3 - Inexspectatus
Sábado, 7 de julho de 2018.
13hr 45min.
Temperatura por volta dos 23°C. Céu encoberto.
Dominic era alto e esguio, tinha cabelos cacheados tingidos em um tom de rosa pastel e pele morena... Era estudante de psicologia na mesma universidade de Melissa.
Os dois acabam de almoçar e saem do restaurante.
Caminham tranquilamente pela calçada da praça pública, uma área verde urbana pouco movimentada com baixa criminalidade e, portanto, pouca vigilância ou monitoramento policial.
-Então, já faz 2 meses que estamos juntos e só alguns amigos sabem... Basicamente só os meus... Acha que isso é estranho?
-Acho. - Melissa era bem direta.
-Ah, talvez ele só tenha medo de se assumir, que tipo de namorado eu seria se deixasse ele por conta disso?... Mas e sobre o tal Nicolas me fala de novo o que aconteceu... – Dominic comentava enquanto comia um pequeno potinho de salada de frutas, sua sobremesa favorita depois de se tornar vegano, na verdade uma das únicas que podia apreciar - Quer dizer que ele invadiu seu quarto?
Melissa tomava um milk-shake de chocolate branco, ela só tomava sorvetes de cor branca (coco, leite condensado, chocolate branco, creme, baunilha, enfim...) era como se branco fosse seu sabor favorito de sorvete, assim como esfirra sem recheio.
-Talvez eles estejam me vigiando ou algo assim.
-Eles? – Dominic perguntava confuso.
-Sim... Nicolas não está sozinho... Mas é estranho... Sabe, até onde eu sei eles não gostam de mim... Um deles talvez queira até.... – "me matar" Melissa queria completar, mas não tinha coragem.
-Que horror, Mel!! – Dominic disse chocado ao presumir precipitadamente o que Melissa queria dizer – Quer dizer que eles podem ser sequestradores... – Dominic continuava, por mais que isso não fizesse muito sentido – Eles estão seguindo seus passos para estabelecer uma rotina e te levar em um momento que você esteja exposta... – Melissa não entendia muito bem como Dominic havia chegado a essa conclusão, mas continuava a escutar – Eu vi isso em um filme! – "Ahh... Tá explicado" Melissa pensou.
De repente Melissa simplesmente perde o foco.
Dominic continuava a tagarelar, mas Melissa não entendia uma palavra sequer.
-Então eles esperam até um momento vulnerável seu, num local propício... – Dominic dizia ingenuamente, caminhando tranquilo pela calçada até chegar à guia.
Melissa não ouvia nenhuma palavra. Ela não se mexia, estava estática, imóvel, completamente paralisada na calçada ao lado de Dominic em frente à faixa de pedestre...
O sinal abriu, mas ela não se moveu.
"É ela!" Melissa conseguiu escutar dentro de sua mente o pensamento do motorista. O medo tomou conta do seu corpo, suava frio, lágrimas invadiram seus olhos, pensamentos de pânico invadiram sua mente "Oh meu Deus, de novo não!" ela choramingava em pensamento. Ela olhava ao redor com a visão periférica para tentar visualizar o dono da voz... Mas seu pânico a atrapalhava. Ela não conseguia raciocinar.
***
"O que eles estão fazendo aqui?" Nicolas pensava.
Nicolas vestia calça e camiseta preta disfarçando a malha segunda pele de carbono que todos os agentes usavam por baixo das roupas. Ele estava encostado em um poste de luz a vinte metros de distância, seus olhos azuis reluziam ao olhar para Melissa.
Ele sentia a presença do carro preto que vinha em alta velocidade, também reconhecia as pessoas dentro do mesmo.
Ele estava sempre alerta. Sabia do perigo. Sabia que algo estava errado.
-Missão comprometida. Preparar para ação necessária de interceptação. - Nicolas sussurra para Andrew em seu comunicador.
***
Melissa podia ouvir um motor potente se aproximando. O carro vai virar a esquina da rua à direita em 7 segundos.
Dominic era puro e ingênuo, pacífico, tranquilo... Ele não notou o desespero sufocado de Melissa, não notou a tensão palpável no ar, não percebeu que ela estava paralisada. Seus passos eram leves e despreocupados, pois o sinal estava fechado para os carros. Ele não percebeu Melissa ficando para trás.
Um passo.
Melissa só ouvia o palpitar forte do seu coração martelando nos seus ouvidos.
Dois passos.
Melissa deixa o milk-shake cair de suas mãos... Sua respiração, que já estava fraca e entrecortada, de repente para.
