07_ Modelo
ㅡ Eu... ㅡ Sabe quando você parece engasgar com o ar? Ou só tenta puxar o ar para os pulmões, mas ele não chega? Foi o que senti. Minha garganta pareceu bloquear impedindo que qualquer palavra saísse.
Ele tinha sido tão direto.
Sair com ele? É óbvio que eu queria sair com ele. Ele era bonito, tinha sido gentil comigo e fazia tanto tempo que eu não sabia a sensação de me arrumar para sair com alguém, comer uma comida boa e rir na companhia de outra pessoa.
Mas, eu ia aceitar? Eu sabia que não. As chances de isso dar certo eram poucas. O máximo que poderia acontecer era ele perceber que tipo de pessoa eu sou e nunca mais querer olhar na minha cara.
ㅡ Me desculpa, eu... ㅡ Encarei seus olhos quando a voz finalmente saiu.
Marcos não disse mais nada, ele apenas entendeu, assentiu e saiu de perto de mim depois de sorrir por educação.
A frustração me tomou e eu entrei no carro. O silêncio constrangedor foi cortado quando Pedro finalmente deu partida no carro e saiu da rua.
ㅡ Ta tudo bem, amiga? ㅡ Perola se virou para trás. O que me pegou de surpresa, porque eu estava mesmo esperando um " o que ele falou? Você não negou, né? " Mas ela só pareceu preocupada. Provavelmente porque eu deveria estar demonstrando nitidamente o meu descontentamento.
ㅡ Ta. ㅡ Menti. Não estava. Até quando eu teria medo de me relacionar com as pessoas por achar que não mereço isso?
A verdade é que só de olhar para Perola eu já me lembrava do quão eu não merecia ser feliz na vida sentimental. O tanto de vezes que atrapalhei a dela...
Eu ficava chateada de ver todos os meus amigos namorando. O amor estava no ar ao meu redor, mas eu não sentia que merecia viver algo assim.
Quando me dei conta, o carro já estava em frente a minha casa. Minha nova casa. Meu pai e Carol estavam sentados no quintal em cadeiras de praia, meu pai com uma cerveja e ela rindo de algo.
ㅡ Obrigada, gente. Adorei conhecer vocês. ㅡ Duda abriu a porta do seu lado.
ㅡ Também adoramos você, Duda. Pode vir com a gente mais vezes. O máximo que pode acontecer é você passar vergonha, nada de mais sério. ㅡ Perola sorriu para ela antes da garota sair do carro e ir correndo até o portão. ㅡ Obrigada por ter vindo, Ju. Qualquer coisa pode me mandar uma mensagem, se quiser conversar. ㅡ Ela me olhou com um sorriso acolhedor. ㅡ Até umas duas da manhã eu ainda estou acordada.
ㅡ Ta. ㅡ Ri abrindo a porta do meu lado. ㅡ Obrigada. ㅡ Coloquei os pés para fora. ㅡ Valeu, Pedro.
ㅡ Valeu, prima. ㅡ Fechei a porta do carro e entrei no quintal, fechando o portão.
ㅡ E aí? Como foi? ㅡ Meu pai deu um gole na garrafa de vidro escura.
ㅡ Muito legal! Eles não ganharam, mas acho que nunca ri tanto na minha vida. Teve uma hora que aquele cara, como é nome dele? ㅡ Duda olhou para mim com os olhos cemicerrados. ㅡ Maicão? Maicão, né? Teve uma hora que ele rolou as arquibancadas e caiu em cima dum cara que estava lá embaixo. Quase arrumou confusão atoa. ㅡ Ela disse gargalhando.
ㅡ Maicon é uma figura. ㅡ Meu pai deu mais um gole. ㅡ Uma vez eu levei eles numa cachoeira. Ele e Pedro estavam brincando de afogar um ao outro, mas Pedro estava com o cabelo grande, na época. Pedro veio por trás e afundou ele na água. Quando Maicon subiu, virou para trás e afundou a primeira pessoa de cabelo grande que viu. ㅡ Fez uma pausa. ㅡ Não era Pedro. Era uma garota. Uma garota que nunca vimos na vida e Maicon ficou segurando a garota embaixo da água.
ㅡ Meu Deus... ㅡ Duda começou a gargalhar.
ㅡ E eu do lado de fora vendo o moleque que eu levei afogando uma pessoa na frente de um tanto gente. Pensei que ele tinha ficado maluco. ㅡ Meu pai riu.
ㅡ E a garota? ㅡ Carol quis saber.
ㅡ Ficou desesperada. Mas depois explicamos a situação e ela entendeu. ㅡ Meu pai deu o último gole e colocou a garrafa no chão.
ㅡ O que estão fazendo acordados ainda? É quase uma da manhã. ㅡ Guardei o celular no bolso.
ㅡ Estávamos esperando vocês. ㅡ Carol respondeu. Minha pergunta atraiu o olhar do meu pai para mim e para minha mão.
ㅡ De quem é essa blusa? ㅡ Ele percebeu a blusa azul no meu corpo e Duda olhou para mim com aquele olhar de adolescentes que tinham feito besteira escondido e agora fomos descobertas.
