A quadra já estava praticamente lotada quando finalmente consegui me juntar ao pessoal de novo. As arquibancadas estavam cheias de pessoas que vieram assistir e a quadra em si já tinham times se aquecendo.

ㅡ Aonde você estava? ㅡ Duda foi a primeira a me notar quando me acheguei e sentei ao lado deles. As meninas estavam sentadas e os garotos estavam em pé, alongando as pernas.

ㅡ Meu Deus! ㅡ Perola se virou para mim. ㅡ Aonde você estava??

ㅡ Eu?? Aonde você estava? Não disse que ia vigiar pra mim se alguém chegasse? ㅡ Coloquei as mãos na cintura e ela começou a soltar aquela risada da Chiquinha de quando faz alguma besteira.

ㅡ Me desculpa, Ju. O Pedro me arrastou de lá dizendo que o Saulo tinha agarrado a cabeça no moletom e eu fui ajudar. Pensei que ia dar tempo de voltar antes deles chegarem. Mas aí eu cheguei lá e já tava cheio de homem lá dentro e... ㅡ Apontou para a blusa que eu estava vestindo. ㅡ De quem é essa camisa?

De repente, todos pararam de fazer o que estavam fazendo para olhar para mim.

Pedro, que estava perto de mim, se inclinou para ler o nome em minhas costas.

ㅡ Marcos. ㅡ Ele anunciou.

ㅡ Marcos? ㅡ Priscila fez uma careta.

ㅡ Quem é Marcos? ㅡ Marina perguntou o que todos queriam perguntar.

ㅡ Ele é do outro time. ㅡ Perola apontou para uns caras se aquecendo na quadra. Um deles era Marcos, que ria enquanto falava algo com Maicão?

ㅡ E por que você está com a camisa dele? ㅡ Dafine cemicerrou os olhos para mim.

ㅡ Eu fiquei presa no banheiro deles porque alguém disse que ia vigiar pra mim sumiu. ㅡ Direcionei o olhar para Perola, que sorriu mostrando os dentes. ㅡ Aí o meu celular tocou, ele apareceu e se trancou comigo lá.

ㅡ Por que ele fez isso? ㅡ Pedro coçou a cabeça.

ㅡ Porque ele não é que nem você, que provavelmente perguntaria " O que ta fazendo aqui?? " bem alto. ㅡ Perola deu um tapa no ombro do irmão. ㅡ Ele fingiu que ela não estava lá.

ㅡ Era o plano. Ficar lá até todo mundo sair, mas eles começaram a querer entrar e eu não sabia o que fazer.

ㅡ Por que não saiu? ㅡ Pedro me encarou.

ㅡ Porque eles poderiam pensar que eu queria espiar gente pelada. ㅡ Expliquei.

ㅡ Eu também pensaria isso. ㅡ Pedro assentiu.

ㅡ Ta, mas como a blusa dele foi parar no seu corpinho? ㅡ Dafine apontou para mim.

ㅡ Ele... ㅡ Bufei recostando na arquibancada. ㅡ Ele fingiu que eu era namorada dele pra eu poder sair. Aí me emprestou essa blusa porque eu estava com a preta.

ㅡ Ele fingiu que era seu namorado? ㅡ Perola cemicerrou os olhos e abriu um sorriso logo depois. ㅡ Eu conheço essa cara, essa fala, esse cheiro... ㅡ Perola cantarolou.

ㅡ Então, ele fingiu que vocês eram namorados? Para o time inteiro dele vocês estão juntos? Namoro falso? ㅡ Priscila começou a sorrir como se estivesse lendo um livro e a sua trope favorita estivesse começando.

ㅡ Essa é uma das minhas tropes favoritas. ㅡ Marina disse, quase que lendo minha mente.

ㅡ Trope? Merda é essa? ㅡ Pedro enrugou a testa enquanto dava pulinhos na nossa frente. Nem sei porque ele, Saulo e Gabriel estavam se aquecendo ali com a gente, ao invés de estarem na quadra com Maicão e os outros.

ㅡ Coisa de livro. ㅡ Marina abanou a mão. ㅡ A trope fake dating é quando os protagonistas começam a fingir namorar, tipo a Pérola e o Saulo fizeram.

ㅡ Eu também amo essa trope. ㅡ Duda sorriu colocando as mãos no peito.

ㅡ Quem é o Marcos? ㅡ Priscila começou a passar os olhos pelos jogadores, mas não ousei apontar para ele. Se eu pensei que estava longe a fase deles me shipparem com alguém...

ㅡ Bora! ㅡ Maicão veio trotando até os meninos.

ㅡ Maicão? Quem é Marcos? ㅡ Priscila perguntou ainda olhando para os garotos na quadra.

ㅡ Marcos? ㅡ Maicão se virou para os caras e eu torci para que ele não soubesse. Mas, quais são as chances de Maicon não conhecer alguém nessa cidade? ㅡ Aquele lá. ㅡ Maicon apontou e eu apertei os olhos.

ㅡ Qual deles? ㅡ Priscila perguntou e eu abri os olhos novamente.

ㅡ MARCOS!! ㅡ Maicão simplesmente gritou o nome dele.

Okay, a quadra estava lotada de gente falando muito alto, além de uma música tocando e o som das chuteiras arrastando no chão. Talvez ele não ouça.

Ele ouviu. Ouviu porque olhou e acenou de volta.