Dominic ainda tagarelava algo, que Melissa não conseguia compreender. Até que o final de sua frase ecoou na mente de Melissa:
-... um carro preto e te levam embora... Deus me livre!
No terceiro passo de Dominic o carro preto vira a esquina.
Acelera como se estivesse determinado a quebrar a barreira do som.
Em um flash, Nicolas cruza o espaço de vinte metros que lhe separava de Melissa e põe-se à sua frente, em posição defensiva.
O carro passa a menos de meio metro entre a guia onde Melissa permanecia paralisada e a faixa de pedestres onde Dominic deveria estar, fazendo um drift e parando com os faróis apontados para Melissa.
***
Dominic assistia a situação do alto, sem saber como havia chegado lá. Ele fitava, pasmo, as marcas no asfalto bem em cima de onde ele estava há um segundo.
-Mas o que...
-Shh... – Andrew o interrompe – Eu quero ouvir! Fique quieto!
Dominic estava no terraço de um prédio.
Andrew havia posto o braço de Dominic ao redor do seu pescoço, segurado a sua cintura e, com a ajuda de uma forte rajada de ar de Nicolas, saltou e pousou no terraço, salvando Dominic do atropelamento. Dominic não pôde ver nada acontecer devido à extrema velocidade dos naronianos, e, óbviamente, também por estar extremamente distraído.
Ainda com uma expressão pasma, Dominic dirige seu olhar para Andrew. Alto, forte e atlético, extremamente atraente, a regata preta deixava a mostra seus braços fortes com músculos bem marcados, os olhos levemente puxados estavam fixos na cena que se passava lá embaixo, estava atento e inclinado no parapeito. Ele mexia nos cabelos, negros e lisos, inquieto.
***
-Ora ora... É ela! – um homem dizia ao sair do carro com mais dois homens atrás dele.
Ele era gordo, forte, ruivo, barbudo e tatuado. Os outros dois eram altos fortes, morenos, e aparentavam ser mais jovens.
-Identifiquem-se! – Nicolas ordenava apesar de saber exatamente quem eram.
-Porque eu faria isso? – ele sorria, mas não reconhecia Nicolas – Verônica vai dar uma nota pra quem levá-la viva – ele dizia ao apontar para Melissa.
-A princesa de Naron está sob guarda real naroniana. – Nicolas dizia em tom de autoridade – Identifiquem-se.
Logo armas são sacadas tendo como alvo Melissa e Nicolas.
-Nesse caso, aquele demônio de fogo terá que nos perdoar por levá-la dentro de um saco preto.
Uma ventania se inicia logo após o ruivo terminar a frase. Os céus se agitam e o vento começa a rodear a todos.
-Eu conheço esse poder... – um dos homens sussurrou quase que para si mesmo.
-Não pode ser ele. – o outro respondia no mesmo sussurro.
Nicolas permanecia imóvel em posição defensiva. À medida que a ventania aumentava uma espécie de tornado se formava ao redor de todos.
***
Dominic coloca o braço na frente do rosto para proteger os olhos, tanto ele quanto outras pessoas na rua mal podiam enxergar o que estava acontecendo com tanta ventania.
-Espera, então são vocês. Eu sabia que ela estava falando a verdade! - Dominic exclamou.
Andrew olha de relance para Dominic.
Que criatura estranha.
Dominic parece não ter noção do perigo e se debruça sobre o parapeito a mais de 20 metros de altura. Andrew fita com curiosidade os cachinhos coloridos, um tom rosado extremamente sutil e delicado, admira atentamente a pele morena e uma barba rala, porém bem feita, ele é jovem e bonito, um semblante alegre e empolgado. Inconscientemente Andrew sorri admirando aquela criatura singular, em seguida volta seus olhos a Nicolas e os sequestradores naronianos.
***
-Melissa não irá com vocês. - Nicolas dizia em tom de autoridade.
-Você sabe quem está dentro do carro? - um dos homens indagou sorrindo como quem sabe que sairá vitorioso.
-Sei. E também sei que ela não vai sair daí porque fomos nós quem a prendemos da última vez.
-Eu sabia! - um dos rapazes gritou com medo - É Kenneth.
-O dominante de chamas azuis? - outro rapaz comentou com visível apreensão no olhar.
-É o meu dia de sorte! - o barbudo aponta a arma para Nicolas, sorrindo.
De repente, uma mulher de pele branca, olhos azuis e cabelos negros ondulados, sai do carro.
-Só queremos conversar. Verônica não vai machucar a garota.