ㅡ De um cara. Uma longa história. ㅡ Joguei minha blusa sobre o ombro. ㅡ Eu vou tomar um banho, to morrendo de sono.
ㅡ Tem pizza na cozinha! ㅡ Carol exclamou enquanto eu passava pela porta.
ㅡ Obrigada! ㅡ Passei direto para meu quarto.
Quando me joguei na cama e encarei o teto, minha cabeça doeu. Eu estava exausta. Exausta pela mudança e exausta mentalmente de mim mesma.
Tão exausta que não quis mais pensar em nada. Só tomei um banho, comi uma fatia de pizza e caí na cama.
O domingo chegou e eu levantei as nove. Desci até a cozinha, mas parecia que ninguém tinha acordado ainda. Provavelmente eles foram dormir mais tarde do que eu.
Era um domingo de sol e de manhã já estava abafado. Já saí abrindo as janelas e portas e peguei um dinheiro para ir padaria comprar pão.
Estava na fila da padaria quando uma mensagem me fez pegar o meu celular. Era uma mensagem de uma loja de roupas chamada Urban Edge, que tinha na minha cidade. Uma loja de roupas masculinas e por isso fiquei confusa.
Eu era modelo. Sim, eu não menti quando falei pra Perola que já tinha feito até comerciais. Atualmente eu trabalhava como modelo e geralmente as lojas me contratavam para fotografar peças. Eu até apareço em alguns metrôs e tem uns ônibus que rodam por aí com a minha cara. Eu tenho vergonha, mas me pagam e eu saio bem nas fotos, então tudo bem.
Era comum lojas me contratarem, mas aquela só vendia roupas masculinas.
Só entendi quando li a mensagem. Eles iam lançar uma nova coleção e isso incluía algumas peças femininas. Queriam divulgar e me chamaram para fotografar.
ㅡ Bom dia! ㅡ O garoto da padaria me cumprimentou e eu guardei o celular.
ㅡ Bom dia! ㅡ Sorri para ele. Pedi pelo pão, pela mussarela e o presunto e comprei também um bolo de laranja que vi exposto.
Voltei para casa relendo a mensagem, mas só respondi quando cheguei em casa e coloquei as coisas sobre a mesa.
Conversamos sobre os valores e eu aceitei ir até lá amanhã, na segunda.
ㅡ Bom dia... ㅡ Carol apareceu na cozinha com olhos inchados. ㅡ Você foi na padaria? Não precisava. ㅡ Disse após bocejar.
ㅡ Nada, eu gosto de caminhar de manhã. ㅡ Puxei a cadeira e me sentei enquanto ela tirava as coisas da sacola e preparava a mesa.
ㅡ A Duda se divertiu muito ontem, não parou de falar depois que você foi dormir. ㅡ Ela sorriu tirando os frios do papel e colocando em potes de vidro. ㅡ Eu estava com medo de vocês não se adaptarem. Ela sempre teve muita dificuldade de fazer amizade. Fico feliz que tenham se dado bem.
ㅡ Ela é ótima. ㅡ Sorri para Carol.
Meu pai apareceu pouco tempo depois e Duda só acordou na hora do almoço, porque disse que ficou lendo um livro até quatro da manhã.
Almoçamos todos na mesa e depois as duas foram para a sala assistir domingo legal. Fazia tanto tempo que eu não via tv aberta que me causou uma certa nostalgia.
O domingo passou bem rápido. Talvez porque eu dormi a tarde inteira para compensar o sono. Nós jantamos cachorro quente assistindo Programa Sílvio Santos e dormi depois de ouvir Duda me reclamar do livro que estava lendo andando de um lado para o outro no meu quarto.
Na segunda levantei cedo e ajudei Carol na arrumação da casa. Ela me pediu para não ajudar, mas ela também ia trabalhar e eu quis ajudar para adiantar, e eu também já estava acostumada a fazer isso de manhã.
Dez da manhã eu estava em frente a loja típica de homens de 17 a 29 anos. Aquelas lojas de paredes pretas, decorações joviais e roupas estilo urbano.
Uma música estava tocando baixo quando entrei no lugar e senti um cheiro familiar.
ㅡ Opa! ㅡ Um cara apareceu atrás do balcão. Era negro e usava tranças. Abriu um sorriso tão bonito e simpático que eu sorri automaticamente. ㅡ Jurema, né? Estava esperando você. ㅡ Ele deu a volta e veio até mim para apertar minha mão. ㅡ Sou o Murilo. Eu quem falei com você no Instagram.
ㅡ É um prazer. ㅡ Apertei sua mão.
ㅡ Eu não vou poder ficar, mas o fotógrafo já vai chegar e o meu sócio também. Ele vai te auxiliar no que precisar. ㅡ Seus olhos foram para além de mim. ㅡ Ele chegou. Até que enfim!
ㅡ Relaxa, cara. ㅡ O cara atrás de mim fechou a porta. O cara que tinha uma voz familiar e que me fez virar para ele.
ㅡ Jurema, esse é o Marcos. Meu sócio. ㅡ Murilo falou atrás de mim enquanto eu encarava Marcos, que olhava para mim com um sorriso curioso.
•••
Continua...
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