisava pagar alguém pra ficar comigo e fez tanto bullying comigo que foi por isso que surtei e pintei o cabelo de preto.
Depois eu conheci o Saulo e isso vocês já sabem. Me orgulho? Não, nem um pouco. A culpa foi da minha mãe? Não, a culpa foi minha. Eu quem fui uma escrota durante a minha adolescência inteira e hoje não olho para trás e sorriu sentindo nostalgia, hoje olho para trás e desejo esquecer tudo o que vivi.
As vezes eu conseguia. As vezes eu conseguia só esquecer do passado, só que olhar para Vinícios bem ali na minha frente trouxe tudo a tona tão rápido que precisei engolir em seco para não chorar.
ㅡ Não acredito... ㅡ Ele sorriu tirando o capacete da cabeça. ㅡ Não esperava te encontrar. Faz tanto tempo.
Não consegui responder. Parecia que se eu fizesse qualquer coisa que não fosse ficar parada e calada, eu acabaria chorando. E eu não queria chorar.
ㅡ Ta toda gata... ㅡ Ele cruzou os braços. ㅡ Nem parece a mesma. Agora nem precisaria me pagar.
Mordi com força, sentindo meu maxilar doer. Puxei o ar para meus pulmões e pisquei algumas vezes antes de finalmente conseguir falar.
ㅡ Pizza. ㅡ Foi tudo o que saiu da minha boca.
ㅡ Han?
ㅡ Você não veio trazer a pizza? ㅡ Apontei para a sua mochila bag.
ㅡ Ah... Ta. ㅡ Vinícius foi até sua mochila e tirou de dentro uma caixa de pizza. Antes de me entregar, leu o papel que estava em cima. ㅡ Marcos?
ㅡ Isso. ㅡ Estiquei minhas mãos para pegar a pizza, mas ele a afastou de mim.
ㅡ Quem é Marcos?
ㅡ Você pode me entregar a pizza, por favor?
ㅡ É outro que você pagou? ㅡ Ele voltou a rir.
ㅡ Vinícius, me dá essa pizza.
ㅡ Calma, Juju, relaxa... Só tô zoando com você. ㅡ Sorriu.
ㅡ Eu não estou vendo graça. Me dá a pi...
ㅡ Ta tudo bem? ㅡ Ouvi a voz de Marcos e olhei para trás, vendo-o se aproximar de mim enquanto olhava para Vinícius.
ㅡ Você é o Marcos? ㅡ Vinícius perguntou.
ㅡ Sou. ㅡ Marcos olhou pra mim. ㅡ Você tá bem?
Seu olhar preocupado me pegou desprevenida. Ele parecia sinceramente preocupado comigo. Será que eu estava demonstrando tanto assim o quão estava mal?
ㅡ Você é namorado dela?
Vinícius voltou a perguntar, mas Marcos continuou olhando pra mim. Eu não neguei, então ele olhou para Vinícius e respondeu:
ㅡ Sou, por que?
ㅡ Por nada... ㅡ Entregou a pizza. ㅡ Ela também te ofereceu dinheiro?
A pergunta de Vinícius fez o meu corpo gelar. Não sei porque me importei tanto, mas ver Marcos ouvindo aquilo me quebrou em mil parte. Ele não precisava saber disso. Ninguém precisa saber disso.
Meus olhos se encheram de lágrimas e eu abaixei a cabeça tentando esconder.
ㅡ Por que ela faria isso se eu quem insisti pra ela ficar comigo? ㅡ Sua mentira me fez olha-lo. ㅡ Já olhou pra ela? Eu tive foi sorte de conseguir namorar com ela. E se você faz parte do passado dela, azar o seu por ter dado mole e perdido alguém como ela.
Marcos não me conhecia. Se me conhecesse, certamente não teria dito aquelas coisas. Só que, mesmo assim, aquilo significou muito pra mim.
ㅡ Vem. ㅡ Marcos pegou na minha mão e me puxou de volta para dentro de casa, deixando Vinícius na calçada.
•••
Continua...
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