-Kligahe falando uma língua terráquea? Para onde foi seu patriotismo? - Nicolas zombava.
-Não enche Kenny.
Podia-se notar um grau de intimidade entre Nicolas e Kligahe.
-Ela não irá com vocês. E vocês sabem que minha equipe está a caminho.
-Sim... Sei também que Dion está te cobrindo... - Kligahe lança um sorriso malicioso para Andrew no topo do prédio. Andrew rosna ao ouvir que Kligahe sabe de sua posição - Esta não é a hora para uma batalha. Verônica quer a garota viva. Voltem para o carro. - ela ordenou.
-Não quero matar a garota! - o barbudo resmunga - Quero matar esse filho da puta! - ele gesticula para Nicolas.
Kligahe se aproxima do barbudo com um sorriso.
-Não diga bobagens. - ela diz ao tocar com o dedo indicador em sua têmpora. Os olhos do rapaz reviram até tornarem-se brancos e então ele cai desmaiado, sem dar tempo de ninguém aparar sua queda.
Os outros dois rapazes o colocam no banco de trás e Kligahe entra pelo banco do motorista.
-Diga à Verônica que ela não terá o que quer. - Nicolas dizia ainda firme porém bem mais calmo. Sua ventania já havia diminuído.
-Verônica sempre tem o que quer. Diga a Dion que estou com saudades. - ela acelera.
***
-Vadia... - Andrew sussurra com raiva ao ouvir Kligahe.
-O que houve? - Dominic pergunta, pois não conseguira ouvir nada com a distância apesar de a ventania ter cessado quando Nicolas relaxou sua postura.
Andrew sobe no parapeito e pula.
Dominic, em pânico, se debruça no parapeito e espera ver Andrew esborrachado no asfalto, mas ao invés disso ele caminha normalmente até Nicolas e Melissa.
"Por Deus! Alguém filmou isso?" Dominic pensava ao olhar a rua, mas estava praticamente vazia ninguém parecia ter percebido o que houve. "Espera... Ele me deixou sozinho?" ele olhou em volta. O terraço não tinha nada além de algumas caixas, ferramentas, antenas e uma porta de metal que provavelmente dava acesso ao interior do prédio. Dominic tentou abrir a porta, mas estava trancada por dentro. "Ah que beleza!" ele volta para o parapeito para ver o que acontecia lá embaixo.
***
-O que foi isso? - Melissa pergunta ainda assustada quando o carro preto já não está mais a vista.
-Me perdoe, eu prometi explicar tudo... Mas... - Nicolas começa se desculpando um pouco sem jeito.
-Vamos? - Andrew chega e o interrompe.
-O que? Onde está o terráqueo? - Nicolas arregalou os olhos.
-Em segurança, ué... - Andrew responde confuso apontando para o prédio onde Dominic ainda está no terraço se debruçando.
Nicolas coloca a mão sobre o rosto em um claro sinal de desapontamento.
-Ele está envolvido. Precisamos levá-lo junto... - Nicolas explica calmamente - Pegue-o e volte para base. Nos encontramos lá. - ele se vira de volta para Melissa e segura suas duas mãos. Melissa recua automaticamente - Eu preciso que você confie em mim. - Nicolas tentava parecer calmo e apaziguador, mas Melissa não conseguia olhar em seus olhos azuis, apenas recuava sem manter contato visual - Me perdoe, mas preciso fazer isso.
Os céus se agitam mais uma vez, desta vez uma forte rajada de vento os rodeou, apenas os dois. Em meio a tanto ar e tanto vento chegava a ser irônico Melissa se sentir sufocada. Em um espiral, o vento os envolveu e os dois voaram para longe.
Andrew revira os olhos e mexe nos cabelos negros novamente ao ver Nicolas ir embora. Ele olha para Dominic ao longe.
Ok, Andrew conseguiria escalar o prédio por fora, mas chamaria muita atenção, e agora sem a ventania de Nicolas todos olhariam para ele. Além disso Nicolas e Tyler foram bem claros que essa missão deveria ser discreta.
-Hey, oh do cabelo rosa! - Andrew gritava ao se aproximar do prédio onde Dominic estava - Já subo aí.
Dominic observa Andrew e seu caminhar despreocupado enquanto ele se dirigia à entrada do prédio.
Poucos minutos depois a porta de metal no terraço começa a tomar uma tonalidade esbranquiçada. Dominic a fita com certo receio. Os tons brancos parecem se espalhar progressivamente em ramificações espirais até cobrir toda a porta e as dobradiças. De repente ela estoura com um estrondo.