ㅡ Maicon!! ㅡ Resmunguei sentindo meu rosto queimar com a vergonha.

ㅡ Que foi? ㅡ Maicão olhou para mim com a expressão mais inocente e confusa possível.

ㅡ Que vergonha. ㅡ Dafine riu tampando a cara. ㅡ Ainda bem que eu não sou você. ㅡ Olhou para mim pelas brechas dos dedos.

ㅡ Priscila, senta aqui. ㅡ Puxei-a para se sentar do meu lado.

ㅡ Amiga, desculpa. Eu não sabia que ele ia chamar ele. ㅡ Priscila pediu desculpas nitidamente tentando segurar a risada.

Pelo menos ela estava tentando, porque Dafine e Pérola estavam gargalhando alto.

ㅡ Ele ainda tá te olhando. ㅡ Marina disse apenas para mim.

Tomei coragem de olhar e vi Marcos parado entre seus amigos. Um segundo depois estava sendo empurrado para tirar a foto do time.

ㅡ Vamos logo. ㅡ Maicon levou os garotos para a quadra, onde também se posicionaram para tirar a foto deles e cantar o hino nacional.

ㅡ Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante... ㅡ O hino tocava na caixa do som. Os jogadores estavam alinhados no meio do quadra, todos com a mão sobre o peito e bancando os sérios.

ㅡ Olha a perna de Maicão tremendo. Aposto que tá se aguentando pra não dançar. ㅡ Dafine cochichou.

ㅡ Dançar o hino nacional? ㅡ Marina franziu a testa.

ㅡ Ele dança até ao som do carro do gás. ㅡ Dafine revirou os olhos.

O hino terminou e de repente começou outro.

ㅡ na avançada do Estado do Rio
Que o fulgor do Cruzeiro conduz...

ㅡ Que música é essa? ㅡ Pérola fez uma careta.

ㅡ O hino da cidade. ㅡ Priscila respondeu séria, sendo a única cantando a letra.

ㅡ A cidade tem um hino? ㅡ Dafine perguntou chocada.

Elas continuaram rindo, principalmente da parte que diz que a cidade é na terra um pedaço dos céus, mas eu estava concentrada na minha mente que não parava de formular vários pensamentos de uma vez só.

Eu estava cansada, meu dia tinha sido cheio. Hoje eu mudei para uma casa nova, praticamente ganhei uma irmã mais nova e agora estou num namoro falso com um cara que nem conheço.

O hino terminou e nós nos sentamos. O juíz apitou e o jogo começou. A gritaria também.

ㅡ VAI PEDRO, SEU IDIOTA!! ㅡ Pérola gritava.

ㅡ JUÍZ, FILHO DA P*TA! ESQUECEU O CARTÃO EM CASA?? ㅡ Um cara gritava atrás da gente.

ㅡ SAI DAÍ!! ㅡ Outras pessoas gritavam. Eu certamente sairia dali surda ou maluca naquele dia.

ㅡ Seu namorado joga bem. ㅡ Pérola disse em pé do meu lado.

ㅡ Ele não é meu namorado. ㅡ Afirmei.

ㅡ Seu namorado de mentira joga bem. ㅡ Ela corrigiu.

ㅡ Joga mesmo, tá dando um banho nos meninos. Nunca mais visto essa camisa desse homem da padaria. ㅡ Dafine resmungou, mas de repente se colocou de pé. ㅡ VAI MAICON!!! EEEEEE!!! ㅡ Elas começaram a gritar freneticamente e eu percebi que Maicon tinha feito um gol.

ㅡ Nunca critiquei. ㅡ Pérola sorriu.

Com a confusão do gol, o cara que estava atrás de mim acabou me chutando. Não foi forte e ele pediu desculpas, mas acabei ficando em pé para não correr risco de sair dali surda e com hematomas.

Eu nunca liguei muito pra futebol. Não sou muito de esportes, na verdade. O mais próximo de atividade física que gosto é a dança, mas também não é algo que pratico com frequência.

Em geral eu gostava de ir assistir os meninos jogando. Era uma confusão gostosa e eu sempre ria das garotas desesperadas como se eles estivessem jogando a copa do mundo.

Me sentia de vela? Óbvio. Todas elas iam para torcer por seus namorados e até a Marina,  que é nova no grupo, já tinha seu namorado para torcer. Mas eu tentava ignorar isso e torcer por meus amigos ou só rir quando eles levavam uma goleada.

Não sei se estava desanimada só pelo fato de estar cansada da mudança ou se estava com medo de ter chegado a minha hora de ser shippada com alguém por eles.

Balancei a cabeça. Nunca vi Marcos na vida. Não sei nem se ele é daqui. Provavelmente devolverei a blusa dele no final e nunca mais o verei. Não tem como eles ficarem me shippando com alguém que eu nem vou ver mais.

Acreditei no meu pensamento e tentei me divertir.

Foquei minha atenção no jogo em tempo de ver Marcos tomar a bola. Com facilidade, ele foi até o gol e chutou a bola, fazendo parte da plateia gritar enquanto ele saía comemorando.

Era bem comum os caras apontarem para suas namoradas quando faziam um gol, dedicando. Maicon apontou para Dafine quando fez e Saulo também sempre fazia isso. Meu sorriso se desfez quando Marcos apontou pra mim e saiu sorrindo.

•••
Continua...