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A TRIBO INDÍGENA

O viajante estava descansando embaixo de uma árvore, próximo a um rio quando ouviu alguns gritos e risadas. Ele levantou – se, foi ver o que era e descobriu algumas jovens tomando banho no rio, nuas. Tentou manter – se escondido numa moita, mas foi visto por uma delas que alertou as outra e todas irromperam num coro de gritos histéricos.

O viajante tentou se explicar, mas um grupo de homens armados de lanças surgiu do meio da mata e foi em direção a ele. Ele correu, correu, até que tropeçou, caindo. Foi capturado e arrastado pela mata até uma tribo indígena. Lá foi revistado dos pés à cabeça, depois amarrado a um tronco e deixado sozinho. Esperneou, gritou, mas ninguém lhe deu atenção.

Quase uma hora depois um homem, que parecia o cacique, veio vê – lo:

– Me solta, por favor, eu não fiz nada. – o viajante foi logo suplicando.

– Invadiu nossas terras e estava olhando nossas mulheres se banhando no rio…

– Não, não, ouvi gritos e achei que fosse alguém precisando de ajuda, me deixa ir embora.

– Não gostamos de gente de fora, machucam nosso povo.

– Eu não vou machucar ninguém, vocês nunca mais vão me ver, me soltem. – O viajante chorava desesperado.

– Nóis faz com gente de fora, o que gente de fora faz com nosso povo. – disse o cacique indo embora.

Dois índios ficaram lhe vigiando, um afiava a ponta de um dardo e outro amassava algo em uma tigelinha de barro. O viajante já tinha ouvido falar de guerreiros indígenas que colocavam veneno na ponta das lanças, flechas e dardos para o inimigo atingido não ter chances de sobreviver e pôde imaginar o que fariam com ele. Tinha que fazer alguma coisa, não queria morrer.

Lembrou – se que povos como esse tinham muito medo de espíritos, principalmente os do mal. Pensou em um jeito de usar isso a seu favor. Quando, uns trinta minutos depois, a oca onde estava se encheu de gente, ele já tinha um plano em mente. Vendo seus vigias se aproximarem o viajante começou a gritar:

– Não podem me matar, não podem me matar, se eu morrer longe do meu povo meu espirito vai ficar vagando por aí, vocês não terão paz, não me matem.

O cacique fez sinal para que os índios, que guardavam o viajante, esperassem e perguntou:

– Você não parece como nós. De que povo é?

O viajante pensou por alguns segundos e respondeu:

– Curiô. Fomos atacados pela gente de fora, eu e alguns conseguimos fugir, vestimos as vestes dos inimigos que capturamos e nos separamos para ter mais chances de sobreviver. Tenho que voltar para minha tribo.

– Não conheço seu povo.

– Fica longe, eu já estou andando há muitos dias.

– Como você se chama?

– Caratê.

– Se Caratê é como nóis, Caratê é bem vindo. Caratê fica aqui hoje e amanhã guerreiros ajuda Caratê a voltar pra sua tribo e acabar com a gente de fora se ainda estiverem lá.

– Obrigado– disse o viajante aliviado pelo cacique ter acreditado na história que ele inventou.

-Deem água e comida para Caratê e soltem ele.

O viajante foi bem tratado durante o resto do dia, à noite foi levado para uma roda em volta de uma fogueira, onde lhe pediram que contasse sua história. Ele inventou um monte de histórias, se enrolou quando começaram a fazer perguntas e mais perguntas, mas não eram um povo muito inteligente e não perceberam que ele mentia o tempo todo.

Dissera que era um guerreiro, filho do cacique de sua tribo e que o sucederia quando este morresse, que estava à procura de uma esposa, que já capturara feras como leões, tigres, onças, ursos, que já lutara em muitas guerras e ficara gravemente ferido em uma delas. Os indígenas estavam encantados com ele, os guerreiros estavam admirados com tamanha coragem.

O viajante estava adorando toda a atenção que estava recebendo, mas sabia que tinha que ir embora, se continuasse com eles, iam descobrir suas mentiras e isso seria o seu fim. No dia seguinte, teria que fugir antes que eles percebessem que não iria lhes levar a lugar algum.

Logo cedo vieram lhe trazer comida e um pouco mais tarde uma dúzia de guerreiros vieram lhe buscar para o levar de volta para a sua suposta tribo. Andaram por algumas horas e depois pararam para comer, “é agora” pensou o viajante.

– Preciso fazer cocô, vou ali e já volto. – disse o viajante se afastando.

Andou um pouco, deu uma última olhada para trás, realmente queria ficar com eles, e voltou a andar rapidamente, sem fazer muito barulho, quando achou que já estava demorando o suficiente para os guerreiros desconfiarem começou a correr e correu até não poder mais.

Sabia que eles conheciam muito bem a mata e que poderiam encontrá- lo facilmente, mas não desistiu. Subiu em cima de uma árvore para descansar, de lá de cima não viu os guerreiros, mas sabia que estavam lá em algum lugar, procurando – o. Desceu da árvore e recomeçou a corrida, estava perdido, mas não se preocupava com isso, só queria ir para longe daquele povo.

À noite não corria mais, mas continuava a andar e lá pelo fim da madrugada chegou a um pequeno povoado, onde contou o que lhe havia acontecido e pediu ajuda. Todos ali conheciam a tribo de onde ele fugira e sabiam do que eram capazes, deram – lhe água, comida e abrigo. O viajante achou que eles era a tal da “gente de fora” de quem os indígenas lhe falaram e finalmente ele estava seguro.

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