-Então... Temos que ir... - Andrew começou a falar com uma das mãos estendidas na direção de Dominic, mas logo foi interrompido.
-Mas que porra é essa? Você destruiu a porta!
Ele olha a ingenuidade de Dominic e sorri.
-Você queria ficar preso aqui?
-Não... - ele disse sem jeito.
-Ótimo, então vamos.
-Espera! Eu não vou com você. Eu nem sei quem é você! Onde está a Mel?
Dominic não viu o tornado levar Melissa dali, apenas viu uma forte ventania que o fez piscar várias vezes e em seguida Melissa já havia sumido.
-Estamos indo encontrá-la agora. - Andrew dizia devagar sorrindo maliciosamente - Não é isso que você quer?
-É... - Dominic dizia recuando com receio.
-Então vem comigo. - sua forma convidativa exalava segundas intenções com aquele insistente sorriso malicioso esboçado no canto de seus lábios, Andrew ainda estava por cima dos escombros congelados da porta de metal com uma das mãos estendidas para Dominic, seus olhos, que eram de um negro profundo onde não era possível se diferir a pupila da íris, pareciam sugestivos - Na verdade podemos chegar bem mais rápido de outra forma... - ele parecia pensar consigo mesmo.
-Que? Do que você está falando...?
Andrew começa a caminhar lentamente em direção a Dominic que recua de costas até esbarrar no parapeito e parar. Ao notar o medo no olhar de Dominic, ele pensa em como acalmá-lo, pois essa não era essa a reação que ele queria causar.
-Meu nome é Andrew. - dizia ao se aproximar. Ele sabia que estabelecer confiança com os terráqueos amigos de Melissa era crucial para a missão - Fui encumbido de lhe proteger. - se aproxima de Dominic e passa a mão pela sua cintura ficando com o rosto bem perto do seu. Andrew é notavelmente mais alto e tem uma postura muito auto confiante. Seu rosto está tão próximo que eu hálito gelado pode ser sentido pela pele de Dominic. - Segure-se. - ele ordena com uma voz baixa, rouca e desconcertantemente sensual.
Um enorme pilar de gelo se ergue sob os pés de Dominic e Andrew os lançando para cima por dezenas de metros.
Assustado Dominic nem consegue gritar, ao invés disso apenas agarra em Andrew para não cair.
-Que bom que Nicolas não espalhou todas as nuvens. Se formos rápido e bem alto eles não terão como nos ver. - Andrew dizia descontraidamente.
Dominic sentia o ar rarefeito, e não entendia como Andrew se movia. Estava agarrado em seu peito e só enxergava nuvens ao seu redor. Um rastro de gelo era deixado para trás enquanto Andrew se movia para frente. Mas o rastro logo evaporava e sumia deixando uma fina névoa gelada. Andrew parecia estar esquiando sobre as nuvens com Dominic em seu colo.
Andrew tinha sorte, com o tempo nublado ele poderia congelar um caminho pelas nuvens e chegar muito mais rápido até mansão. Sem isso provavelmente ele iria ter que caminhar por mais de uma hora. O peso de Andrew e Dominic sobre as nuvens era anulado pela velocidade com a qual se moviam, seus poderes eram excepcionais e seu controle preciso.
Ao chegar na Mansão Kahara, vulgo base, Andrew desliza sobre uma placa de gelo em espiral, desde a nuvem até a grama, que logo se evapora quando os dois chegam ao chão em segurança.
Andrew rapidamente deduz que Nicolas provavelmente já havia chegado com Melissa, pois dominantes do ar são muito mais velozes.
Dominic está paralisado e demora para perceber que os dois já estão no chão.
-Isso não pode ser real... - ele sussurra.
Andrew o solta e ele cambaleia sobre a grama úmida, mas não cai. Em seguida, Andrew vira-se de costas e caminha para dentro da mansão sem olhar para trás.
-É bem vindo se quiser entrar. Mas não vou te obrigar. - ele dizia e seu sorriso refletia em sua voz um tom de divertimento - De qualquer forma, não conseguirá sair dessa floresta por conta própria... - ele desaparece no interior da mansão.
Dominic ponderou por um tempo e olhou ao redor.
Só havia árvores em qualquer direção. Aquela mansão parecia estar no meio de uma densa floresta. Que outra escolha ele teria?
Ouve-se um grito. Estridente e visivelmente em pânico.
Dominic reconhece a voz de Melissa e entra correndo sem pensar duas vezes.
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